domingo, 1 de setembro de 2019

Marcelo Leite No Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é, fsp

A pele é morena, pega cor fácil no sol. O cabelo grosso, que já foi mais preto, espeta rápido quando se corta curto. Quase sem pelos no torso, barba rala e falhada, olhos de um castanho escuro, altura mediana.
 
O biótipo de brasileiro da gema se estriba no DNA. Há 32% de conteúdo genético característico de ameríndios em seus cromossomos. Com 19% de origem africana na mistura, a ascendência europeia fica em minoria, apesar dos sobrenomes Nogueira e Leite, Camargo e Toledo.
 
Queria mesmo era chamar Aikanã, Aikewara, Akuntsu, Amanayé, Amondawa, Anacé, Anambé, Aparai, Apiaká, Apinayé, Apurinã, Aranã, Arapaso, Arapium, Arara, Araweté, Arikapu, Aruá, Ashaninka, Atikum, Asurini, Awá ou Aweti.
 
Ou então Baniwa, Barasana, Bororo. Canela, Chiquitano, Cinta-Larga. Deni, Desana, Dow.
 
Quem sabe Enawenê-Nawê. Fulni-ô. Gamela. Huni Kuin. Ikpeng. Jarawara. Kantaruré. Menky Manoki. Ñandeva. Oro Win. Palikur. Rikbaktsa. Shanenawa. Tumbalalá. Umutina. Uru-Eu-Wau-Wau. Wauja. Xokleng. Xingu. Yuhupde. Zoró.
Índios cantam e dançam no anexo II da Câmara dos Deputados, após reunião da CCJ, na qual foi votado e aprovado um projeto que permite atividades agropecuárias dentro de territórios indígenas, em Brasília (DF)
Índios cantam e dançam no anexo II da Câmara dos Deputados, após reunião da CCJ, na qual foi votado e aprovado um projeto que permite atividades agropecuárias dentro de territórios indígenas, em Brasília (DF) - Pedro Ladeira/Folhapress

 
Uma pequena amostra da diversidade indígena que sobrevive, hoje, no Brasil. São 254 desses nomes sonoros na lista. Imagine como ela era ainda mais rica e poética antes da chegada das caravelas, do ferro e do sarampo.
 
Falam-se nas aldeias mais de 150 línguas e dialetos, 2% do total mundial, estimado em cerca de 7.000 idiomas. Antes do século 16, acredita-se, teriam sido mais de mil, no atual território nacional. Bastaram 519 anos para extinguir 850 delas.
 
O extermínio não impediu a miscigenação, ao contrário. Os portugueses se serviam das mulheres nativas ou das pobres escravas de África. Rolou muito sexo, quase sempre forçado ou imposto; terá havido também algum amor.
 
Sem nunca ter sido formalmente racista, o país continua segregado. A muito custo os negros conquistaram certo espaço na TV e nas capas de revista, quase nenhum nas baladas (exceção feita a jogadores de futebol e artistas). E os índios?
 
Seguem invisíveis. Se depender dos fazendeiros de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Acre, Pará, Roraima e Rondônia, ficarão também sem terra, ou debaixo dela. Não é uma predição, só temor: quando ocorrerão as primeiras mortes?
 
Na terça-feira (27), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) reuniu em Brasília governadores da Amazônia sob pretexto de apresentar medidas de seu governo no front de fogo e desmatamento que se espraia no Norte. Mas, seguindo exemplo do escorpião da fábula, inoculou mais veneno na região da qual só valoriza o subsolo, como as toupeiras.
 
Em lugar de tratar das queimadas, pôs-se a derramar ataques a demarcações e homologações de terras indígenas nos governos anteriores. Processos que, cabe lembrar, cumprem com grande atraso o mandamento da Constituição em seu artigo 231.
 
“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”, reza a Lei Maior.
 
Bolsonaro já disse que não demarcará mais um centímetro quadrado de terras indígenas, não por acaso áreas em que ocorrem os menores índices de desmatamento. Recusa-se a cumprir a Constituição. Despreza a floresta.
 
Age da mesma maneira quando trabalha ativamente para descumprir o Acordo de Paris ao incentivar o desmatamento –por exemplo, caluniando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
 
O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, numa de suas frases sempre antológicas, diz que todo brasileiro é índio –exceto quem não é. Bolsonaro não é índio, é capitão. Do mato.
Marcelo Leite
Jornalista especializado em ciência e ambiente, autor de “Ciência - Use com Cuidado”.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Metrô de SP traça plano para sair do prejuízo e reduzir aporte do Estado, Valor

Metrô de SP traça plano para sair do prejuízo e reduzir aporte do Estado

 27.08.2019   |  Notícias do Mercado
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O Metrô de São Paulo planeja reduzir sua dependência do governo paulista e passar a dar lucro a partir de 2020, afirmou ao Valor o diretor-presidente, Silvani Alves Pereira, que assumiu o cargo em janeiro.

A meta não é trivial: no ano passado, a companhia teve um prejuízo de R$ 519 milhões – o resultado negativo se repetiu em nove dos dez últimos anos, com lucro apenas em 2014, de R$ 86,8 milhões. Além disso, o governo de São Paulo faz aportes bilionários todo ano para financiar a expansão da rede – em 2018, foram R$ 2,57 bilhões (ver ao lado). A ideia agora é que o Metrô possa contribuir com as obras.

O plano inclui medidas para reduzir custos e ampliar as chamadas receitas não tarifárias – ou seja, que não vêm das passagens -, e que representaram 11% do faturamento em 2018. Até o fim deste ano, a parcela deverá subir para 15%, mas, no longo prazo, poderá chegar a 40%, avalia Pereira.

Com esse objetivo, o Metrô pretende lançar o edital de duas concessões até dezembro: das 14 estações da Linha 2-Verde (entre Vila Madalena e Vila Prudente) e da estação Brás. A ideia é que companhias privadas explorem comercialmente os espaços – com lojas, lanchonetes, farmácias etc. Além disso, algumas dessas estações poderão ganhar edifícios, que se converteriam em shoppings, hospitais ou hotéis, por exemplo.A ideia não é novidade. O Metrô já tem estações integradas a shoppings, como a Santa Cruz e a Itaquera, e diversas áreas comerciais nas estações de todas as linhas. A companhia, porém, estima que o potencial dessa exploração seja muito maior do que a atual.

“Espera-se que a empresa privada seja mais competente que o Metrô para identificar essas oportunidades comerciais e, com isso, ampliar a receita adicional nas estações”, diz Pereira.

“Já tivemos várias tentativas de ampliar essas receitas não tarifárias em vários governos, mas agora estamos colocando em prática. Quando se fala em parcerias público-privadas, a empresa busca um arcabouço jurídico que traga segurança. Não depende só do ente público querer fazer, mas também da confiança do privado”, acrescentou.

Neste ano, a gestão já conseguiu realizar uma licitação nesses moldes, de 13 terminais de ônibus. O contrato deverá ser assinado em setembro, com as empresas NS Empreendimentos Imobiliários (do grupo Rezek) e a PPX Participações (dona da construtora Planova) – o consórcio foi o único que participou do leilão.

O grupo passará a cuidar da manutenção e poderá explorar comercialmente a área dos terminais e, em sete deles, construir edificações. O consórcio ainda se comprometeu a desembolsar, por mês, R$ 800 mil ou 8% do faturamento, a depender do que for maior. “O Metrô deixará de ter uma despesa de R$ 22 milhões com manutenção”, diz Pereira.

Outra forma que o Metrô tem buscado para gerar receita adicional é a prestação de serviços, como consultorias e, eventualmente, a operação de redes similares fora de São Paulo.

No caso da concessão do Metrô de Brasília, a companhia paulista formou uma parceria com a Urbi Mobilidade Urbana para elaborar estudos de viabilidade, no modelo de Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) – em que empresas interessadas no empreendimento enviam estudos, mas só são remuneradas caso o projeto seja levado adiante. “Além disso, quando o edital for publicado, podemos, junto com um parceiro privado, fazer uma Sociedade de Propósito Específico para participar do leilão para a operação da rede.”

O Metrô paulista também tem prestado consultoria ao Metrô de Quito, no Equador, e está em negociação para oferecer os serviços na Bahia, segundo Pereira.

Esse tipo de atuação passou a ser possível a partir de uma lei estadual, aprovada em março deste ano, que permite que o Metrô crie subsidiárias e tenha participação em companhias privadas.

Outro plano da empresa é fazer uma parceria com um investidor privado para se tornar uma autogeradora de energia elétrica – um dos principais custos operacionais do Metrô. Em 2018, foram gastos R$ 198 milhões com energia, que é adquirida no mercado livre.
A ideia, diz Pereira, é formar uma subsidiária e vender participação a um sócio privado: no acordo, o Metrô entraria com a disponibilidade de áreas para a instalação de painéis fotovoltaicos (no topo de estações, linhas e pátios, por exemplo) e a empresa, com o dinheiro. A expectativa é que a modelagem desse projeto fique pronta até dezembro.

Além disso, o Metrô tem avançado com seu plano de demissão voluntária, para enxugar o quadro de funcionários. Até o fim de 2018, haviam sido desligadas 845 pessoas e, neste ano, deverão sair outras 233. Uma nova rodada do plano está em estruturação e será lançada em 2020, diz o presidente.

Novos investidores preveem recuperar mina, ferrovia e porto de mineradora no AP até 2021, G1


Zamin já representou quase 32% do PIB do estado, quando estava em atividade. Duas multinacionais vão aportar investimento para reativar empreendimento de minério de ferro.

O plano de investimentos de duas multinacionais que prevê a retomada da exploração de minério de ferro no Amapá e exportação desse produto foi aprovado, e inclui a recuperação da mina, da ferrovia e do porto. A previsão é que a atividade seja retomada em 2021.

As empresas se uniram para reativarem a exportação de minério de ferro que está suspensa desde 2013 no estado, após o desabamento de porto em Santana e posterior crise da mineradora Zamin, concessionária do serviço e que acumula dívida bilionária com trabalhadores, empresas e bancos.

O projeto foi apresentado nos dias 15 e 22 de agosto, em uma assembleia em São Paulo e transmitida a representantes dos investidores e credores em Macapá. Essa era uma condição para que as empresas assumam o controle da companhia, e retomem a indústria de minério de ferro no Amapá.

A assembleia foi conduzida em São Paulo porque é onde corre o processo de recuperação judicial desde 2017. Por uma questão legal, o plano foi apresentado pela Zamin, mas, na realidade, vai ser assumido pelas duas novas investidoras, que têm origem da Inglaterra e da Singapura.

“A gente está falando de duas investidoras Indo Sino Trade, que está à frente, e a Cadence Minerals, que efetivamente vai fazer a mineração. […] Existe uma previsão de que o projeto de mineração integrado, que envolve a mina, o porto e a ferrovia, esteja a pleno vapor a partir de 2021”, explicou Eduardo Queiroz, advogado das investidoras.

O consórcio investidor fez um depósito judicial de 2,5 milhões de dólares, o equivalente a R$ 9,4 milhões, em junho, como forma de demonstrar interesse no projeto. Esse aporte inicial seria para o pagamento de pequenas empresas e débitos trabalhistas.

“Uma vez aprovado o plano, ele vai para a homologação em juízo; em seguida são verificadas as condições precedentes que estão especificadas no plano. Após isso começam a ser realizados aportes de investimentos, que já foram realizados para pagamento de credores. […] Os termos tanto em relação a prazos para pagamento, proporção de pagamento, datas para pagamento, essas questões se encontram descritas no plano de recuperação judicial”, descreveu Marcelo Avendano, advogado da Zamin.

No plano de recuperação, as investidoras destacam que o minério de ferro recuperou o preço no mercado internacional, tornando o negócio viável. O projeto prevê a restauração de toda a planta industrial, o que inclui a mina, a ferrovia e o porto.

Mineração de ferro no Amapá

A história da exploração do minério de ferro no Amapá começou com a Indústria e Comércio de Minérios (Icomi), na década de 1950. O projeto foi vendido pra MMX de Eike Batista, depois Anglo Ferrous e por último a Zamin, quando foi interrompido.

O projeto de mineração chamado “Sistema Amapá”, sob o comando da Zamin já foi responsável pela maior parte do PIB amapaense, representando 31,88% de toda a riqueza produzida no estado.

Fonte: G1
Data: 23/08/2019