sexta-feira, 8 de julho de 2022

Acordemos para a pauta ESG!, OESP

 José Renato Nalini*

08 de julho de 2022 | 09h00

José Renato Nalini. FOTO: DIVULGAÇÃO

A lenta edificação de uma consciência ecológica iniciada na década de setenta não pode ser sumariamente sepultada pelos desvarios recentes. É hora de fazer com que a sociedade civil assuma as rédeas de uma agenda de sustentabilidade, restaurando a imagem do Brasil, tão deteriorada pela antipolítica ambiental que nos conduziu à condição de “Pária”.

O maior perigo que ronda a humanidade não é a pandemia, nem a guerra na Ucrânia e seus efeitos colaterais. Está comprovado que é o aquecimento global, gerado pela emissão de gases causadores do efeito estufa e que tornam completamente caótico o clima terrestre.

Rodrigo Tavares, fundador e presidente do Granito Group, ao analisar qual o país que merece o título de capital mundial do mercado ESG, salienta que “o Brasil também apresenta predicados. A credibilidade do seu sistema bancário e o seu colossal patrimônio ambiental dão-lhe naturalmente uma voz no debate global sobre sustentabilidade, mesmo quando a riqueza ética do ocupante presidencial seja inversamente proporcional à riqueza de biodiversidade do país”.

Verdade que o Reino Unido tem todas as condições para exercer esse protagonismo, pois dispõe de inúmeras instituições governamentais que, de forma apolítica, apartidária e consistente, lançam programas de apoio às finanças sustentáveis. A Grã-Bretanha é o maior cenário de eventos dedicados ao tema, tanto que a COP26 foi em Glasgow, na Escócia.

Mas também estão no páreo os Emirados Árabes. Eles contam com a maior densidade de políticas públicas, estratégias nacionais e visões para a sustentabilidade. Desde 2006 se edifica Masdar, a cidade sustentável e futurística próxima à capital Abu Dhabi. Tanto esta cidade como Dubai são centros de inovação e investimento em energias renováveis. Os Emirados também se preocupam com a energia limpa em todos os continentes. Tanto que patrocinam concurso de ciências para estimular crianças e jovens de todos os países a repensarem a matriz energética e a proporem soluções alternativas não poluentes. Aqui em São Paulo, por duas oportunidades, uma escola do interior ganhou o certame e seus alunos e professora foram viajar aos Emirados para conhecer de perto sua realidade, que é a do amanhã. Ainda muito longe daquilo que o Brasil oferta aos seus.

Não é de se ignorar que em 2023 os Emirados serão os anfitriões da COP28 e tenderão a mostrar tudo aquilo que conseguiram graças à previsão pioneira e eminentemente ética de seus governantes.

O Brasil começou a perceber que o Estado não pode ser a única opção. Quando ele não atende às expectativas do povo, este deve assumir o controle da coisa pública, zelar pelo interesse comum, pois o povo é o único titular da soberania. As autoridades governamentais são servas da população. Devem prestar contas. Devem ser fiscalizadas, controladas e coibidas quando se afastarem da consecução do bem comum.

Ora, o Brasil já possui uma sociedade civil engajada e atenta para as catástrofes que já estão acontecendo, mas que poderão se tornar a cada momento mais graves e danosas. A pauta ambiental entrou no radar e é cada vez mais intensificada porque a comunidade internacional se angustia vendo a destruição da Amazônia, entregue à criminalidade organizada e desenvolta. Entre dendroclastas, grileiros, posseiros, exterminadores de índios, exploradores de minério ilegal, tráfico de armas, de drogas, de tesouros da biodiversidade e outras práticas nefastas, parece não sobrar lugar para a presença do Estado e da sociedade lícita.

As instituições financeiras tupiniquins têm um discurso ecológico bem consistente e sua prática, tudo indica, vai caminhando nessa direção. A Universidade está formando profissionais na área da sustentabilidade, a mídia não economiza espaço para mostrar desmandos, mas também para louvar iniciativas micro, mas que lembram o lema ambiental nos seus primórdios: pensar globalmente, agir localmente.

Antes que se destrua toda a cobertura vegetal brasileira, é preciso que os nacionais patriotas, de boa vontade e lucidez, se oponham ao extermínio. Com isso, o Brasil poderá contar com trilhões de dólares disponíveis para o processo de descarbonização, que é mais do que urgente. O belo efeito colateral será a implementação da democracia participativa, com efetiva atuação cidadã na gestão da coisa pública, diante do funeral da democracia representativa e do malfadado sistema político partidário hoje vigente.

O remédio existe e se chama ESG: cuidado simultâneo do ambiente, redução das desigualdades sociais e governança corporativa. É só aplicá-lo e investir nele com garra e entusiasmo. A Terra cansou de pedir socorro e está respondendo do jeito que sabe. Não a provoquemos mais!

Acorda Brasil, enquanto é tempo!

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022

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