quarta-feira, 17 de maio de 2023

Moro acredita que será próximo alvo depois da cassação de Deltan, Mônica Bergamo FSP

 O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) acredita que será o novo alvo da Justiça Eleitoral depois da cassação do mandato do agora ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR).

O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) - Lucio Tavora-22.mar.23/Xinhua

Os dois atuaram na Operação Lava Jato na década passada. Moro era juiz e Dallagnol, procurador.

A tensão de Moro se justifica: em tribunais superiores, sua condenação é dada como certa.

De acordo com interlocutores que conversaram com o ex-juiz nesta semana, ele estava extremamente preocupado com o processo contra Deltan Dallagnol, e tentou conseguir apoio inclusive da família Bolsonaro para tentar evitar o pior, ou seja, a perda de mandato do colega.

Os filhos do presidente, no entanto, resolveram ficar distantes da disputa.

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ministro Kassio Nunes Marques, indicado por Bolsonaro para o Supremo Tribunal Federal (STF), votou contra Dallagnon no TSE, o que foi entendido como sinal de que a família de fato não se envolveu no assunto.

Moro afirmou nas conversas acreditar que, depois de cassar Dallagnol, 'eles vêm para cima de mim', para cassar seu mandato no Senado.

De acordo ainda com os mesmos interlocutores, Moro acredita que nada é por acaso e que existe uma estratégia organizada 'lá atrás' para excluir os protagonistas da Lava Jato do cenário político.

A eleição de Moro está sendo questionada na Justiça Eleitoral do Paraná pelo PL.

O partido apresentou um pedido de cassação do mandato dele em dezembro de 2022, questionando supostas irregularidades nos gastos de campanha.

Caso o ex-juiz perca o mandato, o segundo colocado na eleição, o ex-deputado federal Paulo Martins, pode assumir o lugar dele no parlamento. Martins disputou o cargo pelo PL.

Quando o pedido de cassação foi apresentado, Moro disse em seu perfil no Twitter que o adversário "tem a cara de pau de me acusar falsamente de irregularidade para ganhar o mandato de Senador no tapetão".

A assessoria de Moro afirma que ele não se manifestará sobre o assunto.

Na terça (16), ele afirmou no Twitter que lamenta a cassação de Deltan Dallagnol.

"É com muita tristeza que recebo a informação da cassação do mandato de deputado federal do @deltanmd. Estou estarrecido por ver fora do Parlamento uma voz honesta na política que sempre esteve em busca de melhorias para o povo brasileiro. Perde a política. Minha solidariedade aos eleitores do Paraná e aos cidadãos do Brasil", escreveu o ex-magistrado.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

Ferrari e outros carros de quadrilha que usava robôs para investir são apreendidos FSP

 Uma quadrilha que usa robôs para realizar operações de investimento foi alvo de operação realizada na manhã desta quarta-feira (17) pela Polícia Federal no interior de São Paulo.

Estão sendo cumpridos dois mandados de busca e apreensão em Paulínia (SP) e um em Campinas (SP). Os agentes apreenderam uma Ferrari e outros carros de luxo, dinheiro, cartões de crédito e cheques.

Ferrari é apreendida em operação da Polícia Federal contra quadrilha que usava robôs de investimentos em golpes
Ferrari e outros carros de luxo são apreendidos em operação da Polícia Federal contra quadrilha que usava robôs de investimentos em golpes - Divulgação/Polícia Federal

Segundo a Polícia Federal, a investigação começou em fevereiro deste ano, após denúncia, e descobriu um perfil em redes sociais que oferece sistemas automatizados de investimento conhecidos como robôs de investimentos.

"Tais robôs estariam integrados a plataforma de corretora estrangeira, realizando automaticamente operações financeiras com opções binárias, modalidade de investimento de alto risco e não regulamentada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). O uso e comercialização desses robôs são regulados pela CVM, o que não ocorre em relação ao perfil investigado", explicou a PF.

Os suspeitos de envolvimento ofereciam também uma plataforma de câmbio para que fossem realizadas as operações nas corretoras estrangeiras.

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As pessoas investigadas adotavam a prática de mudar frequentemente de endereço para evitar suspeitas e usava o patrimônio, principalmente carros de luxo, registrados em nomes de terceiro para atrair clientes com a promessa de ganhos rápidos e de altas quantias.

A PF não divulgou o número de vítimas da quadrilha e nem o valor movimentado pela quadrilha. Os envolvidos podem responder por crimes contra o mercado de capitais e contra o sistema financeiro. A pena somada pode chegar a 12 anos de prisão.

Deltan, a nova vítima da Lava Jato, Pedro Doria Meio Político (definitivo)

 

Bolsonaro erodiu Executivo e Legislativo, relegando ao Judiciário a tarefa de manter em pé a democracia. Agora, lavajatistas aninhados no bolsonarismo provam da elasticidade de interpretações jurídicas que ajudaram a inaugurar

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Por Pedro Doria

Toda análise a quente é imprecisa. Não tem jeito. Os acontecimentos ainda estão em curso, não estão claros todos os impactos. Mas a natureza jornalística exige que a gente procure significado no que acaba de acontecer. O artigo desta quarta para o Meio Político era para tratar doutro assunto. Só que foi cassado o mandato de Deltan Dallagnol e assim tem início a já esperada ofensiva do Tribunal Superior Eleitoral contra o bolsonarismo. E não é só. Ao cassar Deltan, o TSE apresentou também uma interpretação rara da Lei da Ficha Limpa. Os juízes podem fazer isso, mas não há como fugir de um fato: parece que se escolheu uma leitura muito pouco usual especificamente para tirar o mandato de um deputado particular.

artigo 2 da Lei da Ficha Limpa torna inelegíveis membros do Ministério Público que pedem exoneração enquanto há um processo administrativo disciplinar pendente. Ocorre que Deltan não enfrentava um destes quando deixou a Procuradoria Federal. Havia, sim, 15 procedimentos no Conselho Nacional do Ministério Público que poderiam vir a se tornar processos. Quando pediu sua exoneração, foram todos extintos. O TSE cassou Deltan por unanimidade, 7 votos a 0, ao considerar que ele fugiu da possibilidade de que um desses fosse aberto. Tivesse sido aberto e Deltan pedisse exoneração após, estaria inelegível.

Só que não aconteceu.

O TSE, assim, condenou Deltan à inelegibilidade a partir de uma interpretação que não parece ter adotado antes: a de que ele avaliou que poderia terminar sem condições de ser candidato, então se antecipou. É uma inovação dos sete juízes que não segue a praxe da Corte. Aliás, não segue um princípio que o tribunal sempre havia adotado. O de que, na dúvida, opta-se por preservar o direito de escolha do eleitor. A elegibilidade.

O gatilho para considerar injusto contra Deltan e seus eleitores dispara de imediato. Ocorre que esta é a matéria da qual foi feita toda a Lava Jato: inovações jurídicas, mudanças na jurisprudência, uma busca constante por interpretações novas e deliberadamente pinçadas das leis para encaixar as pessoas que se buscava condenar. Reconhecer a ironia do caso é inevitável. E, por isso mesmo, precisamos retornar ao que foi a Lava Jato.

Muitos que ainda defendem a operação se queixam de quem observa o óbvio: ela criou o bolsonarismo e, depois, se misturou e se dissolveu nele. A queixa dos defensores vem com uma busca clara. A de separar Lava Jato da ideologia que governou o Brasil entre 2019 e 22.

A Lava Jato até talvez não fosse, inicialmente, um movimento de extrema-direita. Mas, ao abraçar Jair Bolsonaro como líder, se tornou ambos. Um movimento político e de extrema-direita.

Quando Sergio Moro divulgou uma acusação nunca comprovada do ex-ministro Antonio Palocci na véspera da eleição presidencial de 2018, quis interferir no pleito. Ao aceitar o cargo de ministro da Justiça logo que Bolsonaro se elegeu, demonstrou afinidade política. É verdade que Moro depois renunciou ao ministério e saiu acusando Bolsonaro. Aí tentou ensaiar uma candidatura à presidência que nunca decolou. Retrocedeu e imediatamente tornou ao berço. No Paraná, ele para senador, Deltan para deputado federal, fizeram ambos campanha em dobradinha repetindo o nome de Bolsonaro a torto e a direito. Seguiram o script, beijaram a mão, elegeram-se com votações recordes. Num dos cantos mais bolsonaristas do país. Os dois principais responsáveis pela Lava Jato no Paraná se tornaram os principais representantes do bolsonarismo no estado.

Isso é escolha política.

Mas para além das relações pessoais, há uma segunda dimensão, uma dimensão ainda mais importante para este elo entre a Lava Jato e o bolsonarismo. O crime principal desvendado no caso ocorreu. Dinheiro foi desviado da Petrobras através de obras superfaturadas, distribuídas por entre um punhado de empreiteiras. Neste caminho, executivos da companhia e uma longa lista de políticos foram beneficiados com percentuais dos contratos. Propinas.

Não foram apenas políticos do PT. Foram de toda gama de partidos. PP, PL, incontáveis do MDB. A lista terminou por incluir até tucanos, principais adversários petistas. Logo a Lava Jato adotou um padrão de comportamento. Mandava prender gente sem condenação, apelando para uma detenção provisória ou preventiva, em geral mais de um que conheciam a mesma história, para enfia-los no dilema do prisioneiro. Quem delatar primeiro terá mais vantagens perante uma condenação. Foi com este truque que a Lava Jato se ergueu. E, depois soubemos pelas conversas vazadas dos telefones que Deltan, Moro e os procuradores combinavam o jogo o tempo todo.

Não pode um juiz combinar o jogo com um dos lados. Ele fere a própria natureza do equilíbrio que a Justiça exige. Prisões, numa sociedade democrática, deveriam ser a exceção, não a regra. Aquilo que se evita ao máximo sempre ao ponto do inevitável. Não há Justiça com prisões arbitrárias. Não há Justiça e sim vingança quando se violam direitos fundamentais, quando se impõe sofrimento, para obrigar confissões.

Escolhemos, no Brasil, coletivamente, ver os pecados daqueles de quem discordamos e fechar os olhos para aqueles do lado que defendemos. É uma escolha profundamente antidemocrática que se tornou aguda nos últimos dez anos.

O pior pecado da Lava Jato não foi este. Foi, num processo que evidentemente expunha a corrupção de todo o sistema político brasileiro, construir uma campanha que pôs no centro um único partido político. A politização que o juiz e o principal procurador impuseram à operação se tornou ainda mais clara quando, apesar de todas as evidências de corrupção da família Bolsonaro, eles permaneceram fidelíssimos ao seu lado.

Isto torna evidente o que antes apenas dava para intuir: o problema nunca foi corrupção. Foi ideologia. A Justiça foi posta a serviço de um resultado político que privilegiava um lado contra o outro. Mas isto não afetou apenas o PT. Afetou, ainda mais, o PSDB. Destruiu a polarização democrática que o país um dia teve.

A relação entre corrupção e política, no Brasil, é gravíssima. É grave porque ela está inscrita na regra do jogo. O sistema que elege deputados e a maneira como distribuímos recursos na República se misturam. O resultado é o incentivo para a escolha de parlamentares que atendam à demanda de certas regiões. Promove, portanto, um tipo muito particular de aliança entre prefeitos e deputados federais, que são transformados em despachantes nos ministérios. O que define suas reeleições é a capacidade de trazer obras e bens para as localidades de onde vêm. O jeito que elegemos deputados cria a relação de dependência pelo Executivo federal. Leva à troca de verbas por votos na Câmara. A partir do momento que este elo se constrói, porque campanhas eleitorais se tornaram caras, o poder de distribuir obras logo atrai a tentação de buscar propina para financiar eleição. As regras contaminam o jogo.

Combater corrupção sem mudar as regras eleitorais põe em risco a ruptura de todo o sistema político. Foi o que aconteceu no Brasil após a Lava Jato. Não é uma história bonita de contar pois não há vilões ou mocinhos claros.

Há quem prefira ver o PT como o herói do povo, injustiçado, caçado por um juiz protofascista. Há os que gostariam de ver os lavajatistas na posição de heróis. Eles que tentaram combater a corrupção mas terminaram derrotados pelo sistema. Não faltam defensores da operação que tentem fingir não ver que seus protagonistas são inseparáveis do bolsonarismo. E há, claro, ainda quem veja os Bolsonaro como heróis desta história.

Só que a história como ela é termina bem mais complicada, uma realidade dura demais de encarar. A de que, ao escolhermos um sistema presidencialista com partidos demais, negamos ao presidente a possibilidade de construir uma base que lhe permita governar. O quebra-galho para resolver o problema terminou sendo o presidencialismo de coalizão que só consegue se organizar porque há corrupção no meio. A corrupção que é inerente à existência dos deputados-despachantes. A cobra morde o rabo, a relação se fecha. Se impõe.

A Câmara está tão forte que pretende forçar o Planalto a lhe entregar de volta controle sobre o orçamento. O mesmo tipo de controle que teve durante o governo Bolsonaro. Se acontecer, será a ruptura final. O governo Lula não terá condições de governar. Nenhum outro governante teria. O único poder que o Executivo tem para negociar com o Congresso é o controle sobre estas verbas.

No governo, Jair Bolsonaro não destruiu apenas a já delicada relação Executivo-Legislativo. Ao sequestrar a Câmara com o Orçamento Secreto e a Procuradoria-Geral da República com a escolha de um prevaricador, pôs o Supremo Tribunal Federal na posição de único capaz de manter a democracia em pé.

O Supremo fez isso usando os truques abertos pela Lava Jato. Abandonando jurisprudência, forçando novas leituras, interpretando as leis de acordo com o resultado desejado. Agora, Deltan Dallagnol perdeu seu mandato de deputado federal. Tudo indica que Jair Bolsonaro seguirá o mesmo caminho. As prisões improvisadas já estão acontecendo. Claro, por crimes que de fato aconteceram. Ainda mais graves que o Petrolão: o planejamento e a tentativa desastrada de golpe de Estado.

É irônico que Deltan seja vítima, mas é difícil sentir pena. Eles quebraram a democracia imperfeita que tínhamos. Talvez tenham quebrado de vez.


https://www.youtube.com/watch?v=IyTiZDPgezQ

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