sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Hélio Schwartsman - Aposta errada, FSP

 Não dá para dizer que os dados sobre impactos negativos da legalização dos jogos no Brasil sejam uma surpresa. O potencial viciante das apostas é conhecido desde a Antiguidade e nossos reguladores, como sói acontecer, fizeram tudo errado.

A falha maior foi ter permitido que os meios de comunicação fossem tomados de assalto por propaganda de jogo —e um tipo particularmente enganoso de publicidade, que insinua que as apostas são rota segura para o enriquecimento.

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Usuário jogando em sites de apostas e bets - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Se milhões de pessoas jogam regularmente, teremos dezenas de milhares de problemas (a prevalência de ludopatas e apostadores compulsivos fica em torno dos 2% e dos 8%, respectivamente).
Daí não se segue a resposta para o dilema seja a reproibição. O fracasso da guerra às drogas e a experiência da Lei Seca nos EUA mostram que esse não é o caminho. Por razões que não cabe aqui discutir, seres humanos gostam de decidir por si mesmos como conduzirão suas vidas.

Ainda que só no reino da ficção, seria possível tornar o mundo mais saudável se os Estados banissem o álcool e o fumo e obrigassem os cidadãos a comer bem e exercitar-se. Mas a maioria de nós descreveria esse cenário como uma distopia, apesar dos resultados positivos.

A melhor abordagem para essas questões, creio, é o paternalismo libertário proposto por Richard Thaler e Cass Sunstein. Você não proíbe as pessoas de adotar comportamentos autodestrutivos, se essa for a sua vontade, mas usa a regulação para estimular escolhas menos insensatas.

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No caso do jogo, a medida óbvia é eliminar a publicidade e disseminar informações corretas sobre as chances de vencer. Limitações a apostas a crédito também fazem sentido. Há que se implementar ainda a possibilidade de jogadores, num momento de lucidez, se autoexcluírem das casas de aposta. Cobrar imposto maior de modalidades de jogo mais viciantes (com resultados instantâneos) é outra providência a considerar.

O cardápio é extenso. Só o que não faz sentido é deixar de regular, já que o próprio "laissez-faire" é uma forma de regulação.

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