domingo, 23 de dezembro de 2012

A vassoura de Dilma pega poeira - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 23/12


"Faxina" no governo acabou sem ter começado, mas casa do governo precisa é de reforma geral


ALGUÉM LEMBRA que em março havia uma "crise política" no Brasil?

Então uns partidos tentavam chantagear Dilma Rousseff, amuados por verem seus ministros caírem de podres e agastados por falta de capilé e carguinhos, emendas e prebendas. Não deu em nada, era "business as usual", os negócios de sempre, com boa propaganda, que vicejou na falta de assunto.

Alguém lembra que havia uma "faxina" no Brasil? Dizia-se que a presidente limpava o ministério que ela mesma havia nomeado. A vassoura, porém, pega poeira, encostada num canto.

Essas histórias ficaram ainda menores quando surgiram detalhes da máfia do Cachoeira, caso que também não deu em nada. O PSDB de Goiás e cia. se safaram, como o PSDB de Minas se desvencilhou galhardamente do seu mensalão.

Veio a eleição, o Carnaval do julgamento do mensalão do PT e então aquelas crises todas voltaram ao pó de onde vieram. Eram ninharias, por um lado, mas o enorme absurdo de sempre, por outro lado. A faxina era conversa também, a gente viu, quando se descobriu o que aprontavam a Rosemary amiga do Lula e comparsas.

Não obstante a pequenez das personagens, de seus motivos, razões e intelectos, atrás desse circo há problemas sérios: um Estado paquidérmico, em conluio cada vez mais íntimo com empresas-mamute, oligopólios, com uma burocracia obtusa e inamovível e recheada agora de compadres de "esquerda".

A "faxina" era uma farsa marqueteira que serviu para disfarçar o fato de que o governo Dilma Rousseff estava (e provavelmente está) repleto de arrivistas audaciosos, outros apenas medíocres, alguns nulos, que ocupam postos relevantes nessa máquina enorme e disfuncional que é o governo brasileiro.

Dilma poderia ter trocado o carpete, ou parte dele, mas nem ao menos varreu direito a sujeira, vide, de novo, o caso de Rosemary e turma, plantada numa agência reguladora e, desplante maior, na Advocacia-Geral da União. Isto é, fez uns remendos, tal como mandar rechecar a capivara, a ficha corrida, dos tipos em geral indizíveis que se candidatam à alta burocracia federal. Reforma mesmo, neca.

A bandalha que acabou na derrubada de ministros de 2011 contribuiu para atrapalhar o investimento e o crescimento da economia. As tropelias na agência reguladora desmoralizaram ainda mais tais instituições. De capturadas pelo mercado (empresas) no governo FHC passaram a cativas de políticos de quinta e desses tipos amigos da Rosemary nos governos petistas. O que fazer?

O governo brasileiro é grande demais por qualquer critério: fiscal (leva parte grande do PIB), de ineficiência (entrega serviço de menos, dado o tamanho), no descontrole (não há medidas de eficiência), no compadrismo (nomeia mais de 20 mil indivíduos para cargos de confiança).

O governo brasileiro é grande demais para os meios disponíveis de controle democrático: população pouco instruída, que mal se informa ou é capaz de se informar, por falta de organizações independentes na dita sociedade civil (ONGs de verdade), por carência de meios de comunicação grandes e independentes. Etc.

Faz tempo o governo escapou do cabresto, pois forte e grande demais. Precisa ficar menor. Precisa de faxina, poda, lipoaspiração, redução de estômago e dieta.

A URV do crescimento - GUSTAVO FRANCO Oesp


Para induzir o crescimento, os fundamentos da economia têm de estar no lugar correto e as contas fiscais arrumadas e sem piruetas contábeis


O ano de 2012 vai chegando ao fim, misturando ingredientes de frustração e inquietação, quem sabe desproporcionais aos desacertos. Ou não.

Tudo parecia encaminhado, inclusive com certo triunfalismo, com a economia em pleno emprego e a inflação estranhamente sonolenta diante do comportamento sofrível das finanças públicas. Até que o anúncio do crescimento do PIB no terceiro trimestre caiu sobre as autoridades como um viaduto. Foi muito pior que os desabamentos provocados pelo mercado financeiro, pois nada pode ser atribuído à volubilidade dos especuladores: toda a culpa cabe ao nosso vetusto IBGE, onde trabalham vastas quantidades de técnicos da melhor qualidade e muitos simpatizantes do partido do governo, de tal sorte que as dúvidas sobre a sua isenção são semelhantes às que podem ser atiradas sobre o STF no julgamento do mensalão. Não há desculpas, portanto. Nada obstante, o ministro da Fazenda solicitou uma revisão dos dados, como se estivesse diante de seu alfaiate.

O fato é que sumiram as certezas sobre a fórmula do crescimento. O que parecia um assunto simples - fazer obra, assinar cheques e esquentar a demanda - agora se encontra imerso em mistérios. O crescimento acelerado pode ter se tornado um desafio comparável ao que foi a inflação no passado. Afinal de contas, não seriam ambos, o crescimento e a estabilização, problemas de coordenação macroeconômica? Não seria a macroeconomia nada mais que um exercício sobre interação e interdependência entre pessoas e empresas, e sobre expectativas e desconfianças sobre as ações dos vizinhos, diante de autoridades tentando conduzir a multidão?

É nesse terreno que a nossa experiência com a estabilização encerra algumas lições úteis, muitas das quais associadas a uma palavra que tem sido muito pronunciada ultimamente: confiança.

A confiança costuma ser descrita como flor delicada, assunto subjetivo, matéria de psicólogos, mas nem por isso deixa de ser seriamente sacudida por prejuízos. É curioso que o anúncio do PIB, em conjunto com os efeitos da MP 579 sobre a Eletrobrás, tenha dado novos sentidos, por exemplo, à operação de capitalização da Petrobrás: a despeito das boas intenções, o prejuízo ao patrimônio público ultrapassou R$150 bilhões (queda próxima de 50% no valor de mercado da empresa), sem contar a confusão dos royalties.

Se o leitor era investidor nessas companhias e, portanto, confiava que elas eram bem geridas, o que esperar de seu "ânimo vital" para investir depois dessa tunga?

Em termos mais gerais, os investimentos das empresas em máquinas e edificações vêm caindo há cinco trimestres seguidos, a despeito dos diversos pacotes associados às concessões em infraestrutura, do hiperativismo seletivo do governo e de os desembolsos do BNDES terem triplicado nos últimos 3 ou 4 anos.

Não há dúvida de que há algo de subjetivo e complexo nas decisões de investimento, os tais "espíritos animais" de que falava Keynes, que as autoridades não têm conseguido operar. O governo se esforça para mostrar que sua índole é "pró-mercado", chama o setor privado para investir em sua companhia, mas não consegue adesões. Procura o corpo a corpo, conversa com o ex-ministro Delfim Netto, como se isso o ajudasse a entender os códigos do capital, e o efeito parece o oposto. Como fazer com que milhões de potenciais investidores se convençam ao mesmo tempo de correr os riscos inerentes à adesão às orientações governamentais?

Nesses termos, o problema é muito parecido com o da estabilização, o que não deve surpreender os estudantes de macroeconomia em dia com suas leituras. É nesses termos que a experiência da URV pode ser útil para os desafios que as autoridades têm diante de si.

São várias as lições, a primeira, a mais básica, é que os fundamentos têm de estar no lugar, ou seja, o tripé precisa estar na posição correta e as contas fiscais arrumadas e sem as piruetas contábeis dos últimos tempos. A segunda é que a adesão precisa ser voluntária, o governo convida, mas não impõe nem intimida, não cria dependência, e tampouco faz convites indecorosos. A URV era um conceito horizontal: moeda estável para todos, jogo limpo, regras claras, sem interferências espúrias e jogadores especiais ou privilegiados. Não havia seletividade nem caminhos mais curtos: todos iguais diante da moeda e da lei. Jogo limpo, a regra do mundo plano e globalizado. O governo orienta, cuida do estádio e do gramado e não se mete a cobrar escanteios. E quanto mais gente adere, maior o incentivo a aderir, fenômeno que se conhece como "externalidade de rede", sempre observável em problemas de coordenação econômica.

A URV do crescimento ainda está para ser inventada; e certamente não se chama PAC.

Prometeu e não entregou


22 de dezembro de 2012 | 16h30
Celso Ming
A presidente Dilma Rousseff vai colecionando recordes de popularidade. Resultam das transferências de renda e do aumento do emprego proporcionados pela política econômica.
E, no entanto, o setor produtivo está prostrado com o avanço altamente insatisfatório do PIB pelo segundo ano consecutivo: crescimento de 2,7% em 2011 e, provavelmente, inferior a 1,0% em 2012. Enquanto isso, a inflação segue uma das mais altas do mundo, numa paisagem global em que prevalecem os temores de deflação e não de escalada dos preços.
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Dilma. Risco de populismo (FOTO: DIDA SAPAIO/ESTADÃO)
São indicadores decepcionantes não apenas quando confrontados com as expectativas do governo Dilma, mas também quando comparados com os números que estão sendo apresentados por outros países. A tabela que vai no Confira dá uma ideia do contraste.
O ministro Guido Mantega aposta na virada imediata do jogo. Todos os dias repete que, em 2013, o PIB finalmente apresentará avanço entre 4,0% e 4,5%. Ele põe fé na força dos estímulos: mais dinheiro na economia (proporcionado pela queda dos juros); crédito em expansão de pelo menos 14% ao ano; desoneração das folhas de pagamento; redução de impostos; e mais investimentos. Conta, também, com uma certa melhora da economia mundial ou, pelo menos, com o seu não agravamento.
Nos últimos meses de 2011, Mantega apontava para 2012 as mesmas projeções que faz agora para o desempenho da economia de 2013. O Banco Central também irradiava otimismo, embora mais contido do que o do ministro. O Relatório de Inflação divulgado em dezembro de 2011 cravava crescimento do PIB em 2012 de 3,5%. E, no entanto, deu no que deu.
Para 2013 não dá mais para contar com a derrubada dos juros. A desenvoltura da inflação provavelmente obrigará o Banco Central a acionar as tais medidas prudenciais – já que não pretende reverter tão cedo a trajetória dos juros. São os mesmos fatores que vão exigir um câmbio estável ou, até mesmo, em certa baixa. A carga de investimentos em 2012 foi menor do que em 2011, o que também conspira contra um avanço alentado do PIB em 2013 – pelas mesmas razões pelas quais a menor reposição no galinheiro tende a conter a produção de ovos.
Apesar dos apelos do governo, o empresário brasileiro ainda não mostrou disposição para desengavetar seus projetos de investimento. Sente que seus negócios perdem competitividade e teme o ativismo do governo, sempre pronto a mudar as regras do jogo e a favorecer certos concorrentes com créditos favorecidos e reservas de mercado.
Na próxima semana, a presidente Dilma começa a segunda metade do seu mandato. Entendeu tarde demais que o modelo macroeconômico adotado não pode entregar o prometido. As correções de rumo são insuficientes e levam um tempão para maturar. Dependem de definição de regras de jogo, de licenciamento ambiental, de aprovação dos tribunais.
O risco agora é que o governo Dilma se conforme com uma inflação alta demais e com a sucessão de pibinhos e que invista pesado na manutenção do seu alto nível de popularidade. Ou seja, o risco é que o governo Dilma se deixe levar pelo populismo.
CONFIRA
A tabela acima traz uma relação de 24 importantes economias e as respectivas projeções para 2012 de seus índices de inflação e suas variações do PIB.