segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Nova Câmara de SP começa com maior oposição a Covas e tensão entre PT e PSOL, FSP

 

SÃO PAULO

composição da Câmara Municipal de São Paulo que tomou posse no dia 1º de janeiro deve dar mais trabalho ao prefeito Bruno Covas (PSDB) na aprovação de projetos e já enfrenta cenário de tensão entre os partidos de esquerda.

Logo na primeira sessão de 2021 ficou escancarada a tensão entre o PT e o PSOL, que juntos somam 14 dos 55 vereadores. Os dois partidos estiveram juntos no segundo turno da eleição para prefeito, com o PT apoiando Guilherme Boulos, do PSOL, mas a disputa da eleição para a presidente da Câmara, vencida por Milton Leite (DEM), mostrou que os dois partidos nem sempre atuarão em bloco.

Enquanto o PSOL escolheu lançar candidatura própria, com Erika Hiltonvereadora trans em primeiro mandato, o PT acenou para Hilton, mas fez acordo para ceder seus oito votos a Leite em troca de uma vaga na Mesa Diretora, que administra a Câmara, controlando, assim, a pauta e a criação de cargos e processos contra vereadores.

Com o acordo, Juliana Cardoso (PT) foi eleita primeira secretária e Leite demonstrou força ao conseguir 49 votos.

O PSOL soltou farpas em direção ao PT. Luana Alves, líder do partido na Câmara, foi às redes sociais para dizer que “não se vende por cargos”.

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Já petistas afirmam que, ao escolher cinco minutos de holofote, o PSOL acabou fortalecendo a direita ao abrir mão de uma vaga na Mesa Diretora que poderia pertencer ao partido devido à proporcionalidade da bancada. A vaga ficou com Fernando Holiday (Patriota), um liberal conservador.

“Foi uma política de se isolar, de falar para fora do parlamento. Isso você fala um dia, tem repercussão de 24 horas e o ano continua. E você tem um ano para tocar com uma correlação de forças que poderia ser outra”, diz Antonio Donato (PT), ex-presidente da Câmara, que defende a presença na Mesa Diretora.

Além disso, ele aponta diferenças no posicionamento do partido que, em Belém (PA), apoiou Zeca Pirão (MDB) para a Presidência da Câmara também usando o princípio da proporcionalidade.

Donato diz que o foco do PT é a oposição a Covas, que ter espaço na Casa ajuda e que acredita que os integrantes do PSOL vão amadurecer nesse aspecto. “Não vamos ter uma postura de marcar posição por marcar. É importante ter presidência de comissão, é importante influenciar na pauta”. Ele diz que presidentes de comissão podem não só definir a pauta como também convocar audiências públicas.

Luana Alves, do PSOL, em dia da posse dos vereadores e eleição da Mesa Diretora
Luana Alves, do PSOL, em dia da posse dos vereadores e eleição da Mesa Diretora - Zanone Fraissat/Folhapress

"É claro que na maioria dos momentos o PSOL vai estar junto com o PT, em projetos da área da saúde, educação, os partidos têm similaridades muito importantes, mas não vai ser sempre. Na votação de presidente da Câmara, não tinha jeito”, diz Luana Alves.

“A gente procurou o PT para falar sobre a possibilidade de uma aliança progressista, de esquerda, um bloco que fosse uma oposição real ao tucanato na Câmara. Infelizmente, o PT não topou porque avaliou que precisava fechar um acordo com o Milton Leite para estar na mesa. Para a gente, foi um erro de método. Eles teriam um lugar na mesa de qualquer forma, porque tinham oito votos [número de vereadores do partido]”, conclui.

Alves diz que se deve esperar independência do PSOL porque o partido “tem um programa para que São Paulo seja mais justa e dê mais direitos à maioria da população", diz. "Tentar garantir esse programa é mais importante que os cargos."

Apesar do estranhamento entre as duas siglas de esquerda, nessa legislatura a gestão Covas terá uma situação mais difícil.

A bancada do PSOL triplicou de tamanho e chegou a seis vereadores, a do PT perdeu apenas um vereador (tem oito), e surgiram ainda novos nomes à direita que não se alinharão ao prefeito.

O Patriota triplicou a bancada do MBL (Movimento Brasil Livre), que antes tinha apenas Fernando Holiday. O grupo cresceu com a chegada de Rubinho Nunes e Marlon do Uber. Há também a bolsonarista Sonaira Fernandes (Republicanos).

Dependendo da pauta, as duas parlamentares do Novo, Janaína Lima e Cris Monteiro, podem também votar desfalcar os votos de Covas, assim como Rinaldi Digilio, do PSL.

Com isso, mais de 20 parlamentares podem se reunir contra os projetos do prefeito —sem contar discordâncias eventuais na própria base. A situação repete a dinâmica da Assembleia Legislativa de SP, onde movimentos simultâneos de bolsonaristas e a esquerda dificultam a vida do governador João Doria (PSDB).

Para agravar a situação de Covas, o PSDB teve queda de 12 para 8 cadeiras em relação à composição da Câmara no fim de 2020.

O prefeito terá de contar com a influência de Milton Leite sobre a Casa. O cacique do DEM é conhecido pelo estilo "trator" na aprovação de projetos e tem boa interlocução mesmo com alguns nomes da oposição, como mostrou sua votação para presidente.

Milton Leite durante cerimônia de posse na Câmara no dia 1º de janeiro
Milton Leite durante cerimônia de posse na Câmara no dia 1º de janeiro - Zanone Fraissat/Folhapress

Questionado sobre o aumento da oposição, Leite minimizou os efeitos para a base de Covas. "Numa Casa Legislativa do porte da Câmara Municipal de São Paulo é natural e saudável que a oposição cresça e se faça presente. A base do governo Bruno Covas respeitará e discutirá todos os projetos importantes para São Paulo. Acredito que não haverá resistência ao que for importante para a população."

Além do embate entre oposição e situação, a Câmara terá maior visibilidade na internet, com a chegada de influencers e celebridades ao Legislativo.

Thammy Miranda (PL), por exemplo, uma das duas pessoas trans eleitas para a Casa, tem mais de 3 milhões de seguidores no Instagram.

Eleito com 98.717 votos, o policial civil e youtuber do ativismo animal Felipe Becari (PSD) é outra voz com influência no ambiente virtual. No Instagram, ele contabiliza mais de um milhão de seguidores.

Outro vereador com muita visibilidade é o Delegado Palumbo, representante da chamada bancada da bala.

O índice de renovação dos vereadores foi de 38%. Com isso, veteranos perderam o mandato. Entre eles estão Toninho Paiva (PL), de 78 anos, e o ex-presidente da Câmara, Police Neto (PSD).

A Câmara deste ano contará com uma novidade: dois mandatos coletivos, como ficaram conhecidas as candidaturas não de um vereador, mas um grupo de pessoas que toma decisões em conjunto.

A configuração não existe legalmente e é feita com base em uma brecha: uma pessoa assume como vereadora, mas não toma decisões sozinha. Outros "covereadores" são nomeados assessores do gabinete e eles decidem em conjunto como será o voto.

Os dois mandatos, Bancada Feminista e Quilombo Periférico (ambos do PSOL), contam com pessoas transgênero em seus coletivos.

Além deles, outros dois transgênero tomaram posse, fato inédito na casa: a vereadora Erika Hilton e o vereador Thammy Miranda.

Com eles, e desconsiderando os mandatos coletivos, a Câmara será composta por 43 homens e 11 mulheres.


VEREADORES EMPOSSADOS, POR PARTIDO POLÍTICO:

PT
Eduardo Suplicy
Antonio Donato
Alessandro Guedes
Jair Tatto
Juliana Cardoso
Senival Moura
Alfredinho
Arselino Tatto

PSDB
Rute Costa
Gilson Barreto
João Jorge
Carlos Bezerra Jr.
Xexéu Tripoli
Aurélio Nomura
Fábio Riva
Sandra Santana

DEM
Milton Leite
Eli Corrêa
Adilson Amadeu
Dra. Sandra Tadeu
Ricardo Teixeira

PSOL
Erika Hilton
Silvia da Bancada Feminista
Luana Alves
Celso Giannazi
Toninho Vespoli
Elaine do Quilombo Periférico

REPUBLICANOS
André Santos
Sansão Pereira
Atílio Francisco
Sonaira Fernandes

MDB
Delegado Palumbo
George Hato
Marcelo Messias

PSD
Felipe Becari
Rodrigo Goulart
Edir Sales

PATRIOTA
Fernando Holiday
Rubinho Nunes
Marlon do Uber

PODEMOS
Ely Teruel
Dr. Milton Ferreira
Danilo do Posto de Saúde

PL
Thammy Miranda
Isac Félix

NOVO
Janaína Lima
Cris Monteiro

PSB
Camilo Cristófaro
Eliseu Gabriel

PV
Roberto Tripoli

PP
Faria de Sá

PSC
Gilberto Nascimento Jr.

PTB
Paulo Frange

PSL
Rinaldi Digilio

SOLIDARIEDADE
​Sidney Cruz

‘Estadão’ acelera transformação digital a caminho dos 150 anos, OESP

 O Estadão comemora nesta segunda-feira, 4, 146 anos de fundação. Lançado em 4 de janeiro de 1875, uma segunda-feira, como esta, com nome de A Província de São Paulo, contava com uma tiragem de 2.025 exemplares, em quatro páginas, uma delas dedicada aos anunciantes. O título O Estado de S. Paulo foi anunciado na edição de 18 de novembro de 1889, conforme comunicado de capa daquele dia: “Em consequencia da mudança radical havida no Governo da Nação Brazileira”, assim grafado logo após a Proclamação da República.

Ao completar 120 anos, em 1995, o jornal passou a ter também uma edição online e, atualmente, vive intensa transformação digital iniciando a contagem regressiva rumo a seu sesquicentenário, 150 anos, sempre com foco na modernização de processos de produção e divulgação de jornalismo de qualidade, marca histórica do jornal.

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Estadão presencial
No domingo de eleição, parte da equipe voltou excepcionalmente à redação Foto: Tiago Queiroz / Estadão

“Nossas audiências poderão conferir ao longo deste ano uma série de inovações, certamente um dos processos de transformação mais profundos dos 146 anos de história do Estadão”, disse João Caminoto, diretor de Jornalismo do Grupo Estado. “A contagem regressiva para os 150 anos será marcada por essas mudanças que, aliadas aos valores do jornal, reforçam a nossa parceria com a sociedade brasileira em busca de um Brasil melhor para todos.”

A transformação digital começou em 2017. No ano passado, com apoio da consultoria McKinsey, o processo do Estadão 3.0 foi acelerado em razão da pandemia da covid-19, situação que já levou a uma ampla revisão interna do jornal, com jornalistas e outros funcionários passando a trabalhar em home office na produção e publicação de notícias.

Agora, o jornal entra em 2021 reforçado por um ambiente de divulgação multiplataforma de informação, com foco no site estadao.com.br e no aplicativo, ampliando e diversificando na internet a já consagrada carteira de publicações do jornal em papel.

De acordo com Leonardo Contrucci, diretor-executivo de Estratégias Digitais do Grupo Estado, “nesta fase do Estadão 3.0 teremos um novo processo de produção de conteúdo centrado no leitor, levando uma experiência diferenciada no consumo de notícias nas mais variadas plataformas do grupo. E sempre com nosso propósito de gerar impacto positivo na vida das pessoas e do País”.

A inovação é uma das marcas importantes dessa longa história. Um ano depois de sua fundação, o jornal lançava uma das muitas novidades que marcariam a sua trajetória. Em 23 de janeiro de 1876, com o distribuidor francês Bernard Gregoire vendendo a publicação montado em um cavalo, o jornal iniciava a pioneira venda avulsa de exemplares pela cidade. A inovação entraria também para a história da cidade de São Paulo, então com cerca de 30 mil habitantes. No Estadão, o cavaleiro se tornaria o símbolo.

História

Desde a fundação, o Estadão noticiou e teve atuação decisiva nos principais fatos da cidade, do País e do mundo. Passadas a abolição da escravidão e o início do regime republicano, causas que defendeu em suas páginas, o jornal, além de informar, protagonizaria momentos importantes da História.

A abolição da escravidão, 13 anos após a fundação do jornal, foi um dos grandes acontecimentos históricos noticiados naquele fim de século 19. “Já não há mais escravos no Brazil. A lei n.3353 de 13 de maio de 1888 assim o declara no meio de festas que se estendem por todo o paiz, para a honra e glória desta nação da América”, dizia o texto “A Pátria Livre”, publicado em 15 de maio de 1888.

Nesse mesmo ano, o nome de Julio Mesquita, que começara a trabalhar na Província três anos antes, aparece pela primeira vez como diretor do jornal do qual se tornaria o único proprietário. Ele passa a comandar e a transformar a publicação, modernizando processos, formatos e linguagem, alçando o jornal a uma das maiores referências do jornalismo nacional e internacional.

No ano seguinte, a proclamação da República renderia outra edição histórica. A capa grafada apenas com os dizeres “Viva a República” sobre fundo branco é considerada até hoje uma ousadia do design gráfico.

Canudos

A República ainda dava seus primeiros passos no final do século 19 quando o jornal foi o responsável por enviar Euclides da Cunha como repórter especial para cobrir a Guerra de Canudos, no sertão baiano, em 1897. Essa experiência como repórter atuando no conflito serviu como base para o escritor conceber o clássico da literatura Os Sertões.

Já no século 20, um outro conflito, a 1.ª Guerra Mundial, colocou o jornal na vanguarda do jornalismo – uma edição noturna, apelidada de Estadinho por causa do tamanho em formato menor, atualizava as informações e trazia uma análise contextualizada e apurada. A cobertura analítica de Julio Mesquita em textos publicados durante a Primeira Guerra Mundial é considerada por estudiosos como referência para a compreensão do conflito. A inovação da edição extra – desta vez vespertina – se repetiria anos depois com o relançamento do Estadinho na 2.ª Guerra Mundial.

Nas suas páginas, a cada dia, os mais variados intelectuais e jornalistas escreveram textos que mudariam o curso da história. Monteiro Lobato, outro ícone da literatura nacional, teve os primeiros textos publicados no jornal. O poeta Guilherme de Almeida escreveu por vários anos a coluna Cinematographo, noticiando e analisando a exibição dos primeiros filmes mudos até a chegada das vozes, cores e sons que transformaram o cinema. Exemplos como esse se estendem por outras áreas como esporte, cultura, comércio, economia, política e educação.

Da Revolução Constitucionalista de 1932 à criação da Universidade de São Paulo, o jornal continuou com uma história marcada pela defesa de temas relevantes para a sociedade e o País.

Em períodos diferentes, o Estadão resistiu aos arbítrios de regimes ditatoriais, sendo tomado por cinco anos pela ditadura Vargas e sofrendo uma feroz censura nos anos de chumbo da ditadura militar, quando denunciou a violência contra a liberdade de expressão publicando poemas de Camões no lugar das notícias proibidas.

Retomada a liberdade democrática a partir dos anos 1980, o Estadão continuaria a publicar reportagens que mudariam o rumo do País, ao mesmo tempo que aprimorava a sua capacidade de explorar as novidades tecnológicas – foi pioneiro no noticiário em tempo real com o Broadcast, um dos primeiros veículos jornalísticos na internet e nas redes sociais – para ampliar o alcance de seus conteúdos de interesse público nos mais diferentes formatos, do papel ao digital.