terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Haddad revela nome de secretário da Habitação indicado pelo PP de Maluf


Atualizado às 23h44.
O prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), anunciou na noite desta segunda-feira (10) o empresário José Floriano de Azevedo Marques Neto como seu secretário de Habitação.
Haddad revelou a escolha em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura. Paulistano, Azevedo Neto é dono de uma empresa de engenharia em Espírito Santo do Pinhal (a 189 km de São Paulo).
Engenheiro formado pela Poli/USP em 1978, o futuro secretário atua na área de habitação popular --é especializado no programa federal Minha Casa, Minha Vida. Ele não é filiado a nenhum partido e foi indicado pelo ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PP).
À Folha, Marques Neto disse ter ficado surpreso com o anúncio. Segundo ele, seu nome foi indicado à equipe de transição há cerca de um mês.
"É, parece que ele gostou do meu currículo", disse o empresário, que afirmou ter se encontrado com Haddad na semana passada. Será seu primeiro cargo político.
APROV
Hoje, entre as atribuições da Habitação está a aprovação de empreendimentos de médio e grande porte -Haddad, porém, já anunciou que vai transferir a função para a Secretaria de Controle Urbano.
O Aprov, setor que vai ser transferido, protagonizou o maior escândalo da gestão Gilberto Kassab (PSD).
Nomeado por José Serra (PSDB), em 2005, Hussain Aref Saab adquiriu 106 imóveis, avaliados em R$ 50 milhões, até deixar o cargo de diretor do Aprov, em abril, conforme a Folha revelou em maio.
Aref é investigado por corrupção e enriquecimento ilícito. Ele nega as acusações.
Editoria de Arte/Folhapress
ARCO DO FUTURO
Antes, Haddad disse a uma plateia de empresários que pretende aprovar ainda em 2013 todas as leis necessárias ao seu projeto de reforma urbana, batizado de Arco do Futuro.
O ponto de partida de Haddad é a aprovação do Plano Diretor (o atual é de 2002). É nele que constarão as diretrizes de todos os projetos de mudanças urbanas previstas no Arco do Futuro, como novas operações urbanas.
Haddad quer aprovar também a Lei de Zoneamento, novo Código de Obras e medidas de desoneração tributária.
"Temos de ter uma agenda de primeiro ano muito forte para que a gente possa se beneficiar dessas mudanças", afirmou Haddad na Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo).
Haddad aproveitou para pedir apoio na pressão aos vereadores para aprovar leis.
Ele também afirmou que o projeto de revisão da Operação Urbana Água Branca, enviado por Kassab à Câmara na semana passada, "é muito importante para a cidade" e que vai propor uma operação para toda a região do rio Tietê.
BILHETE ÚNICO
Ainda durante a entrevista, Haddad afirmou que o Bilhete Único Mensal será implantado ainda no primeiro ano de seu governo, mas não revelou a data.
"No primeiro ano de governo, não sei em que mês ainda vou ter o diagnóstico disso. Vai depender dos estudos técnicos que estão sendo feitos em relação à questão tecnológica", disse o prefeito eleito.
Colaborou MÁRCIO DINIZ

São Paulo tem 98 mil vivendo em área de alto risco



PUBLICIDADE
EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO
A cidade de São Paulo entra na época dos fortes temporais de verão --que devem ocorrer até março-- com 98 mil pessoas morando em áreas com alto risco de desabamento ou deslizamento.
O grande contingente de pessoas em loteamentos precários ou favelas está espalhado por todas as regiões, segundo mapeamento feito pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e divulgado pela prefeitura em 2011.
A maior concentração está na zona sul. No total, somados todos os graus de risco, há 519 mil pessoas vivendo em áreas da capital com alguma ameaça de deslizamento ou desmoronamento.

Áreas de risco em SP

 Ver em tamanho maior »
Silva Junior/Folhapress
AnteriorPróxima
Casas construídas às margens de córrego no Jardim Maria Virgínia, na zona sul de São Paulo
Apesar de a gestão Gilberto Kassab (PSD) anunciar ter feito investimentos de R$ 38 milhões no ano passado para remover famílias e concluir obras de redução do risco, apenas 15% da população que vivia em áreas problemáticas saiu dessa situação.
No ano passado, 115 mil pessoas viviam em áreas sob alto risco de tragédia em razão de chuvas fortes.
"A situação ainda é bastante precária, mas o fato de a população em áreas de risco estar diminuindo é relevante", afirma Renato Cymbalista, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Segundo ele, nas décadas de 1980 e 1990, o número [de moradores de áreas de risco na capital] só aumentava.
Antes do mapeamento divulgado no ano passado, o último levantamento confiável da situação de áreas críticas na capital era de 2003.
Editoria de Arte/Folhapress
O mapeamento de 2011, encomendado pela prefeitura, considera apenas as áreas de risco geológico. Não leva em conta, por exemplo, ruas que podem sofrer só enchentes.
Na época, os técnicos do IPT apontaram a necessidade de desocupar imediatamente 1.132 moradias com "risco iminente de cair", mas o poder público demorou seis meses para executar a ação.
ATÉ 2015
Segundo especialistas --e o próprio Kassab--, as áreas de risco ocupadas vão compor a paisagem urbana pelo menos até 2025. As projeções, entretanto, levam em consideração só números oficiais.
Como na cidade existem cerca de 1.600 favelas e nem metade chegou a ser completamente esmiuçada pelo estudo do IPT, o problema pode se arrastar por várias décadas, segundo os técnicos.
"Nós avaliamos as áreas realmente mais problemáticas", afirma Luciana Santos, geóloga da prefeitura e conhecedora das áreas de risco. "Não devemos ter surpresas em locais não estudados."

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Percepção e realidade


José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo
2014 chegou antes de 2013. Desde a semana passada, a sucessão de Dilma Rousseff (PT) virou prato principal e é improvável que o cardápio mude pelos próximos dois anos. O molho varia do explícito (o lançamento do presidenciável Aécio Neves pelo PSDB) ao subentendido (a polêmica do pibinho), passando pelo trágico (ascensão e queda do baixo clero da corrupção petista) e o cômico (revista inglesa pedindo cabeça de ministro no Brasil).
A economia - que elegeu FHC, Lula e Dilma - é o ingrediente principal do debate, novamente. A pegadinha é que o gosto popular está cada vez mais distante do palato dos críticos. As diferenças de percepção são tão distintas quanto seus instrumentos de medida. A confiança do consumidor dá picos enquanto as aferições do PIB afundam. Investimentos param ao mesmo tempo que o crédito dispara.
Para cada indicador negativo há um positivo e vice-versa. Depende do gosto do freguês. A produção de automóveis caiu pela primeira vez desde 2002? Mas a taxa nacional de desemprego é a mais baixa desde muito antes disso. Os salários brasileiros crescem duas vezes mais do que a média mundial? Mas o capital estrangeiro foge do Brasil para Índia, China ou aonde seja.
Economistas dizem que os indicadores positivos refletem o passado e os negativos, o futuro. Eles devem ter razão, como tiveram ao prever 10 das últimas 3 recessões.
A piada é gasta porque não há outro ramo de atividade no qual projetar impunemente dê tanto prestígio e dinheiro quanto a economia. Entre 2000 e 2010, as previsões de crescimento do PIB feitas pelo mercado (e publicadas pelo boletim Focus do Banco Central) tiveram um erro médio de mais de 50%. Nove em 10 erraram. Guido Mantega está em linha com seus pares.
Probabilisticamente, se Dilma atendesse a The Economist e decapitasse o ministro da Fazenda, a presidente teria 90% de chance de trocar seis por meia dúzia.
O que tanto mudou desde 2010, quando a revista inglesa enfiou um foguete sob o Cristo Redentor, até a publicação do obituário do PIB brasileiro na semana passada? Foi o PIB ou seu parâmetro de comparação? A bipolaridade eufórico-depressiva parece estar tanto nos olhos de quem vê quanto no objeto da observação.
Aos redatores ingleses resta citar a tirada célebre: "Quando os fatos mudam, eu mudo minha cabeça, o senhor não?" A frase é ora atribuída a John Maynard Keynes, ora a John Kenneth Galbraith. Importa menos o nome do que o fato de que o autor é economista.
Economia eleitoral
Nada se correlaciona mais à popularidade presidencial do que a confiança do consumidor. Ambas estão ascendentes, apesar do pibinho. Como pode ser? Porque o consumidor avalia que sua situação financeira está melhor do que há seis meses, e acha que vai melhorar ainda mais no futuro próximo - puxada por emprego e salários em alta. É portanto um jogo de percepção e expectativa.
O PIB vai seguir a confiança do consumidor, como quer o governo, ou o consumidor vai acabar se convencendo de que o melhor já passou e trocar de canoa, como sonha a oposição? As expectativas são, em boa parte, autorrealizáveis. Portanto, vencer a batalha de versões sobre a economia é começar bem a guerra sucessória.
Chefe do PSB, Eduardo Campos se antecipou dizendo a empresários descontentes com a economia que falta rumo estratégico ao país - implícita é sua oferta por nova bússola. Campos morde e assopra. Pode ser o "tertius" que forçaria um segundo turno em 2014, ou o aliado que facilitaria a eventual reeleição de Dilma. Tudo depende das circunstâncias, ou seja, da economia.
O lançamento de Aécio foi quase um empurrão. Fernando Henrique Cardoso jogou o senador mineiro na arena. Aécio gaguejou, mas não tem opção. Se não mostrar gana para ser candidato agora, quando o PSDB não tem alternativas, vai perder o trem da história. Não assumiu o discurso, mas já age como candidato.
A redução das tarifas de energia elétrica é um ato de campanha de Dilma pela reeleição. Ao gorarem o plano presidencial, as concessionárias geridas por governadores tucanos defenderam o interesse de seus donos mas alimentaram o discurso petista de que o PSDB é demofóbico quando se trata de economia popular. 2014 já começou, mas passa pela economia de 2013.