domingo, 24 de julho de 2022

O passeio do chefe da Funai em Madri , Elio Gaspari ,FSP

 É do embaixador Azeredo da Silveira, um diplomata da carreira (e dos melhores), a observação de que há gente capaz de atravessar a rua para escorregar na casca de banana que está na outra calçada.

O doutor Marcelo Xavier, presidente da Funai, atravessou o Atlântico para ir a uma reunião em Madri, onde se realizava a Assembleia-Geral do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e Caribe.

Peitado por um ex-funcionário que o chamou de "miliciano" e "assassino", retirou-se do auditório.

Um passeio até Madri vale alguns minutos de constrangimento?

Presidente da Funai abandona evento na Europa após protesto de indigenista
Presidente da Funai abandona evento na Europa após protesto de indigenista - Reprodução

VACINA CONTRA GOLPE

A liquidação da fatura da eleição presidencial no primeiro turno oferece uma vacina contra sonhos golpistas.

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Na noite de 2 de outubro, 156 milhões de eleitores terão escolhido 27 senadores, 513 deputados federais, mais uns mil deputados estaduais.

Estarão na disputa também os candidatos a presidente e a governadores, mas só serão eleitos aqueles que conseguirem maioria dos votos. Quando isso não acontecer, os dois mais votados irão para um segundo turno, no dia 30 de outubro.

Quem quiser contestar o resultado de 2 de outubro estará contestando a vitória de pelo menos 1.513 eleitos.

Eleitores brasileiros não são cordeiros diante do ataque dos lobos às urnas eletrônicas, FSP

 Ricardo Lewandowski

Ministro do Supremo Tribunal Federal e professor titular de teoria do Estado da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

As fábulas constituem um gênero literário, de cunho popular, disseminado de boca a boca por diferentes povos desde a mais remota antiguidade. Elas têm como personagens animais com características humanas, cujas ações refletem os defeitos e as virtudes das pessoas. Desde a origem, foram empregadas para criticar ricos e poderosos por meio de sátiras e alegorias, culminando, usualmente, com uma frase que encerra uma lição de moral.

Atribui-se a paternidade dessas narrativas ao escritor Esopo, que viveu na Grécia Antiga (620 a.C.-564 a.C.). Sua vasta obra serviu de inspiração, além de outros, ao ensaísta romano Fedro (20 a.C.-50 d.C.) e ao literato francês La Fontaine (1621-1695), que reescreveram, com traços estilísticos próprios, algumas das historietas do autor grego, dentre as quais uma das mais famosas, intitulada "O Lobo e o Cordeiro", grosso modo abaixo reproduzida.

Ilustração feita com caneta preta e sombras em azul de um cabo USP com duas pontas. O fundo é o papel branco.
Ilustração de Carvall - Folhapress

Em um pequeno córrego, bebia água um lobo faminto, quando se aproximou mais abaixo um cordeiro, que também começou a beber. Com um olhar ameaçador e dentes arreganhados, o lobo grunhiu: "Como você ousa turvar a água onde bebo?".

O cordeiro, humildemente, redarguiu. "Eu estou abaixo da correnteza e, por isso, não poderia sujar a sua água." O lobo, enraivecido, rosnou. "Seja como for, sei que você andou falando mal de mim no ano passado." O cordeiro, tremendo de medo, retrucou: "Não é possível, no ano passado, eu ainda não tinha nascido".

O lobo, pego de surpresa, replicou. "Se não foi você, foi seu irmão, o que dá no mesmo." Apavorado, o cordeiro defendeu-se, mais uma vez, retorquindo: "Eu não tenho irmão, sou filho único". Já salivando, o lobo rezingou: "Então, foi alguém que você conhece, um outro cordeiro, um pastor ou um dos cães que cuidam do rebanho".

Desenho de Korky Paul para o livro "As Fábulas Ferinas de Esopo". - Reprodução

E, saltando sobre ele, devorou-o. Moral da história: quem pretende usar a força não se sensibiliza com nenhum argumento.

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Esta velha fábula remete-nos à inusitada situação vivida atualmente no Brasil, na qual agentes governamentais, secundados por integrantes de estamentos armados —ao que se sabe, minoritários— colocam em dúvida, mediante alegações completamente infundadas, a segurança das urnas eletrônicas, que há cerca de 25 anos captam e computam, sem maiores contestações, os votos dos eleitores brasileiros.

Quem acompanha essa polêmica, no mínimo farsesca, constata estupefato que, a cada refutação ofertada por juristas e técnicos em informática, os detratores de nosso processo eleitoral, respeitado pela grande maioria dos cidadãos brasileiros e admirado pela comunidade internacional, articulam renovadas cavilações para solapar a credibilidade do pleito que se avizinha, com a ameaça velada de rejeitar o seu resultado, caso os candidatos pelos quais externam despudorada preferência não se sagrem vencedores.

Ocorre que, desta feita, contrariando o epílogo da parábola esopiana, os lobos não levarão a melhor, por mais que elaborem sofismas e exibam as presas, pois os hoje mais de 150 milhões de brasileiros aptos a votar —os quais de cordeiros não têm nada—, escaldados pelos incontáveis retrocessos institucionais que maculam a crônica política nacional, certamente haverão de fazer prevalecer a sua vontade soberana.

A moral dessa nova narrativa talvez possa ser sintetizada na sempre oportuna advertência de Ulysses Guimarães: "Nosso povo cresceu, assumiu o seu destino, juntou-se em multidões, reclamou a restauração democrática, a justiça social e a dignidade do Estado".

Apreensão global, editorial FSP

Praça em Nova York exibe bandeiras dos EUA, que pode entrar em fase de desaquecimento - TheNews2

Com a escalada da inflação e dos juros nos Estados Unidos e na Europa, num contexto de tensões geopolíticas em ascensão, crescem os riscos de uma recessão global. Em paralelo, há dúvidas sobre a atividade na China, que passa por um momento de desaceleração e crise no mercado imobiliário.

A combinação de fatores negativos nos três principais motores do mundo torna o cenário especialmente incerto. No tema inflacionário, as pressões se comparam às da década de 1970, ocasionadas por duas crises de oferta de petróleo.

No caso americano, que dá o tom para o mercado financeiro mundial, a inflação acumulada nos doze meses encerrados em junho chegou a 9,1%, resultado dos choques da pandemia e dos inéditos estímulos fiscais e monetários, que impulsionaram a demanda além da capacidade de produção.

Com o desemprego próximo das mínimas históricas nas duas regiões e altas dos salários acima da produtividade, tem-se pela primeira vez em décadas o risco de uma espiral inflacionária de difícil controle. Daí a resposta rápida, ainda que tardia, dos bancos centrais. Combater a inflação o quanto antes é crucial para evitar uma recessão mais profunda adiante.

Mas o processo não é indolor. Desde que o Fed iniciou o ciclo de aperto na política monetária, a expectativa para os juros disparou, de pouco mais de 1% para 3,5% no final de 2022, com forte queda dos mercados de títulos públicos, crédito privado e ações —uma perda de capital de US$ 20 trilhões.

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No caso da China, as restrições de combate à pandemia levaram a um crescimento de apenas 0,4% no segundo trimestre e parece inalcançável a meta do governo de expandir o PIB em 5,5% neste ano.

Acumulam-se sinais de desaceleração do consumo e da atividade global. A despeito da guerra, os preços das commodities já começam a cair. As cotações de metais industriais e alimentos já recuaram para o patamar do início do ano e até o petróleo caiu sensivelmente, sinal de menor demanda global.

A combinação de temores recessivos e queda nos preços das commodities afugenta capital de países emergentes, inclusive o Brasil.

Neste quadro, o dano na credibilidade da política econômica ocasionado pela intervenção eleitoreira de Jair Bolsonaro poderia ter sido evitado. Os preços de combustíveis cairiam de qualquer forma, mas o país agora terá que lidar com o legado do descontrole fiscal.