Metrô de SP traça plano para sair do prejuízo e reduzir aporte do Estado
27.08.2019 | Alexandre | Notícias do Mercado
O Metrô de São Paulo planeja reduzir sua dependência do governo paulista e passar a dar lucro a partir de 2020, afirmou ao Valor o diretor-presidente, Silvani Alves Pereira, que assumiu o cargo em janeiro.
A meta não é trivial: no ano passado, a companhia teve um prejuízo de R$ 519 milhões – o resultado negativo se repetiu em nove dos dez últimos anos, com lucro apenas em 2014, de R$ 86,8 milhões. Além disso, o governo de São Paulo faz aportes bilionários todo ano para financiar a expansão da rede – em 2018, foram R$ 2,57 bilhões (ver ao lado). A ideia agora é que o Metrô possa contribuir com as obras.
O plano inclui medidas para reduzir custos e ampliar as chamadas receitas não tarifárias – ou seja, que não vêm das passagens -, e que representaram 11% do faturamento em 2018. Até o fim deste ano, a parcela deverá subir para 15%, mas, no longo prazo, poderá chegar a 40%, avalia Pereira.
Com esse objetivo, o Metrô pretende lançar o edital de duas concessões até dezembro: das 14 estações da Linha 2-Verde (entre Vila Madalena e Vila Prudente) e da estação Brás. A ideia é que companhias privadas explorem comercialmente os espaços – com lojas, lanchonetes, farmácias etc. Além disso, algumas dessas estações poderão ganhar edifícios, que se converteriam em shoppings, hospitais ou hotéis, por exemplo.A ideia não é novidade. O Metrô já tem estações integradas a shoppings, como a Santa Cruz e a Itaquera, e diversas áreas comerciais nas estações de todas as linhas. A companhia, porém, estima que o potencial dessa exploração seja muito maior do que a atual.
“Espera-se que a empresa privada seja mais competente que o Metrô para identificar essas oportunidades comerciais e, com isso, ampliar a receita adicional nas estações”, diz Pereira.
“Já tivemos várias tentativas de ampliar essas receitas não tarifárias em vários governos, mas agora estamos colocando em prática. Quando se fala em parcerias público-privadas, a empresa busca um arcabouço jurídico que traga segurança. Não depende só do ente público querer fazer, mas também da confiança do privado”, acrescentou.
Neste ano, a gestão já conseguiu realizar uma licitação nesses moldes, de 13 terminais de ônibus. O contrato deverá ser assinado em setembro, com as empresas NS Empreendimentos Imobiliários (do grupo Rezek) e a PPX Participações (dona da construtora Planova) – o consórcio foi o único que participou do leilão.
O grupo passará a cuidar da manutenção e poderá explorar comercialmente a área dos terminais e, em sete deles, construir edificações. O consórcio ainda se comprometeu a desembolsar, por mês, R$ 800 mil ou 8% do faturamento, a depender do que for maior. “O Metrô deixará de ter uma despesa de R$ 22 milhões com manutenção”, diz Pereira.
Outra forma que o Metrô tem buscado para gerar receita adicional é a prestação de serviços, como consultorias e, eventualmente, a operação de redes similares fora de São Paulo.
No caso da concessão do Metrô de Brasília, a companhia paulista formou uma parceria com a Urbi Mobilidade Urbana para elaborar estudos de viabilidade, no modelo de Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) – em que empresas interessadas no empreendimento enviam estudos, mas só são remuneradas caso o projeto seja levado adiante. “Além disso, quando o edital for publicado, podemos, junto com um parceiro privado, fazer uma Sociedade de Propósito Específico para participar do leilão para a operação da rede.”
O Metrô paulista também tem prestado consultoria ao Metrô de Quito, no Equador, e está em negociação para oferecer os serviços na Bahia, segundo Pereira.
Esse tipo de atuação passou a ser possível a partir de uma lei estadual, aprovada em março deste ano, que permite que o Metrô crie subsidiárias e tenha participação em companhias privadas.
Outro plano da empresa é fazer uma parceria com um investidor privado para se tornar uma autogeradora de energia elétrica – um dos principais custos operacionais do Metrô. Em 2018, foram gastos R$ 198 milhões com energia, que é adquirida no mercado livre.
A ideia, diz Pereira, é formar uma subsidiária e vender participação a um sócio privado: no acordo, o Metrô entraria com a disponibilidade de áreas para a instalação de painéis fotovoltaicos (no topo de estações, linhas e pátios, por exemplo) e a empresa, com o dinheiro. A expectativa é que a modelagem desse projeto fique pronta até dezembro.
Além disso, o Metrô tem avançado com seu plano de demissão voluntária, para enxugar o quadro de funcionários. Até o fim de 2018, haviam sido desligadas 845 pessoas e, neste ano, deverão sair outras 233. Uma nova rodada do plano está em estruturação e será lançada em 2020, diz o presidente.
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