domingo, 9 de dezembro de 2012

Quem ama mata - ou morre - DANUZA LEÃO



FOLHA DE SP - 09/12


Um homem ao lado da mulher que ama é outra pessoa, alguém que nem sua própria mãe reconhece


O amor é maravilhoso, não é? É, responde o mundo em coro. Mas por que será que as pessoas mudam tanto quando apaixonadas? Os mais boêmios, que passavam as madrugadas contando histórias idiotas, mas muito divertidas, que tinham sempre uma opinião diferente e original sobre os assuntos do dia, tornam-se austeros -e a bem da verdade, bem menos interessantes.

O "affair" do diretor do FMI, por exemplo: qualquer homem, em companhia de seus íntimos, dirá que, se a camareira fosse gostosa, faria a mesma coisa. Única ressalva: negaria até o fim, mesmo diante da Suprema Corte. Mas, se estiver ao lado da namorada, vai dizer que esse tipo de procedimento é indigno e que um homem que se respeita não pode, jamais, fazer nada de parecido. Quanto a elas -bem, se eles são assim, por que elas seriam diferentes?

Num almoço só de mulheres, depois da segunda caipirinha, algumas serão suficientemente francas para dizer que adoram homens atrevidos e ousados. Mas ponha essas mesmas mulheres ao lado dos maridos e pasme diante do que elas vão dizer, dele e da pobre camareira.

Um homem ao lado da mulher que ama é outra pessoa, alguém que nem mesmo sua própria mãe é capaz de reconhecer; ele é capaz de dizer que não acha a menor graça em mulher alguma, que quem ama é fiel e que para ele só existem duas coisas que realmente importam: ela -em primeiro lugar- e o time pelo qual torce. Se você encontrar esse mesmo homem almoçando com três amigos no centro da cidade, traçando uma linguicinha com um chope, vai descobrir que se trata de outra pessoa, só pelo som das gargalhadas. E, se passar uma bela morena com as pernas de fora, será um belo festival de baixarias.

Se você tiver uma única e grande amiga e ela se apaixonar, fique sabendo que ficou sozinha no mundo. Fazer uma refeição com um casal apaixonado está acima das forças de qualquer ser humano não apaixonado, pois o mundo deles é diferente, e nele não há lugar para pessoas normais.

Quem ama se transforma em outra pessoa, com outros gostos e outras opiniões, capaz de roubar a aliança da própria mãe para passar um fim de semana no Caribe com o ser amado, isto é: torna-se uma pessoa indigna de nossa confiança.

Aquela mulher que, quando entrava na discoteca, começava a mexer o corpo, hoje em dia fica paralisada, surda e muda, talvez pelas lembranças que a música traz -ah, como são coerentes, as mulheres. Só que ele se apaixonou por ela exatamente quando ela mexia não só o corpo, como o gelo do copo de uísque com o dedo, e agora, quando olha para aquela mulher austera, não entende por que a vida era tão melhor.

Você já foi a um show de striptease com seu amado? Bem, quando o romance começou, ele brincava e atiçava seu ciúme com elogios às gostosas no palco; agora, quando vê uma mulher pelada numa revista, olha sério, sem uma só expressão no rosto, como se estivesse vendo um quadro num museu. Ele virou um marido, tudo que você sempre quis, e por nada no mundo você faria um strip particular só para ele, como já fez; certas coisas não são para serem feitas com o marido.

Tente ir com ele a uma praia da Europa, daquelas em que as mulheres tiram muito naturalmente o sutiã para tomar sol. Nervoso ele vai ficar -ah, isso vai. Faça então uma experiência e diga que vai tirar o seu: um homem das cavernas vai surgir de dentro daquele que passava a mão nas suas pernas no carro, no meio do trânsito, com o ar mais sério do mundo.

Onde foi parar esse homem? Onde foi parar aquela mulher que vivia feliz e risonha, que não queria nada da vida a não ser ficar junto com ele, agarrada, apaixonada? Quem ama não mata? Mata, sim; ou mata o outro, ou mata a si próprio -e o fim dessa história a gente conhece.

Ficou difícil, Guido... - EDITORIAL REVISTA ÉPOCA


REVISTA ÉPOCA

O crescimento irrisório da economia transformou o ministro da Fazenda em anedota - e não demoveu Dilma de sua visão ideológica ultrapassada

Herdeira de uma economia em expansão em 2010, a presidente Dilma Rousseff chega à metade de seu mandato numa situação medíocre. Embora o desemprego esteja baixo e a massa de salários continue em alta - fatos que explicam a alta aprovação popular de Dilma - nossa economia está em situação de risco.

O índice de crescimento tem rotineiramente sido acompanhado do adjetivo "pífio". No terceiro trimestre de 2012, foi de 0,6%, metade do que o governo esperava. Isso sepultou as esperanças de uma virada antes do fim do ano. Numa iniciativa destinada a transformar-se em anedota, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sugeriu que o IBGE modificasse as regras de cálculo do PIB - uma tentativa de manipulação tão estapafúrdia quanto inábil. Sua demissão foi recomendada por ninguém menos que a revista britânica The Economist- leitura de cabeceira de Dilma, publicação que não cansou de publicar artigos favoráveis a seu governo nos últimos anos.

Em junho, quando o banco Credit Suisse anuciou que reduzira a previsão de crescimento anual de 2% para 1,5%, Mantega reagiu com brutalidade: "É uma piada". Agora, uma análise do Itaú, nem de longe a mais pessimista, anuncia 0,9% em 2012.

Esses índices são preocupantes. Dilma enfrenta dificuldades que seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, não teve de enfrentar: a queda no valor das commodities, o esgotamento do modelo de crescimento à base de consumo e crédito barato, e a incapacidade de incorporar mais força de trabalho a uma economia que funciona virtualmente a pleno emprego. Some-se a isso a dificuldade das autoridades econômicas para enxergar o que acontece no Brasil real. O índice de 0,6% veio após meses de ativismo febril, quando, semanalmente, eram lançados em média dois pacotes de estímulo, segundo o economista Armando Castellar, da Fundação Getulio Vargas.

Nossa economia não voltará a crescer sem aumentar sua produtividade e seus níveis de investimento - hoje eles estão em torno de 19% do PIB, ante 30% no Peru e 27% no Chile e na Colômbia. Para isso, é preciso acabar com os entraves que emperram qualquer negócio: impostos extorsivos, burocracia infernal, infraestrutura precária e leis trabalhistas e previdenciárias anacrônicas.

Nesse ponto, Dilma tem uma desvantagem em relação a Lula. Enquanto ele era pragmático para tomar suas decisões econômicas - agradava a pobres e banqueiros -, Dilma tem convicções ideológicas paralisantes. Seu dirigis- mo econômico não favorece o diálogo com os auxiliares nem negociações produtivas com os empresários, que não mostram a indispensável disposição de arrriscar nas atuais condições de temperatura e pressão.

Da redução da taxa de juros, em agosto de 2011, à desoneração da folha de salários da construção civil, na semana passada, é possível elaborar uma lista de boas intenções do governo. Mas a falta de diálogo impede o resultado esperado. No maior exemplo, o Planalto fracassou num projeto que deveria agradar a 100% dos brasileiros: reduzir a conta de energia elétrica em 20%. A dificuldade de diálogo com os empresários deriva da dificuldade que Dilma tem para entender que apenas se lucrarem as empresas investirão. E, sem empresas lucrando e gerando riqueza, não há como o país crescer mais. Ao mesmo tempo tão simples - e tão difícil...

O paradoxo dos presídios paulistas

As penitenciárias de São Paulo vivem uma situação absurda. Em vez de funcionar como um local onde criminosos condenados pela Justiça cumprem suas penas em regime fechado, sem contato com o mundo exterior, elas se transformaram no Q.G. do crime organizado. Instalados em suas celas, munidos de telefones celulares, os principais chefes de facções criminosas dirigem os subordinados que atuam do outro lado das grades. Comandam o tráfico de drogas, extorquem famílias de prisioneiros rivais, planejam assassinatos de policiais e negociam armamento pesado com outras organizações, conforme demonstrou reportagem de ÉPOCA publicada na semana passada.

Nesse universo paradoxal, a vida dos chefes de quadrilha parece mais segura, do ponto de vista operacional, quando eles se encontram sob proteção do Estado do que fora dali, quando se expõem ao confronto direto com outras facções criminosas e podem mesmo enfrentar a violência da polícia. A causa dessa situação é menos misteriosa do que parece. Consiste, basicamente, num sistema capilar de corrupção, que transforma os presídios brasileiros num dos mais vulneráveis do mundo.

A consolidação da facção PCC como principal organização criminosa de São Paulo só foi possível graças a uma sucessão de erros. Acreditou-se, numa primeira fase, que seria melhor negociar concessões com a quadrilha do que lhes dar um combate sem quartel. Noutra etapa, vendeu-se a ilusão de que o PCC estava tão enfraquecido com a prisão dos líderes mais conhecidos que se transformara numa "lenda". As duas atitudes estavam erradas. O crime organizado só pode ser enfrentado com dureza. Isso começa pelo isolamento real dos líderes. Isso implica, acima de tudo, transformar os presídios em prisões de verdade.

Espantando investimentos


de dezembro de 2012 | 2h 02

JOÃO BOSCO RABELLO - O Estado de S.Paulo

O Estado de S.Paulo - 09/12Se a queda dos investimentos é o centro das preocupações do governo, a iniciativa da presidente Dilma Rousseff de reduzir em 20% o custo da energia elétrica ao consumidor final agravou consideravelmente a desconfiança do investidor e, por conseguinte, suas dificuldades para 2013.

O barateamento das tarifas, frustrado em parte pela não adesão das empresas estaduais, foi avaliado dentro e fora do País como um gesto inequívoco de intervencionismo que desconsiderou as regras mais básicas de mercado. Ficou a leitura de que o governo não considera esgotado o papel do marketing que sustentou até aqui a imagem de gestora da presidente.

A segunda parte do mandato de Dilma é decisiva para a preservação de índices de aprovação com os quais conta para sustentar sua campanha pela reeleição. Ainda que os efeitos da queda da economia demorem a chegar ao bolso do eleitor, a entrega de resultados especialmente no campo da infraestrutura tornou-se imperativa.

Para tanto, investimentos são indispensáveis e só chegam pela confiança - a mesma que o Banco Central reconhece abalada. É, pois, curioso que o governo do PT insista no tipo de marketing que vende o produto em falta, no caso a eficiência administrativa.

O intervencionismo e a xenofobia exibidos pela presidente nos últimos dias são adversários dos investimentos e da boa gestão, que se retroalimentam.

A politização do revés no embate com as elétricas estaduais deu o tom de populismo Kirchneriano que faltava para consolidar entre os empreendedores a leitura que já fazem de um governo contra o lucro - mola mestra dos negócios.
Universo   particular
Não obstante a repercussão negativa do mercado, o governo consome em seu universo particular a avaliação de que a MP do setor elétrico atingiu o seu objetivo com a adesão da maioria das empresas ao contrato de renovação antecipada das concessões e de que espetou a oposição eleitoralmente. Apesar da recusa das três estatais - Cemig, Cesp e Copel -, a redução do preço da energia está garantida ainda que à custa do Tesouro e a maior parte dos contratos renovada. A estratégia, agora, é ganhar tempo para a votação no Congresso, que pode ficar para fevereiro, quando a MP perde a validade.
Sem chance
A CPI da CBF que o deputado Romário (PSB-RJ) quer instalar na Câmara dificilmente sairá do papel. Ele tem as assinaturas necessárias, mas vai entrar numa fila de nove outras. E só podem funcionar cinco ao mesmo tempo. O PMDB, partido de Henrique Alves, virtual presidente da Câmara em 2013, não quer ouvir falar do assunto. "Essa CPI inviabiliza a Copa", diz uma liderança do partido.
De volta
Depois de PMDB, PSB, PP e PSD, o próximo partido a conversar com a presidente Dilma Rousseff, ainda antes do Natal, é o PR, cuja bancada soma 36 deputados e seis senadores. Desalojado do Ministério dos Transportes no ano passado, o partido se manteve fiel, apesar das bravatas contra o governo. A pressa, agora, é do Planalto: conta com os votos para a MP do setor elétrico. O PR já disse sim, mas seu poder de barganha estará nos destaques. A MP tem chance de piorar.
Fantasma
Está há 19 meses com o Procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o inquérito que investiga o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) por supostas fraudes em notas fiscais para justificar renda pessoal e que o fizeram renunciar à presidência do Senado. Comprometido com sua volta ao cargo, o governo teme que o passado bata à porta do senador.
Se a queda dos investimentos é o centro das preocupações do governo, a iniciativa da presidente Dilma Rousseff de reduzir em 20% o custo da energia elétrica ao consumidor final agravou consideravelmente a desconfiança do investidor e, por conseguinte, suas dificuldades para 2013.
O barateamento das tarifas, frustrado em parte pela não adesão das empresas estaduais, foi avaliado dentro e fora do País como um gesto inequívoco de intervencionismo que desconsiderou as regras mais básicas de mercado. Ficou a leitura de que o governo não considera esgotado o papel do marketing que sustentou até aqui a imagem de gestora da presidente.
A segunda parte do mandato de Dilma é decisiva para a preservação de índices de aprovação com os quais conta para sustentar sua campanha pela reeleição. Ainda que os efeitos da queda da economia demorem a chegar ao bolso do eleitor, a entrega de resultados especialmente no campo da infraestrutura tornou-se imperativa.
Para tanto, investimentos são indispensáveis e só chegam pela confiança - a mesma que o Banco Central reconhece abalada. É, pois, curioso que o governo do PT insista no tipo de marketing que vende o produto em falta, no caso a eficiência administrativa.
O intervencionismo e a xenofobia exibidos pela presidente nos últimos dias são adversários dos investimentos e da boa gestão, que se retroalimentam.
A politização do revés no embate com as elétricas estaduais deu o tom de populismo Kirchneriano que faltava para consolidar entre os empreendedores a leitura que já fazem de um governo contra o lucro - mola mestra dos negócios.