domingo, 24 de agosto de 2025

O que querem esconder no novo Código Eleitoral, Lara Mesquita, FSP

 Peço desculpas ao leitor por me repetir e voltar ao novo Código Eleitoral (PLP 112/2021).

projeto, que tramita no Senado em regime de urgência, se propõe a unificar toda a legislação eleitoral em um único documento. Isso inclui a revogação das leis dos Partidos Políticos e das Eleições, e do antigo código eleitoral (de 1965) entre outras normas. Embora a iniciativa seja bem-vinda, o texto não apenas compila a legislação vigente: traz alterações significativas nas regras eleitorais, muitas das quais estão passando despercebidas.

A imagem mostra uma sala de reuniões com várias pessoas sentadas em mesas, algumas usando laptops. Há um grupo de pessoas ao fundo, e uma tela de apresentação visível na parede, exibindo informações. A sala tem janelas grandes com luz natural entrando, e as pessoas parecem estar envolvidas em discussões ou trabalho.
Comissão de Constituição e Justiça durante sessão de debate do projeto do Novo Código Eleitoral - Ranier Bragon - 9.jul.25/Folhapress

O projeto versa sobre temas que vão do registro de partidos e eleitores ao teto de gastos em campanhas, sistema de prestação de contas, divulgação de pesquisas de intenção de voto e reserva de vagas para mulheres nas listas de candidatos e nas casas legislativas.

Mencionei na última coluna a reserva de 20% das vagas nas casas legislativas para mulheres. Mas, nas disposições transitórias, a aplicação dessa regra é prevista para "20 (vinte) anos, a contar da primeira eleição subsequente à publicação desta Lei." Mais grave ainda, tem efeito imediato a alteração no texto que exime os partidos de preencherem o mínimo de 30% das vagas nas listas de candidatos com "candidatos de cada sexo".

O artigo 859 determina que: "caso não haja o preenchimento mínimo das vagas para cada gênero, as vagas remanescentes deverão ficar vazias, sendo vedado o preenchimento com o outro gênero". Somente se as vagas não preenchidas forem ocupadas por candidatos de outro gênero os partidos podem ser punidos. Hoje, a regra dos 30% incide sobre o total de candidatos efetivamente registrados, e não o tamanho máximo da lista.

Ainda, o Código anistia os partidos do pagamento de multas por contas rejeitadas em eleições passadas e permite parcelamentos de 60 a 180 meses nos casos que devoluções sejam necessárias ou que multas sejam mantidas.

Outro ponto polêmico é a divulgações das pesquisas de intenção de voto. A nova redação obriga os institutos a informar "os percentuais de intenção de voto no candidato eleito nas três últimas pesquisas estimuladas realizadas pelo mesmo instituto na eleição anterior, em confronto com o percentual de votos apurados pela Justiça Eleitoral, na respectiva circunscrição, nas eleições para os cargos de Prefeito, Governador, Senador e Presidente da República."

O intuito seria oferecer ao eleitor uma baliza de confiabilidade, mas isso ignora que o objetivo das pesquisas de opinião não é prever o resultado da urna (exceto no caso da "boca de urna"), mas sim ser um retrato do momento. Muitos, inclusive, utilizam as pesquisas para tomar decisões estratégicas: abandonar seu candidato predileto, mas que o eleitor julga inviável, e redirecionar o voto para sua segunda opção.

Esse movimento é comum na reta final da campanha eleitoral, muitas vezes na véspera da eleição. Imputar erro às pesquisas por conta de mudanças naturais no comportamento dos eleitores serve apenas ao intuito de alguns líderes políticos que gostariam de restringir o acesso à informação. Há quem preferiria limitar essas informações as elites políticas, que além das pesquisas públicas também possuem acesso a pesquisas e trackings de consumo privado dos partidos.

Ainda que o novo código tenha muitos méritos, e não nego que os tenha, não é por acaso que deputados e senadores reservem para a última hora a análise de projetos dessa magnitude. As votações apressadas desviam o foco dos pontos que os líderes partidários preferem que passem desapercebidos.

Bolsonarismo agora começa a dar tiros em bancos e na estabilidade financeira do país, FSP

 O bolsonarismo faz qualquer negócio. Agora, começa a dar tiros na estabilidade de bancos. Elites políticas e econômicas continuam a colaborar no projeto da arquitetura da destruição, agora também econômica. É colaboracionismo.

A ideia de que a propaganda criminosa e os crimes dos Bolsonaro seriam farsa na prática insignificante sobreviveu mesmo depois de Jair Bolsonaro ter ocupado a cadeira de presidente. Ainda em 2022, os crimes que cometeu durante o mandato eram considerados ficção esquerdista pelos adeptos convictos e tolerados por aqueles que faziam o cálculo supostamente pragmático de que se tratava do preço para manter Luiz Inácio Lula da Silva longe do poder.

Para os "pragmáticos", o bolsonarismo continua farsesco e de inépcia idiota. Suas consequências, pois, seriam negligenciáveis, no que lhes interessa. Em última análise, seria controlável por acordão de elites políticas e econômicas, como aqueles que se faziam pelo menos desde 2016.

Jair Bolsonaro, um homem com cabelo castanho claro e liso, usando uma camisa amarela. Ele está olhando para a câmera com uma expressão séria. Ao fundo, há outras pessoas desfocadas, e uma bandeira do Brasil é visível em um dos lados da imagem.
Ex-presidente Jair Bolsonaro deixa o hosital após exames médicos - Adriano Machado -16.ago.25/Reuters

As investigações das tentativas de golpe de 2022-23 pouco modificaram tais ideias. Para parte dos adeptos da tolerância, tal crença foi transformada no plano "bolsonarismo sem Bolsonaro": usar os votos dele para eleger um líder do "bolsonarismo moderado".

O bolsonarismo é uma espécie de movimento revolucionário movido pelas redes, uma insurreição permanente. Suas lideranças se alimentam desse movimento e precisam mantê-lo vivo. O que elites econômicas e políticas acham que vai sair daí?

A conspiração dos Bolsonaro com Donald Trump prejudica milhares de empresas. Muitos dos frequentadores da casa de tolerância dos Bolsonaro ainda dizem que Lula e seu esquerdismo "Sul Global" seriam os responsáveis pelo prejuízo. É o mesmo padrão de negacionismo ou cumplicidade que se vê desde fins de 2017.

Agora, bolsonaristas espalham boatos sobre bancos, sugerem que correntistas esvaziem suas contas. Em tempos antigos, uma corrida (saques em massa) quebrava bancos. Fundos garantidores e bancos centrais em muito atenuaram esse risco de evaporação de haveres de correntistas e de convulsão econômica. Mas o risco de tumulto permanece.

É exagero, diz o adepto da ideia do bolsonarismo como farsa. Alguns esperam ganhar com a degradação institucional, outros nem a enxergam, mesmo quando a água suja começa a bater nas costas.

Considere-se um trecho de uma resolução de 2023 do Parlamento Europeu sobre a Hungria, que apodrece sob a autocracia admirada pelo bolsonarismo. Há "consternação" com os "relatos sobre métodos de intimidação, como visitas da polícia secreta aos escritórios de algumas empresas, e outras formas de pressão utilizadas por certos indivíduos que se sabe estarem ligados ao círculo próximo ou ao gabinete do primeiro-ministro, com o objetivo de colocar sob o seu controle setores da indústria húngara considerados ‘estratégicos’".

De volta ao poder, o bolsonarismo pode criar máfias econômicas (Rússia), expropriar e destruir (Venezuela), desapropriar por coação (Hungria). Vejam o exemplo de Trump, a extorquir empresas. Foi a direita alucinada (Collor) que deu calote na dívida pública.

O bolsonarismo é defesa de ditadura, tortura, genocídio indígena, ameaça de estupro. É o morticínio da epidemia, promessas públicas e tentativas de golpe, conluio contra exportadores e, agora, crimes contra o sistema financeiro. Quem não for parte da solução, é parte do problema. Ou fantasia lucrar com o problema.