segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Intelectuais seriam mais fiéis à verdade se pagassem o preço de suas ideias, João Pereira Coutinho - FSP

 Aprendo com os leitores. Semanas atrás, escrevi nesta Folha sobre a covardia dos intelectuais, sempre prontos a marchar pelo absurdo do momento.

Um leitor do Recife, igualmente intrigado com o fenômeno, escreveu para sugerir um livro: "Por que se Enganam os Intelectuais", de Samuel Fitoussi (há tradução portuguesa pela Bertrand).

Abençoado seja esse pernambucano erudito. Conhecia Fitoussi do jornal Le Figaro, mas não o ensaio, que traz novos argumentos para não levarmos a espécie muito a sério. Eu nunca levei.

Labirintos circulares semelhantes a alvos se sobrepõem
Ilustração de Angelo Abu para coluna de João Pereira Coutinho de 23 de dezembro de 2025 - Angelo Abu

O autor parte da mesma premissa: seria de esperar que pessoas mais cultas, educadas e inteligentes tivessem um compromisso maior com a verdade.

Mas a história —essa vitrine de horrores— justifica nosso ceticismo. No século 20, o comunismo e o nazismo foram fenômenos de intelectuais, não das massas ou trabalhadores que seguiram ou foram subjugados pelas elites.

Na União Soviética, escreve Fitoussi, quem tinha um grau universitário era duas a três vezes mais suscetível de apoiar o PC do que cidadãos com ensino médio.

E na Alemanha nazista a maioria dos que decidiram a "solução final" na Conferência de Wannsee tinha doutorado. Explicações?

Charles Darwin estava parcialmente errado, defende o autor. Sim, em teoria, a razão permite ver a realidade tal como ela é —condição necessária para que a espécie tome decisões que garantam a sobrevivência.

Mas a verdade não é tudo. Ou, para usar a terminologia de Fitoussi, existe uma diferença entre a "racionalidade epistêmica" e "racionalidade social". Nem sempre estão alinhadas. A primeira permite-nos conhecer a verdade. A segunda leva a questionar até que ponto é socialmente vantajoso defender essa verdade.

Em muitas circunstâncias, a possibilidade de nos tornarmos párias em nosso círculo social ou profissional é pior do que defender uma mentira. Por mais que o intelectual admire os exemplos de Sócrates, Copérnico ou Galileu, é mais provável que estivesse do lado de quem os condenou.

Até porque existe outro fator que merece referência: quanto mais baixo o preço da irracionalidade epistêmica, mais o intelectual se entrega à racionalidade social.

Se, por absurdo, o intelectual sofresse as consequências das ideias imbecis ou até criminosas que defende, teria mais cuidado com a racionalidade epistêmica. A verdade seria mais importante do que a reputação entre os pares.

Mas um intelectual, sobretudo nas ciências humanas, nunca paga esse preço. Ele não é um açougueiro vendendo carne estragada. A falência ou a cadeia não são consequências reais para ele.

Pelo contrário: como sua identidade está intimamente ligada às ideias que defende, existe um incentivo perverso para continuar a defendê-las independentemente das consequências para os outros —e com redobrado vigor.

Samuel Fitoussi relembra o caso de Georg Lukács (1885-1971), para quem o marxismo continuaria a ser válido mesmo que todas as previsões empíricas da teoria fossem refutadas (como, aliás, foram). Reconhecer o erro é mais grave do que insistir nele.

E os honestos? Falo daqueles que acreditam honestamente nas ideias bizarras que defendem porque pensam que são a verdade. Como explicar a insistência no erro?

Uma vez mais, Fitoussi reformula o clichê: o intelectual não é aquele que escolhe as melhores ideias, mas aquele que melhor defende as suas ideias para lá de qualquer evidência.

Ou, dito ainda de outra forma, não são os fatos que alteram as convicções, mas as convicções que moldam os fatos.

Um exemplo: quem parte do pressuposto de que o comunismo é sempre superior ao capitalismo não altera essa posição só porque o comunismo foi incapaz de reduzir a pobreza.

Os malefícios do capitalismo são apresentados sob novas roupagens —o materialismo corrompe o espírito, a desigualdade é pior que a miséria etc.— para que a ideologia primordial se mantenha.

Aliás, numa das observações mais luminosas do ensaio, Fitoussi sugere que as ideologias são como fósseis: elas procuraram responder a uma situação histórica particular —mas depois sobreviveram como vestígios que são usados como se ainda estivessem vivos.

Só isso explica, acrescento eu, a lógica ilógica de qualquer ideologia: o fato de ela oferecer a mesma resposta —mais liberdade, mais igualdade ou mais fraternidade— independente do contexto.

No fundo, o "mercado de ideias" em que os liberais acreditam, segundo o qual a verdade acabaria por emergir do debate, deve ser visto com alguma prudência.

Entre intelectuais, onde errar não tem custo, o mais provável é ninguém aprender com ninguém.


Sudeste concentra engenheiros com mais de 30 anos, e setor vê saturação no mercado, FSP

 

São Paulo

Faltam quatro semestres para Giovanna Lins, 22, se formar em engenharia civil pelo Ifam (Instituto Federal do Amazonas). Ela está no sexto período, mas desde o terceiro é funcionária da Seinfra-AM (Secretaria de Estado de Infraestrutura do Amazonas).

Giovanna diz perceber um aquecimento do setor no estado, com mais presença de construtoras. "Diferentemente de São Paulo, onde o mercado sempre esteve muito em alta, a obra vertical [prédios] aqui começou agora. Tem várias construtoras. Antigamente não se via isso."

Uma pesquisa realizada pela Quaest a pedido do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia) e do Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo) mostra que a grande maioria dos engenheiros registrados com mais de 30 anos estão no Sudeste, região que representa mais de 50% nessas faixas etárias.

No entanto, no segmento que vai de 18 a 24 anos, por exemplo, a distribuição é mais pulverizada. Nesse estrato, a participação do Sudeste cai para 28%. Engenheiros registrados no Sul representam 23% dos profissionais nessa faixa, seguidos por trabalhadores do Norte (18%), Nordeste (17%) e Centro-Oeste (14%).

Engenheiro com capacete branco e óculos de segurança segura plantas em canteiro de obras. Ao fundo, dois operários trabalham com carrinho de mão e materiais de construção.
O engenheiro civil Sérgio Lenerson, 27, fundador da Maesttre Arquitetura & Engenharia, fiscaliza a obra de um galpão no bairro Coroado, em Manaus - Michael Dantas /Folhapress

Esta é a primeira vez que a entidade faz a pesquisa. A Quaest realizou 48 mil entrevistas com profissionais das áreas de engenharia, meteorologia e geociências registrados no Confea, no período de 23 de setembro de 2024 a 2 de fevereiro de 2025. A margem de erro é de 1 ponto percentual. O nível de confiabilidade da amostra geral é de 95%.

O engenheiro civil Sérgio Lenerson, 27, criou a Maesttre em 2023, logo após colar grau. Voltada a obras e reformas residenciais em Manaus, a empresa soma atualmente seis funcionários (dois engenheiros, dois arquitetos e dois profissionais responsáveis pelas redes sociais) —todos trabalham como PJ (pessoa jurídica). Segundo ele, o mercado local está bem aquecido e há bastante demanda.

Lenerson afirma que, logo depois de sair da faculdade, a idade foi um problema para arranjar clientes.

"Às vezes, tinha um desafio também por ser novo. Tinha algumas situações em que o cliente chegava e olhava o cara muito novo, não confiava tanto. Eu tinha que ser muito mais técnico vendendo para ele o meu serviço", conta.

Par a estudante de engenharia química Isabela Pereira, 22, a Zona Franca de Manaus é um atrativo para jovens da região. "Eu sou uma das pessoas que, no quarto período, já conseguiu ingressar em estágio na minha área. A oportunidade de estágio é muito grande."

Na visão de Vinicius Marchese, presidente do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), o aumento do número de projetos de engenharia na região contribuiu para atrair mais profissionais jovens. Ele cita a exploração na bacia da Foz do Amazonas como exemplo.

Neste ano, o governo Lula também fez uma série de leilões de rodovias em estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, como os certames da Rota Agro Norte, que corta Rondônia, e a Rota da Celulose, que atravessa Mato Grosso do Sul. As concessões preveem bilhões de reais de investimentos em obras, que incluem duplicações e faixas adicionais.

Para além dos novos projetos, Marchese aponta uma saturação do mercado no Sudeste.

"Ali está no limite mesmo. Por mais que a gente tenha uma série de oportunidades e necessidades, pelo olhar do profissional, a região está saturada", afirma.

O CEO da Motiva Rodovias, Eduardo Camargo, disse em entrevista à Folha em setembro que a companhia tem observado falta de mão de obra especializada. Para atrair novos funcionários, a Motiva decidiu retomar o programa de trainee da empresa, batizado de Quest_, que havia sido interrompido há quatro anos.

A falta de mão de obra especializada também virou reclamação da Nova 364, que administra a Rota Agro Norte (RO). De acordo com executivos à frente do projeto, Rondônia tem uma grande massa de mão de obra voltada ao agronegócio e, por isso, é difícil atrair o trabalhador local para a construção civil, atividade que não tem a mesma força no estado.

Ainda segundo a pesquisa da Quaest, os engenheiros brasileiros registrados mostraram satisfação com o mercado de trabalho—a parcela de entrevistados que se declarou satisfeita varia de 65% a 73%, a depender da faixa etária. Os maiores índices de satisfação são observados entre profissionais com 35 anos ou mais.

Na contramão, engenheiros com idade entre 25 e 29 anos são os menos contentes com o mercado. Nesse grupo, 65% estão satisfeitos, e 35% se disseram insatisfeitos.

Nessa mesma faixa etária, a maior reclamação é a falta de vagas de trabalho (37%), seguida por salários baixos e piso salarial defasado (31%).

A pesquisa indica que a remuneração é mais alta conforme a idade avança. A maior fatia dos engenheiros com idade entre 18 e 29 anos disse ganhar entre dois e cinco salários mínimos. Nas outras faixas etárias, a maior parte de cada grupo disse ter remuneração superior a cinco salários mínimos.

Mercadante elogia governo Lula durante evento com Tarcísio no Rodoanel Norte e ouve vaias, OESP

 

Foto do autor Geovani Bucci
Foto do autor Juliano  Galisi
Atualização: 

‘Enterro’ de candidatura de Tarcísio após pesquisa é exagero, mas tempo joga contra o governador

Capa do video - ‘Enterro’ de candidatura de Tarcísio após pesquisa é exagero, mas tempo joga contra o governador

Indicadores apontam que Tarcísio ainda pode ser mais competitivo que Flávio, mas prazo para reverter desconhecimento e convencer ex-presidente é apertado. Crédito: Fotografia e edição: Júlia Pereira

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)Aloizio Mercadante, elogiou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante um evento com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e foi vaiado pelos presentes.

Mercadante participou da cerimônia de entrega do primeiro trecho do Rodoanel Norte em Arujá, na Grande São Paulo, na manhã desta segunda-feira, 22. Após dizer que as obras do trecho foram uma oportunidade de emprego aos operários que estavam com a carteira de trabalho “pegando poeira dentro da gaveta”, passou a elogiar os indicadores econômicos do governo federal, como a taxa de desemprego, que está no piso histórico.

Para você

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“Brigar com os fatos não resolve”, disse o ex-ministro de outras gestões petistas. “Se a gente não trabalhar em parceria, o País não avança na velocidade que deveria avançar”.

Durante sua fala, o presidente do BNDES reclamou da falta de menção ao banco na placa do governo estadual. Segundo ele, um terço do investimento foi feito pelo banco público.

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Ao discursar no evento, Tarcísio elogiou o papel do banco no andamento das obras. “O BNDES tem sido fundamental no financiamento das grandes obras”, disse o governador.

Por outro lado, ao falar sobre a entrega no atraso do trecho, Tarcísio afirmou que a obra ficou parada por causa da corrupção e da Operação Lava Jato. “Nós enfrentamos aqui e nós vimos aqui a Operação Lava Jato daqueles governos que se acostumaram a viver na corrupção”, disse Tarcísio.

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Também em tom elogioso, Tarcísio exaltou o ex-presidente Jair Bolsonaro ao destacar a concessão da Rodovia Presidente Dutra. Segundo o governador, o projeto resultou em aplicação das faixas, melhorias na Serra das Araras e maior capacidade da via.

Novo trecho do Rodoanel terá tráfego liberado nesta terça

Com 24 quilômetros, o novo trecho do Rodoanel será liberado ao tráfego na terça-feira, 23. Ele vai do km 129 ao km 153 e ligará as rodovias Fernão Dias e Presidente Dutra, com conexão ao trecho Leste do próprio Rodoanel, na altura da Rodovia Ayrton Senna.

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A retomada do empreendimento ocorreu em 2023, após o leilão que concedeu a rodovia à empresa Via Appia. Pelo contrato, a concessionária será responsável pela administração do Rodoanel Norte por 31 anos e deverá investir R$ 2 bilhões para a conclusão das obras.

Está previsto que o segundo trecho seja entregue no segundo semestre de 2026.

Além de Mercadante, compareceram o vice-governador do Estado, Felício Ramuth (PSD), o presidente da Assembleia Legislativa, André do Prado (PL), e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).