segunda-feira, 12 de maio de 2025

A Chinesa Envision investirá US$ 1 bilhão em biorrefino no Brasil, diz governo durante visita de Estado,EIXOS

 O governo brasileiro anunciou nesta segunda (5/12) que o país deve receber US$ 1 bilhão em investimento da chinesa Envision Group para produção de hidrogênio e amônia verdes e combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) a partir de cana-de-açúcar, no primeiro Parque Industrial Net-Zero da América Latina.


Os detalhes do empreendimento ainda não foram divulgados. O anúncio ocorreu na quarta visita de Estado do presidente Lula (PT) à China, após encontros com executivos de empresas chinesas ligadas aos setores de energia sustentável e defesa.

Sediada em Xangai, a multinacional chinesa prevê tem como atividades principais a fabricação de turbinas eólicas, sistemas de armazenamento de energia e soluções de hidrogênio verde – um insumo para a produção de SAF.

O investimento no Brasil é estratégico por dois motivos: previsão de demanda e oferta de matéria prima .

Segundo maior mercado de combustível de aviação do mundo, a China iniciou, em setembro de 2024, um projeto piloto para o primeiro uso de SAF em voos partindo de aeroportos domésticos em Pequim, Chengdu, Zhengzhou e Ningbo. ( S&P Global )

Mas uma iniciativa, por si só, não é suficiente para garantir investimentos. Os produtores chineses aguardam a definição de um mandato para uso do renovável, que pode variar de 2% a 5% misturado ao combustível de aviação tradicional até 2030. A expectativa era que fosse anunciada em 2024, o que não ocorreu, levando algumas refinarias a adiar a abertura de novas plantas. ( Reuters )

Enquanto isso, no Brasil, a recém-aprovada lei do Combustível do Futuro estabelece um mercado cativo para o SAF a partir de 2027, quando as companhias aéreas serão obrigadas a descarbonizar suas operações adicionais de querosene fóssil.

Você trocaria R$ 650 mil por uma promessa?, FSP

 Michael Viriato

Parar de trabalhar e, ainda assim, manter uma renda estável é o sonho de muitos. Mas, quando chega perto, a decisão parece mais difícil do que se imaginava. É o caso de uma leitora de 62 anos que me escreveu com a seguinte dúvida: "Posso me aposentar agora com 60% da média dos salários ou devo esperar até os 75 para garantir os 100%?".

Personare- Conversa entre amigos
Muitas vezes, o que não entra na conta da aposentadoria é o que mais pesa: o tempo, a liberdade e a paz de espírito. - Priscilla Du Preez/Unsplash

Hoje, ela calcula que esse valor integral seria próximo de R$ 7.000 mensais. É uma dúvida legítima e cada vez mais comum entre quem já contribuiu boa parte da vida e busca segurança para os próximos anos.

A regra da Previdência mudou. Desde a reforma de 2019, o valor da aposentadoria passou a ser calculado com base em 60% da média de todos os salários de contribuição desde 1994, com acréscimo de dois pontos percentuais para cada ano que ultrapasse os 15 anos de contribuição, no caso das mulheres, ou 20 anos, no caso dos homens. Para receber 100% da média, é preciso somar 35 anos de contribuição.

Se essa leitora hoje tem exatamente os 15 anos mínimos, como parece indicar a pergunta, e contribuir por mais 13 anos, até os 75, ela somará 28 anos. Isso daria direito a 60% + (13 × 2%) = 86% da média salarial — e não 100%. Para atingir o valor integral, ela precisaria de mais sete anos de contribuição, ou seja, seguir até os 82 anos. A não ser que ela já tenha hoje pelo menos 22 anos de contribuição, seu plano pode estar baseado em uma projeção imprecisa.

Mesmo assim, vale refletir sobre a essência da dúvida: compensa abrir mão de uma renda menor agora para, talvez, obter um valor maior no futuro?

Na ponta do lápis, se ela se aposentar já com R$ 4.200 mensais, receberá mais de R$ 650 mil até os 75 anos. Essa conta, porém, parte de uma premissa importante: a de que ela continuará trabalhando normalmente mesmo após pedir a aposentadoria, como a legislação permite.

É cada vez mais comum que aposentados sigam com carteira assinada ou atuando por conta própria, somando o benefício do INSS à renda ativa.

Se, no entanto, a aposentadoria significa deixar o trabalho atual, o cenário muda completamente. Nesse caso, ela não estará escolhendo entre R$ 4.200 e R$ 7.000, mas entre sua renda atual integral e o benefício reduzido, o que exige outra avaliação.

E há um risco que poucos incluem na conta: e se as regras mudarem de novo? Diante do déficit fiscal crescente e de um sistema previdenciário cada vez mais pressionado, uma nova reforma não parece improvável. O tempo mínimo pode subir. O cálculo pode mudar. O teto pode ser reduzido.

Esperar demais por uma promessa futura pode ser como subir uma escada rolante ao contrário: por mais que você ande, talvez não chegue lá.

Por isso, talvez o melhor caminho seja equilibrar segurança com autonomia. Aposentar-se agora com uma renda garantida e buscar formas de complementá-la com trabalhos mais leves. Com criatividade e flexibilidade, essa transição pode ser mais suave e mais inteligente do que se imagina.

Se você também está nesse ponto de virada, talvez a pergunta não seja apenas "quanto vou receber?", mas sim: "Como quero viver os próximos anos?". Porque, às vezes, o valor que não entra na conta é o que mais pesa: o tempo, a liberdade e a paz de espírito. E esses, como bem sabemos, não se recuperam.

A lição que o comandante do Exército deu ao presidente Lula sobre o papel do Brasil no mundo, MArcelo Godoy, OESP


A cena é forte e cheia de significados. E foi publicada sem nenhum alarde. Nela, o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva aparece de pé, solitário, prestando continência a um monumento aos mortos da Força Expedicionária Brasileira (FEB), em meio aos Montes Apeninos, na Toscana, em comemoração à vitória aliada na Itália. Era 28 de abril.

O general Tomás Miguel Paiva presta, solitário, continência ao movimento em memória dos brasileiros mortos durante ataque ao Monte Castelo, na Itália
O general Tomás Miguel Paiva presta, solitário, continência ao movimento em memória dos brasileiros mortos durante ataque ao Monte Castelo, na Itália Foto: Exército Brasileiro

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Ninguém prestou atenção à cena no Brasil. Não muito longe dali havia mais estudantes italianos homenageando os pracinhas na cidade de Montese do que líderes brasileiros exaltando os que morreram na mais justas das guerras. Lula esteve na Itália no dia 26 de abril. Foi ao funeral do papa Francisco. Podia ter permanecido mais dois dias na Itália para homenagear os 457 pracinhas mortos na Itália.

Ali encontraria o general Tomás e poderia acompanhá-lo no momento solene, diante da lembrança aos mortos. Repetiria na Itália o retrato feito no quartel-general do Exército, em Brasília, quando o chefe do Executivo participou de uma dupla comemoração no dia 16: a do Dia do Exército, dentro da qual se engatou uma menção à vitória da FEB.

Nas semanas seguintes, as comemorações se sucederiam nos quartéis em cada unidade febiana, com a presença de uns veteranos, como no 6.º Batalhão de Infantaria Aeromóvel (6.º BI Amv), da Brigada de Infantaria, em Caçapava (SP). Mas nenhum prócer do governo compareceu ali para demonstrar a gratidão do País a Jarbas Dias Ferreira, de 103 anos, e Florentino Zandonadi, de 102.

O tenente Florentino Zandonani entre o  general de brigada Igor Lessa Pasinato, comandante da Brigada de Infantaria Aeromóvel (dir.), e o tenente-coronel Luís Fernando Hilgenberg Júnior, comandante do 6º Batalhão de Infantaria Aeromóvel (esq.), durante a comemoração do 102º aniversário do pracinha
O tenente Florentino Zandonani entre o general de brigada Igor Lessa Pasinato, comandante da Brigada de Infantaria Aeromóvel (dir.), e o tenente-coronel Luís Fernando Hilgenberg Júnior, comandante do 6º Batalhão de Infantaria Aeromóvel (esq.), durante a comemoração do 102º aniversário do pracinha Foto: Exército Brasileiro

Os dois pracinhas fizeram parte dos 25 mil brasileiros – entre os quais estavam comunistas, como o cabo Jacob Gorender e o tenente Salomão Malina – que foram ajudar a derrotar o nazifascismo na Europa. Tomás embarcou para Itália na semana seguinte e foi saudar o sangue brasileiro derramado no conflito mundial.

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A comitiva do general era minúscula, comparada àquela que o presidente Lula levou a Moscou. O monumento diante do qual o general se prostrou fica em uma localidade chamada Abetaia, na cidade de Gaggio Montano, lugar onde dezenas de brasileiros foram ceifados pelo fogo alemão quando tentavam conquistar o Monte Castelo. É uma história que todos deviam conhecer.

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Bastava Lula ficar dois dias a mais na Itália. Se o petista quisesse agradar ainda mais seu público, poderia ir a uma das dezenas de festas promovidas pela ANPI, a Associazione Nazionale Partigiani d’Italia, para celebrar o Dia da Libertação, em 25 de abril. A data é feriado nacional italiano e comemora a derrota dos repubblichini di Salò, os fascistas da República Social Italiana, o governo títere dos nazistas criado por Mussolini após a rendição italiana, em 8 de setembro de 1943.

O pracinha Jacob Gorender (sem camisa, no centro), durante a campanha da Força expedicionária Brasileira 9FEB), na Itália; Gorender era cabo da Companhia de Transmissões do 1º Regimento de Infantaria
O pracinha Jacob Gorender (sem camisa, no centro), durante a campanha da Força expedicionária Brasileira 9FEB), na Itália; Gorender era cabo da Companhia de Transmissões do 1º Regimento de Infantaria Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução / Evelson de Freitas

Repubblichini e nazistas lutaram contra os homens e as mulheres do 5.º Exército dos EUA, ao qual a FEB estava ligada, do 8.º Exército Britânico e das forças da resistência italiana, os partigiani, formadas por comunistas, socialistas, democrata-cristãos e liberais. Teresa Isenburg, em sua obra O Brasil na Segunda Guerra Mundial, mostra a história do importante papel dos guerrilheiros italianos que lutaram ao lado da FEB.

Para quem já esqueceu, 69 mil deles morreram na luta contra os nazifascistas; outros 62 mil desapareceram no conflito. Foi a Divisão Modena/Armando, chefiada por Mario Ricci, que libertou a cidade de Porretta Terme, localidade que serviu depois de quartel-general para a FEB, na Toscana.

Ricci, o comandante Armando, era um comunista veterano da guerra civil espanhola. Sua unidade foi enquadrada no 5.º Exército Americano e acabou reconhecida como força beligerante. Bella Ciao, canção hoje mais conhecida por causa de seriados e filmes, é desde então a música presente em toda comemoração do 25 de abril. Lula poderia aprender essas coisas antes de embarcar para Moscou.

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Em vez disso, resolveu comparecer ao Kremlin para apertar a mão do ditador Vladimir Putin na semana que o IBGE divulgou seu novo mapa-múndi, que coloca o Brasil no centro do globo. Faltou pouco para rebatizar o Golfo da Guiné como Golfo do PT. É no mínimo estranho perceber aproximações ou semelhanças com o governo de Donald Trump? Lula e o americano são diferentes. Profundamente. Mas se igualam em uma coisa: a capacidade para produzir bobagens.

Presidente da Republica, Luiz Inacio Lula da Silva, durante reuniao com o Presidente da Federação da Russia, Vladimir Putin. Grande Palacio do Kremlin, Russia - Moscou.
Foto: Ricardo Stuckert / Presidencia da Republica
Presidente da Republica, Luiz Inacio Lula da Silva, durante reuniao com o Presidente da Federação da Russia, Vladimir Putin. Grande Palacio do Kremlin, Russia - Moscou. Foto: Ricardo Stuckert / Presidencia da Republica  Foto: Ricardo Stuckert /Ricardo Stuckert / Presidencia da Republica

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Seria mera desculpa para a viagem a Moscou a decisão de homenagear os milhões de soviéticos que ajudaram a garantir nossa liberdade quando “morreram pela Pátria”, como contou em sua novela o escritor Mikhail Sholokhov, o soviético que ganhou o Nobel de literatura? Enquanto Lula apertava as mãos de Putin, Macron (França), Merz (Alemanha), Starmer (Reino Unido) e Tusk (Polônia) iam a Kiev conversar com Zelensky. Sem arrancar do russo um mísero dia a mais de cessar-fogo, lá se foi Lula para Pequim.

Não sem antes assistir ao desfile militar russo ao lado de um presidente que busca mentir sobre o passado, que esconde a participação da KGB no massacre de oficiais poloneses em Katyn e busca culpar os poloneses pela invasão alemã, em 1º de setembro de 1939. Enquanto isso, o general Tomás fazia aquilo que o País espera há muito da República: o reconhecimento e a gratidão em relação aos brasileiros – comunistas, liberais e conservadores – que lutaram contra o nazifascismo. A República precisa reivindicar seus símbolos e não há nenhum maior do que o da vitória na Itália.

Foto do autor
Análise por Marcelo Godoy

Repórter especial do Estadão e escritor. É autor do livro A Casa da Vovó, prêmios Jabuti (2015) e Sérgio Buarque de Holanda, da Biblioteca Nacional (2015). É jornalista formado pela Casper Líbero.