quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Facebook e indução ao voto


Fernando Reinach
Ninguém duvida de que as redes sociais alteram crenças e comportamentos humanos. Desde que nossos ancestrais andavam em bandos pelas estepes africanas, as redes sociais serviam para trocar ideias, homogeneizar crenças e influenciar atitudes.
Nessas populações, as redes operavam por conversas face a face, em volta de uma fogueira. Mais tarde, nas cidades, eram as discussões em praça pública, conversas nos mercados e discursos de políticos. Foram essas redes sociais que moldaram o pensamento e as ações das civilizações antigas e das nações modernas.
Mas na última década surgiu a comunicação digital e parte das interações sociais se tornou virtual, por sistemas como o Facebook, o Twitter e outros, que nada mais são que as velhas redes sociais, agora na forma digital. Muitos cientistas se perguntam qual o seu poder real. Exemplos recentes, como a Primavera Árabe, sugerem que as novas redes sociais influenciam o comportamentos e as crenças, mas é difícil distinguir e medir separadamente a contribuição das redes tradicionais e da das digitais. Como teria sido a Primavera Árabe sem e-mail, Twitter e Facebook?
Agora, cientistas de universidades da Califórnia, colaborando com o Facebook, fizeram um experimento para medir o efeito de uma rede social sobre mais de 61 milhões de pessoas. Tanto a maneira como o experimento foi feito quanto os resultados são interessantes. Para entendê-lo, é preciso lembrar que nos EUA o voto não é obrigatório e os políticos têm dois desafios: o primeiro é levar a população às urnas; o segundo é convencê-la a votar neles.
Em 2 de novembro de 2010, quando ocorreram eleições para o Congresso, o Facebook dividiu seus usuários de mais de 18 anos em três grupos. O primeiro, quando abriu o Facebook, viu uma mensagem dizendo: "Hoje é dia de eleição, vote". A postagem possuía mais três informações. A primeira era um "link" dizendo "Clique aqui para saber o posto de votação mais próximo"; a segunda era um botão dizendo "Eu votei"; e a terceira, um contador em que aparecia o número de usuários do Facebook que haviam clicado no "Eu votei".
O segundo grupo recebeu postagem com um elemento a mais: apareciam as fotos de seis "amigos", com seus nomes, dizendo: "Eles já votaram". O terceiro grupo não recebeu nenhuma das mensagens e serviu como controle. O impressionante são os números envolvidos: no primeiro grupo foram colocadas 611.044 pessoas; no segundo, 60.055.176; e no terceiro, 613.096.
No dia seguinte começou o trabalho de análise. Como nos EUA a lista de quem votou é pública, os cientistas cruzaram a lista de votantes com os usuários do Facebook e descobriram quem tinha e quem não tinha votado. Esses dados foram cruzados com as pessoas que apertaram o botão "Eu votei" e com as que acessaram o link que indicava o posto de votação mais próximo. Foi possível determinar o efeito de cada uma das postagens sobre o aumento no interesse anônimo no ato de votar (os que acessaram o link), a propagação para amigos da afirmação de que votaram (os que apertaram o botão) e, entre todos esses, os que realmente votaram.
Os resultados mostram que as pessoas que receberam a mensagem com as fotos apresentaram tendência maior de apertar o botão "eu votei" que as que receberam a mensagem sem as fotos (20,04% versus 17,96%). Os que receberam a mensagem social procuraram mais os locais de votação. Isso demonstra que saber que os amigos votaram estimula as pessoas a dizer que votaram - mas não significa que elas votaram.
Usando dados dos votantes reais, demonstrou-se que a parcela dos votantes reais era 0,39 ponto porcentual maior no grupo que recebeu a mensagem com fotos quando comparada com o grupo que recebeu a mensagem sem fotos. O surpreendente é que a mensagem sem fotos não alterou a porcentagem dos que votaram quando comparados com o grupo que não recebeu mensagem, ou seja, a mensagem sem o nome dos amigos não alterou a participação dos eleitores.
Esses porcentuais são pequenos, indicando que a rede social não tem influência enorme no comportamento, mas como os grupos estudados são grandes, foi possível demonstrar que são estatisticamente significativos. Só esse experimento contribuiu com 886 mil votantes a mais, um aumento de 0,60% em relação às eleições anteriores.
O estudo também descreve o efeito da proximidade do amigo sobre a tendência de votar. Se amigos próximos (aqueles com que mais se interage no Facebook) "votam", a pessoa tem maior tendência de votar.
É o primeiro estudo científico do efeito do Facebook sobre intenções e atos políticos de seus membros. Ele demonstra que o Facebook pode alterar o comportamento das pessoas, mas que essa alteração depende do endosso dos amigos mais próximos.
Ou seja, nosso cérebro continua funcionando como sempre. Confiamos e somos mais influenciados por quem conhecemos. O que me impressionou é que o Facebook recrutou 61 milhões de usuários para participar de um experimento sem pedir autorização. Se por uma lado esse resultado demonstra que as redes sociais podem ser usadas para divulgar campanhas úteis, também abre a possibilidade de uma rede social digital endossar uma candidatura. Será que uma empresa tem o direito de postar nas páginas dos eleitores um pedido direto de voto para um único candidato?
* BIÓLOGO   MAIS INFORMAÇÕES: A 61-MILLION-PERSON EXPERIMENT IN SOCIAL INFLUENCE AND POLITICAL MOBILIZATION. NATURE,  VOL. 489,  PÁG. 295,  2012.

TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO NÃO DIMINUI A NECESSIDADE DE PROVAS CONTRA DIRCEU


É POR ISSO QUE BARBOSA GASTA TANTO TEMPO FALANDO DE REUNIÕES, DE DEPOIMENTOS, DE VIAGENS

PEDRO ABRAMOVAY
ESPECIAL PARA A FOLHA

Alguns comentaristas sobre o mensalão passaram a divulgar a ideia de que a utilização de uma nova teoria pelo Supremo Tribunal Federal será definitiva para a condenação de José Dirceu: a teoria do domínio do fato.

Com ela, não seriam necessárias provas do envolvimento de Dirceu. Bastaria seu cargo de chefe da Casa Civil.

A teoria do domínio do fato surge porque era necessário rever conceitos de um direito penal construído final no século 19, em função do aparecimento de uma criminalidade que envolvia mais organizações complexas como empresas ou o Estado.

Assim, se o direito penal clássico exigia que, para condenar o mandante do homicídio era necessário que se provasse que ele determinou que alguém cometesse aquele crime, as situações novas exigem outra abordagem.

O presidente de uma empresa poderia dizer que quer que os seus funcionários cometam ilegalidades para aumentar os lucros e que vai relaxar os mecanismos de fiscalização para isso.

O direito penal clássico teria dificuldade de dizer que o presidente praticou o crime junto com seus funcionários.

Para a teoria do domínio do fato, se o presidente da empresa sabia dos crimes, tinha o poder de realizá-los ou impedi-los e sua vontade foi importante para que fato criminoso acontecesse, ele também pode ser condenado.

Assim, no caso de José Dirceu, o que deve ficar claro é que a decisão de aplicar a teoria do domínio do fato não diminui em nada a necessidade de apresentar provas da sua participação no crime.

Provas de que ele sabia, de que tinha poder sobre os atos e de que sua vontade foi fundamental para o acontecimento dos crimes.

É por isso que o ministro Joaquim Barbosa, mesmo fazendo referência à teoria do domínio do fato, gasta tanto tempo falando de reuniões.

Porque, ainda bem, não inventaram, até agora, nenhuma teoria capaz de autorizar a condenação sem provas.

PEDRO ABRAMOVAY é professor da FGV Direito Rio. Ele foi secretário nacional de Justiça do governo federal no segundo mandato do ex-presidente Lula.

Os grandes hospitais e as companhias aéreas



Coluna Econômica - 04/10/2012, luis Nassif

Dia desses fui fazer um checkup e um grande hospital de São Paulo. Tudo pelo plano de saúde. Era um conjunto de exames em salas diferentes. Chamou-me a atenção o contraste entre a qualidade desses hospitais e o desastre de atendimento das companhias aéreas.
Ambos tratam com públicos amplos, em operações relativamente complexas: muito mais complexas nos hospitais.
Inicia-se pela marcação da passagem/consulta. Nas companhias aéreas, consiste em definir o número e horário do voo e o lugar do passageiro. Nos hospitais, definir horários para exames dos mais variados, exigindo preparo antecipado da parte dos pacientes.
No meu caso, foram marcados exames em três departamentos diferentes. Alguns dias antes dos exames, recebi por torpedo as orientações sobre como proceder, o que não comer e beber etc. E, depois, como me locomover no hospital.
Das companhias aéreas, nada. Embora possam ser feitas reservas pela Internet, não raras vezes voos são cancelados, deixa-se o assento livre.
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Chegando ao hospital, há uma enorme bancada de atendentes para confirmar as consultas. Recebe-se uma senha e aguarda-se sentado a informação sobre qual guichê será o atendimento. São dezenas e dezenas de pessoas na sala de consulta e o tempo médio de espera é mínimo. A atendente coloca uma fita no pulso do paciente, que permitirá a ele ser identificado em qualquer laboratório interno.
Nas companhias aéreas, formam-se enormes filas, sem que o passageiro seja informado ao certo sobre qual fila entrar.
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Marcada a consulta, o paciente deverá se dirigir à sala de espera do primeiro exame. Embora os prédios sejam antigos, há um sistema de sinalização modelo. Cada sala de espera é identificada por uma cor. Seguindo a cor – estampada nas paredes do hospital – chega-se facilmente à sala.
Nos aeroportos, sai-se do guichê da companhia, entra-se no portão de embarque com uma indicação de portão – que quase sempre será alterado para outro.
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Nos hospitais, para cada consulta há um conjunto de produtos que serão utilizados – seringas, recipientes, sacolas etc. Em cada consulta, quando o paciente chega ao laboratório todos os recipientes estão lá, devidamente identificados. Termina um exame, há uma enfermeira levando o paciente para outro laboratório.
No caso das companhias aéreas, o único objeto a ser transportado são as malas. Identifica-se o proprietário e coloca-se o ticket na passagem. Chegando ao salão de embarque, não há um guichê sequer das companhias, onde o passageiro possa se informar sobre a confirmação do voo, mudança de portões, cancelamento ou qualquer outra informação relevante. Chegando ao destino, as bagagens são derramadas em esteiras, sem nenhum cuidado, obrigando os passageiros a aguardar muito tempo para retirá-las.
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Nos grandes hospitais, todos os funcionários – dos médicos aos balconistas da lanchonete – são extremamente atenciosos. Nas companhias aéreas, qualquer manifestação de simpatia é estritamente pessoal – de pessoas que trazem a educação de casa e não através do treinamento interno.
Os grandes hospitais não são concessão pública; as companhias aéreas sim. Para melhorar o atendimento, basta serem devidamente cobradas pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).
Atividade do comércio recua 1,8%
O movimento dos consumidores nas lojas do país foi reduzido em 1,8% durante o mês de setembro em relação ao período imediatamente anterior, segundo a consultoria Serasa Experian. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a atividade varejista registrou expansão de 10,8%, enquanto o total acumulado no ano cresceu 9,1% frente ao mesmo período do ano passado. O efeito calendário exerceu um impacto considerável sobre o resultado.