domingo, 15 de setembro de 2019

Discussão sobre redução de subsídio cria boom no setor de energia solar, FSP

Ivan Martínez-Vargas
SÃO PAULO
Diante da perspectiva de mudanças legais, empresas costumam suspender investimentos à espera da uma definição. No caso da geração de energia solar está ocorrendo o inverso.
A mudança nas regras em discussão na Aneel (agência reguladora do setor) impulsiona um boom de investimentos —especificamente na chamada geração distribuída.
Placas solares instaladas no Centro de Inovação da cervejaria Ambev, localizado no Parque Tecnológico da UFRJ, no Rio; Instalação foi feita pela Enel. - Divulgação
Nesse modelo, os próprios consumidores instalam painéis solares para abastecerem suas casas ou indústrias e estabelecimentos comerciais, repassando a energia que sobra às distribuidoras, obtendo descontos na conta de luz.
A corrida tem razão econômica: a discussão em curso prevê reduções do subsídio a esses pequenos geradores.
Segundo a Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), a geração distribuída movimenta R$ 5,6 bilhões em investimentos hoje.
Grandes empresas —mesmo não tendo direito ao subsídio— também miram o setor. A entidade estima que outros R$ 23 bilhões serão mobilizados nos leilões previstos até 2023 para a criação de parques solares.
A energia solar representa 1,2% da matriz energética brasileira. É a sétima fonte, longe dos 61% das hidrelétricas e atrás da sua maior competidora, a eólica, que fica com 8,7%.
A queda no custo dos painéis e os avanços tecnológicos têm permitido que a fonte ganhe eficiência e competitividade em todo o mundo.
No Brasil, o setor, que engatinhava em 2012, bate hoje a marca de 3,1 GW (gigawatts), o suficiente para abastecer 1,5 milhão de residências —1 GW vem de geração distribuída.
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As regras atuais desse tipo de geração, elaboradas em 2012, preveem uma espécie de subsídio cruzado.
Quem adere aos painéis solares precisa conectar sua instalação ao sistema de uma distribuidora. O pequeno gerador utiliza toda a infraestrutura dessa distribuidora, que também contabiliza o trânsito da energia.
A rede da distribuidora funciona, assim, como bateria que guarda créditos do excedente de energia por 60 meses.
O serviço prestado pelas distribuidoras, porém, não é remunerado pelo pequeno gerador, e os custos fixos da prestação do serviço são rateados entre todos os consumidores que não têm geração própria.
A Aneel traçou cinco cenários em que pequenos geradores passariam a remunerar as distribuidoras e pagariam entre 28% e 63% da tarifa cheia.
“Quem tiver o sistema de geração homologado e funcionando antes da entrada em vigor da norma terá um prazo de carência de até 25 anos, pelas discussões atuais. Isso tem estimulado uma corrida para instalação de sistemas”, diz Roberto Lima, sócio do escritório Cescon Barrieu.
O diretor-geral da Aneel, Rodrigo Pepitone, já disse que nova fase da consulta pública sobre o tema será aberta até outubro. A definição das regras ocorrerá no início de 2020.
“Temos 120 mil unidades consumidoras abastecidas hoje por energia solar, mas o potencial é de 84 milhões. O ritmo de crescimento vai depender da nova regra, mas nós defendemos que a regra atual seja mantida”, diz Ronaldo Koloszuk, presidente do conselho da Absolar.
“O setor ainda é criança, tem 15 mil empresas descentralizadas. As distribuidoras também estão com empresas de geração fotovoltaica, mas querem atrasar o jogo.”
“O ritmo de expansão hoje é alto, são 300 novos sistemas por dia, uma curva bastante pronunciada. Em um cenário em que o governo quer baixar o valor da tarifa de energia, faz sentido cobrar por parte dos custos do fio”, afirma Eduardo Monteiro, diretor-executivo do Instituto Acende Brasil.
Entre grandes empresas, a mudança da regulação tem feito diferença na decisão sobre investimento. É o caso, por exemplo, da Votorantim Energia, que hoje tem dois parques eólicos, mas que analisa investir em energia solar.
“Olhamos principalmente para a possibilidade de instalar energia solar nos nossos parques eólicos, o que a regulação não permite, mas deverá mudar. Também olhamos para parques solares prontos. Na geração distribuída, vemos uma oportunidade, o mercado vai crescer”, diz Carlos Guerra, diretor de inovação da empresa.
O grupo Enel faz investimentos tanto em grandes usinas como em projetos de geração distribuída. A empresa, que possui também distribuidoras de energia, tem se manifestado pela redução do subsídio cruzado.
“As distribuidoras precisam investir para adaptar suas redes para operar uma rede mais complexa. A empresa acredita que esses investimentos, que são necessários para permitir a troca de energia entre consumidor e geradores distribuídos, devem ser reconhecidos de forma a manter o equilíbrio financeiro do setor de distribuição”, disse em nota.
Já a cervejaria Ambev fechou contratos de R$ 140 milhões para a construção de 31 usinas solares que fornecerão  energia por meio de geração distribuída a seus centros de distribuição. Os locais iniciarão o funcionamento até março de 2020.
Segundo Leonardo Coelho, diretor de suprimentos e sustentabilidade da companhia, a redução no custo da energia ficou “na casa dos dois dígitos” para a empresa.
O grupo francês de energia Engie, que hoje concentra a maior parte dos negócios de energia solar em geração centralizada, quer diversificar e investir em geração distribuída, segundo o diretor de operações, Paulo Henrique Müller.
“Enxergamos uma transição energética em curso e queremos participar dela. Hoje nos preparamos para todos os cenários de mudança regulatória. Nossa projeção de investimento varia entre R$ 200 milhões e R$ 500 milhões para os próximos cinco anos, a depender de como for essa mudança”, diz. A empresa não tem uma posição quanto ao fim do subsídio, segundo ele.

sábado, 14 de setembro de 2019

Prefeitura encontra trilhos de bonde sob a Avenida São João, Veja

  06/09/2019
person Veja
  
Prefeitura encontra trilhos de bonde sob a Avenida São João
O Vale do Anhangabaú, no centro, passa por uma reforma com previsão de ficar pronta no ano que vem. as obras foram suspensas brevemente em agosto por um pedido da Justiça após queixas sobre a falta de debate público, mas logo acabaram retomadas - a discussão ainda segue nos tribunais. Durante as escavações, a prefeitura encontrou um caminho de vigas de ferro que serviu de passagem para bondes que trafegaram por décadas na região mais movimentada da metrópole. Situações semelhantes ocorreram em outros trabalhos de engenharia viária, como a requalificação do Largo da Batata, em Pinheiros, e a construção da Linha 5-Lilás do metrô, na avenida Adolfo Pinheiro. após a recente descoberta, a gestão do prefeito Bruno Covas determinou que os trilhos da avenida São João fossem removidos - só uma pequena amostra será mantida para compor o acervo arqueológico do local. Tudo é acompanhado de perto pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH).
O primeiro bonde da cidade circulou em 1872 e fez o trajeto entre a rua do Carmo, na Sé, e a estação da Luz, então um entreposto comercial que ligava o interior do estado ao litoral. Na época, os veículos eram puxados por animais. Os primeiros modelos elétricos surgiram em 1900, quando a São Paulo Tramway, Light & Power Company, conhecida como Light, passou a ser a responsável por esse meio de transporte, o mais rápido e moderno do período. ao todo, São Paulo chegou a ter 700 quilômetros de trilhos de bonde, sete vezes mais que a atual malha do metrô, de 96 quilômetros.
O reinado da Light durou até 1947. Nesse ano, a gestão dos veículos ficou sob a responsabilidade da então recém-criada Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC). a degringolada desse tipo de condução teve como epílogo o ano de 1968. O veículo a diesel prometia ir mais longe, chegar mais rápido e não causar transtornos como descarrilamentos e panes elétricas. em 27 de março daquele ano, a viagem final, entre a Vila Mariana e Santo Amaro, terminou com uma recepção de milhares de pessoas.

Projeto do Ferroanel Norte foi postergado, afirma presidente da MRS, IstoÉDinheiro

  06/09/2019
person Istoé Dinheiro
  
Projeto do Ferroanel Norte foi postergado, afirma presidente da MRS
O projeto do Ferroanel Norte, ramal ferroviário que contornará parte da Região Metropolitana de São Paulo, foi postergado. A informação é de Guilherme Mello, presidente da operadora ferroviária MRS.
A expectativa era de que parte da outorga que seria paga à União pela MRS, no processo de prorrogação antecipada da concessão da Malha Sudeste, seria aplicada na obra do governo do Estado de São Paulo. O governador João Doria e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, chegaram a assinar, em janeiro, um protocolo de intenções para a construção do trecho Norte do Ferroanel.
Porém, a MRS identificou a necessidade de realizar uma obra anterior, para segregar totalmente as vias de carga e de passageiros em sua operação entre Jundiaí e São Paulo. "Vamos liberar as linhas da CPTM para passageiros e ter uma linha dedicada para carga. Hoje, convivemos no mesmo leito, o que nos limita", afirma Mello.
O presidente da MRS sustenta que essa é uma etapa importante para viabilizar, no futuro, a construção dos 54 quilômetros do Ferroanel Norte, entre as estações de Perus, em São Paulo, e Manoel Feio, em Itaquaquecetuba. "Com essa segregação total, vamos conseguir atender o Estado de São Paulo nos próximos 10, 15 anos. E já vamos deixar preparado para o Ferroanel, que virá depois. Se eu não resolver Jundiaí-São Paulo, não adianta fazer o Ferroanel Norte, porque eu continuo com um problemão, compartilhando passageiros e carga", defende.
A MRS calcula que cerca de R$ 7,5 bilhões serão injetados a partir da renovação antecipada de sua concessão ferroviária. Os investimentos em aumento de capacidade e melhoria de desempenho, da ordem de R$ 3,1 bilhões, incluem aportes em ampliações de pátios, remodelação da via permanente, ampliação de instalações e aquisição de novos vagões e locomotivas.
Já os outros R$ 4,4 bilhões se referem a projetos de interesse público, como obras para eliminação de conflitos entre a ferrovia e as cidades, aumento de intermodalidade e desafogamento das estradas. Segundo a MRS, essas intervenções serão definidas pelo governo federal após o processo de consulta pública da renovação da MRS, que se encerra na próxima sexta-feira, dia 13.
O presidente da MRS estima que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) deverá enviar em novembro a documentação sobre o processo de renovação ao Tribunal de Contas da União (TCU). "Imaginamos que o TCU nos dê uma devolutiva em maio ou junho do ano que vem, quando estaríamos prontos para assinar (a prorrogação). Esse é o timing que trabalhamos hoje", afirma.
A MRS participou nesta tarde do III Seminário de Infraestrutura de Transporte Ferroviário, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em parceria com a Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (AEAMESP).