quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A felicidade mora aqui


O brasileiro está razoavelmente bem colocado no campeonato mundial de felicidade. Ocuparia o 16º lugar entre 147 países pesquisados pelo Gallup, com a nota média de 7,1 que se autoatribui.
É o que mostra pesquisa com 3.800 famílias feita pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e divulgada na terça-feira.
É preciso algum cuidado com a colocação brasileira, porque o Ipea usou os dados colhidos em outubro de 2012 no Brasil para inseri-los na pesquisa Gallup Global feita em 2010.
Pode ser, portanto, que o Brasil seja de fato o 16º país mais feliz do mundo, como pode ser, sabe-se lá, o 20º ou o 10º, o que acaba sendo menos relevante que a nota em si: 7,1 é muita felicidade, convenhamos.
O que o Ipea constata é o que os ingleses chamam de "feel good factor". O brasileiro sentia-se tão bem em 2010 que elegeu uma virgem em disputas eleitorais chamada Dilma Rousseff, já que considerava o governo de seu padrinho Lula o responsável ao menos em parte por tamanha felicidade (a nota média de 2010 já era suculenta, 6,8).
Um pouco de autopropaganda: em 2010, quando José Serra ainda era o líder nas pesquisas, atrevi-me a dizer que Dilma acabaria eleita, exatamente pelo "feel good factor".
Dois anos depois, mudou para melhor, acha a maioria dos brasileiros, tanto que Dilma ou Lula ganharia de novo a Presidência se a eleição fosse agora, como mostrou no domingo o Datafolha.
Os fatores que geram bem-estar são os óbvios: emprego e renda.
O Ipea lembra que o IBGE registra desemprego nos menores níveis da série iniciada em 2002 e rendas crescendo bem mais que o PIB per capita.
O desemprego vai continuar nesse patamar baixo, perto dos 5%, também em 2013, segundo avaliação de dez consultorias ouvidas pelo "Valor Econômico". Logo, a felicidade se estenderá a 2013.
Quanto à renda individual média da população de 15 a 60 anos de idade, subiu 4,89% de 2011 para 2012, contra taxa média de 4,35% ao ano entre 2003 e 2012.
A pesquisa desmente a tese de que dinheiro não traz felicidade: a nota média de quem ganha acima de dez salários mínimos é de 8,4, acima, portanto, da média geral de 7,1 e muito acima dos 3,7 que os sem renda se atribuem na escala da felicidade.
O que fica evidente é que há no Brasil um forte descompasso entre Produto Interno Bruto e felicidade interna bruta. O PIB desacelerou tanto que virou "pibinho", ao passo que o bem-estar se acelerou a ponto de quase virar "felicidadona".
É importante entender, no quesito felicidade/intenção de voto, porque a percepção de corrupção, que aumentou, não afeta a popularidade de Dilma/Lula. A pesquisa do Datafolha mostra que elevado número de consultados aponta corrupção em todos os governos do pós-ditadura, com um pico de 79% no período Fernando Collor.
O que se pode deduzir daí? Que o eleitor parece seguir a lógica do rouba, mas faz. Ou seja, se todos supostamente roubam, voto no que faz (crescer o emprego e a renda).
Clóvis Rossi

Grampolândia


SÃO PAULO - O governador Alckmin deveria prestar mais atenção ao que diz o orador Alckmin. Como é comum na política, o comportamento do primeiro não está em exata sintonia com a pregação do segundo.
Na semana passada, ao receber um prêmio, o tucano fez uma defesa enfática da transparência no serviço público. "A sociedade tem o direito de saber o que é feito, como é feito, quando é feito", afirmou.
Três dias depois, no entanto, foi possível perceber que a prática não é bem essa em sua administração. Sem grandes explicações, o governo paulista começou a desmontar uma central de escutas instalada, desde 2006, num prédio da Polícia Militar no interior de São Paulo com o objetivo original de investigar o crime organizado.
O problema é que pairam muitas desconfianças sobre a tal central de escutas. Suspeita-se que, além de criminosos, delegados, políticos e até mesmo jornalistas foram espionados pelo órgão sem a devida autorização legal. Em 2012, ao menos 81,8 mil grampos foram feitos no Estado.
Tempos atrás, o deputado estadual Campos Machado (PTB), aliado do governador, externou o assunto na Assembleia, criticando o então secretário da Segurança Pública, Ferreira Pinto: "Todos ficaram receosos, senhor secretário, receosos do seu poder. Ou alguém tem alguma dúvida sobre o grampeamento que existe em todo o Estado?".
Questionado sobre o desmonte da central de escutas e as suspeitas de espionagem, o governo Alckmin limitou-se a lavar as mãos, dizendo que o órgão é de responsabilidade do Ministério Público, que, por sua vez, nega ter relação com o assunto.
Ou seja, além de não investigar eventuais crimes cometidos ali, o governo simplesmente afirma não ter nada a ver com a central, que operava num prédio da PM, era formada por policiais e coordenada por um coronel da reserva. Como diria o orador Alckmin: "A sociedade tem o direito de saber o que é feito, como é feito, quando é feito".
Folhapress
Rogério Gentile é Secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna Painel e do caderno "Cotidiano". Escreve a coluna São Paulo, na Página A2 da versão impressa, às quintas.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

MiniCom publica norma que regulamenta o Canal da Cidadania



Canal terá quatro faixas de conteúdo e vai dar espaço a municípios, estados e associações comunitárias na tv aberta e digital 
Brasília, 19/12/12 – O Ministério das Comunicações publicou, nesta quarta-feira, a norma que regulamenta o funcionamento do Canal da Cidadania. O canal - já previsto no decreto de implantação da tv digital, de 2006 - tem como objetivo dar espaço à produção das próprias comunidades e divulgar os atos dos poderes locais, como prefeituras, câmaras de vereadores e assembleias legislativas.
Para isso, o Canal da Cidadania vai fazer uso da multiprogramação possibilitada pela tv digital. Serão quatro faixas de conteúdo: a primeira para o Poder Público municipal, a segunda para o Poder Público estadual e as outras duas, para associações comunitárias, que ficarão responsáveis por veicular programação local.
O primeiro passo para o funcionamento do canal é o pedido de outorga, que pode ser feito por municípios interessados até 18 meses após a publicação da norma. Depois desse prazo, estados poderão solicitar a autorização para explorar o canal ao MiniCom. Após a conclusão desses processos de outorga, o Ministério das Comunicações vai abrir avisos de habilitação para selecionar as associações comunitárias, que ficarão responsáveis pela programação em cada localidade.
“Este é um momento ímpar. As associações comunitárias já tinham conseguido espaço na tv por assinatura e na rádios comunitárias. Agora, com o Canal da Cidadania, elas poderão veicular programação também na tv digital aberta e gratuita. É uma conquista importante também para a sociedade”, afirma o diretor de Avaliação e Acompanhamento de Outorgas do MiniCom, Octavio Pieranti.
A norma que regulamenta o Canal da Cidadania passou por consulta pública em março deste ano.  Entre os princípios do canal destacam-se a formação crítica para o exercício da cidadania e da democracia; a promoção da diversidade de gênero, étnico-racial, cultural e social; o diálogo entre as múltiplas identidades do país; o fomento à produção audiovisual independente, local e regional; a prestação de serviços de utilidade pública e a promoção de programas de finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas.