A reprodução passiva de determinados hábitos é não apenas um traço do comportamento individual mas também o resultado de uma herança coletiva que esculpe nossas percepções e atos ao longo do tempo.
As normas e expectativas de cada grupo populacional, por exemplo, exercem uma pressão constante —às vezes sutil, outras vezes explícita— para que seus integrantes ajustem seus comportamentos, atitudes e crenças de acordo com os padrões estabelecidos ao seu redor. Essa pressão silenciosa molda a forma como cada pessoa percebe a si mesma e o seu lugar no mundo.
No Brasil, um país marcado pela segregação e baixa mobilidade social, a dificuldade de ascensão socioeconômica se transforma em um dos mecanismos que induzem à conformidade com as expectativas subjacentes à rígida estratificação social. Essa poderosa força impõe uma pressão contínua para que as pessoas sejam submissas a comportamentos predeterminados, naturalizando nossas divisões sociais.
Aos mais desfavorecidos cabe o constante enfrentamento das baixas expectativas que os enquadram em certos papéis de menor valor na sociedade e aos comportamentos considerados adequados para sua condição. Com o tempo, muitos acabam internalizando certos ideais que contribuem para os colocar sistematicamente para trás e, não raramente, passam a acreditar que não são capazes de atingir grandes feitos em suas vidas.
Em diversos casos, as baixas expectativas começam dentro de casa. A própria família, influenciada por gerações de privações, desencoraja seus filhos a explorar trajetórias mais ambiciosas. Essa mentalidade é reforçada pela ausência de bons mentores e modelos sociais que poderiam auxiliar na pavimentação de caminhos alternativos. Como consequência, milhares de jovens periféricos não conseguem imaginar uma vida muito diferente do restritivo ambiente em que estão inseridos.
Esse contexto se transmuta em uma adicional barreira interna, tão poderosa quanto as externas, aprisionando suas mentes enquanto limita seus horizontes. A falta de confiança em si mesmos, alimentada pela ausência de reais oportunidades e pelas baixas expectativas coletivas em relação aos seus potenciais, faz com que seus destinos à margem da sociedade se tornem uma profecia autorrealizável.
O cenário é diferente entre os mais ricos. Enquanto a pressão de conformidade em contextos de pobreza costuma restringir e sufocar ambições, entre os mais abastados essa pressão frequentemente atua como uma alavanca que os impulsiona para a frente. Nesse grupo, há uma alta expectativa de que os filhos atinjam as melhores posições na sociedade, perpetuando e expandindo o legado familiar.
Desse modo, o conformismo é um reflexo do status quo, assim como uma de suas forças motrizes. Quebrar a pressão de conformidade exige a criação de um ambiente que promova oportunidades reais de ascensão social, desafiando diversas expectativas e valores limitantes induzidos pela sociedade. Isso passa pela implementação de políticas públicas que desfaçam as crenças enraizadas pela segregação socioeconômica, permitindo que os indivíduos se vejam além de papéis estereotipados e internalizem a possibilidade de um futuro diferente.
Nesse contexto, fortalecer a confiança e a autoestima daqueles que perderam na loteria do nascimento também constitui um passo relevante para romper o ciclo de conformismo e abrir caminhos para que redefinam seu lugar no mundo e conquistem novas posições na sociedade.
O texto é uma homenagem à música "Brasileirinho", composta por Waldir Azevedo, interpretada por Danilo Brito, Xeina Barros, Carlos Moura e Guilherme Girardi.