sábado, 29 de dezembro de 2012

Abrindo as portas para o mundo


PRESIDENTE DO CONSELHO , DE ADMINISTRAÇÃO , DO GRUPO BRASILINVEST, MARIO, GARNERO, PRESIDENTE DO CONSELHO , DE ADMINISTRAÇÃO , DO GRUPO BRASILINVEST, MARIO, GARNERO - O Estado de S.Paulo
Há alguns anos o Brasil começou a receber uma nova onda de imigração. É claro que a imigração não é novidade para o Brasil, nosso país foi construído por imigrantes. Todos nós temos no sangue alguma história que começou em outro continente - a história recente da minha família no Brasil, por exemplo, começou como a de tantas outras famílias de São Paulo: meu pai, italiano, casou-se com minha mãe, brasileira. O Brasil é formado por gente de todas as partes do mundo. Entretanto, a grande diferença da imigração que ocorre hoje é que o Brasil anda recebendo cada vez mais imigrantes qualificados.
Não são agricultores sonhando com um pedaço de terra num continente novo, não são refugiados de guerra, não são exploradores ou aventureiros: são profissionais com excelente formação, procurados por empresas que precisam dessa mão de obra - 29.081 profissionais com nível superior receberam autorização para trabalhar no Brasil, de janeiro a julho de 2012, o que corresponde a 52% das autorizações nesse período. Desses profissionais, quase 2.500 têm cursos de pós-graduação, mestrado ou doutorado; 35% das mesmas autorizações foram fornecidas a profissionais com curso técnico especializado (procurados, principalmente, pelas indústrias automobilísticas e de extração de petróleo). Então, de todos os estrangeiros autorizados a trabalhar no nosso país no primeiro semestre de 2012, somente 13% têm uma formação educacional considerada baixa e, provavelmente, devem ter requerido asilo por serem oriundos de países em situações de risco.
Mas por que essa nova onda de imigração está ocorrendo? Porque ainda formamos muito poucos profissionais para a demanda de que o Brasil atual precisa. Um exemplo: as universidades nacionais formam 40 mil engenheiros por ano e a demanda atual é de 70 mil novos engenheiros/ano. Em consequência, essa falta de oferta de profissionais no País faz as empresas recorrerem, portanto, a profissionais estrangeiros.
Algumas pessoas enxergam esse fato como uma concorrência injusta. Para mim, não é nada mais do que saudável, pois se trata de uma forma de impulsionar a qualificação dos nossos próprios profissionais. O Brasil acaba ganhando novos parâmetros de qualidade, novas visões, um novo horizonte. Esses profissionais acabam se tornando professores e essa troca de experiências é sempre bem-vinda.
Mas se a imigração qualificada é positiva para um país, por que ela é tão difícil no Brasil? Sinceramente, não sei. Acompanho vários amigos e profissionais descrevendo o processo de liberação de um visto temporário e testemunho uma via-crúcis burocrática inexplicável. Atualmente, existem até empresas especializadas em desenrolar esse entrave. Utilizando essas empresas, o custo de um visto temporário de trabalho pode variar entre R$ 2 mil e R$ 6 mil e o tempo mínimo de liberação de um visto é de dois meses. A lista de documentos exigidos é impressionante, chega a desanimar. E como se já não bastasse toda a papelada, o estrangeiro ainda tem de passar pela aprovação do conselho regional da profissão em que atua.
Ou seja, a empresa que pretende trazer um profissional estrangeiro precisa querer muito, porque o custo é altíssimo. O estrangeiro não é empregado como um concorrente do profissional brasileiro, ele é empregado porque nenhum profissional brasileiro foi encontrado com o mesmo perfil. Essa é a regra.
Como se também não bastasse a dificuldade de receber estrangeiros que só têm a nos ajudar, ainda temos a outra via, que é a educação do brasileiro. Já citei a carência de profissionais que se formam anualmente no Brasil - só para continuar utilizando o exemplo de engenharia, a Índia forma 350 mil engenheiros por ano e a China, 600 mil. Temos, no entanto, um problema mais grave, no meu ponto de vista: o estudante brasileiro não sai do Brasil, ainda tem uma visão muito limitada da graduação, o que nos faz perder competitividade.
Os números, em comparação com nossos maiores concorrentes, são ingratos. Somente 7.500 estudantes brasileiros estão hoje em universidades fora do País. A Índia tem mais de 200 mil estudantes em universidades estrangeiras. A China supera os 300 mil. E isso não se verifica porque a Índia ou a China têm mais facilidades. Esses são países e estudantes que simplesmente aproveitam oportunidades.
Tanto universidades europeias quanto norte-americanas estão atrás de brasileiros. Mesmo quem não tem condições financeiras de sair do País pode aproveitar inúmeros programas de bolsas de estudos, incluindo o Ciência Sem Fronteiras, recém-criado pelo governo federal e amplamente divulgado pela nossa presidenta, Dilma Rousseff. Basta procurar. Basta querer estudar.
E quem pensa que o estudante estrangeiro pode eventualmente ser marginalizado e que corre o risco não ter as mesmas oportunidades lá fora que o estudante local pode repensar: 76% das patentes registradas em universidades norte-americanas em 2011 são de estudantes estrangeiros. E o futuro pode ser ainda mais promissor: 40% das 500 maiores empresas dos Estados Unidos são presididas por família de imigrantes. Portanto, se você andava pensando em estudar fora do País ou em enviar seu filho para o exterior, a hora é agora. Já. Porque o curso de inglês não garante mais emprego nem aqui nem em nenhum lugar do mundo. Vivência é a palavra.
O fato é que a economia brasileira já está inserida no mundo globalizado, não há como reverter esse processo - muita gente de fora deve vir para cá e a contrapartida também tem de ser verdade: os brasileiros precisam arriscar-se no mundo, investir, estudar, conviver. Porque esse é o brasileiro que vai vencer globalmente. Porque esse é o Brasil que vai continuar ganhando posições na economia mundial.

Perfil dos Municípios


O Estado de S.Paulo
Planos destinados a apontar soluções para os grandes problemas que afligem as nossas cidades ainda são exceções na maioria das prefeituras do País, como mostra a pesquisa "Perfil dos Municípios Brasileiros de 2011", realizada pelo IBGE. Questões como habitação, saneamento, coleta seletiva de lixo, gestão do uso do solo e políticas sociais continuam sendo tratadas com superficialidade, mesmo em boa parte das grandes cidades localizadas nas regiões mais desenvolvidas.
Para que reflita as necessidades da comunidade e sirva para fixar metas e traçar estratégias para atingi-las, o planejamento exige dos administradores municipais um esforço do qual com frequência eles fogem. Por falta de capacidade ou de vontade política.
O levantamento do IBGE mostra, por exemplo, que 71,7% dos municípios não contam com plano para enfrentar os déficits de moradia e que apenas 6,2% das prefeituras adotam medidas para atender a áreas de risco. Na pesquisa realizada dois anos antes, 18% das prefeituras informaram ter projetos específicos para moradias. Hoje, são 28,3%, um avanço ainda tímido e muito concentrado na Região Sul, onde 42,5% dos prefeitos se mostraram atentos ao problema. No rico Sudeste, apenas 22,7% incluíram a questão no planejamento.
Um estudo da Confederação Nacional de Municípios (CNM), feito com base em dados do Ministério das Cidades, indica que 1.506 cidades estão em falta com o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS). São prefeituras que a ele aderiram na categoria Modalidade Simplificada, criada para municípios com até 50 mil habitantes, mas não entregaram o plano local de habitação no prazo que se encerrou em 30 de junho.
O "Perfil dos Municípios" expôs outro problema igualmente grave: 71,8% das cidades não tinham, em 2011, uma política de saneamento. São 3.995 prefeituras em desacordo com a Lei Nacional de Saneamento Básico, aprovada em 2007. A Lei 11.445, que traça as diretrizes nacionais para esse setor, estabelece que todas as cidades do País devem elaborar planos de saneamento. Mas a maioria delas (60,5%) não faz nenhum tipo de acompanhamento das licenças de esgotamento sanitário nem presta maior atenção às questões de drenagem e de manejo de águas pluviais urbanas. Nem mesmo o abastecimento de água recebe os cuidados que exige. Em quase metade dos municípios brasileiros (47,8%) não existe órgão de fiscalização da qualidade da água.
Em algumas regiões com maior índice de desenvolvimento, começa a haver maior preocupação com esses problemas e, consequentemente, algumas iniciativas já contribuem para melhorar o cenário. A Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul, por exemplo, se uniu à Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) e à Secretaria Estadual da Habitação e Saneamento para auxiliar as prefeituras na elaboração de seus planos de saneamento. A meta é ambiciosa: até o fim de 2013 todos os municípios gaúchos deverão contar com planos desse tipo. Se ela for atingida, será um modelo para um país no qual apenas 28% das prefeituras montaram as estruturas previstas no plano nacional de saneamento básico.
Ao abordar pela primeira vez essa questão, a pesquisa do IBGE revelou que somente um terço das cidades do País tem programa ou projeto de coleta seletiva de lixo já em execução. Mesmo diante da preocupação global com o meio ambiente e da inquestionável necessidade de cuidar do lixo urbano, os municípios ainda resistem a investir na separação do lixo e no reaproveitamento do material reciclado.
Por tudo isso, são da maior importância os estudos que traçam um retrato realista da situação e avaliam a capacidade de gestão dos municípios nesse setor. Esses são dois passos indispensáveis para a solução de problemas que se agravam a cada dia, com sérios prejuízos para a população, principalmente suas camadas mais carentes, e, por isso, têm de ser atacados com urgência.

Mais um apelo federal



28 de dezembro de 2012 | 2h 05
CELSO MING - O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff fez ontem mais um apelo aos bancos privados. Desta vez, para que se dediquem a canalizar recursos para o financiamento de projetos de investimento. "Todo o peso do financiamento de longo prazo recai no BNDES. Precisamos de uma presença maior do setor privado para dar musculatura ao sistema", disse.
É ótimo que o governo esteja diretamente interessado em criar condições para o desenvolvimento do mercado de capitais para propiciar recursos fartos e baratos para o investimento. Mostra o entendimento de que uma política econômica voltada ao consumo não garante por si só o avanço econômico.
O problema é que a mobilização dos bancos para a concessão de recursos para o investimento não se faz com lindos apelos. É necessário criar condições que ativem essas energias.
Até recentemente, a maior dificuldade para obter capitais de longo prazo (funding para o investimento) vinha diretamente da má condução das finanças públicas. Um Estado muito gastador exigia que praticamente toda a poupança nacional fosse canalizada para o financiamento das despesas correntes do setor público. O grande tomador de recursos era o Tesouro, que pagava juros altíssimos para garantir o monopsônio (único tomador). Não havia recursos para o investimento.
A observância da Lei de Responsabilidade Fiscal e a formação de um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) começam a criar essas condições. A queda dos juros básicos (Selic) é a primeira indicação disso.
Mas é preciso mais. A presidente Dilma avisa que o BNDES não pode ficar sozinho na tarefa de financiar o investimento. Falta reconhecer que, por política do governo, o BNDES é dos maiores obstáculos para que o setor privado assuma a tarefa.
O BNDES recebe enormes injeções do Tesouro a custo quase zero e faz financiamentos a juros subsidiados. Como é que, assim, os bancos podem competir com o BNDES no crédito de longo prazo, se não dispõem das mesmas vantagens?
Não dá para dizer que os bancos privados não se interessam por operações de financiamento de longo prazo. Os R$ 210 bilhões em saldos de crédito para compra de habitação proporcionados por todo o sistema bancário (inclusive pelos bancos públicos), com até 30 anos de prazo para retorno dos ativos, provam que o longo prazo não assusta. O que afasta os bancos é o descasamento entre ativo e passivo. Sem recursos de longo prazos, é difícil garantir financiamentos de longo prazo. Uma das razões para não haver recursos de longo prazo é o Imposto de Renda não fazer distinção relevante entre aplicações de curto e de longo prazo. Se tem de pagar a mesma coisa, o aplicador vai, obviamente, preferir aplicações de curto prazo.
Mas isso não é tudo. O crédito bancário não é a única fonte de recursos de longo prazo. Boa parte desses recursos implica o funcionamento de um mercado saudável de capitais. Um dos principais motivos para o mercado de ações deixar de ser grande fonte de recursos de longo prazo é a atuação desastrada das autoridades. O governo Dilma é apontado como o maior destruidor de patrimônio público. Em seu governo, duas das maiores empresas públicas brasileiras, a Petrobrás e a Eletrobrás, perderam mais de R$ 80 bilhões em valor de mercado, em consequência de decisões tomadas por seu governo.
Ou seja, se o governo Dilma quer o florescimento do mercado de capitais, tem de mudar o modo como o vem tratando.