quinta-feira, 28 de julho de 2022

26.07.22 | Energia solar térmica: crescimento expressivo, potencial reprimido

 

Fonte: Procel Info - 26.07.2022
Divulgação
Por Luiz Antonio dos Santos Pinto*

São Paulo - Considerando os significativos ganhos econômicos e ambientais, é animador observar que, em 2021, o Brasil foi o segundo país no qual mais cresceu a utilização da energia solar térmica, com expansão de 28% em relação a 2020. O volume de produção de coletores solares térmicos somou 1,81 milhão de metros quadrados. Ficamos atrás apenas da Itália, onde o aumento foi de 83%. Mas, podemos e devemos ir além!

Os números, constantes do novíssimo estudo Solar Heat World Wide/Aquecimento Solar no Mundo, realizado pela Agência Internacional de Energia (IEA), mostram que muitas nações vão percebendo cada vez mais a importância dessa fonte limpa, inesgotável, econômica e ambientalmente correta: seguindo-se ao Brasil, os Estados Unidos apresentaram avanço de 19%, a Grécia, 18%, Polônia, 17% e Índia, 16%. A China, maior mercado do mundo, ficou estabilizada, com aumento de apenas 1%.

Na média internacional, o crescimento foi de 3%. Na década, entre 2000 e 2021, a capacidade da energia solar térmica passou de 62 gigawatts (com 89 milhões de metros quadrados de coletores solares térmicos) para 522 gigawatts, com 746 milhões de metros quadrados de coletores solares térmicos. Além da economia de empresas e famílias, os ganhos ambientais são muito expressivos: em termos mundiais, os sistemas de aquecimento solar instalados em 2021 proporcionaram economia de 45,7 milhões de toneladas de petróleo e reduziram em 147,5 milhões de toneladas a emissão de dióxido de carbono (CO₂). Sem dúvida, trata-se de significativa diminuição de gases de efeito estufa.

O Brasil tem 21 milhões de metros quadrados de coletores solares térmicos instalados, com capacidade de 14,7 gigawatts. Essa estrutura, além de contribuir para o alívio do setor elétrico, dispensando o equivalente em energia para aquecer a água dos banhos, principalmente em horário de ponta, evita a emissão de mais de quatro milhões de toneladas de dióxido de carbono, ajudando assim a sustentabilidade do planeta.

É interessante notar que, além das residências, indústrias e estabelecimentos comerciais, o aquecimento solar tem sido aplicado em espaços e edifícios públicos, principalmente hospitais, centros esportivos e hotéis.

A energia térmica solar também apresenta estatísticas interessantes quanto ao seu potencial de gerar investimentos e empregos. O número de postos de trabalho nas áreas de produção, instalação e manutenção dos equipamentos e sistemas era de 380 mil em todo o mundo em 2020, conforme o estudo da IEA. O volume global de negócios estimado para o setor, no mesmo ano, era de US$ 18,7 bilhões (R$ 100,36 bilhões, ao câmbio oficial de 18 de julho de 2022). No Brasil, onde a atividade emprega hoje 46 mil pessoas, estimamos que, em 2022, o número de admissões de trabalhadores cresça 22%. No ano passado, foram seis mil contratações.

No nosso país, os aquecedores solares estão presentes há mais de 40 anos. São altamente eficientes e sua tecnologia e matérias-primas são quase 100% nacionais. São a alternativa mais eficaz para reduzir o consumo dos chuveiros elétricos, que sobrecarregam muito o sistema nos horários de ponta (entre 17 e 21 horas), representando mais de 7% de toda a eletricidade gasta no Brasil e cerca de 40% da residencial, segundo dados do Balanço Energético Nacional da Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2021) e Pesquisa de Posse de Hábitos de Uso e Consumo (Eletrobras, 2019).

A expansão do aquecimento solar no Brasil resulta do grande esforço do setor e da paulatina conscientização da sociedade sobre os ganhos econômicos e ambientais. Entretanto, está muito aquém do potencial nacional. Poderia ser muito mais expressivo se houvesse maior apoio do governo. É lamentável a falta de incentivo por parte de órgãos governamentais a uma tecnologia nacional que propicia grande economia no consumo de energia elétrica pelas famílias, empresas e o País como um todo.

A mera inclusão do segmento na lei nº 14.300/2022, que instituiu o Marco Legal da Microgeração e Minigeração Distribuída, embora importante, é insuficiente para sua disseminação mais ampla. O aquecimento solar de água precisa estar presente nos projetos habitacionais da União, estados e municípios e constar efetivamente da matriz energética nacional e dos planos nacionais do setor.

Os ganhos em termos econômicos para os consumidores, famílias e empresas seriam expressivos com a utilização em maior escala da energia solar térmica, conforme se pode constatar na análise de alguns dados importantes: o consumo de eletricidade no Brasil bateu recorde em março último, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). No período, foram consumidos 44.101 terawatts hora (TWh), o maior índice da série histórica desde 2004. A população brasileira poderia economizar mais de R$ 22 bilhões por ano apenas instalando aquecedores solares em todos os domicílios para aquecer a água do banho. Se o sistema fosse usado também para aquecer água nos processos industriais, a economia poderia ser quintuplicada.

Para se entender como seria viável essa economia, basta fazer a conta: o consumo de energia elétrica em 2021 foi de 500,209 terawatt-hora. Sendo 7% desse total para aquecer água, chegamos ao número 35,015 TWh. O aquecedor solar pode atender mais de 90% (fração solar) desse consumo. Ou seja, os ganhos com sua utilização mais ampla seriam imensos para o País, não apenas em termos econômicos, como também ambientais, evitando-se a emissão de mais oito milhões de toneladas de CO₂.

Com privilegiada localização geográfica, que garante sol praticamente o ano inteiro sobre todo seu território, nosso país tem imenso potencial para utilizar de modo mais amplo essa fonte limpa e inesgotável. Assim, é fundamental que a população entenda cada vez mais os ganhos que pode obter com o aquecimento solar e que as autoridades percebam o quando sua expansão seria positiva para a economia, a matriz energética e o meio ambiente.

*Luiz Antonio dos Santos Pinto, engenheiro, é presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Térmica (Abrasol).

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