Não é só o Judiciário, notadamente o Supremo Tribunal Federal, que vem cerceando a liberdade de expressão nos últimos anos. O ambiente acadêmico também tem sido autoritário nessa seara, o que causa perplexidade.
Afinal, sabe-se que o poder de polícia estatal tende sempre a buscar a ampliação de seu controle sobre a sociedade —se não o alcança plenamente, isso se deve ao sistema de freios e contrapesos e à esfera do debate público das democracias liberais.
Já as universidades são o lugar por excelência do pensamento livre. Logo, nelas, a censura não pode ter vez. Mas foi justamente censura o que se viu no caso do cancelamento do curso que o professor Jorge Gordin, da Universidade Hebraica de Jerusalém, ministraria neste mês na Universidade de Brasília (UnB).
Tal qual a patrulha ideológica de regimes totalitários, alunos vasculharam opiniões antigas de Gordin sobre Israel nas redes sociais. Acharam apoio às Forças Armadas do país e, com isso, acionaram o Diretório Central dos Estudantes e o Comitê de Solidariedade à Palestina do Distrito Federal para realizarem um protesto.
O Instituto de Ciência Política da UnB cancelou o curso. Em nota, alegou que a medida visa "garantir a segurança da comunidade universitária" e afirmou seu "compromisso com o diálogo respeitoso, a liberdade de expressão e a liberdade acadêmica".
Não sei o que o instituto entende por "diálogo" e "liberdade", mas impedir a realização de um curso universitário devido a ameaças de estudantes à segurança no campus não remete ao significado desses termos.
A situação fica ainda mais surreal quando se sabe que o curso não teria relação com a guerra em Gaza. Gordin é especialista em política na América Latina.
O episódio vexatório soma-se a outros em universidades pelo país e revela não apenas a postura autoritária do corpo discente, mas uma incapacidade de colocar em prática as ferramentas necessárias para a produção de conhecimento, que deveriam ser trabalhadas no meio acadêmico: racionalidade, retórica e confrontação de dados e opiniões por meio do debate aberto.
Universidade não é tribunal de ideias, mas laboratório.
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