domingo, 23 de dezembro de 2012

Juros baixos, câmbio depreciado e crescimento medíocre



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Brasil não precisa atualmente de estímulos à demanda, mas de medidas de incentivo aos investimentos - começando pelo controle da inflação

23 de dezembro de 2012 | 2h 08
AFFONSO, CELSO PASTORE, EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL, AFFONSO, CELSO PASTORE, EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL - O Estado de S.Paulo
Desde o seu início o governo Rousseff pretendia levar a taxa de investimento para 22% ou 23% do PIB (Produto Interno Bruto), e crescer perto de 5% ao ano. Havia muita vontade, mas nenhum plano. Pelo menos nada que se assemelhasse às reformas do PAEG que prepararam o Brasil para os anos do milagre econômico; ou às reformas de FHC, que junto com a elevação dos preços de commodities impulsionaram o crescimento durante o governo Lula; nem sequer às reformas microeconômicas do primeiro mandato de Lula. Havia apenas a crença de que bastaria estimular o consumo e forçar a queda da taxa real de juros para chegar ao objetivo desejado.
Em 2011 o Brasil cresceu 2,7% e em 2012 crescerá perto de 1%. A taxa de investimentos - que por um trimestre, em 2010, havia chegado a 20% do PIB - vem caindo a cinco trimestres consecutivos, chegando a 18,5%, com a produtividade total dos fatores diminuindo, em vez de crescer. Não foi a crise mundial que levou a esse desempenho. Em palestra na Fundação Getúlio Vargas (FGV), o economista Armando Castelar mostrou que, no biênio 2011/2012, a taxa média de crescimento do Chile foi de 5,1%; de 5,3% na Colômbia; de 3,8% no México e de 6,2% no Peru, com as taxas de investimento variando de um mínimo de 22,5% do PIB no Chile a um máximo de 25,2% no México.
Como isso foi possível? Por não ter um plano, a presidente decidiu ouvir os empresários, e fez o que eles pediram: reduziu os juros reais; lutou para impedir que um tsunami monetário fortalecesse ainda mais o real, comemorando a depreciação cambial que aumentaria a competitividade da indústria; e cortou impostos em alguns setores.
Os empresários são afetados pelas distorções tributárias; pelos custos gerados por uma infraestrutura deficiente; e se o governo lhes proporcionar um ambiente de negócios favorável elevarão os investimentos. Eles são o motor do crescimento e dão vários conselhos úteis, mas não têm as respostas sobre como acelerar o crescimento do PIB.
O primeiro erro cometido pelo governo foi o de achar que bastaria estimular o crescimento do consumo. Na reação à crise de 2008/2009 essa foi a rota escolhida, mas naquele momento o Brasil estava em recessão, com a taxa de desemprego próxima de 9%, quando computada mantendo constante a taxa de participação, enquanto que hoje ela está em 4%, e os dados da FGV mostram que o nível de utilização da capacidade instalada na indústria estava dez pontos porcentuais abaixo do nível atual. Com desemprego e capacidade ociosa elevados vale o remédio keynesiano do estímulo à demanda, e mesmo que o governo desperdiçasse recursos pagando turmas de trabalhadores para abrir buracos e outras para fechá-los, tiraria a economia da recessão. Não era um momento para praticar a austeridade fiscal, nem para preocupar-se muito com a inflação. Mas se este diagnóstico for usado hoje, com pleno emprego no mercado de trabalho e com a margem de capacidade ociosa na indústria praticamente eliminada, colhe-se apenas mais inflação, que diante do exagero nos estímulos fiscais, monetários e creditícios, acabou também se elevando em 2010.
O que o Brasil precisa atualmente não é de estímulos à demanda, e sim de programas de estímulo aos investimentos, e não basta baixar a taxa real de juros e depreciar o real. O espírito animal dos empresários se alimenta de taxas de retorno elevadas e de riscos baixos. Se as incertezas geradas por um ambiente de negócios cheio de riscos não forem removidas, não há queda de taxa de juros que convença os empresários a investir.
A redução das incertezas começa com o controle da inflação, que requer o compromisso real com a meta de inflação, e não explicações tecnicamente elaboradas de por que se ultrapassou a meta. Requer que o governo evite ações como as que prejudicaram a capacidade de investir da Petrobrás e mudaram radicalmente os incentivos ao programa do etanol, em nome de reduzir a inflação, tarefa que deveria ser deixada para o Banco Central. Requer que, para baixar os custos da energia elétrica, evite o procedimento truculento e atabalhoado que emitiu sinais de risco para todas as demais concessões. Requer que se evite depreciar o real seguindo a proposta dos que querem resolver tudo com o câmbio, ignorando que a formação bruta de capital fixo no Brasil é dependente de importações. É isto que mostra a elevada correlação positiva entre a formação bruta de capital e as importações. A depreciação cambial tende a elevar o preço dos bens de capital, reduzindo as taxas internas de retorno, e prejudicando os investimentos.
O governo deveria olhar mais atentamente para as evidências empíricas em uma perspectiva histórica de prazo mais longo. Em vários trabalhos, os economistas Edmar Bacha e Regis Bonelli (entre eles Uma Interpretação das Causas da Desaceleração Econômica no Brasil, www.iepecdg.com) documentaram que a taxa de crescimento econômico e a formação bruta de capital fixo em proporção ao PIB vêm continuamente declinando no Brasil.
Dentre as causas da queda estão duas: a redução da taxa doméstica de poupanças; e a elevação do preço relativo dos bens de capital - o quociente entre os deflatores implícitos da formação bruta de capital fixo e do PIB. Em todos os países os preços relativos dos bens de capital têm se mantido ou constantes ou cadentes, enquanto no Brasil mostram crescimento contínuo. Em entrevista recente ao Estado, Bacha advertiu que esta é uma consequência do protecionismo à indústria no Brasil, que é maior do que nos demais países. Com estes preços relativos não é de estranhar que as taxas internas de retorno sejam baixas, e que o Brasil opere em desvantagem frente aos demais países.
Essas evidências sugerem que o governo deveria formular um programa voltado à elevação da poupança doméstica, começando pela sua própria, e atingindo a poupança das famílias. Para isso deveria refrear-se de estimular o consumo. Deveria, também, olhar em profundidade para a estrutura de proteção efetiva da indústria brasileira - que não é sequer mencionada nas análises sobre o crescimento do País -, visando detectar o que deveria ser feito para reduzir o preço relativo dos bens de capital.
Este seria um item prioritário de pesquisa para o Ministério do Desenvolvimento Econômico, que certamente o rejeita. Mas o governo faz o contrário: estimula o consumo e mantém o grau de protecionismo. Paralelamente, tenta contornar os efeitos negativos que isso impõe às taxas de retorno dos investimentos, com taxas de juros reais negativas em financiamentos dados pelo BNDES. Os custos não aparecem nas contas públicas e sim no aumento da dívida bruta e no crescimento da taxa de juros implícita sobre a dívida líquida. Com isso esconde subsídios que elevam as distorções.
O estímulo ao consumo lhe dá popularidade, e a defesa do protecionismo lhe dá o apoio de grande parte das classes produtoras. Mas não leva ao crescimento econômico.
Há uma carência de infraestrutura que eleva os custos das empresas. O governo não tem recursos para realizar esses investimentos, mas nega-se a aceitar as taxas de retorno mais elevadas necessárias para atrair o setor privado. O governo baseia-se em uma noção quase religiosa de "preço justo", mas recusa-se a reconhecer que o espírito animal de cuja cooperação necessita para acelerar o crescimento se alimenta de taxas de retorno elevadas. As autoridades de Brasília recusam-se a cometer o pecado da "privatização". Preferem deter o poder de substituir o mercado, ensinando o que os demais países deveriam fazer, enquanto deixamos de fazer o que deveria ser feito.
Não cometem apenas o erro de serem keynesianos quando a economia não precisa mais de demanda, e sim de estímulos aos investimentos. Cometem, também, o erro de serem "beveridgeanos", seguindo a doutrina de Lord Beveridge, que lutava para que um Estado grande, forte e ativo substituísse o instinto dos empresários nas decisões de alocação de recursos, e que determinasse como se realizaria a distribuição de renda. Eram doutrinas que tiveram impacto no primeiro quartil do século passado, mas que ainda produzem efeitos no Brasil.

O poder atual dos 'Brics' e dos 'Próximos 11'



No caso do Brasil, o crescimento decepcionante em 2011 e 2012 é fruto da chamada 'doença holandesa', à qual o governo já está reagindo

23 de dezembro de 2012 | 2h 10
ECONOMISTA, PRESIDENTE DA GOLDMAN SACHS ASSET MANAGEMENT, CRIADOR DO TERMO BRIC , JIM, ONEILL, ECONOMISTA, PRESIDENTE DA GOLDMAN SACHS ASSET MANAGEMENT, CRIADOR DO TERMO BRIC , JIM, ONEILL - O Estado de S.Paulo
À medida que nos aproximamos do fim de 2012, ficou muito na moda opinar que a era de crescimento dramático dos países conhecidos pela sigla Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) acabou e a suposta ascensão dessas economias esmorecerá como ocorreu com muitas outras histórias econômicas de sucesso. Essa visão que se alastra surge após um ano "desapontador" para cada uma das economias dos Brics. A meu ver, este não é um julgamento sensato.
Há três aspectos bastante simples que os comentaristas parecem ignorar quando avaliam as economias Brics. Em primeiro lugar, à medida que cresce a importância dessas nações, aumenta também sua influência no mundo. Em segundo, e associado a isso, a China é não somente a segunda maior economia do mundo; ela é tão grande quanto as outras três juntas, de modo que, se alguém estiver discutindo o panorama combinado dos Brics e sua influência, o que se está passando na China é muito mais importante do que nos outros três.
Em terceiro, e isso é fundamental, a maneira como as economias Brics estão se saindo deve ser vista no contexto de até que ponto sua projetada ascendência está ocorrendo conforme as projeções.
Em 2012, a China provavelmente terá um crescimento no valor de seu Produto Interno Bruto (PIB), medido em dólares americanos, da ordem de US$ 1 trilhão, elevando sua economia a cerca de US$ 8,3 trilhões, o que reflete o provável crescimento real "mais suave" de 7,7% que registrará, além de um valor incremental resultante de uma nova valorização do yuan ante o dólar.
Embora esse aumento de US$ 1 trilhão esteja abaixo do aumento de US$ 1,3 trilhão em 2011, ainda está perto de criar o equivalente a outra economia grega a cada quatro meses (ante três meses, em 2011) e quase a metade de uma nova Itália por ano. Para os países Brics coletivamente, seu PIB nominal em dólares em 2011 cresceu quase US$ 2,3 trilhões, o que na realidade é mais do que o tamanho da Itália.
Esses exemplos demonstram, assim espero, a escala da influência que os países Brics estão tendo no mundo, mesmo que fosse verdade que eles estão desacelerando e "desapontando".
Deixem-me abordar agora as suas "desacelerações", que não podem ser vistas sob a mesma luz. Por sua importância chave, analisar a desaceleração da China é fundamental. Por que a China desacelerou? A resposta é quase completamente "porque os dirigentes chineses queriam que a China desacelerasse". Embora o crescimento das exportações tenha nitidamente enfraquecido com o que ocorreu nos Estados Unidos e na Europa, é um erro reduzir o desempenho mais fraco da China a isto, e é um erro pensar nas forças domésticas como algo que "simplesmente aconteceu".
A maior parte da desaceleração da China pode ser atribuída ao endurecimento deliberado das condições monetárias em 2010 e 2011 porque os dirigentes queriam reduzir a inflação e interromper os aumentos exorbitantes dos preços dos imóveis em muitas áreas urbanas.
Em fevereiro, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, "previu" que a China cresceria 7,5% em 2012 especificamente. Assim, supusemos que a China cresceria 7% em média durante toda esta década, e, por causa do crescimento de 2011 e 2012, de fato, a China cresceu mais do que vínhamos supondo.
Me vejo às vezes brincando que, se a China fosse um time de futebol da primeira divisão, eu gostaria de torcer por ele! A administração da economia pelos dirigentes chineses tem sido impressionante, e quando penso nas coisas que me preocupam, o crescimento da China não está no topo da lista. Um crescimento na vizinhança de 7,5% a 8% em 2013 (e além) parece bastante provável.
Para o Brasil e outros países, é importante notar que os vencedores e perdedores da "nova China" poderão ser diferentes dos antigos, mas o crescimento continuará, assim como sua rápida ascensão na escala da importância mundial.
Outro Bric também precisa ser compreendido de maneira diferenciada. A Rússia superou as expectativas positivamente em 2012 e, embora seu crescimento também esteja mais lento do que na década passada, não foi desapontador. A maioria das pessoas escreve coisas negativas sobre a Rússia porque não aprova o estilo de liderança e governança, mas isso não deve ser confundido com crescimento decepcionante. Olhando para o futuro, o crescimento do PIB real em torno de 4% provavelmente vai continuar.
Brasil e Índia foram genuinamente mais desapontadores em 2012, e cada um desses países merece uma reflexão, sobretudo de seus próprios dirigentes. Eu vinha advertindo com frequência que as políticas microeconômicas da Índia não eram fortes o suficiente para sustentar o desempenho de rápido crescimento, e, em 2012, isso finalmente ocorreu. Se quiserem voltar às taxas de crescimento de 8% (estimamos 7,5% para a década como um todo), terão de fazer as reformas modestas recentemente anunciadas.
Uma atitude muito mais positiva ante o investimento estrangeiro, ajudando a aumentar a competitividade e a produtividade de muitos setores da economia indiana, seria útil, assim com um arcabouço mais claro para uma polícia macroeconômica. Não devemos esquecer que a Índia tem uma demografia espetacular e, se suas políticas forem mais incisivas, a economia começará facilmente a crescer 8% ou mais.
O problema do Brasil, assim eu penso, tem sido muito específico e, em certa medida, a política econômica já está reagindo a ele. O crescimento brasileiro decepcionante (tanto em 2011 como em 2012) se explica por dois fatores: a significativa valorização do real e a desaceleração dos preços globais das commodities. De certa maneira, o Brasil já tem sofrido a chamada "doença holandesa" e, para o futuro, precisa assegurar que sua moeda se mantenha num nível consistente com a competitividade dos setores não relacionados a commodities, e empreender outras medidas para reforçar a produtividade de sua economia não relacionada a commodities.
Suspeito que o Brasil reagirá mais do que muitos hoje projetam, principalmente porque o grau de decepção do terceiro trimestre foi exagerado por uma provável desaceleração temporária no setor financeiro. Acredito que o Brasil provavelmente crescerá perto de 4% em 2013, e eu não descartaria um crescimento maior (um padrão volátil similar foi registrado na década passada).
Além das economias Brics, há muitas coisas empolgantes em algumas outras grandes economias emergentes, incluindo muitos dos países chamados por nós de "Próximos 11". Além da Indonésia, e do vizinho latino do Brasil, o México, Turquia, Nigéria e Filipinas estão entrando cada vez mais no radar dos negócios, como deveriam. Na década de 2011-20, essas economias, os Próximos 11, embora sem criar nada parecido com o impacto dos Brics, provavelmente contribuirão mais para o crescimento do PIB global do que os EUA.
Em resumo, acredito que o crescimento contínuo dos Brics e da influência dos Próximos 11 no mundo mais uma vez surpreenderá positivamente as pessoas, ainda que alguns deles cresçam menos do que no passado. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Lições de um ano de baixo crescimento



Parece evidente que a atual estratégia econômica tem de ser revista. Não dá para crescer sem enfrentar as questões que bloqueiam o investimento


23 de dezembro de 2012 | 2h 10

JOSÉ ROBERTO, MENDONÇA DE BARROS, ECONOMISTA, SÓCIO DA MB ASSOCIADOS , JOSÉ ROBERTO, MENDONÇA DE BARROS, ECONOMISTA, SÓCIO DA MB ASSOCIADOS - O Estado de S.Paulo
O ano não acaba bem. Crescemos pouco e ponto. É inútil tentar dizer que a medida do PIB não avalia bem o setor de serviços, inclusive financeiro. Afinal, esta é a mesma régua utilizada em 2010 e 2011. Também parece pouco útil dizer que temos um infindável ajuste de estoques há mais de dois anos: ele não é visível em lugar nenhum.
O consumo avançou, mas a passos muito mais lentos, por razões de curto prazo e mais estruturais. No curto prazo, a queda do endividamento está sendo dolorosamente lenta. Do ponto de vista estrutural, o efeito inclusão de mais famílias no mercado se faz a taxas mais lentas, conforme o esperado. O explosivo crescimento nas compras de veículos e utilidades domésticas é coisa do passado. O consumo seguirá crescendo, mas não será mais a mesma locomotiva de antes. O consumidor demanda mais serviços e sonha com a casa própria. Com isso, sofre a indústria. As exportações, especialmente de manufaturados, andam devagar, e assim devem continuar em 2013.
Entretanto, o fato mais marcante do ano foi o desmonte dos investimentos, que caem há vários trimestres. As razões são muitas e vão desde a situação internacional (que não ajuda setores como o de metais), passando pelas enormes dificuldades da Petrobrás (que vem afetando, inclusive financeiramente, toda a cadeia de fornecedores) e pelos atrasos recorrentes dos projetos mais relevantes do PAC, até chegar aos setores mais diretamente afetados pela competição externa, como têxteis e calçados.
Ademais, muitas empresas se prepararam para um crescimento mais forte em 2012 e, ao ter frustrados os objetivos de venda no início do ano, viram sua situação financeira apertar. Investir nessas condições ficou muito menos atraente.
Instalou-se definitivamente a percepção da falta de competitividade brasileira. Um exemplo disso é o relatório "Competitividade Brasil 2012", recentemente divulgado pela Confederação Nacional da Indústria. Nele, avaliou-se a competitividade de 14 países, todos nossos concorrentes: Argentina, México, Colômbia, Rússia, Polônia, África do Sul, Chile, Índia, Espanha, China, Austrália, Coreia do Sul e Canadá. Nesse conjunto, o Brasil só é mais competitivo que a Argentina, a locomotiva do Mercosul. Essa situação foi sendo construída nos últimos anos, e aqui também, o diagnóstico convergiu para ampla aceitação.
Temos impostos complexos, muitas vezes antieconômicos e elevados, que sustentam um Estado cada vez maior, mais ineficiente, que não consegue investir (é um fato, exaustivamente comprovado, não é visão ideológica); uma deterioração da infraestrutura (há poucos dias tivemos o sexto apagão de energia elétrica deste semestre); mão de obra pouco treinada, fruto de uma qualidade medíocre da nossa educação e de um sistema produtivo pouco inovador. O discurso triunfalista morreu de morte morrida, como diria Monteiro Lobato.
Como consequência, a produtividade cresce muito pouco. Crescemos em extensão. Um sistema dessa natureza expande-se apenas de forma lenta e tem permanentes pressões inflacionárias, mesmo quando o crescimento é lento, como no ano passado e neste final de 2012.
Vale observar que os "campeões nacionais" não parecem fazer a menor diferença em nossa trajetória, exceto, talvez, pela melhora patrimonial de seus acionistas e por demandarem cada vez mais recursos do BNDES.
A estratégia macroeconômica não apresentou ainda grandes resultados. Os pacotes de estímulo ao consumo são cada vez mais ineficientes e a desvalorização cambial não produziu o esperado salto na indústria. Há uma evidente perplexidade no governo e em vários líderes empresariais com relação a esse fato.
A resposta mais simples é dizer que é apenas questão de tempo para que o salto no crescimento se materialize. Na indústria, muitos pedem apenas mais câmbio, ignorando os efeitos inflacionários daí decorrentes.
Ainda que seja verdade que poupadores e investidores precisem de mais tempo para se ajustar aos novos números, parece-me evidente que a atual estratégia econômica tem de ser revista. Não dá para pedir que as famílias se endividem ainda mais. Não dá para crescer sem enfrentar as questões que bloqueiam a oferta e retardam os investimentos. Esses não vão crescer na base do grito.
Existe um gigantesco conjunto de evidências que mostra que as vantagens comparativas dos países dependem (afora boas instituições) de dois fatores que têm de ser produzidos localmente, pois não podem ser importados em larga escala: conhecimento, decorrente de educação, pesquisa e inovação; e infraestrutura.
Curiosamente, esses são os dois itens onde menos investimos. Assim, não é de surpreender que, após a expansão de 1% deste ano, esperemos um crescimento de apenas 3% para o ano que vem. /