sexta-feira, 22 de julho de 2022

Hélio Schwartsman - Mundo tórrido, FSP

 A onda de calor que fustiga a Europa faz com que muitas cidades do continente registrem temperaturas superiores a 40°C. Incêndios florestais também ocorrem em várias regiões. Já não há mais dúvida possível, esses são efeitos do aquecimento global antropogênico, isto é, causado pelo homem. É claro que não dá para concluir isso a partir dessa onda de calor em particular, mas sim do conjunto delas, que vêm se tornando cada vez mais frequentes, intensas e começam cada vez mais cedo. Só em Portugal, uma das áreas mais duramente afetadas, mais de mil pessoas morreram na semana passada devido às altas temperaturas.

E isso nos leva ao fulcro da coluna de hoje: o ar-condicionado. Parte dos ambientalistas torce o nariz para esses aparelhos, que descrevem como um luxo supérfluo que demanda quantidades industriais de energia, consumo este que, num ciclo vicioso, agrava o aquecimento global. A parte da energia é verdadeira, mas eu não chamaria os ares-condicionados de luxo supérfluo, porque eles salvam vidas. E não poucas.

Um trabalho de Alan Barreca, da Universidade Tulane, mostrou que a adoção maciça de ares-condicionados pelos americanos é o principal motivo para uma redução de 80% no número de mortes prematuras nos dias mais tórridos do verão nos EUA. Os óbitos caíram de 3.600 ao ano no período entre 1900 e 1959 para 600 entre 1960 e 2004. Os europeus, até por razões arquitetônicas, não aderiram ao ar-condicionado na mesma escala dos americanos. É uma das razões pelas quais as canículas são mais letais no velho mundo.

O ponto é que, com o aquecimento global, o uso desses aparelhos se tornará cada vez mais uma questão de saúde pública. Não é concebível que, nos países mais ricos do mundo, ondas de calor deixem atrás de si milhares de mortos. O remédio é melhorar a qualidade da matriz energética da geração elétrica, para que o uso dos aparelhos não esquente ainda mais o planeta.


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