Marçal retoma agressividade após explorar imagens de fragilidade
Acostumado a apostar na masculinidade violenta, influenciador pode ter dado passo em falso com eleitorado conservador
Pablo Marçal (PRTB) voltou a vestir o personagem do homem viril, imbatível e agressivo no debate desta terça-feira (17), após ter arriscado um possível passo em falso com seu eleitorado masculino e conservador, diante da exploração de imagens de fragilidade ao longo dos últimos dias.
A ambulância e o leito do Hospital Sírio-Libanês, onde passou a madrugada de segunda (16) após ter levado uma cadeirada do apresentador José Luiz Datena (PSDB), serviram como cenário para as gravações que disseminou nas redes sociais após a lamentável agressão, que logo tratou como "tentativa de homicídio".
O influenciador chegou a comparar o episódio aos atentados contra os ex-presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro (PL). O potencial destrutivo da cadeirada, porém, ficou muito aquém do tiro e da facada, e o meio político em maioria rejeitou o rótulo de vítima que o empresário tentou abraçar.
Acostumado a exaltar sua virilidade e a violência que trata como essência masculina, Marçal pode ter se precipitado com uma virada muito brusca. O homem que diz ter treinado apenas 43 dias para completar o Ironman, uma desafiadora prova de triatlo, foi derrubado por uma cadeirada —uma inconsistência na narrativa do candidato, que conta com 26% das intenções de voto entre os homens e apenas 13% entre as mulheres, segundo o Datafolha.
Depois da agressão, Marçal e sua equipe falaram em suspeita de fratura na costela e disseram que ele tinha "muita dificuldade para respirar". Imagens feitas no estúdio mostraram que o autointitulado ex-coach seguiu de pé e continuou a provocar Datena. Marçal indicou que seguiria no debate, mas depois mudou de ideia. Deixou o local caminhando e chegou a entrar em seu carro para ir ao hospital, mas acabou por optar pela ambulância.
No fim, boletim médico da unidade de saúde informou que o empresário teve "traumatismo na região do tórax à direita e em punho direito, sem maiores complicações associadas".
Marçal publicou mais de 25 conteúdos no Instagram sobre a agressão. Chamou a atenção, em especial, a gravação de seu deslocamento de ambulância, ao qual seu desafeto, o pastor Silas Malafaia, se referiu como um "show de pirotecnia".
No vídeo, o influenciador aparece deitado em uma maca, com a cabeça sobre uma caixa de luvas, respirando sob uma máscara de oxigênio solta. Sua equipe, agitada, tenta imprimir um caráter de urgência ao episódio. Comentários, inclusive de usuários que se dizem eleitores de Marçal, falam em "exagero", "sensacionalismo" e "ceninha de filme".
Ao deixar o hospital, o influenciador já tentou reajustar a rota, dizendo que a cadeirada "foi um esbarrão" e que estava tudo certo. "Todo mundo aqui sabe, um comedor de açúcar daquele tamanho, ele é mais lento que um bicho-preguiça", afirmou sobre Datena, de novo direcionando o foco para os atributos físicos de seus oponentes.
Logo ao chegar no debate da Rede TV! e do UOL, na manhã desta terça, de mão enfaixada, Marçal mostrou que estava mais uma vez decidido a abraçar o personagem combativo, agressivo e disruptivo no qual aposta para chegar ao segundo turno.
Arrumou confusão com o jornalista do site, sugerindo que ele havia deturpado uma de suas falas (o repórter apenas reproduziu a informação de Marçal, que afirmou que daria entrevista somente ao final do encontro); se negou a beber a água oferecida no estúdio por receio de envenenamento, segundo informação anunciada pela apresentadora Fabíola Cidral; ameaçou desrespeitar a regra do debate quando chamou o prefeito Ricardo Nunes (MDB) de "bananinha" e foi alertado a não ofender seus adversários (respondeu que então falaria a esmo e não direcionaria a pergunta a ninguém); e acabou aos berros com o emedebista, apontando o dedo para ele e afirmando reiteradamente que o colocaria na cadeia.
Nas palavras finais, voltou a dizer que continuará "levando porrada" e que "podem bater o tanto que for", porque sairá vitorioso no primeiro turno. As pesquisas da semana vão indicar se a exploração da agressão de Datena ajudou Marçal a diminuir sua crescente rejeição, que já atinge 44%, ou se o eleitor, inclusive o seu, identificou inconsistência e sensacionalismo no episódio.
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