quinta-feira, 28 de março de 2019

Rumo, do grupo Cosan, vence leilão da Ferrovia Norte-Sul por R$ 2,7 bi, FSP

Empresa derrotou proposta da VLI, da Vale, e vai operar trecho central da ferrovia por 30 anos

Taís Hirata
SÃO PAULO
A Rumo, empresa do grupo Cosan, venceu o leilão da Ferrovia Norte-Sul, realizado nesta quinta-feira (28), em São Paulo. O grupo vai pagar R$ 2,719 bilhões de outorga ao governo federal e investir R$ 2,7 bilhões ao longo dos 30 anos de contrato. 
O valor oferecido pela companhia foi 100,9% acima do mínimo exigido, de R$ 1,35 bilhão de outorga. 
Como esperado, a disputa teve apenas dois participantes: além da Rumo, a VLI (formada por Vale, Mitsui, FI-FGTS e Brookfield) apresentou uma proposta, de R$ 2,065 bilhões (ágio de 52,6%).
O trecho que será operado pela companhia liga Porto Nacional (ao lado de Palmas, no Tocantins) a Estrela D'Oeste (SP) e tem 1.537 quilômetros. O trecho é controlado pela estatal Valec.
O leilão é o primeiro no setor de ferrovias desde 2007, quando o trecho norte da Norte-Sul –que liga Palmas (TO) a Açailândia (MA)– foi concedido à Vale.
A concorrência desta quinta ocorreu sob forte ameaça de judicialização. Até o último momento, a Ferrofrente (Frente Nacional pela Volta das Ferrovias) fazia ao STF (Supremo Tribunal Federal) um pedido de reconsideração de uma decisão da corte, que já havia negado uma liminar para suspender o certame.
A entidade já havia tentado parar o leilão por meio de uma ação popular, que não teve resultados. Nas últimas semanas, a concorrência também foi alvo de questionamentos do MPF (Ministério Público Federal) e do Ministério Público ligado do TCU (Tribunal de Contas da União) –todos contornados pelo Ministério de Infraestrutura. 
A principal crítica é que o leilão estaria direcionado à Rumo e à VLI. As duas companhias controlam as ferrovias que fazem conexão com o trecho a ser leiloado, ao sul e ao norte, respectivamente. Como o trecho leiloado nesta sexta não tem acesso direto a nenhum terminal portuário, o vencedor necessariamente depende do direito de passagem pelos trilhos das duas companhias. 
Segundo críticos ao edital, o modelo de leilão não garante esse acesso às ferrovias da VLI e da Rumo, o que daria vantagem competitiva às duas empresas. 
Mesmo com a realização da concorrência, há promessas de judicialização: o autor da ação popular, José Manoel Gonçalves, presidente da Ferrofrente, promete entrar com nova ação pedindo a anulação do resultado do leilão. No entanto, ele mesmo admite que a dificuldade é maior uma vez que o certame aconteça.
A associação, formada por diversos profissionais ligados ao setor, tem entre seus membros Bernardo Figueiredo, ex-diretor da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e ex-presidente da EPL (Empresa de Planejamento e Logística). Hoje, ele é consultor da empresa russa RZD, que teria desistido de participar da licitação devido à questão do direito de passagem.

    STJ libera demolições no complexo do Anhembi, em SP, OESP


    Presidente do Superior Tribunal de Justiça suspendeu decisão do TJSP; Prefeitura de São Paulo realiza leilão do espaço em abril

    Priscila Mengue, O Estado de S.Paulo
    28 de março de 2019 | 12h07
    SÃO PAULO - O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, suspendeu na terça-feira, 26, a decisão que impedia a demolição das edificações  do complexo do Anhembi, na zona norte da cidade de São Paulo. Na decisão, ele ressaltou que a preservação das edificações já havia sido avaliada e descartada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) em 2017, responsável pelos tombamentos no âmbito municipal.
    Decisão do STJ permite demolições no complexo do Anhembi
    Decisão do STJ permite demolições no complexo do Anhembi Foto: Tiago Queiroz/Estadão
    No STJ, a Prefeitura de São Paulo alegou que a proibição de demolições inviabilizaria o processo de privatização do complexo - que será vendido em conjunto com o controle acionário da  São Paulo Turismo S/A (SPTuris). A entrega dos envelopes com as propostas está marcada para esta terça-feira, 2, com lance mínimo de R$ 1 bilhão. A vencedora será divulga, contudo, apenas no dia 9 de abril.
    "Do ponto de vista jurídico, no tocante às questões que guardam estreita correlação com os alegados danos à economia do município e, portanto, passíveis de exame na via suspensiva, não constato ilegalidade ou inconstitucionalidade no procedimento administrativo levado a cabo pela administração municipal", decidiu o ministro.
    A liminar que determinava a manutenção das edificações era do Tribunal de Justiça de São Paulo. Ação foi aberta pelo Ministério Público de São Paulo, que requeria a preservação das características externas do Palácio das Convenções, do Auditório Elis Regina e da Sede Administrativa do complexo, bem como dos jardins e espelhos d'água.
    A ação defendia, ainda, que intervenções no Pavilhão de Exposições devessem manter "testemunhos de elementos construtivos", tais como pilares e cobertura, embora permitisse demolições parciais desde que não afetassem a "compreensão da edificação original". Além disso, requeria que a permissão de construções que não prejudicassem as "condições de preservação e visualização" do Pavilhão de Exposições e do Palácio de Convenções.

    Complexo data dos anos 60/70 e tem paisagismo de Burle Marx

    O complexo do Anhembi foi projetado pelos arquitetos Jorge Wilheim, Miguel Juliano e Massimo Fiocchi, com paisagismo de Roberto Burle Marx. "O Parque Anhembi é considerado um caso emblemático da transformação da produção arquitetônica na década de 1960/70, cujas soluções de projeto, implantação, estrutura e execução manifestam as fortes relações entre arquitetura, engenharia e urbanismo, através de uma particular forma de produção in loco e pré-fabricação e na adoção das novas tecnologias e cálculo estrutural com o uso do concreto armado e estrutura metálica", diz parecer da arquiteta Ana Winther, citado na decisão do STJ.
    "A implantação do Parque Anhembi foi idealizada como uma nova centralidade urbana, que concretizou um plano de desenvolvimento para o pais, através da imagem industrial de São Paulo, com o intuito de se promover o turismo em novos espaços públicos na capital, além de enaltecer a primazia profissional ligada à construção civil brasileira."

    Se não foi ditadura, foi democracia?, Marcelo Rubens Paiva, OESP

    Marcelo Rubens Paiva
    28 de março de 2019 | 11h20

    Mais fácil se perguntar se o que veio depois de 1 de abril de 1964 foi uma democracia, do que argumentar de que houve sim uma ditadura.
    O discurso do bloco capitalista, de que é melhor uma ditadura com padrão de vida capitalista do que um regime comunista, foi por óleo abaixo depois da crise do petróleo, que trouxe inflação e recessão em toda parte.
    Vivemos um tsunami de redemocratizações. Começou na Revolução dos Cravos, Portugal, então sob o regime salazarista, cruzou a Espanha, sobre ruínas do franquismo, chegou na Grécia, veio bater no Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Bolívia, subiu para a América Central, foi pra África, Oriente Médio (com limitações), até no colapso da USRR derrubar o Muro de Berlim e atravessar numa blitzgrieg o berço do stalinismo e partes da Ásia.
    Teóricos do Mundo Livre descobriram que não tinham um manual acadêmico que indicasse o que era ou não uma democracia.
    E listaram em What Democracy Is…And is Not (Philippe Schmitter e Terry Karl), a pedido da administração Clinton. É democracia se tiver:
    Renovação no Poder
    Eleições livres e liberdade partidária
    Liberdade de expressão
    Punição, recompensa e reconhecimento a crimes cometidos no período autoritário.
    Controle civil nas Forças Armadas
    Depois de 1964, o marechal Castelo Branco foi empossado presidente por um Congresso sem a oposição; cassada, presa e no exílio pelo AI-1 (Ato Institucional No. 1).
    Militares passaram a governar por Atos Institucionais.
    Controle civil nas Forças Armadas
    Castelo baixou o AI-2 e cancelou as eleições para presidente de 1965, em que ganharia com folga JK (cassado), secundado por Carlos Lacerda (a ser cassado), segundo pesquisa do Ibope divulgada 50 anos depois.
    Eleições livres e liberdade partidária
    Em 1966, cancelaram eleições direta para governador, prefeito de capitais e cidades estratégicas, como Santos. Em 1967, impuseram uma Constituição sem constituinte.
    Renovação no Poder
    Em 1968, baixaram o AI-5. Mais de 500 membros do Executivo, deputados, senadores e vereadores, foram cassados, e foi instituída a censura prévia, que engessava imprensa e cultura, e acabou de fato apenas em 1989, com a nova Constituição.
    Liberdade de expressão
    Na Abertura Política, promovida pelo general Figueiredo, houve anistia política, mas não se julgou crimes nem se reconheceu os desaparecidos.
    Punição, recompensa e reconhecimento a crimes cometidos no período autoritário.
    Foi democracia?
    Mesmo assim, foi só em 1995 que FHC a consolidou de vez, ao colocar um civil no Ministério da Defesa e reconhecer mortos e desaparecidos.
    Alguma dúvida?
    Quem quiser contestar, hoje pode.