terça-feira, 25 de dezembro de 2012

'Apesar do PIB fraco, Brasil É Bric, sim'



Entrevista com Jim O'Neill, presidente do Goldman Sachs Asset Management

24 de dezembro de 2012 | 4h 35
MELINA COSTA - O Estado de S.Paulo
O britânico Jim O'Neill, hoje presidente do conselho do Goldman Sachs Asset Management, tornou-se uma estrela pop da economia ao alçar os países em desenvolvimento ao centro das atenções de investidores globais. Publicado em 2001, seu estudo Building Better Global Economics cunhou o acrônimo BRIC para designar Brasil. Rússia. Índia e China, as grandes economias que puxariam o crescimento mundial nas décadas por vir.
Desde então, o termo foi repetido à exaustão e alimentou a euforia de empresas, fundos de investimento e bilionários. Não sem razão. O Brasil, de fato, ultrapassou economias maduras como a Itália e Reino Unido - mas agora amarga taxas de crescimento muito distantes do que se espera de um mercado emergente (o Reino Unido, por exemplo, deve voltar a ficar à frente do Brasil este ano, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional). Em entrevista por telefone de seu escritório em Londres, O'Neill defendeu a permanência do País no clube das "economias de crescimento rápido" - mas afirma que, se o Brasil não crescer ao redor de 4% em 2013, a situação será preocupante. Assim como o ministro Guido Mantega, ele atribuiu o desempenho modesto do PIB brasileiro no terceiro trimestre ao item "intermediações financeiras", que apresentou queda de 1,3% devido à redução na taxa de juros e ao aumento da inadimplência - um tema que chegou a levantar questionamentos sobre a metodologia de medição da atividade utilizada pelo IBGE.
O ano de 2012 foi marcado por surpresas. Os economistas, que começaram o ano prevendo um crescimento do PIB entre 3,5% e 4%, agora projetam algo ao redor de 1%. O tombo maior foi no terceiro trimestre, com um crescimento de 0,6%. O que aconteceu com o Brasil?
O terceiro trimestre tem uma explicação técnica. Houve uma fraqueza não antecipada do item transações financeiras. Se não fosse por isso, o crescimento teria sido perto do esperado. Eu não quero usar isso como uma desculpa para o ano, mas certamente para o terceiro trimestre é por isso que o número foi tão decepcionante.
Mas independentemente disso, o crescimento de todos os trimestres se mostrou fraco.
O terceiro trimestre deveria estar mostrando uma retomada. Mas, não importa a razão, o resultado veio em um cenário de resultados anteriores já fracos. Então, apesar de ter sido uma questão específica, é claramente decepcionante.
Depois desses resultados, o Brasil ainda pode ser considerado um mercado de crescimento?
Isso é algo que eu gosto de destacar para as pessoas. Nos primeiros três anos da década passada, o crescimento do Brasil também foi muito decepcionante. Então, mesmo que o crescimento em 2011 e 2012 tenha sido decepcionante pelos padrões de crescimento do Brasil em 2005, se compararmos com uma década atrás, o resultado não é muito diferente. As taxas de crescimento do Brasil se movem de forma muito volátil ao redor de uma tendência. O fato de que o Brasil teve dois anos decepcionantes é obviamente importante, mas não acho que é o suficiente para levar alguém à conclusão que você disse. Se o Brasil crescer muito pouco de novo no ano que vem isso, na minha opinião, seria um problema.
Seria o suficiente para reconsiderar a presença do Brasil nos BRICs?
Bem, eu espero que o crescimento do Brasil seja ao redor de 4% em 2013. Se não for, isso seria preocupante.
Comparando com outros países do BRIC, por que o Brasil teve um desempenho pior?
Sim, teve nos últimos dois anos. Você não pode comparar o Brasil com Índia e China de forma alguma. Seria loucura. Eles têm mais de um bilhão de pessoas. Não é uma comparação justa porque é mais fácil para esses mercados crescerem. O único com o qual o Brasil poderia ser comparado é a Rússia.
Mas esses países fazem parte do mesmo grupo, os BRICs. Você acha que esse time está menos homogêneo agora do que quando o termo foi criado?
Não, de forma alguma. Primeiro, esses países se moveram em seus próprios ciclos e ao redor de suas próprias tendências de crescimento. O fato de o Brasil ter tido resultados decepcionantes por dois anos não é grande coisa para mim. Em 2009, o PIB da Rússia caiu quase 8%. Isso não me fez pensar que a Rússia não deveria estar nos BRICs. Segundo, nos últimos onze anos, desde que eu desenvolvi o conceito (dos BRICs), o Brasil e a Rússia tornaram-se muito maiores do que dissemos. Não prevíamos que o Brasil passaria a Itália antes de 2020. E ultrapassou em 2011. Mesmo que o Brasil tenha decepcionado por dois anos, temos que analisar seu desempenho sob o ponto de vista de onde o País saiu na última década.
Perguntando de outra forma: o que o faz acreditar que o Brasil ainda deve fazer parte dos BRICs?
Acho que a tendência de crescimento do Brasil é ao redor de 4%. Não vejo espaço para mais do que isso. Mas também não vejo nenhuma razão para duvidar desse número. As políticas econômicas que o governo brasileiro introduziu nos últimos seis a nove meses têm suporte cíclico e estrutural.
Quais os principais motivos por trás do crescimento pífio?
Os problemas à frente do Brasil durante o ano foram substanciais. O real sofreu - e ainda sofre - por estar supervalorizado. Segundo, fora do setor de commodities, o Brasil não é competitivo - mesmo sem o problema do real. Os criadores de políticas no Brasil têm que achar formas de aumentar a competitividade.
E o problema no setor de commodities? O valor desses produtos não deve crescer tanto quanto cresceu na última década.
O problema por trás disso é que o Brasil sofre de uma 'mini-Doença Holandesa'. É um sintoma clássico de muitos países produtores de commodities. Faz com que a moeda torne-se pouco competitiva e os criadores de políticas acham que podem fazer o que quiserem com a riqueza proveniente das commodities - mas na verdade não podem. Os criadores de políticas brasileiras às vezes acham que podem usar o governo para gerar crescimento. Eu digo: vocês estão tentando fazer uma China num momento em que a própria China não quer mais fazer uma China.
O governo tem sido acusado de interferir no curso das empresas: Vale, Petrobrás e agora as elétricas. Qual a sua opinião sobre isso?
A evidência é que isso não ajudou a criar crescimento. Talvez tenha até afastado o setor privado. Os criadores de políticas deveriam repensar isso.
Quais seriam as suas sugestões para o Brasil acelerar o crescimento em 2013?
Primeiro, eu acho que a política econômica e as medidas para reduzir o valor do real fazem sentido. O Brasil terá benefícios disso claramente em 2013 e depois. Se o real cair mais, será benéfico. Mas, além disso, as autoridades brasileiras deveriam fazer mais para apoiar o setor privado. Deveriam tornar o setor de não-commodities mais competitivo e parar de dirigir Vale e Petrobrás como estão fazendo.
Os investidores mudaram sua visão do Brasil depois desses dois anos de crescimento mais baixo?
Meu amigo Armínio Fraga me disse uma coisa alguns anos atrás e acho que ele está muito certo. "O Brasil nunca é tão bom como as pessoas acham, mas também não é tão ruim quanto as pessoas pensam." Em 2010, as pessoas estavam ridiculamente otimistas em relação ao Brasil. Me perguntavam se o Brasil poderia crescer no estilo chinês. Era maluquice. Hoje as pessoas acham que o Brasil não deveria ser um BRIC. Isso é tão maluco quanto.
Segundo economista, para o País crescer em 2013, governo
deveria apoiar empresas e parar de dirigir Vale e Petrobrás
"Em 2010, as pessoas estavam ridiculamente otimistas com o Brasil. Me perguntavam se o País poderia crescer no estilo chinês. Isso era maluquice."
O economista inglês ficou conhecido internacionalmente depois de criar o termo BRIC para designar as
economias de Brasil, Rússia, Índia e China. Em 2001, ele já dizia que
esses países puxariam o crescimento mundial nas décadas seguintes.

São Paulo libera mais verba para deputados em ano de eleições


25/12/2012 - 06h00


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LUIZA BANDEIRA
DE SÃO PAULO
O volume de recursos liberados pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), para projetos patrocinados por deputados estaduais foi recorde com as eleições municipais deste ano.
O governo liberou neste ano R$ 259 milhões para convênios que nasceram de indicações dos deputados. O volume de recursos é superior ao liberado em 2010, quando também houve eleições e Alckmin foi eleito governador.
Naquele ano, foram liberados R$ 256 milhões. Em relação ao ano passado, quando foram liberados R$ 119 milhões para projetos desse gênero, houve um aumento de 118% no volume de recursos.
O aumento foi muito superior à variação da inflação, que subiu 6,5% em 2011 e deve ficar abaixo de 6% neste ano.
Quando o orçamento do Estado para 2012 foi discutido na Assembleia Legislativa, o governo reservou para cada deputado uma cota de R$ 3 milhões para obras e outros projetos de sua escolha.
Mas, como em anos anteriores, o acordo não foi respeitado. Pelo menos 30 deputados conseguiram liberação de valores superiores à cota.
O dinheiro só é liberado após a assinatura de convênios pelo Estado com as prefeituras dos municípios indicados pelos deputados estaduais ou com entidades filantrópicas escolhidas por eles.
Na discussão do orçamento de 2013, a cota para as indicações dos deputados foi reduzida para R$ 2 milhões, metade do que eles haviam solicitado ao governador.
Dados divulgados pelo governo estadual mostram que deputados que fazem parte da base de apoio do governador na Assembleia têm maior sucesso na hora de obter a liberação desses recursos.
Os 22 deputados da bancada do PSDB, o partido do governador, conseguiram a liberação de R$ 86 milhões para suas propostas --o equivalente a um terço do total liberado pelo governo estadual.
O PT, que tem 24 deputados e faz oposição ao governador na Assembleia, conseguiu R$ 27 milhões, ou 10% do total. Em média, cada deputado petista conseguiu R$ 1,1 milhão. A média dos tucanos ficou em R$ 3,9 milhões.
Editoria de Arte/Folhapress
EM CAMPANHA Liberação de verbas do governo paulista para projetos de deputados estaduais aumentou no ano eleitoral
ESCÂNDALO
Em 2011, as liberações diminuíram com o escândalo criado pelo deputado Roque Barbiere (PTB), que numa entrevista acusou os colegas de cobrar propina de prefeitos e construtoras para indicar projetos de seu interesse.
O Ministério Público Estadual abriu inquérito para averiguar as denúncias de Roque Barbiere, mas as investigações não chegaram a nenhuma conclusão até agora.
Nas eleições municipais deste ano, vários deputados estaduais se candidataram a prefeito de suas cidades. Em geral, os aliados do governador conseguiram mais recursos do que os da oposição.
Em média, deputados que apoiam o governo e se candidataram conseguiram a liberação de R$ 2,4 milhões para projetos de seu interesse. Candidatos da oposição tiveram R$ 949 mil, em média.
Nas eleições deste ano, 18 dos 84 deputados estaduais concorreram a prefeito. Seis saíram da campanha vitoriosos --três ligados à base governista e três da oposição.
A assessoria de imprensa da Casa Civil do governo, que acompanha os projetos dos deputados, afirmou que os critérios para assinatura de convênios são técnicos e não têm relação com a filiação partidária dos deputados responsáveis pelas indicações.
O aumento da liberação de recursos se deveu à "boa saúde financeira do Estado", afirmou. A legislação proíbe a assinatura de convênios com prefeituras durante a campanha eleitoral, mas não há restrições para convênios com entidades filantrópicas.

Saudades do Natal, por Jabor



25 de dezembro de 2012 | 2h 05
Arnaldo Jabor - O Estado de S.Paulo
Eu já tive carnavais felizes, "sãos joões" felizes, mas não me lembro de uma grande "noite feliz, noite de paz"... O Natal perdeu a delicadeza antiga. Não temos mais chaminés nem ceias opulentas. Em vez do saco de presentes, temos as calamidades coloridas dos shopping centers. Hoje, no presépio de Belém, perto da manjedoura onde o menino Jesus recebeu os reis magos, nos lugares sagrados de Jerusalém, explodem os homens-bomba berrando "Feliz Natal, cães infiéis!"
Que estranho destino é esse da humanidade se fechando como uma cobra mordendo o próprio rabo, a morte no mesmo lugar no nascimento, o fim da civilização no mesmo lugar onde começou, ali entre o Tigre e o Eufrates, na Mesopotâmia.
Uma vez, Rubem Braga fez uma lista dos lugares-comuns jornalísticos que justificariam demissões sumárias. O sujeito que escrevesse que o "trem ficara reduzido a um monte de ferros retorcidos" ou que o "incêndio era o 'belo-horrível' estava despedido. Havia outras banalidades imperdoáveis, como: "Natal Natal, bimbalham os sinos!"...
Lembro-me que no Natal, enquanto os sinos 'bimbalhavam', eu via as ceias do meu canto de menino: as ligações frágeis entre parentes, entre tios e primos, as antipatias disfarçadas pelos abraços frios e os votos de felicidades. Eu olhava as famílias viajando no tempo como um cortejo trôpego, eu via a solidão de primos medíocres, das tias malucas, dos avós já calados e ausentes, o eterno presunto caramelado, o peru com apito. O destino das famílias ficava evidente no Natal. Os pobres se conformando com o tosco prazer dos presentes baratos e os ricos querendo provar que seriam felizes a qualquer preço - egoístas o ano inteiro, esfalfavam-se para viver uma alegria compulsiva entre gargalhadas, beijos molhados de vinho e uísque, terminando nas tristes saídas na madrugada, com crianças chorando e presentes carregados com tédio por pais de porre, aos berros de "feliz Natal".
Papai Noel sempre me intrigou. Quem era aquele sujeito que começava a aparecer no fim do ano, nas lojas, no rádio, na TV? Papai Noel tem muitas conotações desde que foi inventado na Noruega, por causa de São Nicolau, que ajudava as pessoas carentes nos fins de ano.
Soube que, no fim do Estado Novo, lançaram uma campanha nacionalista para substituir o Papai Noel por um outro símbolo: o "Vovô Índio" - um velho silvícola seminu, com peninha na cabeça, que traria presentes para os "curumins" de verde e amarelo. Foi um tremendo fracasso, claro, numa época em que o cinema americano já mandava o Bing Crosby cantando White Christmas sem parar.
Papai Noel era invencível, se bem que eu nunca gostei dele. Papai Noel sempre foi uma imagem de perdão e carinho.
Mas, não para mim. Já contei isso uma vez, aqui. E o repito porque nos Natais e carnavais nada muda. Nada mais parecido com um Natal do que outro.
Papai Noel me dava presentes sim, mas sempre acompanhados de uma carta (escrita à mão, em tinta roxa) em que me fazia repreensões dolorosas: "Por que você desobedeceu à sua mãe e matou a aula de piano? Por que você bateu na sua irmã com o espanador? Se fizer de novo... ano que vem tem castigo..." Para mim, Papai Noel era assustador, por causa desse estratagema educativo de meu pai, que usava o Natal para me dar lições de moral. Cada presente aberto me dava um sentimento de culpa. Daí, a conclusão infantil: Papai Noel gostava de todo mundo, menos de mim. Papai Noel foi meu superego de barbas brancas.
Talvez por isso, comecei a criticar o mundo desde pequeno. Deu no que deu... hoje sou esta pobre cabeça falante se esgoelando no rádio e TV. Eu fui o primeiro de minha turminha de subúrbio a desconfiar que Papai Noel era uma fraude; comecei com ele e hoje tenho os mensaleiros e pizzas de CPI, neste país farto de mentirosos. "Papai Noel não existe!" - foi meu grito revolucionário. "Existe sim! Ele me deu um velocípede!" - bradavam os meninos obstinados em sua fé. "Ah, é? Então, fica acordado para ver se não é teu pai botando os presentes na árvore!" Mas, meus amigos lutavam contra essa desilusão, mais ou menos como velhos petistas que não desistem do paraíso comunista. Recorri a meu avô, conselheiro e aliado, e ele apoiou meu agnosticismo natalino: "Não existe não... Você não é mais neném..."
Daí para a frente, não parei mais. Entrei de sola na lenda da cegonha e do bebê que "papai do céu mandou"...
"Vocês pensam o quê? As mães de vocês ficam nuas e o pai de vocês bota uma coisa dentro da barriga delas pelo umbigo...!" "A minha mãe, não!" - berravam os jovens édipos, partindo para a porrada de rua comigo. Daí para descrer de Deus foi um pulo, para o horror escandalizado dos colegas do colégio jesuíta. "Deus é bom, padre?" "Infinitamente bom..." "Ele sabe de tudo?" "Sim..." - respondiam os padres já desconfiados. "Então, por que ele cria um cara que depois vai para o inferno?" Até hoje ninguém me respondeu a isso.
E assim fui, até começar meu ódio ao "imperialismo norte-americano" dos anos 60. Hoje, não tenho mais medo do Papai Noel; tenho até uma certa pena dele... e de nós.
Hoje, Papai Noel vem com as renas canibais de um Polo Norte que está derretendo pelo efeito estufa que os líderes mundiais se recusam a combater. O Natal é uma saudade do Natal. E hoje, com o futuro cada vez mais ralo, tenho saudades da precariedade de nossa vida antiga, da ingenuidade dos comportamentos, de um mundo com menos gente louca e má. "Ah! Você por acaso quer a volta do atraso?" - dirão alguns. Não; mas sonho com uma vida delicada que sumiu, dos lugares-comuns, dos chorinhos e chorões, de tudo que era baldio, dos valores toscos da classe média. E quando chega o Natal, tenho nostalgia das tristes ceias de minhas tias, sinto ainda o gosto dos panetones e rabanadas transcendentais do passado.