No início deste século, a pobreza no Brasil tinha um perfil: o de trabalhadores pobres. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), em 2001, a taxa de ocupação dos brasileiros —razão entre a população trabalhando em qualquer tipo de trabalho e a população economicamente ativa— entre os mais vulneráveis era de 54%. Vinte anos depois, o retrato da pobreza no Brasil mudou: em 2024, entre os mais pobres, essa taxa caiu para 24%, menos da metade do que se registrava 23 anos atrás. Em outras palavras, o retrato atual é o de brasileiros pobres sem trabalho.
O problema urge de respostas que deem conta de sua gravidade e, quanto mais se prolongar o enfrentamento, mais difícil se tornará sua solução. De acordo com o art. 6º da Constituição, o trabalho digno é um direito social; portanto, um fim em si mesmo, devendo ser garantido a todo cidadão brasileiro. Talvez por essas razões, muitos são os gestores do setor público, do terceiro setor e pesquisadores que têm, espontaneamente, buscado fóruns de discussão, espaços de troca de conhecimento e evidências científicas que permitam o fortalecimento das políticas públicas de inclusão ao mundo do trabalho.
Nesse contexto, considerando a ausência de uma estrutura organizadora da inclusão produtiva, não é surpreendente que, organicamente, tenha se formado a Rede de Práticas sobre Políticas Públicas para a Inclusão Produtiva. A rede é organizada por um grupo de voluntários no âmbito do Núcleo de Políticas Educacionais e de Inclusão Produtiva do Insper, apoiado pela Fundação Arymax e pela Ambev, e se propõe a disponibilizar um espaço para trocas tácitas e científicas sobre como fortalecer as diferentes estratégias brasileiras para a inclusão produtiva de pessoas em vulnerabilidade social.
Ao longo do primeiro ano de funcionamento, foram realizados encontros com mais de 140 participantes estratégicos: 3 ministérios, 8 secretarias estaduais, 15 entidades do terceiro setor, diversos bancos de fomento internacionais, entre outros, se encontram para trocar boas práticas e discutir o que a pesquisa sobre inclusão ao trabalho tem descoberto.
Muitas foram as políticas públicas e as pesquisas de inclusão ao trabalho apresentadas e discutidas em um fórum numeroso e participativo para trocas construtivas. Talvez o Brasil careça de um espaço institucionalizado de construção de conhecimento conjunto sobre inclusão socioeconômica, da mesma forma que ocorre nos ótimos e importantes comitês e conselhos que discutem a pauta da assistência e do desenvolvimento econômico.
O que parece nos faltar é justamente o espaço entre essas duas importantes temáticas: a inclusão ao trabalho dos mais pobres. Nesses vácuos, o trabalho voluntário e em rede é de extrema importância. O Brasil tem muitas boas práticas em curso que podem fortalecer e inspirar todos os interessados em, em rede, superar a exclusão produtiva dos mais vulneráveis, rompendo os ciclos de pobreza que se perpetuam há séculos no país.
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