A frase que abre este artigo nada mais é do que a variação da máxima de James Carville, então estrategista da campanha do democrata Bill Clinton contra o republicano George W. Bush, presidente dos Estados Unidos em 1992 e candidato derrotado à reeleição. Inicialmente, a expressão era exclusivamente de uso interno do time de Clinton, mas acabou viralizando entre o eleitorado americano como símbolo de que a chave do sucesso eleitoral passava necessariamente pela questão econômica.
Naquela eleição específica, a fórmula funcionou e se tornou parte do imaginário popular em processos eleitorais nos EUA. Ao chegarmos em 2024, na disputa entre a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump, a pergunta de Carville passa a receber novas adaptações de acordo com a atual estratégia eleitoral do Partido Democrata. Pela nova versão da campanha de Harris, o caminho até a Casa Branca passa pela atração de eleitores independentes via incorporação de narrativas tradicionalmente associadas aos republicanos.
A própria escolha do governador de Minnesota, Tim Walz, como vice na chapa de Harris é uma clara demonstração do estratégico contra-ataque a discursos típicos do trumpismo. Walz serviu no Exército de seu país e foi eleito congressista em um distrito dividido entre republicanos e democratas, além de ser defensor da Segunda Emenda à Constituição, que garante o acesso do cidadão a armas como instrumento de defesa. Ou seja, com o ex-professor do sistema público de ensino na chapa, a mensagem democrata é clara: é possível ser patriota, amar as Forças Armadas, defender liberdades asseguradas por lei e votar na candidatura da vice-presidente de Joe Biden.
Na Convenção Nacional Democrata do último mês de agosto, os discursos das principais figuras do partido também investiram na contranarrativa em nome da busca por eleitores independentes, ou ex-eleitores de Trump. O ex-presidente Barack Obama rebateu a ideia de que o republicano seria um candidato antissistema e que, na verdade, seu sucessor na Casa Branca busca que a classe média pague o preço por um corte de impostos que beneficia "a ele mesmo e a seus amigos ricos". Obama também pediu "união" à nação, utilizando de forma meticulosa uma narrativa sobre a necessidade de um governo para todos, diferenciando-se do "nós contra eles", aproximando-se de eleitores indecisos, com uma narrativa moderadora capaz de influenciar a base para persuadir o meio —a classe média trabalhadora americana.
O presidente Joe Biden e a ex-primeira-dama Hillary Clinton, por sua vez, levantaram a questão do patriotismo, tema tão explorado por Donald Trump em suas três campanhas presidenciais. Hillary usou um termo-chave da campanha republicana para definir o atual chefe de Estado. "Um verdadeiro patriota", disse a ex-secretária de Estado, "que devolveu a decência à Casa Branca", para além de destacar o papel das mulheres na construção de outros marcos para o país, a mulher "trabalhadora" que defende sua família e futuro. Em seu discurso, Biden seguiu na mesma linha ao recitar versos de uma canção patriótica americana para dizer que "deu o seu melhor ao país" durante a longa carreira política.
Por fim, a cartilha foi seguida por Walz e Harris. O governador insistiu na ideia de que a agenda dos seus adversários só interessa aos "ricos", enquanto a vice-presidente ressaltou que os democratas representam a verdadeira candidatura do "povo americano". Mais digno de nota ainda foi o embate levantado por Harris ao questionar a real consideração de Trump pelas forças policiais e o compromisso com a "lei e a ordem".
Nas palavras da candidata democrata, o ex-presidente lutou pela liberdade de "extremistas" que "agrediram policiais no Capitólio" no fatídico 6 de janeiro de 2021.
Na medida em que há uma atualização de estratégias democratas para inflamar suas bases, 2024 representa o marco de um ano eleitoral em que emoções são mobilizadas através de mensagens e narrativas que aproximam valores típicos dos republicanos de uma agenda democrata liderada por mulheres, negros e latinos. O constante movimento de atualizar formas de narrar e convencer eleitores a ir às urnas não é, para usar o clássico jargão, "estúpido". É central para as democracias.
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