terça-feira, 24 de agosto de 2021

Aliados de Alckmin, tucanos históricos devem deixar o PSDB, OESP

 Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo

22 de agosto de 2021 | 05h00

Em vias de sair do PSDB e migrar para o PSD para disputar o governo paulista em 2022, o ex-governador Geraldo Alckmin vai levar com ele um grupo de tucanos históricos que são dissidentes do governador João Doria e reunir em seu palanque um consórcio de novos aliados que, inclusive, já foram adversários. A decisão de deixar o partido do qual é fundador, anunciada publicamente por Alckmin na semana passada, preocupa integrantes da sigla, que temem uma divisão do eleitorado no Estado governado há 27 anos pelo PSDB. 

Como vai disputar o Palácio dos Bandeirantes sem a retaguarda da máquina estadual – que estará sob o comando do vice-governador e pré-candidato Rodrigo Garcia –, Alckmin não deve ter o apoio formal de muitos prefeitos com mandato, mas seus aliados contam com a ajuda informal de antigos aliados. Se vencer as prévias presidenciais do PSDB, Doria terá que se desincompatibilizar do cargo até abril do ano que vem. 

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Alckmin
O ex-governador de SP Geraldo Alckmin, que está de saída do PSDB Foto: Daniel Teixeira/Estadão (29/8/2018)

Entre os que acompanharão Alckmin e deixarão o PSDB estão o ex-deputado federal e ex-prefeito de São José do Rio Pardo, Silvio Torres, que foi presidente estadual e secretário-geral nacional da sigla; o ex-deputado estadual de Bauru, Pedro Tobias, que também comandou o diretório estadual; e o ex-deputado federal Floriano Pesaro, que disputou as prévias estaduais em 2018. 

Também devem deixar o PSDB o ex-deputado e ex-prefeito de Sorocaba, Antonio Carlos Panunzio e o ex-prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa. “Estou decidido a sair junto com o Geraldo por razões já conhecidas dentro e fora do PSDB”, disse Silvio Torres ao Estadão. Filiado à legenda desde 1988, Torres foi um dos principais operadores políticos de Alckmin em Brasília e na executiva nacional do partido. 

Impacto

“A saída do Geraldo terá um impacto muito grande e pode dividir o eleitorado do PSDB. Ele foi quatro vezes governador e duas vezes candidato à Presidência. Não sei se o eleitor vai entender. É uma questão delicada que não pode ser tratada de forma aleatória”, disse o senador José Aníbal (SP), que é um dos quadros históricos do PSDB, mas não planeja deixar a legenda. 

Adversário de Alckmin na disputa pela prefeitura em 2008, quando recebeu apoio velado dos tucanos, o ex-ministro e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, é atualmente o principal articulador político da transferência de Alckmin, ao lado do também ex-governador Márcio França (PSB). Os dois estão atuando nos bastidores para atrair partidos médios e pequenos para o palanque de Alckmin, como Podemos, Avante, PMB, PV e Solidariedade. 

“Me identifico mais com essa turma que está saindo, que é o velho PSDB, do que esse PSDB do João Doria. Minha tendência é ficar mais próximo do Geraldo”, disse o ex-vereador Mário Covas Neto (Podemos), filho do ex-governador Mário Covas e tio do ex-prefeito Bruno Covas. Ele ressalta, porém, que essa é uma opinião pessoal, já que o Podemos ainda não bateu o martelo sobre sua posição em São Paulo em 2022. 

Adversário interno de Doria e Alckmin nas prévias para prefeito em 2016, o ex-vereador e ex-ministro Andrea Matarazzo (PSD) também deve estar no palanque de Alckmin, assim como o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que está de saída do MDB – partido pelo qual já foi candidato ao governo – e deve disputar o Senado na chapa formada por Alckmin e Márcio França. 

O ex-governador paulista não tem pressa em anunciar seu novo partido, mas deve formalizar até o fim do mês sua saída do PSDB. Em uma tentativa de esvaziar o discurso de Alckmin, o PSDB paulista anunciou que vai fazer prévias para decidir o candidato ao governo paulista. Até agora, só o vice governador Rodrigo Garcia se apresentou. 

Interlocutores de Alckmin dizem que o partido se tornou um “condomínio” de Doria. Já nos bastidores do governo paulista os correligionários do governador reclamam que Alckmin não abriu um canal de diálogo e dizem que a vaga de candidato ao Senado seria dele – o mandato de José Serra, hoje exercido pelo suplente José Aníbal porque o titular está afastado para tratamento de saúde, se encerra em 2023. Antes disso, porém, emissários de Doria chegaram a sugerir que Alckmin disputasse uma vaga de deputado federal para puxar votos na legenda, mas ele declinou. 

Após entrar nas prévias do PSDB para a Prefeitura em 2016 com apoio de Alckmin, Doria se afastou do padrinho político. Já em 2017, Doria fez movimentos sinalizando que disputaria a vaga de candidato à Presidência da República no PSDB, o que azedou a relação entre eles. 


Tasso desmente Doria e nega ter desistido de disputar prévias no PSDB, OESP

 Pedro Venceslau e Lauriberto Pompeu, O Estado de S.Paulo

24 de agosto de 2021 | 18h01

SÃO PAULO E BRASÍLIA – Em campanha nas prévias do PSDB para 2022, o governador João Doria causou desconforto no partido ao dizer nesta segunda, 23, no programa Roda Viva, da TV Cultura, que o senador Tasso Jereissati (CE), seu adversário interno, havia desistido da disputa. A declaração pegou de surpresa a direção executiva da sigla e foi desmentida por Tasso.

“Nunca conversei com quem quer que seja, nem tampouco conversei com o governador João Doria, pessoa que respeito, sobre essa questão. Portanto, fiquei surpreso com essa declaração, e no dia em que eu tiver, se tiver de fazer algum anúncio, eu mesmo farei”, disse o senador cearense em nota enviada ao Estadão.

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O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE)
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) Foto: Jefferson Rudy|Agência Senado

A declaração de Doria aconteceu no mesmo dia que Tasso recebeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu escritório político em Fortaleza. O petista publicou a foto em suas redes sociais e classificou a conversa como um “diálogo importante” sobre a democracia. 

Além de Doria e Tasso, também estão na disputa o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio. A votação está marcada para o dia 21 de janeiro, mas apenas Doria e Leite estão de fato fazendo campanha e viajando pelo Brasil. O senador cearense tem feito apenas conversas por telefone com tucanos e participado de plenárias virtuais.

Nesta terça, Doria afirmou ter sido induzido ao erro e que deu a declaração com base em uma notícia veiculada em um portal de notícias. O governador pediu “desculpas” a Tasso, por quem disse ter “profundo respeito”.

Também no programa da TV Cultura, o governador paulista fez uma série de críticas ao deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), que é seu desafeto na legenda. Doria, que já defendeu a expulsão do parlamentar, chamou o ex-governador mineiro de “covarde” e “pária dentro do PSDB” ao comentar a votação da PEC do voto impresso na Câmara.

Dos 32 deputados federais tucanos, 14 votaram na tese bolsonarista em defesa do voto do impresso. Aécio optou por abster. 

O deputado, que foi candidato ao Palácio do Planalto em 2014, respondeu também por meio de nota. 

“Doria é um desqualificado. Perdeu as condições de ser candidato à própria reeleição pela sua enorme rejeição e acha que pode comprar o PSDB para satisfazer o seu fetiche de ser candidato a presidente da República. Falta a ele dimensão e caráter para liderar qualquer projeto nacional”, afirmou Aécio.

Em outro trecho da nota, o deputado federal disse que o governador de São Paulo “se ajoelhou de forma oportunista” aos pés de Bolsonaro implorando apoio e criou o “inesquecível” Bolsodoria.

Por fim, Aécio afirmou que Doria “traiu” o seu padrinho político, o ex-governador Geraldo Alckmin, da forma “mais covarde e humilhante possível”.

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PF monitora ataques de Steve Bannon, estrategista de Trump, a urnas brasileiras, OESP

 Vinicius Valfré, O Estado de S.Paulo

24 de agosto de 2021 | 13h14

BRASÍLIA - Após relatar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que a rede bolsonarista na internet usa métodos de desinformação aplicados por Donald Trump, a Polícia Federal tem monitorado as consequências das investidas de Steve Bannon, estrategista do ex-presidente americano, sobre a democracia brasileira. Com Trump fora do poder, Bannon tem atacado instituições brasileiras e está especialmente interessado nas eleições de 2022. Aliados do presidente Jair Bolsonaro se alinharam ao estrategista, que chegou a ser preso, em 2020, sob a acusação de desvio do dinheiro arrecadado para a construção de um muro na fronteira americana com o México.

No último dia 12, acompanhado do empresário Mike Lindell, um importante aliado em campanhas de fake news, Bannon ciceroneou o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em Dakota do Sul (EUA), durante evento marcado por teorias de desinformação sobre as eleições. 

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Steve Bannon - EUA
Ex-conselheiro de Trump, Steve Bannon estava vinculado a páginas que compartilhavam desinformação no Facebook Foto: Eduardo Munoz Alvarez/AP

Eduardo falou por cerca de 40 minutos. Ignorou as seis vitórias de Jair Bolsonaro obtidas por meio do sistema eletrônico de votação e repetiu à audiência americana as mesmas informações falsas sobre as urnas que fizeram o pai ser alvo de investigações no TSE e no Supremo Tribunal Federal (STF).

O deputado federal procurou passar a ideia de que a Justiça inventou uma suspeita contra o pai por causa de fake news na live de 29 de julho, aquela que provaria fraude nas eleições de 2018, mas nada de concreto apresentou.

"Onde está o crime de fake news na nossa lei? Não tem. Mas eles usam isso para matar a nossa reputação", disse Eduardo, para aplausos puxados por Steve Bannon. O ministro do STF Alexandre de Moraes citou 11 possíveis crimes cometidos por Bolsonaro nos ataques ao sistema eleitoral, entre eles calúnia, difamação e denunciação caluniosa, além de incitação ao crime e à subversão da ordem política ou social. O deputado brasileiro saiu aplaudido de pé da apresentação, na qual usou até foto da barriga do pai costurada.

Ao fim da palestra de Eduardo, Bannon reforçou as teorias conspiratórias. "Vocês veem que não é só nos EUA. Esta eleição (de 2022, no Brasil) é a segunda mais importante no mundo e a mais importante da história da América do Sul. Bolsonaro vai vencer, a menos que seja roubado... adivinhe pelo quê."

"Pelas máquinas", emendou Lindell. "Quando eu falei com eles (os Bolsonaro) em janeiro, eles disseram que um dos segmentos que mais era contrário a eles era quem? A mídia. É o que eles (a mídia) fazem, eles condicionam as pessoas. 'Ele não vai ganhar'. Nós vimos nossos números dos EUA. E é por isso que estamos aqui. É um ponto de inflexão na história hoje."

O chamado "ciber simpósio de Mark Lindell" prometia mostrar inequívocas provas de fraude na eleição que sagrou Joe Biden vencedor. No entanto, foram apresentados um conjunto de números e mapas já solidamente refutados pela CISA, a agência de cibersegurança do departamento de segurança dos EUA.

Lindell também prometeu nos três dias do simpósio do qual Eduardo Bolsonaro foi um dos palestrantes pagar US$ 5 milhões para quem comparecesse e o desmentisse. Detalhe: a entrada não era aberta ao público em geral e a organização escolheu quem receberia o convite "por razões de segurança". O empresário acabou ridicularizado nas redes sociais.

Durante o simpósio, a Justiça autorizou a continuidade do processo em que uma das empresas vinculadas às eleições dos EUA, atacada por Lindell, cobra dele US$ 1,3 bilhão pela difamação. Quando o fato começou a ser noticiado nos sites e ele tomou ciência, deixou o palco do próprio evento.

Mike Lindell ao menos conseguiu aumentar a própria visibilidade com polêmicas. Em março, em entrevista ao podcast de Steve Bannon, avisou que as provas que vinha coletando fariam Trump ser reconduzido à presidência em agosto. A reviravolta, claro, não aconteceu, mas ele conseguiu mais atenção no mês de seu evento. Além disso, também retroalimentou seus negócios. O site oficial usado como plataforma de acesso aos vídeos do simpósio mostra em destaque propagandas de sua loja de travesseiros e direciona para descontos em pijamas e roupas de cama.

A desinformação costuma atrair uma legião de pessoas dispostas a concordar com as alegações falsas e a consumir determinado tipo de informações ou produtos. Antes de ser estrategista de Trump, Bannon comandou o Breitbart News, site com conteúdo de extrema-direita e famoso propagador de fake news contra políticos do partido democrata.

Em um documentário da Netflix (The Brink), o próprio Bannon deu ideia da fortuna que o site movimentava. Ao reclamar do Sleeping Giants, movimento que faz empresas deixarem de financiar sites como o Breitbart, ele revelou que 8 milhões de euros em publicidade deixaram de ser pagos.

Resolução brasileira. No Brasil, a Justiça Eleitoral quer combater a transformação da ideologia e da política em um mercado. Uma resolução que vai barrar a monetização de canais com conteúdo político nas eleições está sendo elaborada. Como mostrou o Estadão, sites e canais bolsonaristas conseguem ganhar muito dinheiro ecoando mentiras e agressões, reduzindo fronteiras entre a verdade e a mentira e atacando instituições.

"A prática visa, mais do que uma ferramenta de uso político-ideológico, um meio para obtenção de lucro, a partir de sistemas de monetização oferecidos pelas plataformas de redes sociais. Transforma rapidamente ideologia em mercadoria, levando os disseminadores a estimular a polarização e o acirramento do debate para manter o fluxo de dinheiro pelo número de visualizações", diz a PF no relatório ao TSE em que constatou que bolsonaristas replicam os métodos de Bannon à brasileira.

Eduardo Bolsonaro é o principal interlocutor da família com Bannon, com quem já esteve várias vezes nos EUA e que já tentou trazer ao Brasil. Ainda no início de 2019, o filho do presidente publicou uma foto com Bannon anunciando que havia sido escolhido pelo americano embaixador do The Movement (O movimento), articulado pelo ex-funcionário de Trump para reunir a extrema-direita no mundo.