sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Pandemia faz captação da poupança bater recorde em 2020, com R$ 166,3 bi, FSP

 Larissa Garcia

BRASÍLIA

Com o auxílio emergencial e com a queda do consumo em decorrência do isolamento social, os depósitos em caderneta de poupança superaram os saques em R$ 166,3 bilhões em 2020, maior valor da história. Os dados foram divulgados pelo BC (Banco Central) nesta quinta-feira (7).

A captação líquida —diferença entre entradas e saídas— no ano foi 134% maior que o número mais alto registrado na série histórica do BC, iniciada em janeiro de 1995, de R$ 71 bilhões em 2013. Em relação a 2019 (R$ 13,2 bi), o número foi 12 vezes maior.

Benefícios do governo, como saque do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), e o auxílio emergencial, podem explicar a alta nos depósitos durante a pandemia, já que foram pagos por meio de conta-poupança digitais da Caixa Econômica Federal.

Além disso, com o fechamento dos comércios nos meses mais críticos da crise sanitária, as pessoas consumiram menos e depositaram mais recursos na modalidade.

“Temos agora um cenário de fim do auxílio emergencial em que o nível de pobreza vai atingir o maior patamar desde 2012, então esse dado é um alento, na medida em que mostra que o brasileiro poupou durante a crise”, pontua o economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social.

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Houve também um movimento chamado pelo BC de poupança precaucional, no qual os consumidores adiaram compras e guardaram dinheiro preocupados com incertezas quanto ao fim da pandemia e à situação econômica do país.

“Tivemos em nove meses de auxílio o equivalente a nove anos de Bolsa Família. Também tivemos em 2020 mais de 12 vezes a captação líquida da poupança em relação a 2019. É importante ponderar que a caderneta é praticamente o único ativo ao qual o pobre tem acesso”, disse Neri.

Ao todo, os brasileiros depositaram R$ 3,1 trilhões na caderneta em 2020, maior valor da série. Os saques também bateram recorde no ano, com R$ 2,9 trilhões.

O plano do governo e do BC é que, com o fim do auxílio emergencial, os recursos depositados na poupança retornem à economia como forma de consumo e que compensem o estímulo exercido pelo benefício na atividade.

“A mobilidade ficou prejudicada na pandemia e dificultou que as pessoas saíssem para comprar. Elas pouparam muito e, portanto, vão usar agora esse dinheiro. Isso colaborou para que o governo não levasse adiante a discussão sobre a prorrogação do auxílio emergencial. O alto nível de poupança não deixa de ser uma boa notícia”, destacou o economista e professor da USP, Paulo Feldmann.

Apenas em dezembro, a captação líquida da poupança foi de R$ R$ 20 bilhões. No mês, os depósitos e os saques bateram novo recorde, com R$ 339,8 bilhões e R$ 319 bilhões, respectivamente.

Desde abril, a captação líquida vinha registrando seus maiores níveis, mas voltou aos patamares observados antes da crise sanitária em outubro.

Com a flexibilização do isolamento social e a reabertura dos comércios, as pessoas voltaram a consumir e, por isso, sacaram mais recursos da poupança, o que contribuiu para a queda da captação líquida.

No último mês do ano, no entanto, é comum que a poupança tenha captação mais elevada com o pagamento do 13º salário aos trabalhadores, o que é considerado um movimento sazonal.

A diferença entre depósitos e saques na caderneta foi de R$ 1,4 bilhão em novembro, queda de 80% em relação ao mês anterior, menor valor desde a chegada do novo coronavírus ao Brasil.

No ápice da crise, em abril, a captação líquida da poupança bateu recorde, com R$ 30,4 bilhões. O resultado foi superado em maio, com R$ 37,2 bilhões, o maior valor mensal da série histórica até agora.

O saldo da poupança fechou acima de R$ 1 trilhão em 2020. O estoque total aplicado na modalidade alcançou a marca pela primeira vez na história em setembro.

A poupança rende a Taxa Referencial (TR), hoje zerada, mais 70% da Selic, que está em 2% ao ano.

A regra prevê que, quando a taxa básica de juros estiver acima de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será 0,50% ao mês, mais TR. Caso a taxa Selic esteja menor ou igual a 8,5% ao ano, o investimento é remunerado a 70% da Selic, acrescida da TR.

'Infiéis, reincidentes e esquizofrênicos', diz deputado do PSL sobre colegas que anunciaram apoio a Lira, FSP

 "Infiéis, reincidentes e esquizofrênicos", diz o deputado Júnior Bozzella (PSL-SP) sobre os dissidentes do PSL que aderiram a Arthur Lira (PP-AL), candidato de Jair Bolsonaro. A legenda apoia oficialmente Baleia Rossi (MDB-SP) na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados.

Bozzella prometeu expulsá-los para "higienizar" o partido.

"Mais uma tentativa falida de golpe baixo de uma ala esquizofrênica, e que está 'suspensa' do partido. Muito em breve estarão todos expulsos e a legenda definitivamente higienizada. Essa indústria de arruaceiros e fabricadores de fake news jamais irá prosperar num partido sério e responsável", diz Bozzella, que é vice-líder do partido na Casa.

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Vitor Hugo (PSL-GO) apresentou lista com 32 nomes de deputados do partido que estariam com Lira. No entanto, 17 deles estão suspensos de atividades partidárias.

Fazem parte da lista pró-Lira os bolsonaristas Eduardo Bolsonaro (SP), Bia Kicis (DF), Bibo Nunes (RS), Carla Zambelli (SP), Daniel Silveira (RJ) e Marcelo Álvaro Antonio (MG).

O deputado federal Junior Bozzella (PSL-SP) durante audiência na Câmara dos Deputados
O deputado federal Junior Bozzella (PSL-SP) durante audiência na Câmara dos Deputados - Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Hélio Schwartsman O golpe de Trump, FSP

 Em apenas quatro anos, Donald Trump transformou os EUA do que muitos descreviam (exageradamente) como farol da democracia numa república de bananas. As cenas de barbárie a que assistimos na quarta-feira deixarão marcas profundas na política e na autoimagem dos americanos.

A tentativa de golpe incitada pelo ainda presidente Trump também se destaca pela incompetência. O exército de Brancaleone que ele mobilizou para invadir o Capitólio nunca teve condições objetivas de tomar o poder e nem mesmo de impedir a certificação de Joe Biden como próximo mandatário.

Se Trump planejava apenas galvanizar sua base de apoiadores e posicionar-se para uma eventual volta em 2024, então ele errou escandalosamente na dose do discurso sedicioso. Ao cruzar a linha vermelha inscrita na cabeça da maioria dos americanos, o magnata virou contra si um número não desprezível de apoiadores e lideranças do Partido Republicano. Já há quem fale em impeachment ou em acionar a 25ª emenda para retirá-lo do poder. Existe a chance de que seja processado ao término do mandato e acabe preso.

Incompetência, porém, não é a única explicação plausível para o destrambelhamento de Trump. Eu não descartaria a hipótese de ele viver um episódio psicótico que o leva a acreditar que realmente venceu a eleição e está sendo roubado. Em qualquer caso, não tem condições de governar. Como uma destituição-relâmpago não é algo trivial, talvez tenhamos de nos conformar em torcer para que nada de mais grave aconteça nas próximas duas semanas.

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O assalto ao Capitólio traz, porém, lições que podem ser úteis. Ao revelar que Washington não é tão diferente das capitais de países do Terceiro Mundo, ele tende a moderar um pouco o excepcionalismo americano. Há mensagens válidas até para nós no Brasil: se o sistema não extirpa "ab origene" as tendências golpistas de líderes populistas, o pior pode acontecer.

Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".