quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Faltaram dados e sobrou política em anúncio de eficácia da Coronavac, FSP

 Sabine Righetti

SÃO PAULO

De tudo que diferencia a divulgação da eficácia da Coronavac e de outras vacinas contra Covid-19 apresentadas nas últimas semanas, um ponto chama especial atenção: a falta de transparência.

Os jornalistas que participaram da coletiva de imprensa sobre a Coronavac nesta quinta (7) encontraram algumas porcentagens sobre a eficácia da vacina e declarações genéricas sobre poucos efeitos colaterais —nesse caso, sem nenhuma estatística associada.

De acordo com a apresentação oficial do governo estadual de São Paulo e do Instituto Butantan, a Coronavac teve eficácia de 78% para a prevenção de casos leves de Covid-19 e de 100% para casos graves em um estudo clínico realizado no Brasil, que contou com a participação de 12,4 mil profissionais de saúde voluntários em 16 centros de pesquisa.

E os números da apresentação oficial pararam por aí.

Questionado por jornalistas, Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, disse que o número de casos de Covid-19 foi em torno de 200-218. E trouxe dados de cabeça: "160 e alguma coisa no placebo e 60 ou menos entre os vacinados."

A imprensa ficou sem respostas sobre quantidade exata de participantes da pesquisa, diferenças nos subgrupos por idade ou detalhes relacionados aos efeitos colaterais.

Não dá para saber como se chegou ao cálculo dos 78% de eficácia da Coronavac para casos leves. Tampouco se sabe como foi calculada a taxa de 100% de eficácia para casos graves, que são mais raros.

Para se ter uma ideia, o laboratório Moderna divulgou à imprensa que houve 30 casos graves de Covid-19 em um teste clínico que envolveu 30 mil participantes. Todos os casos graves eram do grupo placebo.

Como casos graves são restritos a um grupo pequeno de pessoas, portanto com menor poder estatístico, esses números são chamados pelos especialistas de "desfechos secundários" nos testes clínicos. Não é, portanto, a principal informação.

No caso da Coronavac, no entanto, os 100% de eficácia da vacina para os casos graves viraram a principal informação divulgada pelo governo. E novamente: de quantos casos graves estamos falando? Um ou dois?

A Moderna também divulgou à imprensa que, entre os efeitos colaterais da sua vacina, 3,8% dos participantes relataram fadiga e 2% enxaqueca. Não temos nenhuma informação desse tipo para a Corovanac —nem porcentagem nem dados brutos.

A Pfizer e a AstraZeneca também fizeram os anúncios de eficácia de suas vacinas acompanhados de informações técnicas para a imprensa com os resultados principais encontrados. É o chamado "desfecho primário" dos testes clínicos: houve tantos casos de Covid-19 no placebo, tantos outros no grupo que foi vacinado, então a vacina preveniu a doença em tantas pessoas. Na prática, não temos esses dados para a Coronavac.

No anúncio comandado pelo governador João Doria (PSDB), Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, disse aos jornalistas que um relatório detalhado com os dados que estavam sendo questionados seria disponibilizado quando o pedido de aprovação da vacina for submetido à Anvisa. "Não vou trazer esses detalhes na coletiva."

A questão é que a divulgação dos dados de eficácia da Coronavac —prevista inicialmente para 15 de dezembro— foi adiada duas vezes justamente para que os dados de eficácia fossem divulgados simultaneamente a um relatório para a Anvisa. Não está claro, portanto, por que esse relatório ainda não está disponível à imprensa.

O anúncio da eficácia da Coronavac, em tom mais político do que científico, causou polarização nas redes sociais, inclusive entre acadêmicos. A crítica à falta de dados foi confundida com apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), já que a Coronavac é uma aposta política de Doria contra o presidente.

Se perdemos a capacidade de criticar a falta de transparência da divulgação da eficácia de uma vacina sob risco de ser tachado de partidário, então estamos todos correndo risco.

Título de mais rico do mundo opõe Musk a Bezos, seu rival no mundo da tecnologia, FSP

 Elon Musk superou Jeff Bezos, fundador da Amazon, como pessoa mais rica do planeta, impulsionado pela alta meteórica nas ações da Tesla, a montadora de carros elétricos que ele comanda.


O título extraoficial de maior bilionário do planeta opõe dois dos maiores rivais no mundo da tecnologia, em uma competição que abarca das estradas ao espaço sideral.

Musk e Bezos, os dois fundadores de companhias que fabricam foguetes, entraram em confronto quanto a questões como o poder da Amazon sobre a publicação de livros e o interesse de Musk em colonizar o planeta Marte. No ano passado, a Amazon adquiriu uma startup que desenvolve carros autoguiados e pode se tornar concorrente da Tesla.

O patrimônio líquido de Musk subiu para cerca de US$ 181 bilhões no fechamento dos mercados quarta-feira (6), ante cerca de US$ 30 bilhões um ano atrás, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index, e ficava US$ 3 bilhões abaixo do patrimônio líquido de Bezos.

Na quinta-feira (7), as ações da Tesla subiram em cerca de 10%, o suficiente para que Musk superasse Bezos no ranking de riqueza. As ações da Amazon subiram de 3%.

Bezos deteve o topo do ranking por mais de três anos. O patrimônio líquido de Musk subiu a US$ 188,5 bilhões (R$ 1,09 trilhão) por volta das 10h15min, superando o de Bezos por US$ 1,5 bilhão (R$ 8,12 bilhão), de acordo com a Bloomberg.

“Que estranho”, tuitou Musk na quinta sobre o marco. “Bem, de volta ao trabalho”.

Estabelecer o patrimônio líquido das pessoas mais ricas do planeta pode ser complicado, em parte porque muitas de suas posses são privativas. A Forbes, que também acompanha os patrimônios dos bilionários, estimava o patrimônio líquido de Musk como alguns bilhões de dólares inferior ao de Bezos até o meio-dia da quinta-feira.

Os dois presidentes-executivos se beneficiaram muito da pandemia, já que as ações de suas empresas subiram fortemente mesmo que a economia mundial tenha sido afetada pela Covid-19. As ações da Amazon mostram alta de mais de 60% nos últimos 12 meses, à medida que as pessoas recorrem ao varejo online e as empresas adotam os serviços de computação em nuvem oferecidos pela companhia.

A riqueza de Musk está vinculada principalmente à Tesla, cuja capitalização de mercado subiu em mais de 700% nos últimos 12 meses, enquanto os investidores injetam dinheiro nos fabricantes de carros elétricos. A companhia se tornou a montadora de automóveis mais valiosa do planeta. Musk, 49, controlava cerca de 20% da Tesla no final de 2019, de acordo com documentos encaminhados às autoridades financeiras.

Musk também é presidente-executivo da Space Exploration Technologies Corp., ou SpaceX, que no ano passado se uniu à Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, a fim de preparar a retomada de voos espaciais tripulados lançados de solo americano, depois de anos de dependência americana de lançamentos estrangeiros.

A Bloomberg avalia sua participação na empresa em US$ 19 bilhões (R$ 102,8 bilhões).

Nesta quinta, ao responder a um tuíte de uma conta intitulada "Mars" (Marte, em inglês), perguntando a Musk quando seria o primeiro encontro entre ambos, ele respondeu: "Playing the long game", expressão que significa algo como "é um projeto de longo prazo". Ou seja, o planeta vermelho está nos planos do bilionário.

O empreendedor nascido na África do Sul não recebe salário da Tesla. E em lugar disso, é remunerado por opções de ações quando a companhia atinge determinados marcos, vinculados a indicadores como o valor de mercado e o faturamento da Tesla. As opções de ações às quais ele ganhou acesso no ano passado estavam avaliadas em mais de US$ 23 bilhões (R$ 124,4 bilhões) na quarta-feira, de acordo com a Equilar, uma empresa que fornece dados sobre governança corporativa.

Musk anunciou no ano passado que se mudou para o Texas, um estado que não aplica imposto de renda ou de ganhos de capital individual em nível estadual. A SpaceX e a Tesla têm atividades no Texas, embora as duas mantenham grande presença na Califórnia.

A Tesla, sediada no Vale do Silício, entregou cerca de meio milhão de veículos em todo o mundo, no ano passado, e deve anunciar seu primeiro exercício anual com lucros, ao divulgar os números sobre o quarto trimestre de 2020, dentro de algumas semanas. A companhia foi incluída no índice S&P 500, em dezembro.

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OS 10 MAIS RICOS SEGUNDO A BLOOMBERG

  1. Elon Musk

    US$ 188,5 bilhões

  2. Jeff Bezos

    US$ 187 bilhões

  3. Bill Gates

    US$ 132,2 bilhões

  4. Bernard Arnault

    US$ 113,8 bilhões

  5. Mark Zuckerberg

    US$ 99,9 bilhões

  6. Zhong Shanshan

    US$ 93,4 bilhões

  7. Warren Buffett

    US$ 87,2 bilhões

  8. Larry Page

    US$ 81,5 bilhões

  9. Sergey Brin

    US$ 78,9 bilhões

  10. Larry Ellison

    US$ 78,6 bilhões

Tradução de Paulo Migliacci