sexta-feira, 10 de novembro de 2023

ESTADÃO / CULTURA / LITERATURA Livro ilustrado com IA é desclassificado do Jabuti após aparecer em lista de semifinalistas; entenda

Nesta sexta-feira, 10, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) anunciou que o livro Frankenstein, ilustrado com uso de inteligência artificial (IA), previamente indicado como semifinalista para a categoria de melhor ilustração do ano, foi desclassificado do Prêmio Jabuti.

“A Câmara Brasileira do Livro, organizadora do Prêmio Jabuti, informa que a obra Frankenstein, editada pelo Clube de Literatura Clássica, que utilizou ferramentas de inteligência artificial (IA), foi revista e desclassificada”, informou a nota da instituição. “As regras da premiação estabelecem que casos não previstos no Regulamento sejam deliberados pela Curadoria, e a avaliação de obras que utilizam IA em sua produção não estava contemplada nessas regras”.

A CBL ainda afirmou que casos como esse deverão ser debatidos para os próximos anos. “A utilização de ferramentas de inteligência artificial tem sido objeto de discussão em todo o mundo, em razão dos princípios de defesa dos direitos autorais. Considerando a nova realidade de avanços dessas novas tecnologias, a organização do prêmio esclarece que a utilização dessas novas ferramentas será objeto de discussão para as próximas edições da premiação”, finalizou a nota.

Entenda o caso

A obra em questão é uma edição do clássico Frankenstein, de Mary Shelley, lançado pela editora Clube de Literatura Clássica em 2022. Ao Estadão, o designer responsável pela criação, Vicente Pessôa, criticou a decisão tomada pela CBL.

“Eu acho muito estranho que a CBL não tenha especificado no edital que não poderia haver ilustrações feitas com IA”, disse. “Em jogos, disputas, competições na esfera pública, se não é proibido, é permitido. Se eles desclassificaram agora, mudaram a regra no meio do jogo. E a organização está me punindo pelo seu próprio descuido, o que não é exatamente justo”.

Viver São Paulo

Receba por e-mail notícias sobre a cena cultural paulistana e dicas de lazer. Enviada às quintas-feiras.

Ao se cadastrar nas newsletters, você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade.

“Eles fizeram isso por medo da opinião pública. Isso para mim tem um nome: covardia”, reforçou.

Continua após a publicidade

“Aconteça o que acontecer, já ganhei com essa edição. Todo mundo está falando sobre ilustração com IA. Entremos para a história”, finalizou.

Pessôa se refere à grande repercussão que a indicação teve nas redes sociais. Após a divulgação de que o livro estava entre os semifinalistas do Jabuti, o assunto rendeu muita conversa. “Estou achando legal demais. Gosto de polêmica, gosto de gente chorando, esperneando, rasgando as vestes. Divulga meu nome e o Clube. Eu só acho que os ilustradores que estão achando realmente ruim vão ficar para trás. O IA está aí e veio para ficar”, disse Pessôa, antes da desclassificação.

Edição de 'Frankenstein' da editora Clube de Literatura Clássica, feita com inteligência artificial, foi indicada ao Prêmio Jabuti 2023.
Edição de 'Frankenstein' da editora Clube de Literatura Clássica, feita com inteligência artificial, foi indicada ao Prêmio Jabuti 2023. Foto: Clube de Literatura Clássica/Divulgação

“A gente não falou, mas havíamos falado longamente na nossa divulgação no ano passado que esse era o primeiro livro da história do universo que foi inteiramente ilustrado por IA”, explicou o designer sobre a inscrição.

No lançamento da obra, a editora promoveu uma live do designer com Zé Lima, o gerente editorial do Clube. A transmissão ao vivo explicou o processo de desenvolvimento da capa e das ilustrações do livro.

Pessôa disse, ainda, que não via necessidade em informar o Jabuti sobre a criação com IA. “Seria a mesma coisa que informar que utilizei uma câmera fotográfica, utilizei photoshop, illustrator ou xilogravura. É um negocio meio estranho”.

A escolha dos indicados e dos vencedores da categoria ilustração é feita por três jurados especialistas na área: André Dahmer, Eduardo Baptistão e Lucia Mindlin Loeb. Nesta sexta-feira, Dahmer escreveu em seu Twitter (X) que não sabia que o livro havia usado a tecnologia, assim como declarou Baptistão.

Continua após a publicidade

“Quem atua como jurado sabe que isso iria acontecer em algum momento. Infelizmente, aconteceu cedo. Falo por mim, não sei o voto dos outros jurados. Evidente que eu não teria selecionado o livro se tivesse essa informação. As ilustrações me impressionaram pela qualidade, e havia uma unidade estética entre elas. Eu não tinha como saber que foram feitas por IA”, disse Eduardo.

Não sei se [os jurados] sabiam que era IA ou não, mas acho que em obras de arte isso não importa. Acho que eles sabiam porque ali tem vários elementos. Se eles têm algum conhecimento do que tem acontecido aí no campo de design e comunicação. Acho que para ser jurado do Jabuti, o cara tem que estar antenado. Se estiver, ele vai saber que é IA. Não sinto que enganei ninguém

Vicente Pessôa

O jurado ainda explicou que “o regulamento diz que o autor responde pela originalidade, autenticidade e/ou autoria do material inscrito”. “Na minha opinião, a IA não se enquadra nesses critérios”. Ele lembrou, no entanto, que a decisão caberia à CBL.

Segundo Pessôa, as ilustrações do livro foram realizadas com o software Midjourney através de “prompts” - comandos dados por escrito à inteligência artificial. “Foram feitas mais de 1.200 imagens, das quais a gente aproveitou 50. Talvez fosse menos trabalhoso ilustrar na mão″, explica.

Os segredos da delação de Mauro Cid que atingem Bolsonaro, mas que seguidores podem ver e não crer, OESP

 De tudo o que o oficial do Exército Mauro Cid contou à Polícia Federal apenas uma parte veio a público. As pistas que indicou e seu relato sobre fatos que testemunhou vêm sendo tratados como peças que ajudam a PF nas investigações. O alvo é o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Mauro Cid poderia ser, portanto, um homem-bomba a implodir a imagem do ex-chefe do Poder Executivo. O verbo, no entanto, ainda tem que ficar assim, no futuro do pretérito: “poderia ser”. O tenente-coronel é testemunha ocular de muita coisa. Para se livrar da cadeia contou boa parte do que viu e ouviu. A Polícia Federal achou suficiente para assinar acordo de delação. Já o Ministério Público Federal anda dizendo que ainda procura provas.

Quando o investigado delata, precisa contar o que sabe, mas também comprovar o que diz. No caso de Mauro Cid, não se tem notícia de que tenha feito um arquivo paralelo dos mandos e desmandos do ex-chefe enquanto estava ali andando com passe-livre pelos palácios do Planalto e Alvorada.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, concedeu liberdade provisória ao ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid, mas vinculou sua soltura à liberação ao cumprimento de uma série de medidas cautelares, a começar pelo uso de tornozeleira eletrônica
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, concedeu liberdade provisória ao ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid, mas vinculou sua soltura à liberação ao cumprimento de uma série de medidas cautelares, a começar pelo uso de tornozeleira eletrônica Foto: Wilton Junior/Estadão

Mas ele estava ao lado de Bolsonaro em todos os momentos, inclusive nos piores. Daí contou à PF como Bolsonaro reuniu comandantes das Forças Armadas para tentar traçar uma estratégia de rompimento da ordem institucional e constitucional; como fraudou um cartão de vacina para evitar problemas com o controle da aduana nos Estados Unidos; e até como o chefe montou o chamado “gabinete do ódio”, um grupo que operava nas redes sociais para destruir reputações a partir do Palácio do Planalto, como revelou o Estadão.

Política

As principais notícias e colunas sobre o cenário político nacional, de segunda a sexta.

Ao se cadastrar nas newsletters, você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade.

O material coletado nas longas horas de Mauro Cid na cadeira de investigado-colaborador está sob a guarda do ministro Alexandre de Moraes. O magistrado é persona maldita no círculo bolsonarista. O que sair de seu gabinete já virá com o carimbo de “não-presta” para os seguidores do ex-presidente. A adoração de quem batizou Bolsonaro de mito pode ser compreendida como parte de um sistema de crenças ainda inabalável, como se depreende de uma pesquisa recente da Universidade de Brasília (UnB).

Continua após a publicidade

O experimento “Quem compartilha notícia falsa?”

Estudo conduzido pelo Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública (CPS) da Faculdade de Comunicação da UnB indica: o grupo que declarara aprovar a gestão e o presidente Bolsonaro é o que se mostra mais afeito a compartilhar falsidades.

O professor Wladimir Gramacho buscou mapear quem compartilha notícias falsas. Associou o levantamento ao tema das vacinas e submeteu 1.845 entrevistados a um experimento inspirado em pesquisa similar realizada nos Estados Unidos. Foram produzidas seis manchetes de jornal verdadeiras e seis sabidamente falsas como “Nova vacina tem chip para controle populacional”.

O resultado foi que, considerando todos os entrevistados, um contingente de 62% disse que não compartilharia as falsas manchetes. Mas 38% topou passar adiante pelo menos uma das seis fake news. Quando se cruza a resposta do compartilhamento com a adesão a Bolsonaro ou Lula as diferenças se explicitam, pelo menos em relação ao tema vacinas.

De acordo com o estudo, 53% dos entrevistados que consideram o governo Bolsonaro ótimo ou bom compartilhariam ao menos uma notícia falsa. Esse porcentual é o dobro do registrado entre os que consideram a gestão do ex-presidente ruim ou péssima. Nesse contingente, 27% compartilhariam pelo menos uma notícia falsa. Já entre os que andam gostando do governo Lula, 24% compartilhariam alguma notícia falsa sobre vacinas.

A posição de Bolsonaro em 2020, durante a pandemia, foi um fato relevante que contribuiu para retirar-lhe votos dois anos depois. Mas, passada a pandemia e com Lula no poder, a insistência dos fieis discípulos do ex-presidente em acreditar nas pregações dele abre a possibilidade de se cogitar que, haja o que houver na delação de Mauro Cid, a fé dos bolsonaristas seguirá inquebrantável.

Curitiba é eleita cidade mais 'inteligente' do mundo, Susana Bragatto, FSP

 

De Curitiba tenho poucas memórias de infância.

Meu tio (vai imaginando um japonês com cara de Confúcio e sotaque paranaense) vivia em um bairro tranquilo com casinhas de madeira. No inverno, fazia um frio danado.

E todo mundo, começando pelos meus priminhos curitibanos, parecia falar com um acento que era uma espécie de símile do refrão que sempre repetia meu pai (paulistano): leite-quente-que-dói-os-dente-da-geeeewnte...

Lembro também do jardim botânico, da ópera de arame e da pedreira (que eu achava muito legal levar o nome de um poeta que amo, Leminski). Lembro ou penso que lembro, como foto de álbum de família, já que esses cartões-postais da cidade são oniululantes em nosso imaginário brasilis.

Mas a capital paranaense, óbvio, é muito mais do que isto.

Reconhecida há tempos por iniciativas relacionadas a urbanismo e sustentabilidade, Curitiba coleciona prêmios e que-tais.

O título mais recente foi recebido nesta última quinta-feira (09) em Barcelona, Espanha, durante o Smart City Expo World Congress.

Um jurado que inclui representantes da ONU-Habitat, Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial elegeu a cidade brasileira como a Smart City de 2023 por seu "planejamento urbano inteligente, crescimento socioeconômico e sustentabilidade ambiental com uma abordagem centrada no ser humano".

Como um Oscar do planejamento urbano inteligente mundial, Curitiba foi selecionada a partir de uma lista de 6 indicados.

Os outros cinco: Barranquilla (Colômbia), por suas iniciativas em "infraestrutura verde"; Izmir (Turquia), que desenvolveu um sistema inteligente de alerta de incêndios; Makati (Filipinas), com suas soluções coletivas IoT (em português, Internet das coisas) para ação e empoderamento cívicos; Cascais (Portugal), com seu projeto de cartão "fidelidade" para moradores, com integração de diversos serviços de saúde, cultura e mobilidade em um único dispositivo; e Sunderland (Reino Unido), que apresentou um projeto de análise inteligente de dados dos cidadãos para melhorar a gestão urbana.

Este ano, segundo a organização do evento, houve um total de 411 projetos apresentados por 63 países.

O congresso também distribuiu prêmios em outras categorias, como mobilidade (Meram, Turquia), tecnologias facilitadoras (Tampere, Finlândia) e Segurança e Resiliência (Gangnam gu, distrito de Seul, Coreia do Sul).