quinta-feira, 9 de julho de 2020

Cidades esperam avanços tecnológicos e descentralização da Justiça após virarem metrópoles, FSP


RIBEIRÃO PRETO

Após o IBGE publicar um estudo que aponta novas metrópoles no país, prefeituras das cidades com a nova classificação já esperam aumento de investimentos em setores como saneamento, além de avanço tecnológico e até mesmo a descentralização da Justiça.

O país ganhou três novas metrópoles e viu outras 32 cidades receberem o título de capitais regionais em 12 estados, segundo o estudo Regic (Regiões de Influência das Cidades), feito pelo IBGE e que mostrou o avanço na rede urbana brasileira entre 2008 e 2018.

As novas metrópoles são Campinas (primeira não capital a entrar na lista), Florianópolis e Vitória. Elas se somam a São Paulo, que ocupa o topo da hierarquia como grande metrópole nacional, Rio e Brasília (consideradas metrópoles nacionais), Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Manaus, Belém, Fortaleza, Recife e Goiânia.

Coordenador da pesquisa, o geógrafo Marcelo Mota diz que o estudo é importante para a definição de políticas de acesso a serviços públicos e para o setor privado planejar, por exemplo, a localização de filiais de empresas ou a regionalização de vendas conforme as zonas de influência de cada cidade.

“A realidade evoluiu e o IBGE captou isso. Metrópole é uma cidade que tem capacidade de articulação muito grande no território. Todas as atividades de empresas, órgãos públicos, ONGs, indivíduos, associações, enfim, toda a constelação de entes que existe numa cidade e tem ligação de longa distância com outras.”

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Complexo Intermodal de Rondonópolis, que liga o terminal de Alto Araguaia a Rondonópolis, principal corredor exportador de grãos do país - Sirlei Alves/Divulgação

Foram analisadas gestão do território, comércio e serviços, instituições financeiras, ensino superior, saúde, informação, cultura e esporte, transporte, atividades agropecuárias e ligações internacionais para se chegar ao resultado.

Campinas foi alçada à condição devido ao seu dinamismo empresarial e ao porte demográfico, por influenciar uma rede com mais de 4 milhões de habitantes.

A classificação como metrópole fará com que a prefeitura envie ao TJ (Tribunal de Justiça) um pedido para ser instalado na cidade um braço do tribunal de segunda instância. “Só temos segunda instância em São Paulo. Seria natural essa descentralização e seria natural começar por Campinas”, afirmou o prefeito Jonas Donizette (PSB).

Para ele, a cidade pode se beneficiar também com programas de habitação e saneamento da União que começam pelas metrópoles.

Já em Florianópolis, a prefeitura espera novas oportunidades de investimentos, especialmente na área tecnológica, que em 2019 obteve arrecadação de ISS (Imposto Sobre Serviços) superior a do turismo pela primeira vez.

O secretário de Turismo, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, Juliano Richter Pires, diz que a vocação foi extrapolada pela pandemia, que atraiu paulistas e habitantes de centros maiores para a capital catarinense.

“O home office mostrou que é possível associar qualidade de vida com qualidade profissional e temos um aeroporto entre os melhores do país. É muito fácil trazer a família para morar aqui e vez ou outra ir a São Paulo para o que for preciso.”

Líder no ranking, São Paulo tem uma rede de influência que concentrava 49 milhões de habitantes em 2018 e mais de R$ 2 trilhões anuais de PIB, o equivalente a 23,6% da população e 33,3% da renda total do país, conforme o estudo do IBGE. Sua influência ultrapassa o próprio estado e atinge Mato Grosso do Sul, norte do Paraná, sul de Minas Gerais e do Triângulo Mineiro --onde divide influência com Belo Horizonte.

Das 15 metrópoles, 5 estão no Sudeste. Para elas convergem 97 capitais regionais, 352 centros sub-regionais, 398 centros de zona e 4.037 centros locais —estes últimos, mais numerosos no Nordeste.

As capitais regionais são definidas como centros urbanos que têm alta concentração de atividades de gestão, mas com alcance menor que as metrópoles.

O estudo mostrou avanço de Mato Grosso nesse ponto. O estado só tinha Cuiabá como capital regional e agora passou a ter também Rondonópolis e Sinop.

Em Goiás, Anápolis também subiu para essa categoria, assim como Cacoal e Ji-Paraná, em Rondônia. Em comum, são ligadas ao agronegócio.

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, César Miranda, disse que o estudo consolida Rondonópolis como a mais importante cidade do interior do estado, e vê na soja e no gado bovino os principais pontos a gerar o avanço.

Por ali passa boa parte da produção de soja do Centro-Oeste, escoada pelo terminal ferroviário, mas isso não é suficiente para o prefeito José Carlos Junqueira de Araújo (SD), que queria mais industrialização. “As commodities não são interessantes para nós. O correto é agregar valor à produção, é industrializar.”

E levantaoutra questão: “A estrutura que tenho talvez seja maior que muitas cidades grandes de São Paulo, pois tenho de cuidar das pessoas 220 quilômetros distante da capital. Se a cidade não tivesse a estrutura que tem, como socorreria a região? É necessidade”.

De maneira geral, as cidades progrediram ou se mantiveram estacionadas na classificação, mas 3% dos municípios foram rebaixados. É o caso de Campina Grande (PB), que segue como capital regional, mas agora caiu da classificação B para C.

“Muitos municípios que buscavam serviços em Campina Grande passaram a ter Patos como referência. Com isso, ela perdeu área de influência”, disse o geógrafo.

Trabalhar de casa para sempre parece o futuro, mas ideia tem histórico ruim, OESP

Três meses depois de a pandemia de coronavírus fechar escritórios, as empresas americanas concluíram que trabalhar de casa está dando certo. Muitos funcionários se verão amarrados ao Zoom e ao Slack pelo resto de suas carreiras. Por outro lado, o caminho de casa para o trabalho agora vai durar só uns segundos. Mas Richard Laermer tem alguns conselhos para todas as empresas que estão correndo atabalhoadamente para os braços desse futuro remoto: “não sejam idiotas”.

Alguns anos atrás, Laermer deixou que os funcionários de sua empresa, a RLM Public Relations, trabalhassem de casa às sextas-feiras. Este pequeno passo em direção ao teletrabalho acabou se revelando um desastre, disse ele. Muitas vezes ele não conseguia mais encontrar pessoas quando precisava delas. Projetos definharam. “Cada fim de semana se tornou um feriado de três dias”, disse ele. “Descobri que as pessoas trabalham muito melhor quando estão no mesmo espaço físico”.

IBM chegou a uma decisão semelhante. Em 2009, 40% de seus 386 mil funcionários em 173 países trabalhavam remotamente. Mas, em 2017, com a queda nas receitas, a gerência chamou milhares deles de volta ao escritório. 

Mesmo que Facebook, Shopify, Zillow, Twitter e muitas outras empresas estejam desenvolvendo planos para permitir que os funcionários trabalhem remotamente para sempre, as experiências de Laermer e da IBM são um lembrete de que a história do teletrabalho está repleta de falhas. As empresas vêm avançando, mas correm o risco de chegarem ao mesmo destino.

“Trabalhar em casa é uma jogada estratégica, não apenas uma tática para economizar dinheiro”, disse Kate Lister, presidente da Global Workplace Analytics. “Muito disso se resume à confiança. Você confia no seu pessoal?”.

Trabalho remoto para sempre é plano de décadas

Há décadas as empresas, grandes e pequenas, vêm tentando passar para o trabalho remoto. Já em 1985 a grande mídia usava frases como “o crescente movimento do teletrabalho”. Peter Drucker, o guru da administração, declarou em 1989 que “sair de casa para o escritório é uma coisa obsoleta”.

O teletrabalho era uma inovação movida pela tecnologia que parecia oferecer benefícios tanto para os funcionários e quanto para os executivos. Os primeiros poderiam eliminar deslocamentos cada vez maiores e trabalhar durante as horas que melhor lhes conviessem. A gerência economizaria em imóveis de alto custo e poderia contratar candidatos que morassem longe do escritório, aprofundando o pool de talentos.

E, no entanto, muitas das iniciativas acabaram sendo reduzidas ou abandonadas. Além da IBM, entre as empresas que recorreram publicamente ao teletrabalho na última década se encontram Aetna, Best Buy, Bank of America, Yahoo, AT&T e Reddit. Os funcionários remotos geralmente se sentiam marginalizados, o que os tornava menos leais. Criatividade, inovação e descobertas pareciam prejudicadas.

Em 2013, Marissa Mayer, presidente executiva do Yahoo, criou um furor ao forçar os funcionários a voltar ao escritório. “Algumas das melhores decisões e ideias vêm das discussões nos corredores e refeitórios, quando as pessoas conhecem gente nova e improvisam reuniões de time”, explicou um memorando da empresa.

As empresas de tecnologia passaram a gastar bilhões em escritórios cada vez mais luxuosos, dos quais os funcionários nunca precisam sair. Em 2018, o Facebook anunciou planos para instalações que eram, em essência, dormitórios. A Amazon reconstruiu um bairro inteiro de Seattle. Quando perguntaram a Patrick Pichette, ex-diretor financeiro do Google, “quantas pessoas trabalham remotamente no Google?”, ele disse que gostava de responder: “O mínimo possível”.

Esse cálculo mudou de repente. O Facebook espera que até metade de seus funcionários esteja trabalhando de casa em 2025. O presidente executivo do Shopify, uma empresa canadense de comércio eletrônico que emprega 5 mil pessoas, tuitou em maio que a maioria deles “trabalhará permanentemente remoto. O foco no escritório acabou”. O chefe de tecnologia do Walmart disse a seus funcionários que “trabalhar virtualmente será o novo normal”.

Os trabalhadores remotos podem estar livres de custos de deslocamento, mas são tradicionalmente mais vulneráveis. Jeffrey Gundlach, que dirige a empresa de investimentos DoubleLine Capital, em Los Angeles, disse que começou a enxergar sua nova equipe remota sob uma nova luz. “Eu meio que entendi quem estava trabalhando de verdade e quem não estava trabalhando tanto quanto parecia no papel”, disse ele. “Estou começando a me perguntar se realmente preciso de algumas das pessoas de supervisão e gerência intermediária”, acrescentou ele.

No início do ano, a taxa de desemprego estava baixa e os trabalhadores tinham algum poder de decisão. Tudo isso se perdeu, pelo menos nos próximos dois anos. O trabalho remoto pode consolidar essa mudança. “Quando as pessoas estão em apuros, você se aproveita delas”, disse John Sullivan, professor de administração da Universidade Estadual de San Francisco.

“Os dados dos últimos três meses são muito poderosos”, disse ele. “As pessoas estão chocadas. Ninguém viu queda na produtividade. A maioria viu aumento. As pessoas saem de casa para trabalhar há mil anos, mas isso vai parar e vai mudar a vida de todo mundo”.

A inovação, acrescentou Sullivan, vai acabar se adaptando. “Quando você contrata remotamente, pode obter o melhor talento possível, e não apenas o melhor que quer morar na Califórnia ou em Nova York”, disse ele. “Você obtém verdadeira diversidade. E isso afeta a inovação”./TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Fundador da Ricardo Eletro é preso em operação contra sonegação fiscal, OESP

Leonardo Augusto, especial para o Estadão, O Estado de S.Paulo

08 de julho de 2020 | 11h04
Atualizado 08 de julho de 2020 | 13h03

BELO HORIZONTE -  O empresário Ricardo Nunes foi preso na manhã desta quarta, 8, em São Paulo em operação deflagrada por força-tarefa montada pela Polícia Civil de Minas Gerais, Secretaria de Estado da Fazenda e o Ministério Público contra a rede varejista que fundou, a Ricardo Eletro, uma das maiores do País.

A filha do empresário, Laura Nunes, também foi presa na operação. Foram emitidos três mandados de prisão. Um, para o braço da operação no Estado de São Paulo, ainda não foi cumprido. O advogado dos dois presos, Marcelo Leonardo, afirmou que a defesa só irá se posicionar depois que tiver acesso aos autos do processo e à decisão judicial que determinou a operação desta manhã. Laura foi presa em Nova Lima, na Grande Belo Horizonte.

Há indícios de que a cadeia de lojas, que atua no setor de eletrodomésticos, tenha sonegado ao longo de cinco anos cerca de R$ 400 milhões em impostos. Estão sendo cumpridos três mandados de prisão e 14 de busca e apreensão na capital, em Contagem e Nova Lima, na Região Metropolitana, e em São Paulo e Santo André. As autoridades tentam a transferência do empresário ainda nesta quarta para Belo Horizonte. 

Ricardo Eletro
Loja da Ricardo Eletro no centro do Rio. Foto: Fabio Motta/Estadão - 5/6/2012

Segundo as investigações, os impostos eram cobrados dos consumidores mas não eram repassados ao Fisco. De acordo com informações do Ministério Público, o valor de R$ 400 milhões é correspondente ao Estado de Minas Gerais. Há, no entanto, dívidas "vultosas", conforme a promotoria, em "praticamente todos os Estados" onde a rede possui filiais.

Além dos mandados de prisão e busca, a Justiça determinou o sequestro de bens avaliados em cerca de R$ 60 milhões "com a finalidade de ressarcir o dano causado ao Estado de Minas Gerais".

A promotoria afirma que a investigação "ganhou força após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de novembro de 2019, que definiu como crime a apropriação de ICMS cobrado de consumidores em geral e não repassados ao Estado" .

O superintendente regional da Secretaria de Estado da Fazenda, Antônio de Castro Vaz de Mello, responsável pela cidade de Contagem, onde fica parte da Ricardo Eletro, afirmou que a empresa já vinha omitindo o recolhimento de ICMS há quase uma década. "A partir de decisão do STF, que transformou em crime a apropriação indébita, iniciamos essa operação", disse. "A empresa declara o que deve mas mão paga. Fazia parcelamento, mas não pagava", disse. Conforme o superintendente, a decisão do STF abriu precedente também para outras investigações.

O delegado da Polícia Civil responsável pelas investigações, Vítor Abdala, afirmou que a Ricardo Eletro faturava, mas que outras empresas do grupo, que estão em nome de familiares, é que aumentavam o patrimônio. "Se apropriava dos tributos e, em contrapartida, o patrimônio só crescia", disse. Foram apreendidos na operação computadores, celulares e documentos. A PC quer localizar outras fontes para bloqueio de recursos, já que os R$ 60 milhões imobilizados pela Justiça não são suficientes para quitar todo o rombo fiscal da empresa.

Ainda conforme informações do MP, a empresa está em recuperação extrajudicial e não tem condições de arcar com suas dívidas. "Em contrapartida, o principal dono do negócio possui dezenas de imóveis, participações em shoppings na região metropolitana de Belo Horizonte e fazendas. Os bens imóveis não se encontram registrados em nome do investigado, mas de suas filhas, mãe e até de um irmão, que também são alvos da operação de hoje", diz a promotoria. 

As investigações apontaram que "o crescimento vertiginoso do patrimônio individual do principal sócio ocorreu na mesma época em que os crimes tributários eram praticados, o que caracteriza, segundo a Força-Tarefa, crime de lavagem de dinheiro".

A operação conta com a participação de três promotores de Justiça, 60 auditores-fiscais da Receita estadual, quatro delegados e 55 investigadores da Polícia Civil.

Ricardo Nunes não é mais acionista do grupo

A Ricardo Eletro informou que Ricardo Nunes e familiares não fazem parte do atual quadro de acionistas do grupo, tampouco de sua administração.

Em nota, a empresa esclarece que a operação realizada nesta quarta faz parte de processos anteriores à gestão atual da companhia e dizem respeito a supostos atos praticados por Ricardo Nunes e familiares, não tendo ligação com a empresa.

A empresa diz reconhecer parcialmente dívidas com o Estado de Minas Gerais, e que, antes da pandemia, “estava em discussão avançada com o Estado para pagamento dos tributos passados, em consonância com as leis estaduais”.

A Ricardo Eletro afirma ainda que se colocou à disposição “para colaborar integralmente com as investigações" e que, em paralelo, está abrindo, junto com consultoria externa, investigação interna, apuração dos fatos.

A Ricardo Eletro foi assumida em 2018 pela Starboard, especializada na aquisição de ativos problemáticos, em meio à reorganização financeira da Máquina de Vendas, holding controladora da empresa e também da Insinuante. Na ocasião, a Máquina de Vendas acumulava dívidas de R$ 1,5 bilhão, que foram renegociadas nos últimos anos. / COLABOROU  CYNTHIA DECLOEDT