segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Com alta dos juros, BC precisa ajustar mensagem, editorial FSP

 Na próxima quarta-feira (18) haverá decisões sobre as taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos. Espera-se alta por aqui e baixa no principal centro financeiro global.

Por boas razões em ambos os casos, já que a trajetória das duas economias diverge e as pressões inflacionárias apontam para lados opostos aqui e lá. Nos EUA há evidencia de perda de ritmo da atividade, com sinais de elevação nos últimos meses do desemprego, hoje em 4,2%.

Outras variáveis do mercado de trabalho —como os números de vagas em aberto, contratações e demissões— sugerem menor pressão salarial no futuro próximo. Com isso, torna-se mais palpável a esperada convergência da inflação para a meta oficial de 2% até o próximo ano.

Na visão já explicitada pelo Federal Reserve, a autoridade monetária americana, qualquer enfraquecimento adicional do mercado de trabalho não seria bem-vindo. Daí a indicação de que no dia 18 começará um ciclo de cortes da taxa básica, hoje no intervalo de 5,25% a 5,5% ao ano.

Os mercados financeiros já incorporam redução para cerca de 3% nos próximos 12 a 18 meses.
Menor restrição monetária nos EUA em geral favorece países emergentes, pois tende a estar associada (desde que não haja recessão) a queda das cotações do dólar e espaço para juros mais baixos no restante do mundo.

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No Brasil, contudo, espera-se que o Comitê de Política Monetária decida por iniciar um ciclo de alta da Selic, hoje em 10,5% anuais. A discussão do colegiado parece estar centrada na intensidade da medida, se de 0,25 ou 0,5 ponto percentual.

Com a demanda interna aquecida (avanço de 4,7% no segundo trimestre, ante 2023), sobretudo pelo aumento desmesurado dos gastos públicos, sobem as projeções para a expansão do PIB deste ano, que chegam a 3% —e também as pressões inflacionárias.

As surpresas positivas na atividade em geral são boa notícia, mas a política econômica do governo petista parece querer apenas colocar mais lenha na fornalha da demanda, sem considerações sobre a sustentabilidade.

Uma das consequências é a alta da inflação esperada por analistas para este ano, já em 4,3%, muito acima da meta de 3%. Mais preocupante ainda é a elevação das expectativas para 2025, que se aproximam de 4%.

Isso ocorre mesmo diante dos aumentos da Selic para cerca de 12% já incorporados nas expectativas do mercado, claro sinal de que não se espera uma convergência fácil para a meta.

Não ajuda que o BC continue a se comunicar de forma confusa. Além da excessiva frequência, as falas dos membros do Copom passam dúvida sobre a real disposição de fazer o que é preciso para reduzir a inflação.

O custo é perda de credibilidade e juros mais altos do que o necessário se houvesse maior prudência na gestão das contas públicas e menos ruído nas mensagens da autoridade monetária.

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