domingo, 9 de dezembro de 2012


Ficou difícil, Guido... - EDITORIAL REVISTA ÉPOCA


REVISTA ÉPOCA

O crescimento irrisório da economia transformou o ministro da Fazenda em anedota - e não demoveu Dilma de sua visão ideológica ultrapassada

Herdeira de uma economia em expansão em 2010, a presidente Dilma Rousseff chega à metade de seu mandato numa situação medíocre. Embora o desemprego esteja baixo e a massa de salários continue em alta - fatos que explicam a alta aprovação popular de Dilma - nossa economia está em situação de risco.

O índice de crescimento tem rotineiramente sido acompanhado do adjetivo "pífio". No terceiro trimestre de 2012, foi de 0,6%, metade do que o governo esperava. Isso sepultou as esperanças de uma virada antes do fim do ano. Numa iniciativa destinada a transformar-se em anedota, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sugeriu que o IBGE modificasse as regras de cálculo do PIB - uma tentativa de manipulação tão estapafúrdia quanto inábil. Sua demissão foi recomendada por ninguém menos que a revista britânica The Economist- leitura de cabeceira de Dilma, publicação que não cansou de publicar artigos favoráveis a seu governo nos últimos anos.

Em junho, quando o banco Credit Suisse anuciou que reduzira a previsão de crescimento anual de 2% para 1,5%, Mantega reagiu com brutalidade: "É uma piada". Agora, uma análise do Itaú, nem de longe a mais pessimista, anuncia 0,9% em 2012.

Esses índices são preocupantes. Dilma enfrenta dificuldades que seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, não teve de enfrentar: a queda no valor das commodities, o esgotamento do modelo de crescimento à base de consumo e crédito barato, e a incapacidade de incorporar mais força de trabalho a uma economia que funciona virtualmente a pleno emprego. Some-se a isso a dificuldade das autoridades econômicas para enxergar o que acontece no Brasil real. O índice de 0,6% veio após meses de ativismo febril, quando, semanalmente, eram lançados em média dois pacotes de estímulo, segundo o economista Armando Castellar, da Fundação Getulio Vargas.

Nossa economia não voltará a crescer sem aumentar sua produtividade e seus níveis de investimento - hoje eles estão em torno de 19% do PIB, ante 30% no Peru e 27% no Chile e na Colômbia. Para isso, é preciso acabar com os entraves que emperram qualquer negócio: impostos extorsivos, burocracia infernal, infraestrutura precária e leis trabalhistas e previdenciárias anacrônicas.

Nesse ponto, Dilma tem uma desvantagem em relação a Lula. Enquanto ele era pragmático para tomar suas decisões econômicas - agradava a pobres e banqueiros -, Dilma tem convicções ideológicas paralisantes. Seu dirigis- mo econômico não favorece o diálogo com os auxiliares nem negociações produtivas com os empresários, que não mostram a indispensável disposição de arrriscar nas atuais condições de temperatura e pressão.

Da redução da taxa de juros, em agosto de 2011, à desoneração da folha de salários da construção civil, na semana passada, é possível elaborar uma lista de boas intenções do governo. Mas a falta de diálogo impede o resultado esperado. No maior exemplo, o Planalto fracassou num projeto que deveria agradar a 100% dos brasileiros: reduzir a conta de energia elétrica em 20%. A dificuldade de diálogo com os empresários deriva da dificuldade que Dilma tem para entender que apenas se lucrarem as empresas investirão. E, sem empresas lucrando e gerando riqueza, não há como o país crescer mais. Ao mesmo tempo tão simples - e tão difícil...

O paradoxo dos presídios paulistas

As penitenciárias de São Paulo vivem uma situação absurda. Em vez de funcionar como um local onde criminosos condenados pela Justiça cumprem suas penas em regime fechado, sem contato com o mundo exterior, elas se transformaram no Q.G. do crime organizado. Instalados em suas celas, munidos de telefones celulares, os principais chefes de facções criminosas dirigem os subordinados que atuam do outro lado das grades. Comandam o tráfico de drogas, extorquem famílias de prisioneiros rivais, planejam assassinatos de policiais e negociam armamento pesado com outras organizações, conforme demonstrou reportagem de ÉPOCA publicada na semana passada.

Nesse universo paradoxal, a vida dos chefes de quadrilha parece mais segura, do ponto de vista operacional, quando eles se encontram sob proteção do Estado do que fora dali, quando se expõem ao confronto direto com outras facções criminosas e podem mesmo enfrentar a violência da polícia. A causa dessa situação é menos misteriosa do que parece. Consiste, basicamente, num sistema capilar de corrupção, que transforma os presídios brasileiros num dos mais vulneráveis do mundo.

A consolidação da facção PCC como principal organização criminosa de São Paulo só foi possível graças a uma sucessão de erros. Acreditou-se, numa primeira fase, que seria melhor negociar concessões com a quadrilha do que lhes dar um combate sem quartel. Noutra etapa, vendeu-se a ilusão de que o PCC estava tão enfraquecido com a prisão dos líderes mais conhecidos que se transformara numa "lenda". As duas atitudes estavam erradas. O crime organizado só pode ser enfrentado com dureza. Isso começa pelo isolamento real dos líderes. Isso implica, acima de tudo, transformar os presídios em prisões de verdade.

Espantando investimentos


de dezembro de 2012 | 2h 02

JOÃO BOSCO RABELLO - O Estado de S.Paulo

O Estado de S.Paulo - 09/12Se a queda dos investimentos é o centro das preocupações do governo, a iniciativa da presidente Dilma Rousseff de reduzir em 20% o custo da energia elétrica ao consumidor final agravou consideravelmente a desconfiança do investidor e, por conseguinte, suas dificuldades para 2013.

O barateamento das tarifas, frustrado em parte pela não adesão das empresas estaduais, foi avaliado dentro e fora do País como um gesto inequívoco de intervencionismo que desconsiderou as regras mais básicas de mercado. Ficou a leitura de que o governo não considera esgotado o papel do marketing que sustentou até aqui a imagem de gestora da presidente.

A segunda parte do mandato de Dilma é decisiva para a preservação de índices de aprovação com os quais conta para sustentar sua campanha pela reeleição. Ainda que os efeitos da queda da economia demorem a chegar ao bolso do eleitor, a entrega de resultados especialmente no campo da infraestrutura tornou-se imperativa.

Para tanto, investimentos são indispensáveis e só chegam pela confiança - a mesma que o Banco Central reconhece abalada. É, pois, curioso que o governo do PT insista no tipo de marketing que vende o produto em falta, no caso a eficiência administrativa.

O intervencionismo e a xenofobia exibidos pela presidente nos últimos dias são adversários dos investimentos e da boa gestão, que se retroalimentam.

A politização do revés no embate com as elétricas estaduais deu o tom de populismo Kirchneriano que faltava para consolidar entre os empreendedores a leitura que já fazem de um governo contra o lucro - mola mestra dos negócios.
Universo   particular
Não obstante a repercussão negativa do mercado, o governo consome em seu universo particular a avaliação de que a MP do setor elétrico atingiu o seu objetivo com a adesão da maioria das empresas ao contrato de renovação antecipada das concessões e de que espetou a oposição eleitoralmente. Apesar da recusa das três estatais - Cemig, Cesp e Copel -, a redução do preço da energia está garantida ainda que à custa do Tesouro e a maior parte dos contratos renovada. A estratégia, agora, é ganhar tempo para a votação no Congresso, que pode ficar para fevereiro, quando a MP perde a validade.
Sem chance
A CPI da CBF que o deputado Romário (PSB-RJ) quer instalar na Câmara dificilmente sairá do papel. Ele tem as assinaturas necessárias, mas vai entrar numa fila de nove outras. E só podem funcionar cinco ao mesmo tempo. O PMDB, partido de Henrique Alves, virtual presidente da Câmara em 2013, não quer ouvir falar do assunto. "Essa CPI inviabiliza a Copa", diz uma liderança do partido.
De volta
Depois de PMDB, PSB, PP e PSD, o próximo partido a conversar com a presidente Dilma Rousseff, ainda antes do Natal, é o PR, cuja bancada soma 36 deputados e seis senadores. Desalojado do Ministério dos Transportes no ano passado, o partido se manteve fiel, apesar das bravatas contra o governo. A pressa, agora, é do Planalto: conta com os votos para a MP do setor elétrico. O PR já disse sim, mas seu poder de barganha estará nos destaques. A MP tem chance de piorar.
Fantasma
Está há 19 meses com o Procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o inquérito que investiga o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) por supostas fraudes em notas fiscais para justificar renda pessoal e que o fizeram renunciar à presidência do Senado. Comprometido com sua volta ao cargo, o governo teme que o passado bata à porta do senador.
Se a queda dos investimentos é o centro das preocupações do governo, a iniciativa da presidente Dilma Rousseff de reduzir em 20% o custo da energia elétrica ao consumidor final agravou consideravelmente a desconfiança do investidor e, por conseguinte, suas dificuldades para 2013.
O barateamento das tarifas, frustrado em parte pela não adesão das empresas estaduais, foi avaliado dentro e fora do País como um gesto inequívoco de intervencionismo que desconsiderou as regras mais básicas de mercado. Ficou a leitura de que o governo não considera esgotado o papel do marketing que sustentou até aqui a imagem de gestora da presidente.
A segunda parte do mandato de Dilma é decisiva para a preservação de índices de aprovação com os quais conta para sustentar sua campanha pela reeleição. Ainda que os efeitos da queda da economia demorem a chegar ao bolso do eleitor, a entrega de resultados especialmente no campo da infraestrutura tornou-se imperativa.
Para tanto, investimentos são indispensáveis e só chegam pela confiança - a mesma que o Banco Central reconhece abalada. É, pois, curioso que o governo do PT insista no tipo de marketing que vende o produto em falta, no caso a eficiência administrativa.
O intervencionismo e a xenofobia exibidos pela presidente nos últimos dias são adversários dos investimentos e da boa gestão, que se retroalimentam.
A politização do revés no embate com as elétricas estaduais deu o tom de populismo Kirchneriano que faltava para consolidar entre os empreendedores a leitura que já fazem de um governo contra o lucro - mola mestra dos negócios.

Indústria tentará evitar aumento real de salários


MARCELO REHDER - O Estado de S.Paulo
Os aumentos de salários acima da inflação devem continuar pressionando o custo da indústria, apesar do crescimento anêmico do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Em 2013, dizem os especialistas, a tendência de alta nos ganhos salariais será sustentada pela manutenção de fatores como o desemprego baixo e a escassez de mão de obra qualificada, em um cenário de crescimento econômico maior que o de 2012. A indústria, porém, reclama de perda de competitividade e fala em trocar homens por máquinas nas linhas de produção.
"Existe uma competição muito acirrada no mercado de trabalho que obriga a indústria a conceder reajustes mais fortes para não perder mão de obra já treinada para o setor de serviços", diz o economista Caio Machado, da LCA Consultores.
O diretor de competitividade e tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho, afirma que a situação de boa parte da indústria não permite mais aumentos reais de salário. Ele alega que as empresas não conseguem absorver novos aumentos de custo nem repassá-los aos preços por causa da concorrência internacional.
"Existe um limite para isso, e acho que nós chegamos a esse limite", diz Roriz Coelho. "Quando o salário começa a aumentar muito, a saída é investir em equipamentos que usam menos mão de obra."
Na semana passada, o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, hoje no comando da Rio Bravo, chamou a atenção para a situação de empresas que estão passando por dificuldades para gerar receita, o que num ambiente de alta carga tributária pode elevar a taxa de desemprego no curto prazo.
"Há empresas enforcadas. Há indício de que o mercado de trabalho tem de se ajustar para arrumar a economia. E é provável que isso poderá ocorrer no início do próximo ano", diz o economista.
Nem em pesadelos os sindicalistas admitem abrir mão do aumento real dos salários neste momento. Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, eventuais demissões em massa seriam um tiro no pé das próprias empresas e da economia brasileira como um todo.
O sindicalista argumenta que o Brasil se deu bem em relação a outros países por ter combatido a crise internacional com aumento de emprego e salário. "Quem recorreu à automatização e diminuição de postos de trabalho está hoje numa crise da qual não sai tão cedo."
Os ganhos salariais estão batendo recorde este ano. Levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)mostra que 96,5% dos reajustes no primeiro semestre ficaram acima da inflação. Foi o melhor desempenho desde 1996, quando o estudo começou a ser feito. A média de ganho real, também recorde, ficou em 2,23%.
Os ganhos reais em torno de 2% foram mantidos no segundo semestre, puxados pelas negociações de grandes categorias. Os 750 mil metalúrgicos da Força Sindical no Estado de São Paulo, por exemplo, receberam reajuste salarial de 8% no mês passado, que representou aumento real de 2%. "Não fossem os aumentos reais de salário, o PIB ficaria ainda pior", diz Torres, referindo-se às projeções do mercado que indicam crescimento na faixa de 0,8% a 1% para este ano.
Sem muita margem para corte de custos, as empresas vão acabar tendo de repassar o aumento dos salários para os preços, avalia o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. O movimento é favorecido pela valorização do dólar em relação ao real, que acumula ganho de 12% no ano.
"O câmbio ao redor de R$ 2, indo para um patamar de R$ 2,10 abre espaço para repasses de custo sem perda de vendas para a concorrência internacional, já que o preço do produto brasileiro, em dólares, ficou mais barato."/COLABOROU RICARDO LEOPOLDO