sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Experiência gastronômica não enche o bucho de ninguém, FSP

 

SÃO PAULO

Palavras podem transformar, palavras podem ferir, palavras podem encher o saco. Uma palavra que tem me irritado demais nos últimos tempos é "experiência".

Só no último mês, recebi 195 e-mails –sem contar aqueles que apaguei ao ler o assunto– anunciando algum tipo de experiência relacionada a comida ou bebida.

Não é a experiência de um chef que trabalhou sei lá quantos anos em sei lá que restaurante. Tampouco são experimentos gastronômicos, rompantes de criatividade que sempre envolvem algum risco.

Experiência gastronômica de jantar com os olhos vendados num restaurante de São Paulo - Gabriel Cabral/Folhapress

As tais experiências, no delírio do lero-lero marqueteiro, são conjuntos de estímulos sensoriais que fazem um jantar transcender a condição mundana da alimentação.

Como diriam os antigos: vão caçar sapo com bodoque.

As experiências à venda são sempre inesquecíveis –o que não elimina a possibilidade de serem uma furada a se lembrar para o resto da vida. Quase sempre são exclusivas e/ou únicas, apesar de brotarem às centenas por todo canto.

Uma marca de conservas tenta nos convencer que seus novos vinagres chegaram para incrementar a experiência gastronômica. Então imagina o que um bom azeite é capaz de fazer, mano do céu!

Uma bandeira de cartão de crédito martela o bordão de que pode comprar experiências que não têm preço. A fatura, entretanto, insiste em chegar todo mês.

Um café dentro de uma agência de publicidade (que novidade!) aparece com a seguinte presunção: ser "um hub de experiências que facilite a sinergia e a troca entre as pessoas". Hub. Sinergia. Vem, meteoro!

Em tempo: tá cheio de experiência diferenciada na praça.

Os profissionais de comunicação recorrem a essas palavras vazias de significado quando precisam vender um produto ou serviço sem grandes predicados reais.

O dono do restaurante entra na agência de relações públicas e ouve a seguinte pergunta:

– Quais são os diferenciais do seu negócio?

– Fazemos um ótimo estrogonofe, um belo macarrão à bolonhesa, e o pessoal gosta bastante da torta de limão. Ah, servimos feijoada às quartas e sábados.

– Então o release vai ficar assim: "Restaurante do Tonho ressignifica o estrogonofe em experiência diferenciada e imersiva na culinária do afeto".

Não raro inventam uma experiência verdadeira, mas escalafobética, para desviar a atenção da comida no prato. Jantar com os olhos vendados. Almoço na montanha-russa. Café da manhã na jaula do orangotango. Tudo muito instagramável, bien sûr.

Experiência não enche o bucho de ninguém.

Ninguém discute que o negócio de um restaurante ou bar vai além de entregar comida para o cliente engolir –a praga do delivery na pandemia deixou isso claro. Mas essa de vender experiência é coisa de quem não sabe cozinhar feijão.

Voltaremos em breve para confabular sobre a gastronomia-conceito, as explosões de sabores e, claro, as casas 100% instagramáveis. Pela atenção, obrigado.

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Mercado imobiliário de superluxo cresce 37% em São Paulo, CNN

 

Mercado imobiliário de superluxo cresce 37% em São Paulo

Unidades avaliadas em mais de R$ 3 milhões têm alta na capital

Guilherme GamaSoraya Lauandda CNN

em São Paulo

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O mercado imobiliário de luxo e alto luxo registrou no segundo trimestre deste ano a maior participação no mercado de lançamentos, desde 2020. O total de unidades lançadas nesse período correspondeu a quase 7% dos imóveis.

Os dados constam de pesquisa recente da consultoria Brain — Inteligência Estratégica e atestam que os segmentos de empreendimentos cada vez mais sofisticados, está crescendo na cidade e o que justifica o crescimento de 3,8% de unidades desse padrão de 2020 para 2021. Já na comparação do segundo trimestre de 2021 com o segundo trimestre de 2022 o aumento foi de 37,7%, um salto foi de 962 empreendimentos para 1.325.

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Quando falamos em empreendimentos de luxo, falamos de imóveis com valor entre R$ 1,5 milhão a R$ 3 milhões. Já os de super luxo são os acima de R$ 3 milhões.

O faturamento de lançamentos desse setor em todo o ramo imobiliário também é o maior no segundo trimestre deste ano do que no mesmo período do ano passado e em todo 2021 e 2020. O crescimento de unidades foi de 58,4% de 2020 para 2021 e o faturamento aumentou em 184,9% nesse mesmo período.

O preço privativo de luxo do Jardim Paulista, em São Paulo, foi o maior entre os bairros, com 25.352 R$/m2, enquanto a média é 16.408R$/m2 — o que significa que é o bairro com o metro quadrado mais caro.

O metro quadrado privativo de luxo foi maior na Mooca com 151,9m2, enquanto a média é 128,4m2. Logo, o bairro tem os imóveis maiores para a categoria. Já no superluxo, o bairro Itaim Bibi é destaque com 38.437 R$/m2, contra a média de 28.560R$/m2. No m2 privativo do superluxo, Chácara Itaim é destaque: 263,5 m2 contra a média de 200,8 m2.

No Rio de Janeiro, a última edição da pesquisa, no primeiro trimestre deste ano, destaca o bairro Leblon, com a média de 49;725 R$/m2 sobre os imóveis de superluxo. Já quanto ao maior metro quadrado, Tijuca ocupa o primeiro lugar, com a média de 301,4 m2.

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quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Juliano Spyer - Não sabe, deixa, FSP

 24.ago.2022 às 8h00

Evangélicos de esquerda estão preocupados. Está fácil vender a ideia de que Lula, se for eleito, perseguirá os cristãos.

Na semana passada, o ex-presidente Lula estava no ato em que a professora emérita da USP Ermínia Maricato falou sobre "periferias dominadas por igrejas que fazem parte de uma verdadeira máfia". Após o evento, um evangélico que defende a esquerda entre seus pares me mandou o link para a notícia repercutindo essa declaração e comentou: "É de doer as entranhas".

Rapidamente, trechos em vídeo desse evento começaram a circular em grupos de WhatsApp de evangélicos pobres. Na versão que recebi, a fala da professora aparece emoldurada pela frase "O PT odeia os cristãos". A cena termina com a multidão presente aplaudindo.

O ex-presidente Lula em seu primeiro comício de campanha em São Paulo, no Vale do Anhangabaú
O ex-presidente Lula em seu primeiro comício de campanha em São Paulo, no Vale do Anhangabaú - Marlene Bergamo - 20.ago.22/Folhapress

Outro vídeo que circulou foi o do discurso do ex-presidente Lula no sábado em São Paulo. Ele voltou a falar sobre religião: "Quando quero conversar com Deus, eu não preciso ter padre ou pastores. Eu posso me trancar no meu quarto e conversar com Deus quantas horas eu quiser sem pedir favor a ninguém."

Uma amiga da Assembleia de Deus, analfabeta funcional, ex-eleitora de Lula e de Dilma, comentou: "Enquanto o Bolsonaro tá indo para dentro das igrejas dizer que ninguém fecha a igreja, que os crentes devem ir mesmo orar nas igrejas, e cresce [nas intenções de voto], Lula aparece dizendo que ele se tranca dentro de um quarto para falar com Deus? É essa a mensagem dele para os crentes?"

Sobre o trecho em que Lula defende que "as igrejas não têm que ter partido político", ela reage: "Quando a política vai atingir a igreja, a igreja tem que saber em quem votar." E interpreta essa fala do ex-presidente como um sinal de que seu governo tentará controlar os cristãos.

O pastor Alexandre Gonçalves conta como grupos do partido que ele apoia, o PDT, se opuseram ao esforço de formar um núcleo de evangélicos para apoiar a candidatura de Ciro Gomes. "A gente tem grande dificuldade de conseguir o diálogo."

Alexandre define a atitude prepotente da esquerda em relação ao mundo evangélico usando o termo "ateusplaining", que faz referência à expressão em inglês "mansplaining". Se "mansplaining" é quando um homem comenta ou explica alguma coisa a uma mulher como se ela fosse criança, "ateusplaining" é quando alguém que não conhece religião, não frequenta igrejas e não convive com religiosos, quer ensinar como religiosos devem pensar.

Não é de hoje que a vida do evangélico de esquerda é difícil. A deputada federal Benedita da Silva conta no documentário "Púlpito e Parlamento, Evangélicos na Política", de 2015: "O Lula sempre foi a besta do apocalipse para a igreja... E no meu partido, eu era discriminada pelos chamados ‘revolucionários’... Eu continuei... colocando, para a igreja, que o PT não era o demônio. E colocando, no PT, que [essa forma de tratamento do evangélico] era uma discriminação."

Para Vinicius do Valle, sociólogo e autor de "Entre a Religião e o Lulismo" (Recriar), o PT foi fundado a partir de um tripé de apoio que incluía grupos católicos ligados à Teologia da Libertação, sindicalistas e intelectuais das universidades. Mas, com o tempo, a igreja católica se afastou do partido e o movimento sindicalista perdeu forças. Por isso, os intelectuais atualmente à frente do partido estão distantes do cotidiano de pobres religiosos.

Por todos esses motivos, fica a pergunta: se o favoritismo de Lula se confirmar e ele for eleito, como um partido de lideranças em geral desinteressadas pelo tema da religião dialogará com os mais de 80% dos brasileiros que são cristãos, especialmente aqueles conservadores do ponto de vista moral?

Mas agora, a pouco mais de um mês do primeiro turno, a campanha petista tem pela frente um desafio: deixar o diálogo com evangélicos a cargo de quem conhece e é conhecido por esse público, para não expor desfavoravelmente seu candidato em uma arena onde ele é estrangeiro.