terça-feira, 10 de setembro de 2019

A hipocrisia dos censores Hélio Schwartsman, FSP

Há algo de falso na atitude de autoridades que buscam censurar obras que considerem pornográficas

Há algo de irremediavelmente falso na atitude de autoridades que buscam censurar obras que considerem pornográficas ou licenciosas. A razão sempre alegada por esses líderes é a de que as palavras ou imagens usadas pelo artista precisam ser tiradas de circulação para proteger a família, particularmente os jovens, de influências indevidas e danosas, que poderiam perverter sua sexualidade ainda em formação.
O argumento não tem nenhuma base científica, mas deixemos isso para lá. Mesmo que fosse verdade, o fato é que, no mundo de redes sociais e polarização política em que vivemos, tentativas de suprimir algo das vistas do público invariavelmente provocam reações cujo resultado é dar ampla publicidade ao material --o exato oposto dos objetivos proclamados.
Uma autoridade precisaria estar no limite da oligofrenia para ignorar esse efeito, de onde eu concluo que nossos candidatos a censores estejam muito menos interessados em preservar a juventude do que em apregoar em alto e bom som sua adesão a um conjunto específico de valores, isto é, em ganhar pontos com sua clientela. E o nome disso, em bom português, é hipocrisia --a homenagem que o vício presta à virtude, nas palavras de La Rochefoucauld.
Indo um pouco mais longe, penso que já seja hora de aposentarmos, por inúteis, os dispositivos do ECA que tentam impedir adolescentes de ter acesso a conteúdos sexuais. Tais mecanismos, que são os mais usados para tentar justificar atos de censura, simplesmente perderam sua razão de existir.
A ideia de evitar que material pornográfico chegasse às mãos de adolescentes talvez ainda soasse moderadamente factível no mundo analógico, mas se tornou risível num planeta em que qualquer pessoa com acesso à internet está a um clique de distância de sites com quantidades quase infinitas de sexo em todas as modalidades já imaginadas por humanos. Há limites para a hipocrisia.
 
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Governo Doria quer reduzir tarifa de pedágio para caminhões à noite em SP, FSP

Medida, que será negociada com concessionárias, valeria apenas para alguns trechos de rodovias

Rogério Gentile
SÃO PAULO
O Governo de São Paulo planeja reduzir a tarifa dos pedágios para caminhões no horário noturno a fim de otimizar o uso das estradas.
A medida, que deve ser implantada a partir do ano que vem, valerá apenas para determinados percursos dentro do que é chamado na administração João Doria (PSDB) de nova matriz logística do estado.
Levando em conta a origem, o volume e o destino dos principais produtos transportados, o governo estadual pretende estabelecer rotas ideais para o tráfego de cargas.
O caminhoneiro que usar a rota indicada, das 22h às 6h, teria direito ao pedágio com valor diferenciado. O percentual de redução ainda não foi definido. 
“Além de melhorar o trânsito e evitar acidentes, queremos diminuir o custo Brasil, que prejudica a competitividade dos nossos produtos”, diz o secretário de Logística e Transportes, João Octaviano, citando os prejuízos potenciais de uma carga parada num congestionamento. 
Movimento na praça de pedágios em Arujá, altura do km 204, sentido RJ, via Dutra
Movimento na praça de pedágios em Arujá, altura do km 204, sentido RJ, via Dutra - 16.01.2019 - Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
O secretário pretende realizar nas próximas semanas conversas com as entidades setoriais e com as concessionárias das rodovias para negociar pontos do projeto.
chegada e a saída de veículos na região metropolitana de São Paulo pelas estradas aumentou em cerca de 20% entre 2007 e 2017, de acordo com a pesquisa Origem e Destino, realizada pelo Metrô.  
Cerca de 528 mil veículos transitam pelas rodovias que cortam a Grande São Paulo todos os dias. Os caminhões representam 24%.
Por conta desse crescimento, sobretudo nos horários de pico, a formação de filas nos acessos da capital paulista virou uma rotina que se contabiliza em quilômetros.
A implantação do pedágio com tarifa reduzida à noite depende de ajustes nos contratos de concessões das rodovias em curso ou mudanças nos novos editais.
As concessionárias costumam se posicionar contra as diferenciações no preço das tarifas com o argumento de que provocam impacto no equilíbrio econômico-financeiro dos contratos. 
A tarifa é definida com base num cálculo que leva em conta a previsão de tráfego, o custo das obras previstas, as despesas com a operação, o pagamento de financiamentos e o retorno para os investidores, entre outros fatores.
“Se o valor da tarifa é reduzido para alguns, precisa ser aumentado para outros de modo a reequilibrar custos e receitas”, diz a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias em documento que trata genericamente sobre propostas de diferenciação de tarifas. A associação não concedeu entrevista à Folha para tratar da proposta da administração Doria.
Octaviano diz acreditar que as empresas concordarão com a redução na tarifa noturna por conta da economia que vão obter com a redução no número de acidentes.
As empresas, afirma o secretário, quando há uma colisão, arcam com o custo de remoção dos veículos.
“Com um número menor de caminhões conflitando com os automóveis, haverá uma redução na quantidade de acidentes e na quantidade de acidentes graves”, afirma Octaviano.
Outro fator que pode dificultar a implantação da medida é a questão da segurança. No ano passado, de acordo com dados da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, houve 22.500 episódios de roubo de cargas no país. 
O número de ocorrências é menor do que o de 2017 (25.950), mas ainda representa uma quantia enorme. Em 2013, foram 15.200 casos. Cerca de R$ 1,4 bilhão em cargas teria sido subtraído no ano passado, segundo a entidade.
Por conta do risco, de acordo com Tayguara Helou, presidente do sindicato das empresas de transporte de carga de São Paulo, em situações específicas, seguradoras estabelecem que a cobertura não vale para o período noturno.
Tayguara, mesmo assim, defende a redução no valor da tarifa à noite, desde que a medida não acarrete, como contrapartida, em uma majoração no preço da diurna.
“Toda medida que signifique uma flexibilidade na tarifa é bem-vinda”, afirma. “São Paulo tem boas rodovias, que não são de primeiro mundo, é bom que se diga, mas são muito onerosas”.
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O governo afirma que, ao adotar o desconto nos pedágios, irá reforçar a segurança nas rodovias, com mais policiamento no tráfego noturno nos corredores logísticos.
Além do pedágio mais em conta à noite para caminhões, a secretaria pretende implantar um modelo nas rodovias paulistas que prevê tarifas reduzidas para os chamados usuários frequentes.
Um projeto-piloto foi lançado em julho no edital de concessão dos 1.273 quilômetros do Lote Piracicaba-Panorama, que liga a cidade da região de Campinas ao município localizado no extremo oeste do estado, na divisa com Mato Grosso do Sul.
Os carros de passeio e veículos urbanos de carga terão descontos progressivos, de acordo com o uso da via, até um limite estimado de 74%.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Contra-ataque sobre Amazônia já começou, FSP

O noticiário das queimadas prossegue no exterior, com a agência Reuters despachando que o “Desmatamento sobe em agosto no Brasil, elevando a preocupação com os incêndios na Amazônia”.
Na Bloomberg, em longa reportagem de David Biller e Bruce Douglas, “Palavras de Bolsonaro são as faíscas conforme fazendeiros queimam a Amazônia”. Eles “se sentem empoderados para limpar a terra com fogo”.
Mas o contra-ataque de mídia já começou, com entrevistas do ministro do Meio Ambiente para a mesma Reuters e para o Wall Street Journal —este com o destaque de que Ricardo Salles “diz que desenvolvimento vai salvar a floresta tropical”. Para o ministro, “a Amazônia não é só um zoológico para se ficar observando”.
De maneira mais ostensiva, começaram a aparecer artigos de opinião com enunciados como “Por que todas as coisas que eles falam sobre a Amazônia estão erradas” em sites como Forbes e The Federalist —e até mesmo CNN e South China Morning Post.

SALVAR A AMAZÔNIA

Em editorial nesta segunda (9), o Financial Times ressalta que “Diplomatas, empresas e consumidores, todos têm um papel a representar” na tarefa global de “salvar a Amazônia”. E que “ninguém deve se deixar enganar” pelo anúncio do presidente brasileiro, de que seu governo passou a adotar “tolerância zero” com os crimes ambientais.
Dias depois de admitir um governo do trabalhista Jeremy Corbyn no Reino Unido, afirma agora o editorial do FT: “O Brasil já mostrou que pode reduzir com sucesso o desmatamento. Foi o que fez de 2004 a 12, a maior parte sob o governo do presidente Lula”.

INTEGRAÇÃO

Americas Society/Council of the Americas, uma das organizações que abriram as portas nos EUA para Bolsonaro durante a campanha eleitoral, realizou evento em Brasília, destacando a presença da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que defendeu maior "integração" produtiva com os EUA.
Também Sergio Moro, da Justiça, que pediu aos investidores estrangeiros que "apostem" no agora presidente Bolsonaro.

COOPERAÇÃO ESTRATÉGICA

A agência Xinhua noticia que Wei Fenghe, ministro da Defesa e general do Exército Popular de Libertação da China, está em Brasília.
Além de Bolsonaro, já se encontrou com o colega brasileiro, general Fernando Azevedo e Silva, e com o vice-presidente, general Hamilton Mourão —que “disse que a China é parceira fidedigna e confiável do Brasil para a cooperação estratégica abrangente e que o Brasil está disposto a trabalhar com a China para fortalecer a cooperação integral em diversas áreas”.
Em português:
http://portuguese.xinhuanet.com/2019-09/08/c_138375610.htm
Nelson de Sá
Jornalista, foi editor da Ilustrada.