A pele é morena, pega cor fácil no sol. O cabelo grosso, que já foi mais preto, espeta rápido quando se corta curto. Quase sem pelos no torso, barba rala e falhada, olhos de um castanho escuro, altura mediana.
O biótipo de brasileiro da gema se estriba no DNA. Há 32% de conteúdo genético característico de ameríndios em seus cromossomos. Com 19% de origem africana na mistura, a ascendência europeia fica em minoria, apesar dos sobrenomes Nogueira e Leite, Camargo e Toledo.
Queria mesmo era chamar Aikanã, Aikewara, Akuntsu, Amanayé, Amondawa, Anacé, Anambé, Aparai, Apiaká, Apinayé, Apurinã, Aranã, Arapaso, Arapium, Arara, Araweté, Arikapu, Aruá, Ashaninka, Atikum, Asurini, Awá ou Aweti.
Ou então Baniwa, Barasana, Bororo. Canela, Chiquitano, Cinta-Larga. Deni, Desana, Dow.
Quem sabe Enawenê-Nawê. Fulni-ô. Gamela. Huni Kuin. Ikpeng. Jarawara. Kantaruré. Menky Manoki. Ñandeva. Oro Win. Palikur. Rikbaktsa. Shanenawa. Tumbalalá. Umutina. Uru-Eu-Wau-Wau. Wauja. Xokleng. Xingu. Yuhupde. Zoró.
O biótipo de brasileiro da gema se estriba no DNA. Há 32% de conteúdo genético característico de ameríndios em seus cromossomos. Com 19% de origem africana na mistura, a ascendência europeia fica em minoria, apesar dos sobrenomes Nogueira e Leite, Camargo e Toledo.
Queria mesmo era chamar Aikanã, Aikewara, Akuntsu, Amanayé, Amondawa, Anacé, Anambé, Aparai, Apiaká, Apinayé, Apurinã, Aranã, Arapaso, Arapium, Arara, Araweté, Arikapu, Aruá, Ashaninka, Atikum, Asurini, Awá ou Aweti.
Ou então Baniwa, Barasana, Bororo. Canela, Chiquitano, Cinta-Larga. Deni, Desana, Dow.
Quem sabe Enawenê-Nawê. Fulni-ô. Gamela. Huni Kuin. Ikpeng. Jarawara. Kantaruré. Menky Manoki. Ñandeva. Oro Win. Palikur. Rikbaktsa. Shanenawa. Tumbalalá. Umutina. Uru-Eu-Wau-Wau. Wauja. Xokleng. Xingu. Yuhupde. Zoró.
Uma pequena amostra da diversidade indígena que sobrevive, hoje, no Brasil. São 254 desses nomes sonoros na lista. Imagine como ela era ainda mais rica e poética antes da chegada das caravelas, do ferro e do sarampo.
Falam-se nas aldeias mais de 150 línguas e dialetos, 2% do total mundial, estimado em cerca de 7.000 idiomas. Antes do século 16, acredita-se, teriam sido mais de mil, no atual território nacional. Bastaram 519 anos para extinguir 850 delas.
O extermínio não impediu a miscigenação, ao contrário. Os portugueses se serviam das mulheres nativas ou das pobres escravas de África. Rolou muito sexo, quase sempre forçado ou imposto; terá havido também algum amor.
Sem nunca ter sido formalmente racista, o país continua segregado. A muito custo os negros conquistaram certo espaço na TV e nas capas de revista, quase nenhum nas baladas (exceção feita a jogadores de futebol e artistas). E os índios?
Seguem invisíveis. Se depender dos fazendeiros de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Acre, Pará, Roraima e Rondônia, ficarão também sem terra, ou debaixo dela. Não é uma predição, só temor: quando ocorrerão as primeiras mortes?
Na terça-feira (27), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) reuniu em Brasília governadores da Amazônia sob pretexto de apresentar medidas de seu governo no front de fogo e desmatamento que se espraia no Norte. Mas, seguindo exemplo do escorpião da fábula, inoculou mais veneno na região da qual só valoriza o subsolo, como as toupeiras.
Em lugar de tratar das queimadas, pôs-se a derramar ataques a demarcações e homologações de terras indígenas nos governos anteriores. Processos que, cabe lembrar, cumprem com grande atraso o mandamento da Constituição em seu artigo 231.
“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”, reza a Lei Maior.
Bolsonaro já disse que não demarcará mais um centímetro quadrado de terras indígenas, não por acaso áreas em que ocorrem os menores índices de desmatamento. Recusa-se a cumprir a Constituição. Despreza a floresta.
Age da mesma maneira quando trabalha ativamente para descumprir o Acordo de Paris ao incentivar o desmatamento –por exemplo, caluniando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, numa de suas frases sempre antológicas, diz que todo brasileiro é índio –exceto quem não é. Bolsonaro não é índio, é capitão. Do mato.
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