Para além da catástrofe conjuntural, os megaincêndios —quando o terreno queimado ultrapassa 10 mil hectares— em florestas na amazônia elevam o risco de uma devastação irreversível do bioma.
Uma área de 67 mil hectares na Terra Indígena Kayapó, no Pará, está em chamas desde 8 de agosto, de acordo com monitoração por satélite da Nasa. Esse tipo de destruição avassaladora foi verificado pela primeira vez na região em 1998, ano de ação do El Niño, que diminui o volume de chuvas.
Em 2023, tal fenômeno meteorológico aliado à mudança climática, que eleva temperaturas em todo o mundo, também causou forte estiagem no bioma, e sabia-se que ele se estenderia por 2024.
Segundo especialistas, a estação seca nos mais de 2 milhões de km² do sul da amazônia ficou de quatro a cinco semanas mais longa e cerca de 20% mais intensa nos últimos 40 anos. Sem a proteção de sua umidade natural, florestas ficam mais inflamáveis.
Daí a mudança no perfil das queimadas, que têm atingido mais florestas primárias —que ainda não sofreram mudanças por atividade humana. Isso contribui para o processo de degradação da mata, que perde as árvores mais altas, criando clareiras que enfraquecem o ecossistema com vento, luz do sol e calor.
De acordo com o MapBiomas, entre janeiro e agosto de 2024, mais de 1,7 milhão de hectares de floresta queimaram na amazônia. No mesmo período do ano passado, o número foi bem menor, cerca de 482 mil hectares.
Estiagem, incêndios florestais e degradação podem fazer com que a amazônia não consiga mais produzir o volume de chuvas necessário para manter sua sobrevivência, o que levaria ao temido ponto de não retorno —quando a o processo de savanização do bioma torna-se irreversível.
Estima-se que tal cenário tenha início se e quando 25% da floresta amazônica estiver destruída. Apesar de não haver consenso científico sobre essa porcentagem, projeta-se que até 2050 esse ponto será ultrapassado.
O governo federal precisa implantar políticas nacionais contínuas para prevenção do fogo, adaptação à mudança climática, regularização fundiária e descarbonização da agropecuária.
Já as gestões estaduais não podem depender só do Planalto, dado que são responsáveis por autorizar queimadas e têm efetivo mais numeroso de bombeiros e brigadistas para combate ao fogo.
Devem-se integrar ações em ambas as esferas, para que a maior floresta tropical do planeta não rume com celeridade a uma tragédia previsível.
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