sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Nova turbulência global, Celso Ming, OESP

O mau humor se espalhou de repente nos mercados internacionais, aparentemente porque já subsistia um campo minado por incertezas

Celso Ming, O Estado de S.Paulo
11 Outubro 2018 | 21h10
Nos últimos dias, o mercado financeiro mundial enfrentou novas turbulências que afugentaram os investidores das aplicações de risco e os levaram a procurar segurança. A Bolsa de Nova York mergulhou 5,2%; a de Londres, 3,2%; a de Frankfurt 3,7%; e a de Xangai, 5,1% (veja o gráfico abaixo).
Desta vez, não há um fato único que tenha colocado os mercados na defensiva. O mau humor se espalhou de repente, aparentemente porque já subsistia um campo minado por incertezas.
A atividade produtiva mundial perdeu força. O Fundo Monetário Internacional acaba de publicar um informe em que adverte para uma redução do crescimento econômico global tanto neste 2018 como em 2019.
A guerra comercial entre Estados Unidos e China tende a acirrar-se. O presidente Donald Trump voltou a ameaçar o governo de Pequim com novas retaliações comerciais e a China insiste em que não deixará de revidar.
E tem a puxada dos juros nos Estados Unidos. Até há algumas semanas, tinha-se como certo que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) não abandonaria o gradualismo no ajuste de sua política. No entanto, agora está claro que haverá neste ano uma alta além das já previstas e que o projeto para 2019 será de novos endurecimentos destinados a atacar incipientes focos de inflação.
A questão não é meramente técnica, porque o presidente Trump voltou a fazer pressão sobre o comando da política monetária: “O Fed enlouqueceu”, disse na quarta-feira. E fez acusações de “excesso de rigidez”.
Os mercados preferem uma política monetária mais frouxa. Com dinheiro mais fácil a circular na economia, os negócios ficam mais azeitados, o consumo se aquece e a atividade produtiva melhora graças à expansão do crédito. O problema aí é que a economia mundial – e não apenas a dos Estados Unidos – parece excessivamente dependente de farta distribuição de dinheiro pelos grandes bancos centrais.
Por enquanto isso continua sendo possível porque a inflação das economias mais fortes continua muito baixa, graças à oferta de produtos industrializados cada vez mais baratos provenientes da China e demais tigres asiáticos; e ao crescente emprego de tecnologias digitais, que vêm reduzindo drasticamente os custos de produção.
Mas os fatores que vêm derrubando o custo de vida estão sob ameaça. A guerra comercial tende a reduzir o fluxo de mercadorias provenientes de economias de baixo custo; a nova onda protecionista também puxa os preços para cima; e a redução de custos pelo emprego de tecnologia da informação pode ter atingido seus primeiros limites. E não dá para desprezar a nova onda de elevação dos preços da energia pela alta recente do petróleo e seus derivados (veja o Confira).
Se por esses motivos e eventualmente por outros a inflação mundial voltar a mostrar a cara, os bancos centrais não terão outra opção senão cortar a ração de moeda para os mercados. Ou seja, terão de puxar os juros para cima.
Além das incertezas produzidas pelas eleições e pela troca de governo, o Brasil poderá ter de enfrentar também essa virada da maré global que, até recentemente, se mantinha bastante favorável.

» Montanha russa

Os preços internacionais do petróleo também estão sob impacto. Há duas semanas, as cotações do tipo Brent saltavam para a faixa dos US$ 85 por barril de 159 litros, em consequência da quebra de produção do Irã e da Venezuela. Alguns analistas chegaram a se perguntar quando os preços passariam aos US$ 100 por barril. Mas, de repente, os ventos viraram. Passaram a prevalecer fatores baixistas, especialmente a perspectiva de queda da atividade econômica global e o alto nível dos estoques.

Quase lá, OESP

De onde Haddad pode tirar votos para tentar virar o jogo no segundo turno?

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo
12 Outubro 2018 | 03h00
As últimas pesquisas foram recebidas com alívio, até com discreta comemoração, na campanha de Jair Bolsonaro, do PSL, que não só continua liderando com folga como mantém a diferença do fim do primeiro turno. Era de 17 pontos, agora é de 16. Ou seja, ele e Fernando Haddad, do PT, cresceram praticamente a mesma coisa, 12 um, 13 o outro, o que cristaliza o favoritismo de Bolsonaro. Só o “imponderável”, ou uma “hecatombe”, tiraria a vitória do capitão.
O pior já passou. Esse é o clima entre os bolsonaristas, que esperavam ansiosamente as primeiras pesquisas, temendo uma transferência maciça de votos de Ciro Gomes (PDT) para Haddad. Ciro ficou em terceiro lugar, com 12%, e isso poderia reduzir significativamente a distância entre o capitão e o petista. Mas não aconteceu e Ciro está voando para o exterior.
No PT, a conta é a seguinte: com 16 pontos de diferença, basta mudar oito pontos para um empate. Aritmeticamente está certo, porque, se um voto sai de um para o outro, a diferença entre eles cai dois pontos. Mas a questão não é aritmética, é político-eleitoral. E, aí, a conta não fecha. Numa eleição radicalizada como a atual, dificilmente haverá uma migração de votos de Bolsonaro para Haddad ou de Haddad para Bolsonaro. Quem votou num não vota no outro de jeito nenhum. 
Logo, o desafio do PT para dar a volta por cima não é tirar voto do adversário, mas pescar votos dos candidatos derrotados. O principal deles é Ciro, porque teve mais votos e porque 70% dos seus eleitores, segundo o Datafolha, tendem a votar em Haddad.
Em seguida vem Geraldo Alckmin, do PSDB, que chegou em quarto lugar, com menos de 5% dos votos. Para piorar, 54% dos seus eleitores, segundo a pesquisa, preferem Bolsonaro a Haddad. O resto é o resto, inclusive Marina Silva, que tem peso simbólico, mas perdeu relevância eleitoral, ao cair do segundo para o oitavo lugar, com 1%. 
A pergunta que não quer calar, portanto, é: de onde Haddad poderá, ou poderia, tirar votos para virar o jogo?
Marinha. Do comandante da Marinha, almirante de esquadra Eduardo Leal, em conversa com a coluna: “O candidato ‘x’ ou ‘y’ pode ter muitos eleitores nas FA, mas as Forças Armadas não têm candidato. Repito: as FA, particularmente a Marinha do Brasil, não têm candidato. Não há nenhuma atividade, nenhuma campanha interna, nenhuma ação que possa nos associar a um dos dois candidatos. Estamos, institucionalmente, neutros”.
Ele é ainda mais enfático ao falar sobre a hipótese, ou temor, de uma futura intervenção militar: “Não há ambiente nem condições para qualquer tipo de golpe, muito menos para um golpe militar. As instituições são fortes, a iniciativa privada é forte, a mídia é forte e as FA cumprem suas atribuições dentro da Constituição”.
Heleno. Ao ser anunciado ontem como futuro ministro da Defesa de um eventual governo Bolsonaro, o general Augusto Heleno foi ao “Forte Apache” visitar o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, de quem é velho amigo. Pouco antes, ele disse à coluna que pretende “cumprir a Constituição, procurando atender as aspirações das FA e garantindo os interesses nacionais estratégicos, sob comando do presidente da República”.
Heleno, que na ativa foi comandante militar na Amazônia e das tropas brasileiras no Haiti, repetiu um bordão militar ao dizer que ainda não foi oficialmente convidado, mas não titubeará quando for, se Bolsonaro for eleito: “Missão dada é missão cumprida”. E acrescentou: “Cumprir a missão é ajudar o Brasil neste momento difícil e de acordo com o que for acontecendo. Estou preparado para o que acontecer e para o que eu for chamado”.

Meninas trocam de lugar com prefeitos e vereadores para alertar sobre direitos, FSP

Dia Internacional das Meninas é comemorado neste 11 de outubro

    Flávia Faria
    SÃO PAULO
    Por algumas horas da última terça-feira (9), Aaliyah Cristina, 16, sentou-se na cadeira do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), e falou sobre igualdade de gênero e direitos das meninas.
    Moradora do Capão Redondo, na zona sul da cidade, e estudante da rede pública, Aaliyah nunca tinha estado no prédio da prefeitura. Oriunda da periferia, acredita que sua voz nem sempre é respeitada.
    Naquela tarde, porém, a gestão municipal parou para ouvir o que ela e Kailany, 15, tinham a dizer. “Por sermos de periferia, temos medo, nem sempre temos coragem [de falar o que pensamos]. Não tenho palavras para descrever a sensação. Foi muito gratificante.”
    A ação, chamada Meninas Ocupam, é fruto de um projeto que leva meninas a ocupar espaços de liderança por um dia no setor público e em empresas privadas. Organizada pela ONG Plan Internacional, acontece em diversas cidades do mundo e está no Brasil desde 2016.
    O objetivo é chamar a atenção para o Dia Internacional das Meninas, comemorado neste 11 de outubro. A data foi criada em 2011 pela ONU para alertar para os direitos das meninas e para a necessidade de prevenir o casamento infantil. 
    Segundo dados do Banco Mundial e da ONU, o Brasil é o quarto país do mundo em número absoluto de casamentos infantis, com 3 milhões de uniões precoces. 
    Em 2006, 36% das mulheres de 20 a 24 que estavam casadas haviam se juntado a seus parceiros antes dos 18 anos. “Uma a cada cinco meninas deixa a escola em virtude de gravidez. Isso é preocupante”, afirma Cynthia Betti, diretora-presidente da Plan Brasil.
    Para ela, um resultado importante do projeto é mostrar para as participantes, geralmente estudantes de escolas públicas e moradoras de comunidades pobres, que elas podem ocupar espaços de líder. Para isso, é importante que sejam incentivadas a estudar e a se desenvolver.
    “A ideia é inaugurar espaços para que essas meninas possam ampliar a visão de mundo delas e a visão de onde elas podem ir. É uma oportunidade de elas pensarem: ‘Eu posso um dia ocupar esse espaço. Por que não'?”, diz.
    Neste ano, 13 cidades brasileiras receberão ações do projeto até o fim do mês. Em São Luís, ocuparão cadeiras no Ministério Público e, em Teresina, na Defensoria do estado. Em São Paulo, estarão no lugar da cônsul-geral Adjunta do Reino Unido e acompanharão a gravação de um programa de TV. Em Salvador, farão uma sessão na Câmara Municipal.
    Moradora da capital baiana, Caroline Vitória, 15, participou no último dia 2 de uma reunião com o conselho tutelar da região onde mora. Na ocasião, falou sobre a importância da atuação do órgão nas escolas. 
    Estudante do 9º ano do ensino fundamental, Caroline pensa em estudar direito ou psicologia quando acabar o ensino médio. “Nossa ideia é preparar essas meninas para que a gente possa ter mais mulheres ocupando espaços de liderança em um futuro próximo”, diz Cynthia, da Plan.