Valor Econômico - 07/02
Fernando Henrique Cardoso considerou-o ainda muito cru embora, fiel ao estilo, tenha providenciado a seguir um passo atrás e dois para o lado. Ele próprio, o candidato, se declarou despreparado para a envergadura da tarefa ao pedir a ajuda de conselheiros, dois deles ouvidos aqui neste cenário que retrata idas e vindas dos últimos dois meses. A quantidade de vezes que o apresentador Luciano Huck anunciou sua não candidatura à Presidência da República só é proporcional, porém, àquelas em que a reiterou e confirmou aos mais próximos. Tanto pelo brilho do olhar, quanto pelas consultas, pelos encontros, estudos e orientação que demandou aos sábios com quem divide angústias e planos.
Não há como dizer, hoje, que a candidatura de Luciano Huck ou sua negação estão definidas. Na torcida pró-Huck há dois times: os que acreditam que ele deixou passar muito tempo para lançar-se, e o cavalo não passa encilhado duas vezes... etc; e os que acham mais do que adequada a definição em março ou abril, junto com a filiação a algum partido político, quando as pesquisas já estiverem mostrando seu potencial, que se espera significativo. Esses parecem menos equivocados, pois só agora, com a saída de Luiz Inácio Lula da Silva da disputa, as chances dos demais candidatos irão se clarificando.
Muitos esperam que ele se defina ao voltar das férias, outros que só dentro de dois meses. Já pensam e preparam, contudo, um andamento mais acelerado para a campanha do apresentador. É fato que terá pouco tempo para começar uma articulação que o leve ao centro da atenção política.
Quando viajou, antes da condenação de Lula, seus interlocutores na política acreditavam que só em caso de um acidente que provocasse um buraco profundo no quadro político Huck se candidataria. Esse abismo está aberto e as pesquisas mostram que nenhum candidato potencial despertou ainda a paixão do eleitorado.
Huck poderá herdar muitos colégios eleitorais do lulismo (não do petismo), boa parte do eleitorado do tucanato que, mesmo mantendo a candidatura Geraldo Alckmin, teria uma aliança forte para o segundo turno com qualquer um dos dois que passar pelo crivo da primeira rodada.
Se há algo sobre o quê não se tem dúvidas é que Huck é uma candidatura do PSDB, filie-se a que partido for. Foi entre tucanos que militaram seus pais e padrasto, além dele próprio. Ainda tem mais essa: se desistir definitivamente, é claro que enfraquecerá o candidato do PSDB, pois deixará de fortalecê-lo e a ele somar forças.
As questões que levanta em conversas com seus conselheiros são relevantes e representam dúvidas de quem está em processo de construção de uma candidatura. Ele quer saber o que fazer com o desemprego, como levar o país ao crescimento, o problema grave e profundo da Previdência Social, as soluções para a Saúde e a Segurança e a questão educacional, uma espécie de assunto do coração do apresentador. Isso é possível? É demorado? Qual o caminho? São suas perguntas mais frequentes. Não dá tons ideológicos aos questionamentos, mas procura sempre a rota do que é necessário ao pais.
Por que acha que não está preparado? Porque não tem partido, não tem grupo político, não sabe ainda como levar adiante uma candidatura sem isso, seu pensamento não é conhecido e terá que fazer o enfrentamento de muitos interesses de grupos com ele supostamente afinados, para, por exemplo, quebrar a matriz que não deu certo.
Muitos de seus eleitores potenciais ainda acham que Huck vai ficar distribuindo geladeira na Presidência, mas é politicamente mais sofisticado do que se mostra.
O que Luciano Huck sabe que tem e seus conselheiros percebem é muito forte também: um carisma avassalador, que deixa os políticos boquiabertos, uma capacidade extraordinária de conquistar admiradores e, portanto, votos, e uma disposição infinita para enfrentar desafios. Ele é um dínamo.
Na geleia geral, Huck ainda é o melhor novo nome da atual corrida e tem condições de fazer uma campanha não populista, com uma agenda real sem promessas vãs nem dribles em assuntos com os quais não quer se comprometer para ficar livre e fazer o contrário quando no governo.
Sua decisão final, pela maturidade e autoconhecimento que vem demonstrando, dependerá da resposta interior à questão sobre se está pronto, do ponto de vista político, para fazer valer a pena a empreitada, não só para ganhar, como para governar. Uma vez decidido, é fechar o programa de TV e expor-se às feras.
O mordomo
Rodrigo Maia está há muito tempo tentando fazer um seguro de garantia que liberte a Câmara Federal de culpa pela não aprovação da reforma da Previdência, como se isso fosse possível. Fica irritado quando inquirido sobre o assunto, toma a iniciativa de livrar a cara de deputados no caso de a Previdência Social quebrar se não sofrer mudanças radicais. Seria esclarecedor se complementasse seu raciocínio com explicações sobre de quem acha que é a culpa pela derrota da reforma cuja aprovação, no momento, é atribuição dos deputados federais.
O substituto
O PT de bom senso começa a considerar um terceiro nome para substituir Lula na disputa presidencial de outubro próximo: Patrus Ananias. Jaques Wagner e Fernando Haddad estiveram em cargos e atuaram muito próximos ao esquema de financiamento de campanha coordenado pelo partido e agora sub judice.
Patrus, não, foi tocado de raspão apenas numa delação da Odebrecht, e nada mais. É leve, nos governos petistas trabalhou com assistencialismo, é conhecido do público do Bolsa Família, o eleitorado cativo de Lula que não é necessariamente o do PT. Tem fama de santo, e parece. Não tem perfil para vencer, mas seria nome ideal para fazer bancada ampla, puxando a votação.
Ele toparia, imagina-se. Não está também envolvido com o governo petista de Minas, processado judicialmente. Com ele, é possível o PT dizer ao eleitorado de Lula: não tem o que você quer, mas este é quem melhor o substitui para atender suas necessidades.
Fernando Henrique Cardoso considerou-o ainda muito cru embora, fiel ao estilo, tenha providenciado a seguir um passo atrás e dois para o lado. Ele próprio, o candidato, se declarou despreparado para a envergadura da tarefa ao pedir a ajuda de conselheiros, dois deles ouvidos aqui neste cenário que retrata idas e vindas dos últimos dois meses. A quantidade de vezes que o apresentador Luciano Huck anunciou sua não candidatura à Presidência da República só é proporcional, porém, àquelas em que a reiterou e confirmou aos mais próximos. Tanto pelo brilho do olhar, quanto pelas consultas, pelos encontros, estudos e orientação que demandou aos sábios com quem divide angústias e planos.
Não há como dizer, hoje, que a candidatura de Luciano Huck ou sua negação estão definidas. Na torcida pró-Huck há dois times: os que acreditam que ele deixou passar muito tempo para lançar-se, e o cavalo não passa encilhado duas vezes... etc; e os que acham mais do que adequada a definição em março ou abril, junto com a filiação a algum partido político, quando as pesquisas já estiverem mostrando seu potencial, que se espera significativo. Esses parecem menos equivocados, pois só agora, com a saída de Luiz Inácio Lula da Silva da disputa, as chances dos demais candidatos irão se clarificando.
Muitos esperam que ele se defina ao voltar das férias, outros que só dentro de dois meses. Já pensam e preparam, contudo, um andamento mais acelerado para a campanha do apresentador. É fato que terá pouco tempo para começar uma articulação que o leve ao centro da atenção política.
Quando viajou, antes da condenação de Lula, seus interlocutores na política acreditavam que só em caso de um acidente que provocasse um buraco profundo no quadro político Huck se candidataria. Esse abismo está aberto e as pesquisas mostram que nenhum candidato potencial despertou ainda a paixão do eleitorado.
Huck poderá herdar muitos colégios eleitorais do lulismo (não do petismo), boa parte do eleitorado do tucanato que, mesmo mantendo a candidatura Geraldo Alckmin, teria uma aliança forte para o segundo turno com qualquer um dos dois que passar pelo crivo da primeira rodada.
Se há algo sobre o quê não se tem dúvidas é que Huck é uma candidatura do PSDB, filie-se a que partido for. Foi entre tucanos que militaram seus pais e padrasto, além dele próprio. Ainda tem mais essa: se desistir definitivamente, é claro que enfraquecerá o candidato do PSDB, pois deixará de fortalecê-lo e a ele somar forças.
As questões que levanta em conversas com seus conselheiros são relevantes e representam dúvidas de quem está em processo de construção de uma candidatura. Ele quer saber o que fazer com o desemprego, como levar o país ao crescimento, o problema grave e profundo da Previdência Social, as soluções para a Saúde e a Segurança e a questão educacional, uma espécie de assunto do coração do apresentador. Isso é possível? É demorado? Qual o caminho? São suas perguntas mais frequentes. Não dá tons ideológicos aos questionamentos, mas procura sempre a rota do que é necessário ao pais.
Por que acha que não está preparado? Porque não tem partido, não tem grupo político, não sabe ainda como levar adiante uma candidatura sem isso, seu pensamento não é conhecido e terá que fazer o enfrentamento de muitos interesses de grupos com ele supostamente afinados, para, por exemplo, quebrar a matriz que não deu certo.
Muitos de seus eleitores potenciais ainda acham que Huck vai ficar distribuindo geladeira na Presidência, mas é politicamente mais sofisticado do que se mostra.
O que Luciano Huck sabe que tem e seus conselheiros percebem é muito forte também: um carisma avassalador, que deixa os políticos boquiabertos, uma capacidade extraordinária de conquistar admiradores e, portanto, votos, e uma disposição infinita para enfrentar desafios. Ele é um dínamo.
Na geleia geral, Huck ainda é o melhor novo nome da atual corrida e tem condições de fazer uma campanha não populista, com uma agenda real sem promessas vãs nem dribles em assuntos com os quais não quer se comprometer para ficar livre e fazer o contrário quando no governo.
Sua decisão final, pela maturidade e autoconhecimento que vem demonstrando, dependerá da resposta interior à questão sobre se está pronto, do ponto de vista político, para fazer valer a pena a empreitada, não só para ganhar, como para governar. Uma vez decidido, é fechar o programa de TV e expor-se às feras.
O mordomo
Rodrigo Maia está há muito tempo tentando fazer um seguro de garantia que liberte a Câmara Federal de culpa pela não aprovação da reforma da Previdência, como se isso fosse possível. Fica irritado quando inquirido sobre o assunto, toma a iniciativa de livrar a cara de deputados no caso de a Previdência Social quebrar se não sofrer mudanças radicais. Seria esclarecedor se complementasse seu raciocínio com explicações sobre de quem acha que é a culpa pela derrota da reforma cuja aprovação, no momento, é atribuição dos deputados federais.
O substituto
O PT de bom senso começa a considerar um terceiro nome para substituir Lula na disputa presidencial de outubro próximo: Patrus Ananias. Jaques Wagner e Fernando Haddad estiveram em cargos e atuaram muito próximos ao esquema de financiamento de campanha coordenado pelo partido e agora sub judice.
Patrus, não, foi tocado de raspão apenas numa delação da Odebrecht, e nada mais. É leve, nos governos petistas trabalhou com assistencialismo, é conhecido do público do Bolsa Família, o eleitorado cativo de Lula que não é necessariamente o do PT. Tem fama de santo, e parece. Não tem perfil para vencer, mas seria nome ideal para fazer bancada ampla, puxando a votação.
Ele toparia, imagina-se. Não está também envolvido com o governo petista de Minas, processado judicialmente. Com ele, é possível o PT dizer ao eleitorado de Lula: não tem o que você quer, mas este é quem melhor o substitui para atender suas necessidades.