quarta-feira, 20 de outubro de 2021
Eficiência Energética em Ferrovias Por Vicente Abate Presidente da ABIFER
O setor ferroviário brasileiro, representado por sua indústria e pelas concessionárias de transporte de passageiros e de carga, encontra-se em permanente desenvolvimento tecnológico. Seu objetivo primordial é alcançar o maior grau de eficiência energética nos veículos projetados, na via permanente e nos Centros de Controle Operacional, por meio de inovações que têm sido implementadas em larga escala nos últimos tempos.
A indústria ferroviária brasileira tem investido em avançadas técnicas computacionais, com elevada digitalização, na busca da otimização dos projetos de seus veículos e da via permanente, visando ao aumento da eficiência energética, com significativa redução de emissão de gases de efeito estufa e particulados na atmosfera.
Tem buscado, ainda, a redução de um dos principais custos na operação de transporte ferroviário, que é o custo da tração dos veículos, seja o diesel nas locomotivas ou a energia elétrica nos trens de passageiros.
Destacam-se aqui motores de corrente alternada, elétricos ou a diesel, que reduzem o consumo da energia de tração em cerca de 25%.
Recentemente, foi desenvolvida e fabricada no Brasil uma locomotiva de manobra elétrica, 100% a bateria, destinada à Vale e em fase de testes, com resultados já satisfatórios. Tanto que a fabricante nacional já está produzindo uma segunda locomotiva, para exportação aos EUA, que será um benchmarking brasileiro. As duas fabricantes nacionais desenvolvem, desde 2020 na Califórnia, testes em locomotivas de linha, também 100% a bateria.
Sistemas de controle remoto para operação de locomotivas de manobra estão sendo desenvolvidos pela indústria ferroviária brasileira para aumentar a produtividade dos movimentos realizados pelas concessionárias em pátios e terminais ferroviários, de forma segura, com redução dos custos de suas operações. Estes sistemas comunicam-se através de rádio, rede de celular comercial ou Wi-Fi. Projetos pilotos estão em processo de implementação nas ferrovias nacionais.
Para o transporte de carga e de passageiros, a indústria ferroviária nacional desenvolve e fornece sistemas de sinalização da via, que possibilitam a máxima aproximação segura entre os veículos, diminuindo significativamente o intervalo entre eles, o que permite formar um sistema chamado carrossel, que oferece um transporte produtivo e seguro. Além de equipar trens sem condutores, os chamados driverless, já em operação no Brasil.
Outra fronteira tecnológica que está sendo desenvolvida, também disruptiva, é a da utilização de hidrogênio na tração de trens regionais e de veículos leves sobre trilhos, na Europa e na Ásia, pelas matrizes das fabricantes brasileiras de trens e que poderá chegar em breve ao Brasil.
Os vagões de carga também têm contribuído com esses desafios, ao utilizarem ferramentas de simulação em ambiente virtual e ensaios físicos em túnel de vento para validação de resultados, o que tem gerado economia de combustível – da ordem de 3 a 5% – por meio da redução da força de arrasto dos vagões.
Enfim, estamos vivenciando no País enormes oportunidades para a utilização de tecnologias inovadoras, que permitem o desenvolvimento de equipamentos mais produtivos, seguros e amigáveis ao meio ambiente e que possam garantir maior competitividade e segurança às concessionárias de transporte sobre trilhos.
A sociedade, em especial, agradece.
Este artigo foi originalmente publicado pela Revista Frotas & Fretes Verdes do Instituto Besc – Edição outubro de 2021, nas páginas 52 e 53.
terça-feira, 19 de outubro de 2021
Sem exportar para a China, queda de preço da carne chega ao consumidor, FSP
China e pecuária brasileira se estudam antes de tomarem os novos passos. Os chineses, após a compra de 220 mil toneladas de carne bovina do Brasil no acumulado de agosto e setembro, e pagando preços elevados, ainda avaliam o momento de retorno.
A indústria de carne brasileira sente a ausência do maior parceiro comercial, principalmente porque esse é o momento da saída do gado do confinamento para o abate.
Os chineses não devem demorar para retornar ao mercado, segundo Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

O final de ano se aproxima, os estoques formados nos últimos meses não garantem a demanda crescente no país asiático que, embora tenha buscado mercados como o da Rússia e da Argentina, ainda depende do Brasil.
O Brasil suspendeu as vendas de carne bovina à China após a ocorrência de dois casos atípicos de vaca louca nos estados de Minas Gerais e de Mato Grosso, no início do mês passado.
Novos fatores, no entanto, devem ser considerados no retorno da China. Entre eles, a evolução menor do PIB no terceiro trimestre, a crise energética e eventuais desajustes na economia, trazidos inclusive pela gigante Evergrande, com problema de liquidez, segundo o pesquisador.
Do lado brasileiro, esse é o pior momento da ausência da China. Pelo menos 15% dos abates dos frigoríficos neste período do ano são de gado confinado. O boi precisa sair do cocho porque está pronto para o abate, e os gastos diários com a alimentação afetam o caixa do pecuarista, eliminando os ganhos esperados, diz Carvalho.
É um momento de angústia para o produtor. Se mantiver o gado, queima caixa. Se retirar, não encontra o preço que almejava, afirma o pesquisador.
“Se a saída da China tivesse ocorrido em um momento de gado de pasto, a pressão sobre os preços do boi seria menor, uma vez que o animal continuaria no campo”, diz o Carvalho.
Sem a participação dos chineses no mercado, a arroba de boi gordo terminou a semana passada em R$ 266,80, o menor valor desde dezembro. Nesta segunda-feira (18), voltou a R$ 267,80, mais ainda bem abaixo dos R$ 322 da segunda quinzena de julho.
Sem a China e com um mercado interno sem poder de compra, o quilo da carne recuou para R$ 19,18 no mercado atacadista da Grande São Paulo, o menor valor desde fevereiro.
Essa pesquisa do Cepea leva em conta a chamada carcaça casada, que inclui praticamente toda a carne retirada do boi, e é um bom termômetro do mercado interno.
Os dados desta segunda-feira da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) registram os efeitos da ausência chinesa no mercado interno.
As exportações brasileiras, que somavam 8.906 toneladas por dia útil em setembro, recuaram para apenas 4.569 na média diária da terceira semana deste mês, conforme dados divulgados nesta segunda-feira (18).
Os preços médios de negociação recuaram para US$ 5.275 por tonelada, uma queda de 9%, em relação aos de setembro, apontam os dados da Secretaria de Comércio Exterior.
No ritmo atual, as exportações de carne fresca, refrigerada ou congelada deverão recuar para 90 mil toneladas neste mês, menos da metade das 187 mil de setembro.
Para Carvalho, o recuo da arroba de boi para um valor inferior a R$ 300 deve permitir, porém, o retorno de outros países que não conseguiam mais competir com a China, apesar da desvalorização acentuada do real.
Ele inclui o Irã entre esses países, um mercado muito importante para o Brasil antes desse descolamento internacional dos preços da proteína.
A Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que registrou um aumento de 0,42% nos preços médios da carne bovina na primeira quadrissemana de outubro, em São Paulo, deverá voltar a apontar queda nesta terça-feira (19), quando divulga os dados da segunda quadrissemana, terminada no dia 15 do mês.
A quadrissemana compara os preços médios dos últimos 30 dias, em relação aos 30 imediatamente anteriores.
A queda nos preços da carne bovina ocorre em um momento de maiores custos de energia e de logística para os frigoríficos, que estão diminuindo as margens.
A retração nos preços do boi afeta também as demais proteínas. O quilo do frango congelado caiu 3% em 30 dias em São Paulo, segundo o Cepea. A retração da carne suína foi de 3,6% na última semana.






