De tudo o que o oficial do Exército Mauro Cid contou à Polícia Federal apenas uma parte veio a público. As pistas que indicou e seu relato sobre fatos que testemunhou vêm sendo tratados como peças que ajudam a PF nas investigações. O alvo é o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Mauro Cid poderia ser, portanto, um homem-bomba a implodir a imagem do ex-chefe do Poder Executivo. O verbo, no entanto, ainda tem que ficar assim, no futuro do pretérito: “poderia ser”. O tenente-coronel é testemunha ocular de muita coisa. Para se livrar da cadeia contou boa parte do que viu e ouviu. A Polícia Federal achou suficiente para assinar acordo de delação. Já o Ministério Público Federal anda dizendo que ainda procura provas.
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Quando o investigado delata, precisa contar o que sabe, mas também comprovar o que diz. No caso de Mauro Cid, não se tem notícia de que tenha feito um arquivo paralelo dos mandos e desmandos do ex-chefe enquanto estava ali andando com passe-livre pelos palácios do Planalto e Alvorada.
Mas ele estava ao lado de Bolsonaro em todos os momentos, inclusive nos piores. Daí contou à PF como Bolsonaro reuniu comandantes das Forças Armadas para tentar traçar uma estratégia de rompimento da ordem institucional e constitucional; como fraudou um cartão de vacina para evitar problemas com o controle da aduana nos Estados Unidos; e até como o chefe montou o chamado “gabinete do ódio”, um grupo que operava nas redes sociais para destruir reputações a partir do Palácio do Planalto, como revelou o Estadão.
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O material coletado nas longas horas de Mauro Cid na cadeira de investigado-colaborador está sob a guarda do ministro Alexandre de Moraes. O magistrado é persona maldita no círculo bolsonarista. O que sair de seu gabinete já virá com o carimbo de “não-presta” para os seguidores do ex-presidente. A adoração de quem batizou Bolsonaro de mito pode ser compreendida como parte de um sistema de crenças ainda inabalável, como se depreende de uma pesquisa recente da Universidade de Brasília (UnB).
O experimento “Quem compartilha notícia falsa?”
Estudo conduzido pelo Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública (CPS) da Faculdade de Comunicação da UnB indica: o grupo que declarara aprovar a gestão e o presidente Bolsonaro é o que se mostra mais afeito a compartilhar falsidades.
O professor Wladimir Gramacho buscou mapear quem compartilha notícias falsas. Associou o levantamento ao tema das vacinas e submeteu 1.845 entrevistados a um experimento inspirado em pesquisa similar realizada nos Estados Unidos. Foram produzidas seis manchetes de jornal verdadeiras e seis sabidamente falsas como “Nova vacina tem chip para controle populacional”.
O resultado foi que, considerando todos os entrevistados, um contingente de 62% disse que não compartilharia as falsas manchetes. Mas 38% topou passar adiante pelo menos uma das seis fake news. Quando se cruza a resposta do compartilhamento com a adesão a Bolsonaro ou Lula as diferenças se explicitam, pelo menos em relação ao tema vacinas.
De acordo com o estudo, 53% dos entrevistados que consideram o governo Bolsonaro ótimo ou bom compartilhariam ao menos uma notícia falsa. Esse porcentual é o dobro do registrado entre os que consideram a gestão do ex-presidente ruim ou péssima. Nesse contingente, 27% compartilhariam pelo menos uma notícia falsa. Já entre os que andam gostando do governo Lula, 24% compartilhariam alguma notícia falsa sobre vacinas.
A posição de Bolsonaro em 2020, durante a pandemia, foi um fato relevante que contribuiu para retirar-lhe votos dois anos depois. Mas, passada a pandemia e com Lula no poder, a insistência dos fieis discípulos do ex-presidente em acreditar nas pregações dele abre a possibilidade de se cogitar que, haja o que houver na delação de Mauro Cid, a fé dos bolsonaristas seguirá inquebrantável.
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