domingo, 22 de setembro de 2024

O verdadeiro segredo da longevidade, Ronaldo Lemos FSP

 Quer saber o verdadeiro segredo da longevidade? É só nascer em uma região em que o registro civil não funciona direito. Essa é a conclusão do trabalho de Justin Newman, professor da Universidade de Londres e integrante do Instituto para Estudo do Envelhecimento de Oxford.

Ele pesquisou várias das chamadas "blue zones", lugares no planeta onde existe um grande número de pessoas com mais de cem anos.

Casal de idosos em triciclo, transportando verduras ao longo de uma rua, em Pequim, na China
Casal de idosos em triciclo, transportando verduras ao longo de uma rua, em Pequim, na China - Petar Kujundzic - 17.out.2013/Reuters

Em várias delas ele descobriu que a característica em comum não é a dieta, o estilo de vida, nem a prática de exercícios físicos. O que as une é o fato de terem um registro civil que não funciona como deveria, sendo incapaz de determinar a idade correta das pessoas que vivem lá. Isso gera problemas tanto para determinar o nascimento dos centenários, como também sua data de óbito.

Newman descobriu que várias das pessoas com mais de cem anos nessas regiões estão na verdade mortas. Só que o certificado de óbito delas não foi emitido. A razão principal é fraude de aposentadoria: alguém se aproveitando do sistema de registro falho para continuar recebendo pensão em nome do falecido.

Newman cita o exemplo de Okinawa, uma das famosas blue zones, objeto inclusive de documentário no Netflix. Um estudo feito pelo governo do Japão em 2010 demonstrou que 82% das pessoas com mais de cem anos na região estavam na verdade mortas. O segredo para viver muito era na verdade não registrar que você morreu.

Mais do que isso, o governo japonês conduziu um dos maiores estudos nutricionais do planeta, desde 1975. O estudo apontou que Okinawa apresenta as piores condições de saúde do Japão. O consumo de vegetais é baixíssimo e as taxas de alcoolismo e obesidade elevadas. Por sua vez, o registro civil da região não é organizado. Os documentos são geridos por membros da família, com taxas de erro e perda de documentos elevadas.

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Esse padrão se repete em outras "zonas azuis" como a Sardenha, na Itália, e Ikaria, na Grécia. Apesar da sua beleza, são regiões de renda e taxas de alfabetização baixas entre idosos, além de criminalidade acima da média. A expectativa de vida é na verdade menor que as taxas nacionais.

Newman estimou, por exemplo, que 72% dos supostos centenários de Ikaria estão na verdade mortos. Em ambas há indício de problemas no registro civil e fraudes em pensões. Inconsistências aparecem também nas outras blue zones, como Loma Linda, na Califórnia, e a península de Nicoya, na Costa Rica.

O curioso é que o trabalho de Newman ia passando despercebido até ganhar o prêmio IgNobel no último dia 12 de setembro, concedido anualmente pelo MIT. O prêmio destaca produções científicas que inicialmente fazem as pessoas rirem e, logo depois, pensarem. Como a receita para viver muito ser o registro civil que não funciona. Vale olhar outros premiados. O Brasil tem sempre forte presença no prêmio. Por exemplo, neste ano o brasileiro Felipe Yamashita recebeu o IgNobel por descobrir que plantas reais imitam o formato das plantas de plástico que estão perto delas.

Já era – arte

Já é – entretenimento

Já vem – a economia da distração: estímulos curtos e aleatórios roubando o espaço da arte e do entretenimento

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