domingo, 13 de novembro de 2022

Fundador da FTX, que derreteu, usava bermudas, valia US$ 25 bi aos 30 anos e foi chamado de cavaleiro do mercado, NYT FSP

 Roger Lowenstein

THE NEW YORK TIMES

Com a inflação ainda em alta, é difícil defender o valor dos bancos centrais. Mas os jovens gênios das criptomoedas conseguiram.

Dizia-se que o grande benefício da criptografia era a descentralização. Isso foi acompanhado por todo tipo de fanfarronice sobre o poder libertador do dinheiro desvinculado do estado central.

Um proeminente defensor do dinheiro descentralizado, Sam Bankman-Fried, ficou famoso por usar bermudas e dizia-se que valia US$ 25 bilhões (R$ 132 bilhões) aos 30 anos. Bankman-Fried, fundador da bolsa conhecida como FTX, foi considerado por muitos uma aposta segura, que domaria a terra selvagem das criptomoedas, como o grande cavaleiro dessa indústria.

Essa caracterização ganhou força no verão passado, depois que Bankman-Fried tentou socorrer duas pequenas empresas de criptomoedas falidas, Voyager Digital e BlockFi, atraindo reportagens elogiosas que o compararam a J.P. Morgan Sênior.

Sam Bankman-Fried chief executive of FTX, a crypto derivatives exchange that offers products unavailable to traders in the U.S., at the offices in Hong Kong, May, 26, 2021. For all of the obvious ways in which Bankman-Fried is no Pierpont Morgan, a model of discretion whose namesake firm continues to be solvent to this day, on one point they have something in common: Their careers demonstrate a need for central banks.
Sam Bankman-Fried é um investidor fundador da FTX, uma corretora de criptomoedas - Lam Yik Fei/The New York Times

A analogia com Morgan foi repetida na semana passada, mesmo depois que os clientes da FTX sacaram US$ 6 bilhões (R$ 31 bilhões) em fundos no equivalente a um pânico bancário, forçando a FTX a congelar as operações e reter bilhões em ativos potencialmente perdidos dos clientes restantes.

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Por todas as maneiras óbvias como Bankman-Fried não é Pierpont Morgan –este, um modelo de discrição cuja empresa homônima continua solvente até hoje–, em um ponto eles têm algo em comum: suas carreiras demonstram a necessidade de bancos centrais.

Morgan ganhou sua reputação como salvador privado em 1907, quando uma corrida bancária atingiu os trusts (associações semelhantes a bancos) na cidade de Nova York e depois se espalhou para os bancos tradicionais. Morgan reuniu os principais financistas da cidade para emprestar fundos de emergência e aliviar o pânico.

Seu heroísmo retardou o sangramento –mas alguns bancos faliram, muitos suspenderam os saques e dezenas recorreram à distribuição de certificados caseiros em vez de dinheiro. Enquanto cada banco acumulava reservas para se salvar, o mercado de ações despencou 40% e o país sofreu uma grave recessão.

A inadequação de Morgan deixou claro que os Estados Unidos, já uma potência industrial, não podiam depender da benevolência de um único financista. Exatamente por isso, Neson Aldrich, um poderoso senador com laços estreitos com Morgan, liderou uma missão à Europa em 1908 para estudar o funcionamento dos bancos centrais da Inglaterra, França e Alemanha.

Dois anos depois, um grupo de banqueiros, incluindo um sócio sênior de Morgan, presidente de seu rival National City Bank, e o cruzado do banco central Paul Warburg, se reuniu no clube exclusivo de Morgan na Ilha de Jekyll, na costa da Geórgia. Em um encontro secreto, eles traçaram o esboço do que os americanos evitavam desde os tempos de Andrew Jackson –um banco central. O Federal Reserve nasceu três anos depois, em 1913.

Na semana passada, James Mackintosh, do The Wall Street Journal, opinou: "A falha fundamental das finanças centralizadas é que elas precisam de bancos centrais para acabar com as corridas caóticas aos bancos…" É como dizer que o problema de possuir uma casa é que a pessoa pode precisar do corpo de bombeiros.

Qualquer instrumento monetário é uma forma de crédito, e o crédito sempre envolverá risco. Bankman-Fried descobriu isso. Seu suposto salvador, uma exchange de criptomoedas conhecida como Binance, desistiu 24 horas depois de ter concordado provisoriamente com um resgate.

Na sexta-feira (11), a FTX entrou com um pedido de falência. No entanto, se o acordo de resgate tivesse sido concluído, a Binance estaria pendurada por, supostamente, até US$ 8 bilhões (R$ 42 bilhões) em reclamações contra a FTX. Quem teria vindo em socorro da Binance?

O ponto de um fundo de reserva central, que é o que Paul Warburg e Nelson Aldrich tinham em mente em 1913, é que os recursos da nação reunidos são incomensuravelmente maiores do que os de qualquer magnata isolado. Eles oferecem, em tempos de necessidade, um oceano de liquidez para resolver as inevitáveis flutuações do crédito individual, regional e de setores específicos. Alguém em sã consciência desejaria confiar a nação às criptomoedas –e trocar o Fed imperfeito por coisas como FTX e Binance?

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

Em vacina contra radicais, Tarcísio pretende entregar Alesp a moderado do PL, OESP

 Mariana Carneiro, Julia Lindner, Gustavo Côrtes e Beatriz Bulla

13 de novembro de 2022 | 05h01

Deputados estaduais eleitos pelo partido de Tarcísio de Freitas, o Republicanos, têm dito que o futuro governador prefere um nome do PL para a Presidência da Alesp na próxima legislatura. A justificativa é a de que eleger um moderado da sigla de Jair Bolsonaro (PL) ao cargo poderia frear o ímpeto radical de parlamentares de direita com visões mais extremistas. Por esta razão, André do Prado, ligado ao cacique Valdemar Costa Neto, é quem tem se apresentado como favorito ao posto. Na avaliação de líderes da Casa, a eleição de um político do Republicanos exigiria mais concessões por parte de Tarcísio, já que o partido tem só a quarta maior bancada, com oito representantes. O PL tem a mais numerosa, com 19.

Tarcísio de Freitas durante a campanha eleitoral. Foto: Felipe Rau/Estadão

EFERVESCENTE. Um aliado de Tarcísio avalia que, para colocar um nome do Republicanos no comando da Alesp, o futuro governador precisaria compensar cedendo secretarias ao PL. A disputa por espaço no futuro governo já agita também o União Brasil e o PSD, de Gilberto Kassab.

FRENTE AMPLA. Deputados do PT dizem concordar em apoiar um nome do bloco de Tarcísio para o comando da Alesp em troca de espaço na Mesa Diretora. Desejam manter o comando da 1ª Secretaria, hoje sob a tutela de Luiz Fernando Ferreira (PT).

Sinais particulares, por Kleber Sales. Tarcísio de Freitas, governador eleito de São Paulo

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Antonio Prata Não é a economia, estúpido!, FSP

 Em "A Terra É Plana", doc da Netflix, acompanhamos os zuretas que creem num complô global —ops, planal?— para nos convencer de que a pizza na qual vivemos é uma esfera. Demora poucos minutos pra sacar que o formato da Terra não é o que une aquele povo: é o clubinho. Poderiam estar afirmando que os pescoços das girafas são giroscópios de gnomos estomacais da savana —o que salta aos olhos ali é o júbilo do pertencimento.

Poucas agremiações oferecem mais pertencimento do que a das teorias conspiratórias. De uma hora pra outra o peão, que vê o outdoor do Land Rover pela janela do trem, indo para um trabalho que não lhe traz prazer nem sentido, passa a fazer parte do seleto grupo detentor do maior segredo da Terra (plana). O peão agora sabe da grande verdade que o rei, a rainha, o bispo, o cavalo, a torre, o George Soros e o filho do Lula escondiam.

A ilustração de Adams Carvalho, publicada na Folha de São Paulo no dia 13 de Novembro de 2022, mostra o desenho de um grupo de bolsonaristas interagindo de modo festivo
Adams Carvalho

O Zé Ninguém sai de uma realidade complexa que não entende, larga a sucessão vertiginosa de mudanças em que a família tradicional convive com infinitas possibilidades, em que o vinil dá lugar ao CD, que dá lugar ao iPod, que dá lugar ao Spotify —que dará lugar a quê?— e se agarra a uma teoria que organiza tudo. É absurda? É. Mas é simples e lhe confere um assento VIP no centro da Terra plana. Na Terra redonda ele era só mais um, de pé, espremido no vagão.

"A Terra É Plana" ajuda a entender como o pior presidente da história do Brasil, um facínora que deixou quase 700 mil mortos na pandemia, 33 milhões de famintosa Amazônia e o Pantanal em chamas, perdeu só por 2 milhões de votos. Tá, os bilhões de reais despejados ilegalmente nas mãos de milhões de eleitores nos meses anteriores às eleições certamente tiveram um papel, mas diante da caçamba de entulhos em que Jair transformou o país, não dá pra explicar a votação puxando a já batida frase do assessor do Bill Clinton: "É a economia, estúpido". Foi o contrário. Apesar do desastre econômico (e social e político e ecológico etc) a besta quase ganhou.

Você, que não é de extrema direita, já foi a uma passeata dos amarelos? Tem assistido no celular aos vídeos das manifestações golpistas? Esqueça os objetivos e os argumentos, concentre-se nas pessoas. Elas estão motivadas. Eufóricas. Sentem-se parte de uma onda verde e amarela que irá levar embora as forças do mal. Não importa que "o comunismo" ou "a ideologia de gênero" ou a "mamadeira de piroca" sejam tão reais quanto a Terra plana. O bolsonarismo não é um conjunto de ideias, é um estado de espírito.

Aos trancos e barrancos, vencemos. Agora é hora de nos perguntarmos: como é que não conseguimos transformar numa narrativa empolgante o combate à pobreza, saúde e educação para todos, a liberdade de cada um viver como bem entender ou salvar o mundo do apocalipse climático? A mensagem que todos os que lutam contra os autocratas (não só na esquerda) têm para oferecer é ouro, é o que Hollywood vendeu nos últimos cem anos, de "O Garoto", do Chaplin, a "Toy Story 4". Mas em vez de nos colocarmos como Luke Skywalker contra Darth Vader, fizemos ciranda, jogral, tiramos foto de livro e pusemos o dedo na cara de quem tínhamos que conquistar.

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Não resgataremos os votos da extrema direita com argumentos, muito menos exibindo nossa suposta superioridade moral ou intelectual. Precisamos empolgar as pessoas, fazer com que se sintam possíveis jedis, nas naves da Aliança Rebelde, ao lado de Luke e Han Solo, lutando contra a Estrela da Morte. Que a Força esteja conosco.