domingo, 7 de outubro de 2012

Novo sistema de coleta de lixo


O Estado de S.Paulo
A cidade de São Paulo finalmente começa a modernizar seu sistema de coleta de lixo com a instalação de contêineres de superfície e subterrâneos. Esses equipamentos permitem armazenagem mais segura - evitam, por exemplo, que os sacos sejam arrastados pelas enxurradas e bloqueiem as redes de águas pluviais, agravando o problema das enchentes. E, além de eliminar o mau cheiro, evitam a proliferação de insetos nas ruas. O sistema possibilita a destinação correta do lixo para a reciclagem e reduz em pelo menos 30% os custos de operação. Até o fim deste ano, 700 unidades de superfície serão instaladas nas ruas de São Paulo e outros 27 locais terão lixeiras subterrâneas com capacidade de até 20 toneladas, como as que já estão em operação no Conjunto Habitacional Nova União, em Parada de Taipas, na zona norte, na Avenida Rebouças e no Mercado Municipal. A coleta mecanizada e as lixeiras subterrâneas já fazem parte da rotina de muitas cidades de países desenvolvidos, tornando menos custoso e poluente o recolhimento do lixo.
A concessionária Loga estenderá o sistema gradualmente pela capital e, até 2019, deverá assegurar a armazenagem de, no mínimo, 165 mil toneladas de lixo no novo padrão, conforme exigência do contrato em vigor. Na primeira etapa de implantação do sistema de superfície, os contêineres, com capacidade de 3,2 mil litros, estão sendo instalados em 25 pontos dos Jardins, como Ruas Joaquim Antunes, Groenlândia, Venezuela, Jamaica, Alemanha e Guadalupe. Os pontos são escolhidos de acordo com o volume de lixo gerado. As lixeiras de aço têm alta resistência e são acionadas a partir de um pedal. O lixo depositado é recolhido por caminhão automatizado, que usa braços mecânicos para levantar o contêiner e esvaziá-lo em sua caçamba, devolvendo em seguida a lixeira à sua posição, para ser higienizada com água e enzimas vivas para desmanchar gorduras e eliminar resíduos que exalam mau cheiro. Nessas lixeiras, os moradores podem depositar, ensacados, resíduos domiciliares orgânicos e embalagens desmontadas.
Quanto ao sistema subterrâneo, já está sendo usado por 10 mil moradores e, até o fim do ano, esse número mais do que dobrará. São utilizados dois tipos de contêineres - um que acomoda de até 20 mil litros de resíduos e outro que recebe 3,2 mil litros. Nas calçadas, caixas de descarte são acionadas a partir de cartões magnéticos cadastrados pela concessionária. Quando os contêineres atingem 80% da sua capacidade, sinais sonoros são enviados à central, que providencia a sua troca.
Há mais de cinco décadas, nas grandes cidades dos países desenvolvidos, o modelo tradicional de recolhimento do lixo urbano começou a ser criticado por causa do seu impacto ambiental e suas consequências para a saúde pública. O custo das operações de coleta também era um fator de grande preocupação para as administrações públicas. Estudos e pesquisas feitos na Escandinávia, Alemanha, EUA e Japão levaram à criação de um sistema de coleta pneumática, ainda mais avançado do que o que está sendo implantado em São Paulo. Essa tecnologia permite recolher os sacos de lixo das casas e estabelecimentos comerciais por meio de tubulações subterrâneas que, por vácuo, os levam às centrais de coleta.
Desde os jogos olímpicos de 1992, Barcelona investe na coleta pneumática de resíduos sólidos. Hoje, a cidade conta com mais de 40 quilômetros de rede subterrânea de sucção, 8 centrais de coleta e 2,1 mil pontos de entrada. Os coletores separam lixo orgânico, vidro, papel e plástico, com significativa economia de custos operacionais, incentivando a reciclagem.
A solução para velhos problemas urbanos, como esse, precisa ser acelerada e exemplos de cidades mais avançadas devem ser aproveitados. Numa São Paulo de trânsito caótico e alta concentração de poluição atmosférica, o vaivém de caminhões precisa ser reduzido. A cidade necessita também melhorar o aspecto e a higiene das ruas, principalmente os corredores comerciais. Para tudo isso, o novo sistema de coleta de lixo por contêineres vai colaborar.

sábado, 6 de outubro de 2012

Sistema esgotado, por Fernando Rodrigues na Folha


SÃO PAULO - Os eleitores aqui na maior cidade do país escolhem seu novo prefeito sem terem tido a oportunidade de assistir a um debate real, com troca de ideias e questionamentos sérios entre os três líderes nas pesquisas.
Houve encontros com oitos candidatos. São eventos inúteis. Misturam aventureiros e alguns nanicos bem-intencionados com os que de fato governarão a cidade. A lei obriga as TVs a convidar todos os candidatos cujos partidos estejam representados no Congresso.
É um modelo obsoleto e esgotado. Não serve aos candidatos nem aos eleitores. Os políticos ficam sem a chance de provar, num ambiente de pressão real, que suas propostas param em pé. Os eleitores são privados das informações necessárias para votar melhor.
Tudo poderia estar resolvido se estivesse em vigor uma cláusula de desempenho eleitoral para os partidos políticos. Uma lei a esse respeito foi aprovada nos anos 90. O STF a considerou inconstitucional. A mudança precisa vir por meio de emenda constitucional.
A proposta mais madura no Congresso é a que estabelece como desempenho eleitoral mínimo 5% dos votos para deputado federal em todo o país (sendo 5% em pelo menos nove das 27 unidades da Federação). Quem ficasse abaixo desse percentual teria acesso bem limitado à TV e ao rádio (para fazer propaganda) e ao dinheiro do Fundo Partidário. Também não seria presença obrigatória em debates na mídia eletrônica.
Numa projeção para 2014, não passariam pela cláusula mais de seis partidos. Em disputas majoritárias, sempre há coligações entre grandes siglas. Ou seja, nunca haveria mais do que três ou quatro candidatos nas disputas por cargos executivos --e nos debates.
Depois da Lei da Ficha Limpa, a cláusula de desempenho é a iniciativa mais relevante para continuar a profilaxia na política brasileira.
Fernando Rodrigues
Fernando Rodrigues é repórter em Brasília. Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006). Escreve quartas e sábados na versão impressa Página A2.

País tem mais jovens fora da escola e do mercado de trabalho



Em dois anos, população na faixa entre 15 e 17 anos que não estuda e nem trabalha passa de 85,2% para 83,7%

22 de setembro de 2012 | 3h 11
FELIPE WERNECK / RIO - O Estado de S.Paulo
A Pnad do IBGE revela aumento na proporção de jovens que não estudam nem trabalham no País. Em 2009, 85,2% da população de 15 a 17 anos frequentava a escola. Dois anos depois, esse porcentual caiu para 83,7%, interrompendo uma tendência de crescimento da taxa de escolarização nessa faixa etária que era verificada desde 2005. 

O número absoluto de estudantes de 15 a 17 anos se manteve estável em 8,8 milhões de 2009 para 2011, apesar de ter havido um aumento da população desse grupo no período. A explicação para a queda da taxa de escolarização entre os jovens não é a ida para o mercado de trabalho formal, afirma a gerente da pesquisa, Maria Lucia Vieira. 

Segundo a Pnad, os jovens de 15 a 17 anos representavam 3,1% da população ocupada no País em 2009, participação que caiu para 2,8% em 2011, uma variação negativa de 11,1%. Em termos absolutos, houve uma diminuição no período de 319 mil pessoas dessa faixa etária trabalhando. 

"Não conseguimos investigar exatamente a causa, mas a princípio eles não trabalham e não estudam", acrescenta Maria Lucia. 

Para o economista Cláudio Moura Castro, a queda da taxa de escolarização entre os jovens reflete uma crise no ensino médio. "A matrícula está caindo porque o (ensino) médio é muito ruim, é chato. As pessoas desanimam", diz ele. "A explicação consensual é de que se trata muito mais de uma expulsão do médio que atração pelo mercado de trabalho", acrescenta Castro. 

Segundo ele, estatísticas de censos educacionais indicavam "estagnação e contração". "A queda não é dramática, mas a gente esperaria uma expansão contínua." Para Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE, o ensino médio é pouco estimulante e a perda de alunos é consistente. Ele lembra que o abandono é maior entre os homens.

A atual presidente do IBGE, Wasmália Bivar, avalia que a população adolescente ainda precisa de incentivos e políticas mais específicas para que a permanência na escola ocorra de fato. "Trata-se de um desafio, de uma mudança quase cultural, para que o adolescente troque a renda de hoje por uma renda melhor no futuro por meio da educação", acrescenta. 

Entre as crianças de 6 a 14 anos, a taxa de escolarização teve um aumento de 0,6 ponto porcentual, passando de 97,6% para 98,2% no mesmo período analisado pela pesquisa. 

Analfabetismo. A Pnad também mostra que o País ainda tem 12,9 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais de idade. "Não há campanha que mude os números de analfabetismo. Quem resolve é Deus. A queda é mecanicamente previsível. Não vai haver surpresa", diz Moura Castro. Do total de analfabetos, 8,2 milhões (63%) tinham 50 anos ou mais em 2011. 

Wasmália reconhece que o desafio é grande por causa da grande fatia de população analfabeta envelhecida, mas considera expressiva a queda de 1,1 ponto porcentual da taxa de analfabetismo em relação a 2009, quando comparada com movimentos anteriores. 

O contingente de analfabetos está concentrado no Nordeste, especialmente na população idosa. Apesar das quedas sucessivas nos últimos anos, a região apresentou em 2011 uma taxa que atinge quase o dobro da média nacional (16,9%, ante 8,6%). Há 6,8 milhões de analfabetos no Nordeste, mais da metade (52,7%) do total do País. 

A Pnad traz também a variação na rede pública de ensino, que em 2009 foi responsável pelo atendimento a 87% dos estudantes do nível fundamental, 86,4% do nível médio e 23,3% do nível superior.
Em 2011, o porcentual foi o mesmo no ensino fundamental, oscilou para 87,2% no nível médio e subiu para 26,8% no ensino superior. Ou seja: apesar do aumento nos últimos dois anos, a rede privada atende a 73,2% dos estudantes universitários. Apenas 6,6 milhões de estudantes cursavam o ensino superior no País em 2011. / COLABOROU FERNANDO DANTAS





Retratos do Brasil - Mais jovens fora da escola
Resultados do levantamento do IBGE mostram que o percentual de estudantes entre 15 e 17 anos fora da escola caiu para 83,7%, o que representa um contingente de 1,72 milhão de alunos. Nesta faixa de idade são alunos do ensino médio.
22/09/2012
Clipping Planejamento / O Globo

Ao contrário do que acontece com as crianças, há menos adolescentes na escola. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a taxa de escolarização do grupo de 15 a 17 anos de idade - que deveria estar no ensino médio - caiu de 85,2% para 83,7% em dois anos. Com isso, o país convive com 1,72 milhão de jovens fora da escola. Já na faixa de 4 a 5 anos, a escolarização cresceu, passando de 74,8% para 77,4%.
- Como o nível de ocupação de 15 a 17 anos de idade também reduziu, eles não foram para o mercado de trabalho. A princípio, eles não trabalham e não estudam - diz Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad.
Da evasão escolar ao desalento, passando pela gravidez precoce, não são poucos os motivos que - conforme mostrou reportagem do GLOBO no domingo passado - fazem com que grande parcela da juventude brasileira nem estude nem trabalhe, os "nem-nem"
- O Brasil ainda não conseguiu universalizar o ensino médio e, isso, sem dúvida, é um quadro muito preocupante. É uma geração chave, que está desiludida quanto ao ensino, e se perde. Contudo, houve avanços que não podem ser subestimados - diz Naércio Menezes Filho, professor do Insper.
19,2 milhões não tÊm instrução
Para Wasmália Bívar, presidente do IBGE, essa população é um desafio:
- Ainda é preciso incentivo de políticas mais específicas, para que a permanência na escola ocorra de fato. Estimulado pelo próprio aquecimento da economia (em 2010, o país cresceu 7,5%), o acesso ao trabalho remunera melhor. O desafio é fazer o adolescente trocar a renda de hoje pela renda melhor no futuro.
Sergei Soares, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destaca a importância do crescimento da pré-escola. A parcela de crianças de 4 ou 5 anos na escola cresceu de 74,8% para 77,4%:
- Essa escola atende à população mais pobre.
Após considerar como "muito positivos para a educação" os dados da Pnad, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse que o governo aposta em várias medidas para diminuir a evasão, como a ampliação do Programa Bolsa Família para quem tem filhos até 17 anos, investimento no ensino profissionalizante e ações para reduzir a gravidez na adolescência.
- Estamos falando de mais de 300 mil meninas que ficam grávidas nessa faixa etária (do ensino médio) - diz o ministro, que defende a reformulação do currículo. - O ensino médio é uma estrutura enciclopédica que precisa ser reavaliada.
Dados da Pnad mostram que 19,2 milhões de pessoas (11,5% do total) com mais de 10 anos não têm qualquer instrução ou estudaram por menos de um ano. Na outra ponta, só 6,6 milhões de brasileiros estavam matriculados no ensino superior, sendo que 73,2% desse total estudavam na rede privada.
- O futuro, dependente da formação de riqueza humana, está comprometido com menos jovens matriculados nas escolas. A política de aumento de renda e emprego a curto prazo parece estar sendo deletéria à formação de capital humano. O aluno fora da escola hoje significa o problema social amanhã - diz Flavio Comim, consultor da Unesco do Brasil. - Essa Pnad mostra a miopia social do país que subinveste em bens públicos e descuida da formação de riqueza humana. O emprego de hoje não pode ser conseguido às custas da redução do capital humano do amanhã.
analfabetismo acentua queda
Ainda que o país some 12,9 milhões de pessoas que não sabem ler nem escrever, a taxa de analfabetismo brasileira caiu de 11,4% em 2004 para 8,6% em 2011. Em 2009, a taxa foi de 9,7%. Ou seja, no ano passado, houve uma queda mais forte do que vinha sendo registrado anteriormente. E o analfabetismo se concentra na população mais velha: mais de 60% dos analfabetos têm mais de 50 anos.
- A taxa de analfabetismo vinha caindo muito lentamente. Entre 2009 e 2011, a redução é expressiva frente aos movimentos anteriores. Mostra a efetividade de políticas que antes demoraram a aparecer - diz Wasmália.
As estatísticas também dão conta do analfabetismo funcional, representado por pessoas com 15 anos ou mais que tenham menos de quatro anos de estudo completos. Neste caso, 20,4% das pessoas dessa faixa etária se encaixam neste perfil. Se comparada com os indicadores de 2009, a marca foi considerada estável.
- A taxa de analfabetismo cai em todas as unidades da federação. Essa taxa está bastante concentrada no Nordeste, na população mais idosa. É um problema de estoque. O desafio da educação está em sensibilizar a população com 50 anos ou mais a se escolarizar. É nesse grupo que se concentra a maior parte dos analfabetos - diz Maria Lúcia.
Em anos de estudo, o avanço foi mais lento. Os números mostraram que a população brasileira de 10 anos ou mais atingiu uma média de 7,3 anos de estudo, contra 7,2 anos em 2009.
Trabalhando na enxada desde os 8 anos em um sítio de Sairé, a 135 quilômetros de Recife, Maria do Carmo da Silva, 43, foi ser doméstica na capital aos 11 anos. Em Recife, tentou conciliar escola e trabalho, mas não conseguiu: desistiu, casou, teve dois filhos. Quando os meninos foram para a escola, ela tentou estudar em casa pelas lições das crianças. E aprendeu as primeiras letras e sílabas. Mas ler e escrever ela só conseguiu há dois anos, na escola Estadual Santo Antônio:
- Ler mesmo, entender tudo, escrever, posso dizer que foi aqui que aprendi, em 2010, na quarta série.
Autores: Fabiana Ribeiro, Cássia Almeida e Letícia Lins