sexta-feira, 12 de outubro de 2018

O PT EM SEGUNDO LUGAR, Marcos Nobre, Piaui

Ameaça autoritária exige pacto de refundação institucional

MARCOS NOBRE
10out2018_07h30
OPT sobreviveu excepcionalmente bem às eleições legislativas. O total de 56 representantes que alcançou na Câmara pode parecer pouco. Arredondando, dá apenas 11% do total de 513 deputados e deputadas. Só que é simplesmente a maior bancada. Nada menos que trinta partidos têm agora representação na Câmara.
O PT tem atualmente 61 deputadas e deputados – 54 tentaram a reeleição, quarenta conseguiram um novo mandato. Em uma eleição com altas taxas de renovação, é um feito surpreendente: nada menos que 74% de taxa de reeleição. A taxa de reeleição para a Câmara como um todo ficou em 48%.
No caso da eleição para o Senado, o resultado pode não parecer tão impressionante. Afinal, dos quatro senadores do PT que tentaram a reeleição, apenas dois conseguiram renovar seus mandatos (50%). Mas, comparada à taxa de reeleição para o Senado como um todo, de 25%, fica claro que foi também um feito pouco desprezível. Mesmo com derrotas simbólicas importantes, como a de Dilma Rousseff em Minas Gerais e a de Eduardo Suplicy em São Paulo.
Alcançar esse objetivo envolveu entre outras coisas neutralizar as lideranças de Ciro Gomes e de Marina Silva. Com Lula fora da disputa, tanto Ciro como Marina se candidataram a herdar seu espólio político, apresentaram-se como novas lideranças do lulismo. A estratégia de Lula conseguiu sufocar essas duas alternativas, garantindo que o PT, mesmo estropiado, chegasse ao segundo turno da eleição presidencial.
As operações de sobrevivência da máquina e do afastamento de competidores se deram ao custo altíssimo de espalhar minas de alto poder destrutivo onde quer que tenham sido feitas. Pioraram em muito as condições de reorganização do campo de centro-esquerda em termos positivos, com perspectiva de futuro. Se o partido não fizer agora o que é necessário fazer para vencer a eleição, terá detonado automaticamente todas as minas que espalhou.
O PT teve desses raros privilégios na vida que é a oportunidade de renascer. Foi assim no mensalão, morte da qual renasceu na eleição de 2006. Ao contrário do que prometeu, não aproveitou essa chance para se reformar e para reformar o modo de funcionamento do sistema político. Essa é uma das fontes relevantes do antipetismo feroz que mostrou seus dentes nesta eleição. Não é possível ignorar que foi o próprio PT que, em boa medida, o produziu.
O partido de Lula tem agora o ainda mais raro privilégio de renascer pela segunda vez. Só que desta vez vai sobreviver apenas se se mostrar maior do que é, se abrir mão de concentrar poder. Só renascerá se se apresentar como mero ponto de confluência de uma reconstrução institucional. É sua última chance – como partido e como instrumento de transformação da realidade.

Evitar o abismo exige um pacto de salvação institucional que tem de colocar o PT necessariamente em segundo plano. Haddad só tem chance se conseguir mobilizar a sociedade em torno de sua candidatura. A sociedade, e não um círculo que fique restrito a partidos, sindicatos ou movimentos estabelecidos. Tem de construir uma onda que possa se contrapor à onda que colocou Bolsonaro onde está. Tem de conversar e de pactuar uma frente de reconstrução institucional com uma multidão de figuras do mundo da internet, da indústria, dos novos coletivos sociais, da finança, da cultura, do agronegócio, de ONGs, da televisão e de tantos outros lugares. Onde quer que exista repulsa, ojeriza ou alguma restrição a Bolsonaro, aí tem de estar a candidatura de Haddad, pronta a acolher energia e apoios. Ou, quando não for possível, pedindo ao menos neutralidade.
Para isso, tem de convencer de que está à altura da gravidade do momento. Tem de dar garantias de que vai recolocar as instituições em novo e positivo patamar de funcionamento. Tem de convencer de que estará acima de seu próprio partido.
Porque ganhar a eleição é apenas parte do problema. A menor parte do problema, aliás. A sociedade está enfurecida. A eleição para os legislativos aumentou a fragmentação partidária ao ponto do ingovernável. É um condomínio sem síndico, administradora ou regulamento interno. A chance de o prédio virar uma guerra de todos contra todos é alta. A chance de uma regressão autoritária à maneira da Turquia entrou no horizonte.
Ignorado desde Junho de 2013 em seu clamor pela reforma do sistema político, o eleitorado resolveu espalhar, bagunçar e mesmo quebrar as peças do tabuleiro, destruindo os arranjos existentes. O que está em causa no segundo turno é, antes de qualquer outra coisa, demonstrar capacidade de remontar essas peças dispersas e danificadas em um arranjo que funcione, no qual o eleitorado possa de novo se reconhecer minimamente.
Não caberá ao futuro governo apenas coordenar uma multidão de partidos, grupos e interesses, como se tudo continuasse como antes, apenas com peças um pouco diferentes. Para que não tenhamos uma situação de crise permanente, o futuro governo terá de participar de maneira ativa em uma reorganização geral do sistema político, estabelecendo mecanismos de coordenação e de decisão inteiramente novos.

Para além de todas as atrocidades conhecidas pelas quais Bolsonaro é responsável, é aterrorizante pensar que um candidato totalmente desprovido de equipe e de qualquer experiência de coordenação de governo possa vir a ocupar esse lugar crítico neste momento crítico. Bolsonaro tem muita mobilização e nenhuma organização. É receita certa de desastre.
Uma tarefa dessa magnitude não cabe a uma pessoa. Não cabe a um partido tampouco. É problema que só pode ser enfrentado com a formação de uma ampla frente de pessoas, organizações, instituições, partidos, grupos e movimentos preocupados com a reconstrução institucional da democracia. A impressão de que estamos de volta à década de 80, aos primórdios da redemocratização, tem algo de real. Porque estamos de fato em um momento de refundação institucional. E, como em todo momento inaugural, as chances de dar muito errado são muito maiores do que em qualquer outro momento.

MARCOS NOBRE

É professor de filosofia da Unicamp e autor de Imobilismo em Movimento, pela Companhia das Letras, e Como nasce o novo, pela Todavia

Ensino presencial e a distância, Opinião OESP

Apenas 2,4% dos cursos a distância (EaD) obtiveram a avaliação máxima do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade)

O Estado de S.Paulo
12 Outubro 2018 | 03h00
Na mesma semana em que o Conselho Nacional de Educação (CNE) colocou em consulta pública a proposta de resolução que atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informou que em 2017 apenas 2,4% dos cursos a distância (EaD) – oferecidos online por canais de televisão fechada e por meios eletrônicos – obtiveram a avaliação máxima do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), ante 6,1% dos cursos presenciais. Os dois fatos não são isolados e mostram como a política educacional continua pecando por falta de coerência, articulação e definição de prioridades.
Criado em 2004 juntamente com o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior, o Enade é aplicado no final dos cursos de graduação e tem o objetivo de avaliar os conhecimentos, as competências e as habilidades dos estudantes que estão se formando. No ano passado, 450 mil estudantes de 1,5 mil instituições de ensino superior, num total de 10,6 cursos de graduação, participaram dessa avaliação. Os cursos são classificados numa escala de 1 a 5 e os que recebem o conceito 3 são considerados satisfatórios. Já os que têm desempenho considerado ruim recebem os conceitos 1 e 2 e os que apresentam bom desempenho têm os conceitos 4 e 5.
Segundo o Inep, na educação a distância 45,7% dos cursos obtiveram os conceitos mais baixos – 1 e 2 – no Enade de 2017, enquanto na educação presencial foram 32,5%. Em 2007, a modalidade a distância representava apenas 7% das matrículas dos cursos de graduação. No ano passado, ela atendia 1,7 milhão de alunos, o que corresponde a 21,2% do total de graduandos. As estimativas das autoridades educacionais e de entidades mantenedoras de ensino superior são de que, em 2023, o País terá mais alunos estudando a distância que nas salas de aula tradicionais.
O número de matrículas no ensino a distância cresceu 17,6% entre 2016 e 2017, o maior aumento registrado desde 2008, mas a qualidade dos cursos não evoluiu na mesma velocidade. Os dados do Inep são claros. Essa modalidade – oferecida por instituições públicas e particulares e que vem crescendo em ritmo mais acelerado do que o ensino presencial – deixa muito a desejar em qualidade quando comparada com o ensino presencial.
Mesmo assim, a proposta de resolução que atualiza as Diretrizes Nacionais do Ensino Médio, a última etapa educacional antes do ensino superior, prevê que as atividades realizadas a distância, pela internet, podem contemplar até 20% da carga horária total dos estudantes do ensino médio nos cursos matutinos e vespertinos, e chegar a até 30% nos cursos noturnos. Por isso, se o ensino e atividades escolares a distância apresentam problemas de aproveitamento e desempenho, como fica evidente especialmente no âmbito do ensino superior privado, faz sentido valorizá-los no âmbito do ensino médio? Em que medida o ensino a distância não acaba perpetuando a baixa qualidade da formação das novas gerações?
Alguns pedagogos afirmam que, no ensino superior a distância, os alunos geralmente são adultos, na faixa etária de 30 anos, em média. Eles têm família e trabalham, encarando essa modalidade educacional como uma possibilidade de ascender profissionalmente na carreira. No ensino médio a distância, os alunos são bem mais jovens e somente optaram por essa modalidade educacional por falta de alternativas. Deste modo, se no ensino superior a distância o desempenho escolar tende a ser mais baixo do que no ensino superior presencial, apesar da motivação dos alunos, que grau de aproveitamento esperar então das atividades didáticas a distância realizadas pelos estudantes do ensino médio, conforme a resolução que atualiza as Diretrizes Curriculares dessa etapa educacional?
Responder a essas perguntas é uma das primeiras iniciativas que devem ser tomadas pelos futuros dirigentes do Ministério da Educação, independentemente de quem for eleito presidente.

Por que podemos estar agravando poluição por plástico nos oceanos ao lavar roupa, BBC news

Fibras de tecidos sintéticos chegam ao mar e indústria estimula descarte de boas roupas

Lavar a roupa pode agravar a poluição por plástico no meio ambiente —a depender do tipo de tecido, a tarefa doméstica contribuiria para a contaminação dos oceanos, apontam estudos.
A questão foi levantada no início deste mês em reunião do Comitê de Auditoria Ambiental da Câmara dos Comuns do Reino Unido, quando membros do Parlamento discutiram pesquisas que concluem que fibras de tecidos sintéticos que se soltam da roupa durante a lavagem acabam chegando aos oceanos e sendo comidas por peixes e outras criaturas aquáticas.
O principal tema da discussão foi a enorme indústria de fast fashion britânica, que estimularia o descarte de toneladas de roupas em boas condições todos os anos.
Homem mexe com roupas na máquina de lavar
Os maiores vilões para os oceanos são poliéster, acrílico e nylon - Getty Images
Quando lavadas, roupas feitas com tecidos sintéticos soltam pequenos fios que acabam se misturando à água —cerca de 700 mil fibras com menos de um milímetro de comprimento, em média, em uma única lavagem doméstica.
Os maiores vilões são poliéster, acrílico e náilon.
Um casaco de lã de poliéster libera 1 milhão de fibras, enquanto um par de meias de náilon é responsável por 136 mil fibras a cada lavagem, aponta um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Manchester.
Cientistas descobriram que essas fibras estão cobrindo leitos de rios em todo o Reino Unido.
No início do ano, pesquisadores também encontraram fibras, incluindo fios de roupas íntimas, em todas as amostras de mexilhões testadas em mares britânicos ou compradas em supermercados do Reino Unido.
Outro estudo, da Universidade de Exeter, identificou microfibras no ambiente alterando o comportamento dos animais.

O QUE PODEMOS FAZER

  • Lave a roupa a baixa temperatura. Temperaturas mais altas resultam em mais fibras sendo liberadas
  • Encha a sua máquina com roupas sujas. Lavar uma carga completa resulta em menos fibras sendo liberadas, pois há menos atrito
  • Prefira lavagens mais curtas —mais uma vez, isso reduz o atrito entre os tecidos
  • Use sabão líquido em vez de sabão em pó. Os grãos do pó podem resultar no afrouxamento das fibras
  • Opte por velocidades menores de centrifugação para reduzir as chances de soltar as fibras
  • Evite usar detergentes com alto pH e agentes oxidantes. Alguns amaciantes também ajudam a reduzir o atrito.
Há sempre a opção de lavar roupa com menos frequência, o que pode ser uma boa desculpa para quem sempre odiou essa tarefa doméstica.
Casaco sendo aberto
Casaco de poliéster pode liberar um milhão de fibras por lavagem - Getty Images
Isso teria um grande impacto positivo, na avaliação de Jeroen Dagevos, integrante de um projeto de conservação dos oceanos. Ele sugere ainda que comprar menos roupas sintéticas também ajuda. Preferir tecidos como lã, algodão, seda e caxemira também ajuda.
Outra opção, recomendada pelo Instituto de Engenheiros Mecânicos que, em um novo relatório, diz que o uso de sacolas de roupas de malha para reter os fios. Assim, em vez de irem direto para os oceanos, as fibras podem ser colocadas no lixo.
Também foram desenvolvidos filtros para tubos de descarte de máquinas de lavar roupa, que podem capturar pelo menos 80% das fibras antes que elas desapareçam pelo ralo.
Há ainda bolas à venda mercado, que afirmam "atrair" fibras para prendê-las.

O QUE A INDÚSTRIA PODE FAZER MAIS?

De acordo com Jeroen Dagevos, a indústria pode fazer muito mais para proteger os oceanos. Para ele, só agora estão percebendo o tamanho do problema. "É muito mais complexo de lidar", diz, citando a questão das microbreads.
Roupas espalhadas em frente a uma máquina de lavar
Lavar uma quantidade maior de roupa ajuda a liberar menos fibras, porque o atrito tende a ser menor - Getty Images
Os chamados microbreads são micropartículas encontradas em produtos como esfoliantes faciais, cremes dentais e gel de banho e já foram proibidos em países como o Reino Unido.
Aurelie Hulse, especialista no assunto, diz que os tecidos deveriam ser projetados para não soltarem microfibras quando fossem lavados.
A Ocean Clean Wash, uma campanha iniciada pela Plastic Soup Foundation, descobriu que mudar o design das fibras, como comprimento e densidade, pode afetar o número de lançamentos nos oceanos.
Jeroen Dagevos diz que criar novas regulamentações para os fabricantes poderia ajudar, forçando as empresas a colocar mais recursos na busca por soluções.
BBC NEWS BRASIL