sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Fogo tem sido arma usada por ruralistas para expulsar comunidades camponesas e indígenas - pauta MST

  

Em 2021, foram registrados 142 conflitos envolvendo o fogo criminoso em 132 comunidades, atingindo 37.596 famílias em todo país. Os dados vêm à tona a partir do levantamento da terceira fase do Dossiê Agro é Fogo, após lançamento realizado em Brasília, DF, durante este mês de outubro.

 

O documento, composto pelo relato de casos, e sistematização de artigos, demonstra que os incêndios vêm sendo utilizados como principal estratégia para a expulsão de comunidades tradicionais de seus territórios, para ampliar as principais fronteiras do agronegócio pelo país.

 

Os estados com maior número de conflitos por fogo foram Mato Grosso do Sul (26 ocorrências), Mato Grosso (22), Bahia (14) e Rondônia (10), que, juntos, concentram 50,7% dos casos. O Mato Grosso chegou a registrar mais de 7,4 mil km² de incêndios, área equivalente à cidade de São Paulo.

 

As principais vítimas deste tipo de conflito são os povos indígenas. No MT, das dez áreas protegidas mais desmatadas entre agosto de 2020 e julho de 2021, seis pertencem ao povo Xavante. Além destes, ribeirinhos, comunidades quilombolas, camponesas e famílias Sem Terra também são afetadas.

 

A maior parte dos conflitos envolvendo fogo no Brasil (54%) está localizado no Cerrado. Nas áreas da Amazônia Legal, que envolve nove estados do Brasil localizados na bacia Amazônica, 44% das comunidades sofreram com conflitos por incêndios.

 

Governo Bolsonaro aliado a ruralistas batem recorde de destruição


Desde o início do governo de Jair Bolsonaro (PL), o desmatamento no país atingiu cerca de 42 mil quilômetros quadrados de matas nativas, entre 2019 e 2021. O correspondente à área do estado do Rio de Janeiro. O desastre ambiental sem precedentes faz parte do Relatório Anual de Desmatamento no Brasil, divulgado este ano pelo Projeto MapBiomas. 


O documento mostra também que no ano passado o desmate foi 20% maior que no ano anterior, indicando que o atual governo bateu recordes de destruição. A partir do levantamento foi possível constatar que a agropecuária foi responsável por 97% do desmatamento no país, o que causa destruição não somente ambiental, mas também que recai sobre a vida dos povos que vivem em tais regiões.


Além disso, o orçamento secreto nas mãos de ruralistas contribui para o crescimento de queimadas. Em 2021, o total de gastos com emendas destinadas ao orçamento secreto (R$ 10,79 bilhões) alcançou mais de quatro vezes os valores destinados ao Meio Ambiente.


“O descontrole das queimadas e do desmatamento é expressão do desmonte da política de fiscalização ambiental do atual governo, sendo esse desmonte do orçamento uma peça importante, mas não única”, apontou Alessandra Cardoso, em artigo publicado no Dossiê. O controle da máquina orçamentária por grupos que querem destruir o meio ambiente é fundamental para tornar a violência contra as comunidades tradicionais algo sistemático.


Nos últimos dois meses, pelo menos, quatro áreas ocupadas por famílias Sem Terra também foram alvos de incêndios

 

Casos de incêndio em áreas ocupadas por famílias Sem Terra foram registrados em Goiás, Tocantins, Bahia e Rio de Janeiro.

 

No último mês de agosto, um incêndio destruiu casas, plantações, sistemas de irrigação e a rede elétrica no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Osvaldo de Oliveira, localizado em Macaé, Rio de Janeiro. Mais de 60 famílias vivem no local, ocupando uma área de mais de 1,6 mil hectares, que ficou destruída pelas chamas que se alastraram rapidamente devido à seca e aos fortes ventos na região.

 

Não se sabe ao certo a origem do fogo, investigações seguem em curso. Porém, as famílias denunciam que o retardo dos bombeiros em atender as famílias durante o incêndio ampliou os estragos de sua destruição.

 

Ao mesmo tempo em que denunciam a falta de infraestrutura das estradas que facilitam acesso ao local, agregado a delonga da construção de casas de alvenaria previstas no projeto de desenvolvimento da área, foram agravantes de risco e destruição, já que o fogo sob os barracos minaram as chances de  salvaguarda das moradias.

 

Em 12 de setembro deste ano, as 280 famílias do acampamento Dom Tomás Balduíno, em Formosa, Goiás, foram vítimas de um incêndio que atingiu suas casas, quintais produtivos, roçados e até a barraca de uma Igreja evangélica da comunidade. De acordo com as famílias, o ataque está ligado a fazendeiros da região, que estão insatisfeitos com a presença delas na área.

 

Há inclusive, segundo relatos, uma estratégia de ação bem definida. Primeiro, os fazendeiros fazem a derrubada das árvores maiores, de modo a formar montes de vegetação. Estes montes, chamados de “lerões” são queimados em seguida, dando origem aos incêndios.

 

No dia 1 de outubro, o acampamento Clodomir Santos de Morais, localizado em Ipueiras, Tocantins, foi atacado com fogo. O fogo, além de destruir as plantações das famílias agricultoras, também danificou parte da vegetação nativa. Foi a segunda vez que o acampamento sofreu ataques de incêndio em menos de um mês, sendo que o outro ocorreu em 21 de setembro.

 

Na última quarta-feira (12), mais de 20 pistoleiros atacaram o acampamento Antônio Maeiro, na Chapada Diamantina, Bahia. Os pistoleiros atearam fogo nas plantações e barracos, forçando as famílias a saírem de suas casas. O acampamento é referência na produção de alimentos sem veneno e as plantações foram todas dizimadas pelo ataque. As famílias foram agredidas e ameaçadas e tiveram que se refugiar na mata em torno do acampamento para não serem alvejadas.

 


Plantio de soja começa tumultuado de MS a RS, Mauro Zafalon - FSP

 

Toda chuva que faltou no verão passado, o que provocou uma forte quebra na produção agrícola, está vindo agora. Com isso, o plantio de soja em várias regiões de Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul está muito lento e em ritmo inferior ao da média histórica.

O problema não ocorre apenas no Brasil, mas também no Paraguai. Já a Argentina, terceira maior produtora de soja do mundo, poderá viver um período de seca durante o plantio.

Diante desse cenário, Fernando Muraro, da AgRural, acredita que a safra nacional de soja, que está sendo projetada em até 153 milhões de toneladas, poderá ficar próxima de 150 milhões.

Lavoura de trigo no Leste do Paraguai onde produtores, para evitar a chegada das chuvas, ao mesmo tempo em que colhiam o trigo entravam com o trator semeando a soja - Mauro Zafalon/Folhapress

Está-se apostando em uma produtividade muito alta, com base na da safra anterior, para estados do Centro-Oeste e do Matopiba, o que poderá não se confirmar.

Segundo ele, diante do aumento da área plantada para 43 milhões de hectares, a safra deverá crescer, mas só atingirá 153 milhões de toneladas "no melhor dos mundos". Se tiver algum desacerto climático poderá recuar para 147 milhões.

Com isso, dentro de uma normalidade de clima e de produtividade, a safra ficaria entre 149 milhões e 150 milhões de toneladas, acredita.

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Assim como no Brasil, o Paraguai também sofre com excesso de chuva nesse período do ano. Alguns produtores, para evitar a chegada das chuvas, ao mesmo tempo em que colhiam o trigo entravam com o trator semeando a soja há algumas semanas.

Apesar da dificuldade de plantio neste ano, a colheita do ano passado foi tão prejudicada pela seca que a produção de 2022/23 será maior do que a safra anterior.

O Paraguai, que conseguiu produzir apenas 4,2 milhões de toneladas de soja no ano passado, deverá obter 12 milhões na safra que está sendo semeada.

O Brasil deverá subir das 125,6 milhões de toneladas obtidas —a previsão inicial era de 144 milhões— para 149 milhões em 2022/23, na avaliação da AgRural.

Já a Argentina, que também teve uma quebra e obteve 44 milhões de toneladas neste ano, deverá atingir 51 milhões no ano que vem.

Olhando para esses números, Muraro diz que a produção volta a seu curso normal, após um ano de forte interferência da seca em 2021/22.

Dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), da AgRural e do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) indicam que a safra que está sendo semeada poderá atingir 218 milhões de toneladas na América do Sul, 38 milhões a mais do que a obtida neste ano.

Seguindo uma tendência de produtividade, o Rio Grande do Sul, que obteve apenas 24 sacas por hectares na safra 2021/22, deverá atingir 51 sacas nesta. O Paraná sobe de 36 para 56; e Mato Grosso, após o recorde de 62,3 sacas, fica um pouco abaixo.

Diante de tanta incerteza, a comercialização da soja está muito lenta neste ano, segundo Muraro. Até setembro, as vendas futuras da safra 2022/23 somavam apenas 17%, o menor percentual em oito anos. Na média dos últimos cinco anos, a comercialização atinge 35% para o período.

Clima, câmbio e política interferem na comercialização, afirma Muraro. Além disso, energia cara na Europa, lockdown na China, juros elevados, inflação crescente e incertezas com a economia mundial também são fatores a ser considerados, afirma.

A saca de soja para a entrega em fevereiro do próximo ano esteve em R$ 161 em Cascavel (PR) nesta quinta-feira (20), conforme pesquisa da AgRural. Em Chicago, o contrato de novembro fechou a US$ 13,92 por bushel (27,2 kg), com alta de 1,4% no dia.

GRIPE AVIÁRIA AINDA CASTIGA EUA

A gripe aviária continua afetando seriamente a avicultura dos Estados Unidos. A doença, que teve início no começo deste ano, já soma 548 focos e afeta 42 estados do país.

Já são 48 milhões de aves afetadas, número que se aproxima do recorde de 50,5 milhões de 2015, quando o país também foi afetado pela doença.

Assim como ocorre na Europa, os norte-americanos têm dificuldades para controlar o vírus. Esperava-se que no verão a circulação da doença diminuísse de intensidade, o que não correu.

A Europa, que tem a doença espalhada por 20 países, também tem um número crescente de aves afetadas. Já são 50 milhões que foram eliminadas.

O Brasil está isento do vírus, bem como não registra a peste suína africana, outra doença que já entrou nas Américas.

A ocorrência dessas doenças acentua ainda mais os efeitos da inflação, principalmente nos Estados Unidos. A produção de aves recua em vários estados, a oferta de proteína cai, e os preços sobem.

Só no estado de Iowa, 13,4 milhões de aves já foram afetadas. O efeito da doença se alastra também para as exportações do país, uma vez que grandes importadores, como a China, não compram produtos dos estados afetados.

Vinho As exportações chilenas de vinho com denominação de origem somam 344 milhões de litros de janeiro a setembro, 6% a mais do que em igual período de 2021.

Vinho 2 Desse volume, 51,5 milhões de litros, 2,3% a mais do que no ano passado, vieram para o Brasil, o maior importador nessa categoria. Os dados são do Ministério da Agricultura do Chile.


Gato: conheça a inteligência artificial que é ‘pau para toda obra’, OESP

 


Sistema foi preparado com diversos bancos de dados abertos e é capaz de realizar 604 tarefas diferentes

Os mais promissores modelos de inteligência artificial (IA) do momento, como os que aparecem neste especial, têm em comum o fato de serem muito bons em tarefas específicas. Há IAs especialistas em textos, imagens ou controle de robôs. Mesmo que sejam altamente sofisticadas em suas áreas, elas são quase inúteis para outras aplicações. Não é o caso do Gato, modelo divulgado em maio deste ano pela DeepMind.

O sistema é “pau para toda obra”: consegue jogar videogame, criar legendas para fotos, controlar chatbots e comandar um braço robótico. No total, ele é capaz de realizar 604 tarefas diferentes. As múltiplas funções têm origem na diversidade das informações que alimentaram o sistema (a técnica usada para treinar o modelo é a mesma de sistemas focados em gerar texto). O Gato foi preparado com diversos bancos de dados abertos, desde jogadas para games de Atari até pacotes de imagens.

“O Gato é um modelo de fundação, que pretende absorver conhecimento de várias áreas que vão além da linguagem. A ideia é que, ao adotá-lo para determinada aplicação, ele traga informações de outros campos”, explica Fábio Cozman, diretor do Centro para Inteligência Artificial (C4AI) da Universidade de São Paulo (USP).

As imagens abaixo foram geradas por IA, usando os modelos DALL-E 2, Midjourney e Stable Diffusion)

Imagens criadas pelas IAs (da esquerda para a direita) DALL-E 2, MidJourney e Stable Diffusion com comando "Uma renderização tridimensional colorida de um gato rosa, escrevendo código em um computador, em sua mesa de escritório violeta"
Imagens criadas pelas IAs (da esquerda para a direita) DALL-E 2, MidJourney e Stable Diffusion com comando "Uma renderização tridimensional colorida de um gato rosa, escrevendo código em um computador, em sua mesa de escritório violeta" Foto: DALL-E 2 / MidJourney / Stable Diffusion / Estadão

IAs desse tipo ganham importância à medida que avançam para solucionar problemas mais complexos. Por exemplo: um sistema de segurança de trânsito que faz identificação de placas de automóveis e realiza varreduras em bancos de dados sobre veículos funciona melhor no esquema do Gato do que um sistema que adota dois algoritmos diferentes (um de detecção de imagens e outro de busca de palavras). “A comunicação entre IAs diferentes é complexa e aumenta a chance de erros no sistemas”, diz Anderson Soares, coordenador do Centro de Excelência em Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Modelos generalistas não são novidade entre pesquisadores - é a partir dessa ideia que IAs são representadas na ficção na maioria das vezes. No mundo real, porém, o Gato é o primeiro a apresentar resultados razoáveis. “Ela é a primeira a apontar para uma nova classe de sistemas de IA”, explica Soares.

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O Gato é a primeira IA a apontar para uma nova classe de sistemas

Anderson Soares, coordenador do Centro de Excelência em Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (UFG)

A empolgação foi registrada nas palavras de Nando de Freitas, um dos pesquisadores por trás do Gato. “O jogo acabou!”, escreveu ele no Twitter em maio, em referência ao crescimento de sistemas generalistas. Há, porém, um longo caminho pela frente.

Na mesma mensagem, o pesquisador admite que é preciso tornar os modelos maiores, mais seguros e mais eficientes. Soares diz também que eles precisam se provar eficientes em aplicações comerciais. Para isso, o Gato precisa melhorar seus resultados.

O modelo faz várias tarefas, mas não é excepcional em nenhuma delas. Das 604 tarefas capazes de cumprir, o sistema atingiu nível de excelência em mais de 50% das vezes em apenas 450. No mundo da IA, não basta ser aluno nota 6 em todas as matérias. É preciso ter taxas bem mais altas para causar impacto duradouro.