sexta-feira, 28 de setembro de 2018

‘É questão de tempo para tomar o poder’, diz Dirceu, OESP

O ex-ministro José Dirceu disse ao jornal El País que “é uma questão de tempo para o PT tomar o poder”. “Dentro do País é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”, disse ele, quando questionado sobre o que acha da possibilidade de o PT “ganhar mas não levar” as eleições.
“Acho improvável que o Brasil caminhe para um desastre total. Na comunidade internacional isso não vai ser aceito.”
José Dirceu
José Dirceu foi solto em junho por liminar concedida pela segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Foto: Dida Sampaio|Estadão
Ao falar sobre o presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, que lidera as pesquisas de intenção de votos nas eleições presidenciais deste ano, Dirceu disse acreditar que ele não será eleito. “Não tem maioria no País para as ideias dele”, afirmou.
Segundo o ex-ministro, “o problema do Bolsonaro é do PSDB e do DEM”, que perderam espaço para o ex-militar no campo da direita. “Eles que não têm alternativa. Nós, sem o Lula (condenado e preso na Lava Jato), temos Ciro (Gomes) e (Fernando) Haddad”, afirmou Dirceu.
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Ciro: 'Não é mais possível, para mim, andar com o PT na política', OESP

Mateus Fagundes, O Estado de S.Paulo
28 Setembro 2018 | 14h33

O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, afirmou nesta sexta-feira, 28, que o PT se transformou em uma "organização odienta de poder" e disse que não deve se aliar ao partido em eventual segundo turno. "O PT contou comigo ao longo dos últimos 16 anos. Na medida em que eles se juntam com o Renan Calheiros, que presidiu o Senado no impeachment que eles chamam de golpe, que estão juntos no Ceará com o Eunício Oliveira, não é mais possível, para mim, andar com eles na política", afirmou o pedetista. As declarações foram dadas em entrevista à Rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul. 
A fala de Ciro vem depois de seguidas sinalizações de Fernando Haddad por uma composição no segundo turno. O pedetista reiterou na entrevista que tem respeito pelo "amigo Haddad", mas que o PT "tem feito muito mal ao Brasil de um tempo para cá". 
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Ciro Gomes (PDT) em ato de campanha nas eleições 2018 Foto: Wilton Junior/Estadão
"A Manuela d’Ávila (vice de Haddad) foi alvo de chantagem vergonhosa da burocracia do PT. Ela foi brutalmente retirada da disputa política para ser a vice. E ela estava cumprindo um papel muito bonito na pré-campanha", afirmou. Mesmo se vier a ser convidado por Haddad a um ministério, Ciro disse que negará participar do governo. "Eu não serei ministro. Eu vou disputar minha última eleição", disse.
Na entrevista, o pedetista negou ainda que tenha convidado Haddad para ser vice dele. Em entrevista ao jornal espanhol El País, em agosto de 2017, ele disse que esta eventual chapa seria um "dream team". "Eu nunca o convidei, mesmo porque o PT é escorpião, só sabe ser apoiado, não quer apoiar ninguém. Eu levantei foi uma hipótese, depois de ser perguntado pela imprensa do que achava do Haddad. Ele é meu amigo. Mas em face do que ocorreu, me autorizo a dizer que com Haddad não seria tão dream team assim", disse.
O PT e Haddad não foram os únicos elementos de crítica de Ciro. O pedetista também mirou Jair Bolsonaro (PSL), primeiro colocado nas intenções de voto no primeiro turno. Para ele, há pelo menos um terço do eleitorado que declara o voto em Bolsonaro por estar "desorientado". "Agora tem um micro, 16%, 15%, que nem que ele corra nu e espanque a imagem de Nossa Senhora deixa de votar no Bolsonaro", disse. "O cidadão que sabe o que o Bolsonaro representa e vota nele mesmo assim é fascista."
Ciro se colocou ainda como uma opção de ponderação ao eleitor. "Eu tenho condições de dialogar com o centro, com a direita e com a esquerda", disse.

OS ESPECTROS DO TEMPO, Vladimir Safatle FSP – 28.09.2028

"Um dos piores erros em política é acreditar que o tempo histórico é uma linha reta.
Quem entende o tempo como linha reta acredita que fatos ocorridos ficam no passado, que as lutas de outrora dizem respeito a configurações de outrora e que cada momento exige uma análise radicalmente específica, como se estivéssemos a lidar sempre com o que não é fruto de retornos e repetições.
Isso pode se passar por precisão analítica, mas é apenas pobreza intelectual.
O tempo histórico é uma pulsação contínua de contrações, sua espessura é própria de uma matéria de múltiplas camadas na qual cada uma dessas camadas se afunda na outra. Por isso as lutas sociais nunca são feitas em nome apenas daquilo que elas imediatamente afirmam. A todo momento, elas são atravessadas por palavras e frases que parecem vir de outros tempos; elas parecem encarnar personagens e gestos que nos remetem a outras cenas.
A razão não é estranha, pois toda verdadeira luta política é um campo de batalha sobre determinado, no qual lutam os vivos e os mortos, os presentes e os espectros. Os mortos se apoiam nas lutas dos vivos para continuarem suas batalhas --eles dirigem suas mãos. Quem não entende isso nunca entenderá o que é uma luta política, sua complexidade, assim como a força de seus atores.
Seria bom lembrar disso em um país como o Brasil. O Brasil acredita poder resolver suas lutas esquecendo-as, extorquindo reconciliações, pregando retornos a épocas idílicas de paz que nunca existiram. Por isso, ele é continuamente assombrado pelas piores regressões, pelas violências mais explícitas.
Uma parte —apenas uma parte— das eleições atuais é a decisão a respeito dos novos ocupantes do poder. Mas essa decisão está contagiada pela luta paralisada e calada durante mais de 30 anos contra a ditadura militar que nunca passou por completo. Seu fascismo ordinário esteve sempre prestes a explodir no interior da sociedade brasileira.
Essa luta, por sua vez, já é a repetição de outras lutas e a recusa de outros silêncios. Por isso, ela não acabará agora, seu destino não é o "convencimento" de uma das partes. Pela primeira vez desde o fim da ditadura, o Brasil é obrigado a encarar o antagonismo profundo que o cinde, o irreconciliável que o habita. O melhor a fazer, desta vez, é dizer esse irreconciliável da forma mais explícita possível.
“Quando vários levantam suas vozes para continuar uma aparentemente delirante "luta contra os comunistas" —em uma época em que não há mais comunistas em lugar algum—, há de se saber reconhecer a verdade desse delírio. "Nós deveríamos ter matado todos", dizem agora aqueles que gostariam de ter se livrado dos "comunistas" há décadas.
É verdade, vocês já atiraram em nós outras vezes, torturaram outras tantas, vocês continuarão atirando e torturando, de uma forma ou outra. Nós já nos encontramos antes. Esta não foi a primeira vez; não será a última.
Sim, os pronomes são esses: "vocês" e "nós". Há horas em que eles são inevitáveis e necessários. Toda sociedade é a expressão de uma colisão. E a pior maneira de evitar uma colisão é fingir que ela não ocorre.
Melhor seria assumi-la como destino contínuo dos processos históricos, sentir sua espessura, ouvir as multiplicidades de suas vozes, estar preparado para ela. Elas serão necessárias até que um pacto mínimo, que não existe no Brasil, seja extraído do fogo.
Nós entramos em rota de colisão. Se me permitem, depois da eleição de 2014 afirmei que o país estava dividido e não haveria nada que poderia apagar tal divisão. Alguns disseram que fui irresponsável —julgaram que seria possível tentar produzir, mais uma vez, acordos e conciliações impossíveis até então.
A história mostrou que eles estavam errados. Pois essas lutas não são nem de hoje nem de ontem. Elas só começarão a cessar quando deixarem de ser apagadas."