terça-feira, 13 de maio de 2025

Fraude no INSS: Cinco juízes se declararam suspeitos de julgar ação, FSP_

 Alguns meses antes de a operação Sem Desconto, da Polícia Federal, escrutinar as fortunas adquiridas por meio de um esquema ilegal de descontos fraudulentos de aposentadorias, uma ação que tramita no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), no Espírito Santo, teve cinco desembargadores se declarando suspeitos de julgar o caso.

ação foi movida em dezembro do ano passado pela Abradeb (Associação Brasileira de Defesa dos Clientes e Consumidores de Operações Financeiras e Bancárias), que há anos denuncia a fraude no INSS. As declarações de suspeição ocorreram um mês após o processo ser protocolado.

Imagem de um edifício de vários andares com fachada de vidro refletivo, onde se pode ver o céu e nuvens refletidos. O prédio é identificado pelo logo do INSS na parte superior. Na frente, há uma área ajardinada com algumas árvores e bandeiras.
Fachada da sede do INSS em Brasília. A Polícia Federal realizou a operação Sem Desconto, que investiga fraudes em concessão de benefícios previdenciários - Pedro Ladeira - 23.abr.205/Folhapress

Diferentemente do impedimento para julgar um caso, em que há motivos objetivos, na suspeição as causas para não participar do julgamento são subjetivas. Ser "amigo íntimo" ou "inimigo capital" são exemplos listados no Código de Processo Civil que tornam um juiz suspeito, porque comprometem sua parcialidade.

O juiz também pode alegar "motivo de foro íntimo", sem justificar a causa da suspeição —motivo citado pelos cinco magistrados.

Segundo juristas consultados, essa situação, embora tenha previsão legal, é incomum.

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O Painel S.A. questionou os desembargadores por meio da assessoria do TRF-2, mas não obteve resposta. Em nota, o tribunal disse somente que o artigo 145 do Código de Processo Civil prevê que "poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar suas razões".

TRF-2 negou bloqueio dos descontos

Após os cinco desembargadores declararem suspeição, o relator do caso, Luiz Norton Baptista de Mattos, negou em fevereiro o pedido da Abradeb de bloqueio imediato de todos os descontos.

Mattos alegou que, apesar de investigações mostrarem irregularidades, não se sabia ainda quais descontos eram ilegais. "O bloqueio integral do repasse seria desproporcional", disse o desembargador à época.

Ele afirmou na ação que uma auditoria interna do INSS analisou 615 requerimentos e concluiu que cerca de 55% dos casos apresentavam irregularidades na documentação sobre o consentimento.

A Abradeb diz que mais de 90% dos descontos das aposentadorias envolvem a adesão às associações sem autorização dos beneficiários.

INSS foi conivente, diz associação

A Abradeb ingressou com uma ação civil pública na 4ª Vara Federal Cível de Vitória (ES) no fim do ano passado contra o INSS, a Dataprev e 33 associações, como noticiou a coluna em janeiro deste ano.

A associação acusa o INSS de conivência com a fraude, porque, mesmo após investigações e auditorias internas revelarem o esquema, o instituto continuou firmando acordos de cooperação técnica com associações que permitiam os descontos diretamente na folha de pagamento das aposentadorias.

O número de instituições denunciadas pela Abradeb é o triplo do que foi revelado pela PF. O montante apurado, também é maior. Documentos anexados ao processo apontam que cerca de R$ 300 milhões foram desviados mensalmente das verbas previdenciárias ao longo de dez anos, o que totaliza R$ 10 bilhões de perdas.

As investigações da PF, porém, focaram no período de 2019 a 2024, e mostraram descontos totais no valor de R$ 6,3 bilhões das aposentadorias para o recolhimentos de benefícios. Mas as autoridades ainda calculam a porcentagem desse montante que representa os descontos ilegais, sem autorização prévia dos beneficiários.

Com Stéfanie Rigamonti


PF mira rede de lavagem de propina em nova fase de operação sobre venda de sentenças no STJ, FSP

 

Brasília

Polícia Federal deflagrou, nesta terça-feira (13), a 5ª fase da Operação Sisamnes, que investiga um suposto esquema de vazamentos de decisões e venda de sentenças no STJ (Superior Tribunal de Justiça), com a participação de servidores.

Segundo o órgão, o objetivo é aprofundar a investigação em relação aos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, mercado de câmbio clandestino, evasão de divisas e organização criminosa.

STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou 11 mandados busca e apreensão, além do sequestro de bens e valores no montante aproximado de R$ 20 milhões e a proibição dos investigados de saírem do país, com a apreensão de seus passaportes. Eles foram distribuídos nos estados de Mato Grosso, São Paulo e no Distrito Federal.

Prédios do STJ (Superior Tribunal de Justiça), em Brasília
Prédios do STJ (Superior Tribunal de Justiça), em Brasília - Rafa Neddermeyer - 3.nov.23/Agência Brasil

De acordo com a PF, as investigações identificaram uma rede financeira-empresarial de lavagem de dinheiro, criada para dissimular a origem ilícita das supostas propinas lançadas para a compra de decisões judiciais proferidas no âmbito do STJ, "de modo a romper a vinculação direta entre o agente corruptor e o servidor público corrompido".

Em novembro de 2024, a PF cumpriu, na mesma operação, 23 mandados de busca e um de prisão contra advogados, lobistas, empresários, assessores, chefes de gabinete e magistrados suspeitos de envolvimento na venda de decisões judiciais.

Na época, foram alvos de medidas de busca desembargadores do TJ-MT (Tribunal de Justiça do Mato Grosso), os chefes dos gabinetes dos ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Isabel Gallotti e Og Fernandes (Daimler Alberto de Campos e Rodrigo Falcão de Oliveira Andrade, respectivamente) e o assessor Márcio José Toledo Pinto, que trabalhou nos gabinetes de diversos ministros.

Já a ordem de prisão preventiva foi contra Andreson de Oliveira Gonçalves, apontado pela investigação como o lobista responsável por intermediar interesses criminosos entre advogados e servidores públicos.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Ferrovia inicia transporte de café do sul de Minas para portos de Santos e do Rio, FSP

 Marcelo Toledo

RIBEIRÃO PRETO

A concessionária MRS iniciou as operações de transporte ferroviário de café do sul de Minas Gerais para os portos de Santos —o maior da América Latina— e do Rio de Janeiro.

A proposta da empresa de logística é levar o café da região de Varginha até os dois portos, em parceria com o terminal do TCI, numa história que remete aos primórdios do período ferroviário no país. Minas Gerais é o maior produtor de café do mundo.

A imagem mostra um trem amarelo e azul escuro se movendo por uma linha férrea cercada por uma densa vegetação verde. O caminho ao lado dos trilhos é de terra, e as árvores ao redor estão cheias de folhas, criando um ambiente natural e tranquilo.
Locomotiva da concessionária MRS, que administra uma malha ferroviária de 1.643 km nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo - Divulgação

As ferrovias se proliferaram em São Paulo e Minas Gerais a partir da segunda metade do século 19, com o objetivo de atender barões do café que queriam enviar sua produção ao porto de Santos, transporte que até então era feito somente no lombo de mulas.

Foi assim que surgiu a SPR (São Paulo Railway), pioneira no transporte ferroviário de cargas e passageiros em São Paulo, que acelerou investimentos e originou o surgimento de dezenas de companhias ferroviárias. Ela foi essencial na transformação de um país até então essencialmente rural num que passou a se industrializar.

Entre essas dezenas de ferrovias que surgiram está a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que ficou caracterizada por apresentar um traçado muito sinuoso, com o objetivo de chegar às propriedades cafeeiras para embarcar as produções. Não à toa, foi uma das que ficaram conhecidas como "ferrovia cata café".

Só que as décadas se passaram, o transporte ferroviário foi sendo deixado de lado e muitas ferrovias desapareceram. O ensaio de retomada do modal que o país vive nos últimos anos tem feito com que serviços outrora relevantes e que tinham sido abandonados —caso do transporte de café— voltassem a ocorrer.

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De acordo com a MRS, a parceria permitirá redução de até 30% nos custos em comparação com o transporte por caminhões em rodovias, além da possibilidade de levar uma carga muito maior do que a que circula nas estradas rumo aos portos. Dependendo da rota feita, a redução na emissão de gases poluentes pode chegar a 47,9%, ainda segundo a concessionária.

A MRS administra uma malha ferroviária de 1.643 quilômetros em três estados da região Sudeste —São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais— e conecta regiões produtoras de commodities minerais e agrícolas aos principais portos da região.

A estimativa indica que 20% das exportações do país passam pelos trilhos da operadora.