Quanto tempo você dedica por dia às suas relações afetivas com companheiros (as), filhas (os), parentes e amigas (os)? E para os cuidados com o corpo, aprendizado, cultura e lazer? Provavelmente bem menos do que as quase três horas gastas no trânsito pelos moradores e moradoras que utilizam transporte público em São Paulo.
Essas horas desperdiçadas todos os dias em ônibus, trens e metrô (2h47, para ser mais exato) começam com uma longa espera nos pontos e terminais, continuam em veículos lotados e terminam em uma longa viagem diária, de ida e volta, na qual é difícil utilizar o tempo para outras atividades. Em resumo, quem mora em São Paulo passa um mês por ano no trânsito.
Para quem tem condições e opta pelo conforto dos automóveis, o tempo gasto também é grande, de 2h28 por dia, na média.
É importante lembrar que a qualidade ruim do ar em São Paulo, que afeta a todos, tem a ver com uma frota de 13 mil ônibus movida a diesel. A partícula fina do diesel é a responsável por milhões de pessoas acometidas por doenças respiratórias, sendo que a transição para uma frota livre do combustível fóssil avança de forma absurdamente lenta: temos somente 380 (3%) ônibus movidos a energia elétrica.
As limitações de renda também se refletem na mobilidade: quatro em cada dez pessoas deixam de visitar parentes e amigos devido ao custo das passagens. Faltam pesquisas para fazer a relação entre ansiedade e falta de afetos.
Este é o retrato da mobilidade em São Paulo, a maior e mais rica cidade da América do Sul, revelado na pesquisa lançada nesta última semana pela Rede Nossa São Paulo e realizada pelo Ipec.
Pouco mais da metade da população se utiliza de transporte coletivo (ônibus, metrô e trem) e quase um quarto prefere os automóveis.
No último ano houve um aumento na utilização de automóveis por aplicativo, de 3% para 5%, e a utilização de táxi ficou estável, com 2%.
Quanto à mobilidade ativa, quase 10% se locomovem exclusivamente a pé todos os dias, e somente 1% de bicicleta. A insegurança e a péssima condição das calçadas são responsáveis pelo reduzido número de pessoas que caminham e pedalam pela cidade. Sem esquecer de mencionar o absurdo da lei que deixa as calçadas sob responsabilidade dos proprietários dos imóveis, o que impede uma padronização de qualidade.
Em 2014, há exatos 10 anos, o tempo médio de deslocamento na cidade era praticamente o mesmo, o que prova a incapacidade da gestão pública em resolver o problema e priorizar o investimento na infraestrutura, pois falta coragem de tomar decisões que contrariem os interesses de empresas que dominam o transporte coletivo.
Neste mesmo período de dez anos de uma São Paulo engarrafada e imobilizada, Paris conseguiu reduzir drasticamente a utilização de automóveis, para só 4% da população, com a combinação de medidas restritivas e alternativas de mobilidade; triplicou a utilização de bicicletas e a locomoção a pé tornou-se o meio de locomoção.
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